Brasília, 7 de junho de 1999
Para o Bispo Antônio e os demais Pastores,
Meu nome é Edson Motta, fui recebido nesta igreja no dia 22 de setembro de 1996, estive conversando com o senhor por duas vezes no seu gabinete nos dias 18 de junho (quando cheguei à Brasília) e 13 de agosto quando o senhor me deu uma ficha para ser preenchida. Disse ao senhor na ocasião que estava vindo de Recife e que queria uma nova chance de reiniciar minha vida, já que tive alguns problemas lá, mas que queria poder confiar em algum líder evangélico. O senhor me aceitou como membro sem questionar muita coisa, apenas pediu que eu providenciasse junto à secretária Elaine o pedido de carta de transferência.
Esta foi a igreja que eu tive mais felicidade de ingressar. O senhor não imaginava na época quem o senhor estava recebendo como seu membro. Assim como vocês tem missionários, outras igrejas também tem. Assim como vocês evangélicos treinam esses missionários para a obra, nós também treinamos os nossos e o que o senhor não imaginou foi que eu seria um missionário altamente treinado para trabalhar em sua igreja em função preestabelecida.
Quero realmente me apresentar: Sou Edson Motta, missionário
de Satanás, pertencente à igreja que aqui no Brasil ficou
conhecida como Igreja do Diabo. Temos vários tipos do que vocês
chamam de obreiros - nós chamamos de Enviados e Missionários.
Os Enviados são pontos de Contato para a
atuação dos nossos Missionários.
Está achando isso tudo algo parecido com filme ou coisa semelhante?
O senhor não sabe nem a metade. Antes penetrávamos nas igrejas,
fazíamos nosso trabalho e saíamos como se nada tivesse acontecido
e ficávamos apenas com os louros para nós mesmos.
Hoje, quando o trabalho missionário é eficaz, isto é, alcançamos nosso intento, temos relatado aos líderes envolvidos, para que eles percebam quão bobos, ingênuos e sem experiência eles são diante de nós. Este é o caso de vocês. Ao relatarmos no final de tudo o que aconteceu, já ocorreu de alguns pastores tão decepcionados com tudo aderirem ao nosso movimento, pois estão tão quebrados e decepcionados que fica fácil, fácil a adesão. Sem contar que estes nomes vão para o nosso computador e que são alvo de nossas rezas constantemente.
Bem, como acontecem as coisas em nossa igreja? Temos
cultos semelhantes aos de vocês, mas não em templos, somos
mais discretos e as vezes usamos associações com faixada.
Nesses cultos acertamos detalhes quanto a nossa atuação em
todo o Brasil. Não temos medo de nada. Estamos dispostos a pagar
com a vida, se bem que isto não é preciso, já que
temos o apoio de gente
de escalão alto.
Primeiro escolhemos estrategicamente igrejas chaves em diversas regiões. Nem sempre escolhemos pessoas específicas, escolhemos igrejas. A igreja de vocês nos causou interesse após uma apresentação do grupo Raízes em São Paulo quando informalmente um dos componentes conversando com um dos nossos Enviados sobre quanto a igreja era boa e como estava crescendo em Brasília.
Outras igrejas em Brasília nos interessaram (como ainda nos interessa), mas resolvemos investigar. Várias foram as vezes que nossos Enviados visitaram esta igreja. Um deles lançou um Cd gospel num culto de vocês; outra fez uma entrevista no INOVI (INST. NOVA VIDA - SEMINÁRIO) querendo ensino a distância, uma Enviada nossa teve gabinete com o Pastor Heráclito antes dele ir para Frutal, enfim pouco a pouco fomos conhecendo o potencial da igreja e de seus líderes, bem como pontos fracos. Vimos que esta igreja gozava de um renome na cidade, seus pastores eram tidos como honrados e que ela estava sendo considerada uma das melhores da cidade.
Já havíamos cuidado da Igreja Batista Filadélfia e agora estava pronto o plano. Antes o nosso alvo era apenas divisão de igreja, disseminação de fofoca, queda de pastores, etc... Hoje vamos além, pois queremos deixar além do tudo isso a sensação de culpa que corrói por dentro e estremece e também a percepção de quão frágeis são e como estão sendo muito mais usados pelo que vocês chamam de o Enganador (que para nós é chamado de Mestre).
Enganador este que vocês tanto guerreiam contra, mas que na verdade vocês servem de maneira velada. Forte, não é? É assim que nós, servos do Enganador, somos e agimos. Quanto à igreja Filadélfia, estivemos lá ( não eu, mas uma outra equipe) por três anos, levando disseminação e divisão. Planejamos o flagrante do Pastor Djair e acionamos o jornal para estar lá no dia certo para a grande manchete.
