VAMPIROS NO JAPÃO
As várias criaturas do folclore japonês não incluíam o clássico vampiro sugador. Possivelmente a criatura mais parecida com o vampiro, entre os inúmeros seres mitológicos, era o kappa. Descrito como uma fabulosa criatura das águas - rios, espelhos d'água, lagos e o mar - os kappas se inseriram na cultura japonesa e agora aparecem em ficção, desenhos animados, brinquedos e na arte. Os kappas foram inicialmente descritos, amplamente, no século 18. Dizia-se que pareciam uma criança humanóide nada atraente, com pele amarelo-esverdeada, dedos dos pés e das mãos em forma de teia e um tanto parecidos com um macaco, com nariz comprido e olhos arredondados. Tinham uma concha, parecida com a armadura de uma tartaruga, e exalavam um cheiro de peixe. A cabeça era côncava, retendo água. Se a água de sua cabeça derramasse, o kappa perderia toda a sua força.
Os kappas operavam próximos às águas em que habitavam. Muitas histórias relatam tentativas dos kappas de agarrar cavalos e vacas, arrastá-los para dentro da água e sugar seu sangue através de seus ânus (a tendência principal que deu aos kappas algum reconhecimento como vampiros). Todavia, sabe-se que eles deixavam a água para roubar melões e pepinos, estuprar mulheres e atacar as pessoas em busca de seus fígados. As pessoas acalmavam os kappas colocando os nomes de seus familiares num pepino e jogando-o na água onde os kappas habitavam.
Os kappas eram vistos como parte do cenário rural. Não eram atacados pelos humanos, mas às vezes os kappas tentavam fazer algum acordo com eles. Tal relacionamento foi ilustrado na história "The Kappa of Fukiura". O kappa perto de Fukiura era uma criatura perturbadora até que um dia perdeu um braço tentando atacar um cavalo. Um fazendeiro recolheu o braço e à noite o kappa aproximou-se dele para pedir o braço de volta. Rechaçado à primeira vista, o kappa finalmente convenceu o fazendeiro a devolver o braço, prometendo que nunca mais machucaria nenhum dos aldeões. Daquele dia em diante, conforme relatam os moradores, o kappa os alertaria dizendo: "Não deixe as crianças irem até a praia, pois o convidado está chegando". O convidado era outro kappa não-comprometido com o acordo do primeiro de Fukiura.
Outra história popular dos kappas dizia respeito a uma pessoa que morava no Lago Pond. Um homem deixou seu cavalo amarrado beira do lago. O kappa tentou arrastar o cavalo para a água, mas este disparou para casa. O kappa derramou sua água, perdeu sua força e foi carregado até o estábulo. Mais tarde, o homem encontrou seu cavalo junto com o kappa. Capturado num estado de fraqueza, o kappa fez um trato com o homem: "Se você preparar uma festa na sua casa, eu certamente lhe emprestarei as tigelas necessárias". Daquele dia em diante, todas as vezes que o homem se preparava para dar uma festa, o kappa trazia as tigelas. Depois da festa as tigelas eram postas do lado de fora da casa, de onde o kappa as recolhia.
Além do kappa, os japoneses tinham outra lenda interessante. "O Gato Vampiro de Nabeshima" relatava a história do Príncipe Nabeshima e sua linda concubina, Otoyo. Certa noite, um grande gato vampiro invadiu o quarto de Otoyo e a matou de maneira tradicional. Livrou-se de seu corpo e assumiu sua forma. Como Otoyo, o gato começou a minar a vida do príncipe todas as noites, enquanto os guardas adormeciam estranhamente. Finalmente, um jovem guarda ficou acordado e viu o vampiro na forma da linda jovem. Enquanto o rapaz montava guarda, a moça não pôde aproximar-se do príncipe, o qual se recuperou lentamente. Finalmente, deduziu-se que a moça era um espírito maligno que tinha o príncipe como alvo. O jovem, com vários guardas, entrou no apartamento da moça. Todavia, o vampiro escapou e se transferiu para uma região montanhosa. De lá, foram logo recebidos relatos de suas operações. O príncipe organizou uma grande caçada e o vampiro finalmente foi morto. A história foi transformada em peça, The Vampire Cat (1918) e em filme, Hiroku Kaibyoden (1969).
VAMPIROS JAPONESES CONTEMPORÂNEOS: Os japoneses, embora deficientes em termos da extensa tradição vampírica, têm absorvido, na última geração, o mito vampírico europeu, dando sua contribuição a este, principalmcnte através da indústria cinematográfica. Seu vampiro contemporâneo é chamado kyuketsuki. Já em 1956, foi lançado um filme de tema vampírico, Kyuketsuki Ga. O filme tratava de uma série de assassinatos nos quais todas as vítimas tinham marcas de dentes no pescoço, mas no final o matador não era um vampiro. Alguns anos mais tarde o diretor de Kyuketsuki Ga dirigiu outro filme, Onna Kyuketsuki (1959), que contava a história de um vampiro real que seqüestrava a mulher de um cientista atômico.
Entre os filmes japoneses de vampiro dos anos 60, estava Kuroneko (1968), que girava em torno da lenda do gato vampiro. Uma mulher e sua filha são estupradas e assassinadas por um grupo de samurais. Voltam do túmulo como vampiras que podiam se transformar em gatos pretos e atacar seus assassinos. No filme Yokai Daisenso, um governador de província é possuído por um demônio sugador da Babilônia, um sinal prematuro da absorção em andamento de elementos ocidentais nos filmes japoneses.
Os filmes de vampiro da Hammer Films inspiraram a produção de 1970 Chi i Suu Ningyo (The Night of the Vampire) e o filme de 1971 Che o Suu Me (lançado no Ocidente como Lake of Dracula), ambos dirigidos por Michio Yamamoto. Drácula fez sua primeira aparição no Japão nos anos 70. Em Kyuketsuki Dorakyura Kobe ni Arawaru: Akuma wa Onna wo Utsukushiku Suru (literalmente, Vampiro Dracula Chega a Kobe: O Mal Torna uma Mulher Bela) (1979), Drácula descobre que uma reencarnação da mulher que ele amava mora em Kobe, no Japão.
Em 1980, Dracula, um desenho animado de longa-metragem, baseado nos personagens da Marvel Comics, no bem-sucedido The Tomb of Dracula, foi o primeiro de uma série de excelentes desenhos animados de vampiro produzidos no Japão. Foi seguido de Vampire Hunter D (1985) e Vampire Princess Miyu (1988), alguns dos filmes japoneses mais assistidos no Ocidente. Em The Legend of the Eight Samurai (1984), o diretor Kinji Fukasaku apresentou a versão japonesa da história de Elizabeth Bathory, na qual uma princesa maligna se banha em sangue para manter sua juventude. O tema vampiro foi levado até os anos 90 com filmes como Tale of a Vampire, dirigido por Shimako Sato, baseado no poema "Annabel Lee", de Edgar Allan Poe. Os filmes japoneses mais recentes já se encontram em vídeo no Ocidente.
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