Decidimos então que era hora do nosso missionário - no caso eu – entrar em ação. Quando decidimos entrar em ação, já tínhamos um plano muito bem estabelecido pois trabalhamos somente com planos a longo prazo (variando entre dois e três anos), pessoas bem posicionadas, informações certas e acima de tudo pessoas chaves na mira. Em junho de 96 comecei meu trabalho ao contatar o senhor, Bispo. Me encaminhar para a Elaine foi como vocês dizem "uma Bênção", já que lá foi o meu primeiro terreno fértil.
Foi lá que instalei minha primeira escuta. Isso mesmo. Por aquela secretaria passei quatro vezes e ela me deixava entrar, como todo mundo, quando estava trabalhando no computador. Certa vez ela me deixou sozinho e eu coloquei a escuta debaixo de uma das mesas. Como tive informações! Ali foi o nosso começo e que excelente começo. Ali ficamos sabendo dos planos para a reforma. Ouvimos também toda a reunião que fizeram num sábado pela manhã para os últimos acertos do novo estatuto e que seria a peça que atacássemos. Tudo que aconteceu ali temos gravado em fita.
Com aquelas informações já conseguíamos manipular algumas situações. Foi o que precisávamos para a primeira carta. Bingo. Como o Bispo ficou abalado. Fez uma reunião com os pastores. Neste tempo, já havíamos instalado mais uma escuta no gabinete do Pastor Nilson. Temos atendimentos e atendimentos gravados, alguns conselhos bons, outros nem tanto, algumas conversas mais ásperas, mais nada muito comprometedor, mas enfim já tinha em mãos dois lugares para obter informações, mas eu queria mais, porque é assim que eu fui treinado: tenho que detonar, tenho que detonar. Este é o nosso lema.
Precisava ter uma escuta no gabinete do Bispo, afinal, é lá que tudo acontece. Enquanto ele trabalhou no gabinete do pastor Nilson eu o monitorei, mas pouca coisa consegui pois foi num tempo que se falava quase só da reforma. De importante desse tempo, tenho gravado uma conversa do Bispo Antônio com a Pastora Vilma sobre o pastor Nilson; uma conversa do pastor Nilson, Joel e Pastora Vilma sobre uma placa que havia sido entregue ao Joel; uma conversa do Bispo com o pastor Joel sobre o louvor e instalação de tomadas para o som da igreja; duas conversas com a arquiteta Emília, etc. Nada muito importante.
Não estávamos tendo muito progresso. Mas como eu disse, trabalhamos a longo prazo. O senhor, Bispo, pode até estar pensando como eu e minha equipe conseguimos tudo isso. É uma rede tão grande envolvida que o senhor não tem idéia. Para o senhor ter uma pequena noção, eu tenho curso de detetive particular, porte de arma, equipamentos de todos os tipos, desde binas a escutas, alta tecnologia, etc. Toda a minha equipe é formada secularmente e também na própria igreja. Quer saber? Vi vocês falando tanto sobre guerra espiritual, principalmente nas sextas-feiras e vocês não sabem nada sobre isso. Nós sabemos o que é guerra.
Quer saber como entrei nos gabinetes para instalar a escuta? No seu, quando os operários foram instalar uma sanca de gesso. Tinha tanta gente que ninguém percebeu. Nos outros gabinetes, junto com o pessoal da limpeza do ar condicionado. O da pastora Vilma foi a última escuta a ser instalada, pois ela sempre deixava o gabinete fechado e quando consegui, achei que deveria ter feito antes, pois ali é o lugar onde sem sombra de dúvida as pessoas choram as mágoas. Soube tanta coisa íntima de tanta gente da igreja. A pastora sabe de segredos ali que até Deus duvida. Só que nós também sabemos! Nós descobrimos o dia em que eles iam fazer a manutenção.
Enquanto a equipe entrava num gabinete, eu falava com a secretária ou o zelador para abrir o outro e foi fácil. Para tirar a escuta fiz a mesma coisa. Sou profissional e sou um missionário muito bem usado. E olha que eu nem sou dos melhores. Após ter instalado as escutas nos gabinetes tudo ficou muito fácil. Tentei uma porta no INOVI, mas a Elizabeth nunca me deixou nem entrar. Chegamos a instalar uma escuta lá, num dia de matrícula, era um Domingo à noite e só estava o diácono Roberto atendendo e muitas pessoas esperando. Ele nem me viu entrar e sair, mas não foi bem plantada a escuta e achamos que um dos da limpeza a estragou. Acabamos retirando quando houve uma mudança dos móveis. Mas o melhor estava sendo programado. Juntamos todas as informações que tínhamos.
Gabinetes do Bispo com o pastor Heráclito e esposa, conversas do Bispo com pastores, uma conversa de uma tal de Luzia com a pastora Vilma no gabinete do bispo onde ela contava sobre Frutal. Sabe como monitorávamos todos os gabinetes? Com uma van estacionada ora no prédio em frente da igreja, ora estacionada nos fundos, em frente ao gabinete do pastor Nilson. Pensa que isso só acontece em filmes ou nos ministérios públicos? Isso é mais fácil de fazer do que vocês pensam.
O Bispo é singular. Não é a toa que é Bispo. Comentários curtos, com reticências no final, afinal, para um bom entendedor pouco é suficiente. Alguns conselhos do Bispo: "Não, não precisa fazer o curso de batismo não". "Você vem aqui umas duas tardes e eu converso com você e você se batiza". E depois diz ao Pastor Nilson que está dando todo apoio ao curso de batismo. "Dê o cano nos agiotas. Agiota não merece pagamento. Alguns impostos deveriam ser sonegados, eu não condeno quem não paga alguns impostos". E por aí vão sábios conselhos. E as frases: "Elogio pra mim é desprezível", mas vive se auto-elogiando no púlpito. "Faça o que eu faço que dá certo".
Após o envio que fiz da 3ª carta, recebi uma ordem superior de retirarmos as escutas dos gabinetes, pois pela escuta soubemos do acionamento da polícia civil. Escutamos tudo e conseguimos, desta vez com um pouco mais de dificuldade, retirá-las. Ainda deve ter alguma marca debaixo das mesas. Vão lá correndo verificar. Parecem meninos curiosos. Tão infantis. Viajamos para processar e editar o material que recolhemos e quando eu voltei na sexta-feira passada apenas para verificar a repercussão de terem ficado com a cara no chão por perceberem que foram feitos de bobos, eu é que fiquei com o queixo caído quando no domingo soube da última sobre a tão estimada, reverenda, professora, diretora e muito mais (como o pastor Nilson a trata).
Nosso intuito aqui nessa igreja era testar algumas táticas novas, jogando pastores e líderes uns contra os outros e enfraquecendo toda a igreja com desconfianças, fofocas e dúvidas. A tática era: ataca-se frontal e explicitamente um dos líderes e indireta e implicitamente outro, colocando outros como vítimas de maneira a gerar discórdia, autodefesa, dúvidas e desconfiança. Alcançando isso, passamos para a segunda fase: um pouco de temor misturado com mais um pouco de ataque. É infalível. Tínhamos em mente usar o Pastor Nilson como Judas, detonando-o, e destruir o pastor Heráclito e a pastora Vilma, que são os queridinhos do povo, de uma só vez; um explicitamente e ela implicitamente. Obviamente atingiríamos em cheio o Bispo e seu ministério.
Escrever esta carta é de grande alegria para mim e toda a minha equipe (ficou até parecendo com frases que vocês usam, estou ficando craque nisto também). É a premiação de atestar para vocês o quanto somos superiores e o quanto vocês não entendem nada de guerra. Tantos são os detalhes que eu poderia expor e tantas são as técnicas de conseguir informações no meio de pessoas tão ingênuas e despreparadas para a vida e principalmente para o que vocês chamam de "ministério". Vocês sabem o que é contra-informação? Vocês não sabem nada. Vimos todos vocês correndo de um lado para outro tão tontos sem saber o que fazer com uma merreca de carta anônima. Saíram atirando para todo o lado em vão. Ouvimos conversas entre pastores que demonstravam um medo tremendo de estarem sob suspeita, mesmo sabendo que não tinham feito nada. Foi hilário. Ouvimos comentários sem piedade, disse me disse, explicações do inexplicável.
Não se preocupem, minha missão por aqui acabou. Quando vocês receberem esta carta eu já estarei sendo aceito em uma grande igreja no Rio de Janeiro. Aguardem e vocês saberão o estrago que fizemos ali. Sabem onde eu morava? Em frente a igreja. Observava tudo o que lá acontecia. Vamos, saiam correndo, investiguem, vocês são tolos. Bons sonhos para vocês. Prestem mais atenção na manutenção do ar -condicionado.