Estranho Inferninho

 

  Essa é por aquela noite

Que a gente não passou junto.

É por aquela festa

Que a gente não foi.

Por aquelas flores

Que eu não lhe dei.

 

  É por aquele vestido novo

Que você não comprou.

Por aquela música

Que a gente não ouviu.

Por aquele filme

Que a gente não viu.

 

  É por aquela peça

Que a gente não assistiu.

Por aquela mentira

Que a gente não contou.

Por aquele segredo

Que a gente não guardou.

 

  É por aquele chopp

Que a gente não tomou.

Por aquele passeio

Que a gente não fez.

Por aquela viagem

Que não se realizou.

 

  É por aquele almoço

Que a gente não comeu.

Por aquela casa

Que a gente não comprou.

Por aquele papo

Que a gente não bateu.

 

  É por aquela caminhada

Que a gente não deu.

Por aquela escalada

Que a gente não fez.

Por aquele show

Que a gente não foi.

 

  É por todo o carinho

Que a gente não se fez.

Por aquela trepada

Que a gente não transou.

E, por todo amor

Que a gente não teve.

 

  É por aquele sonho

Que a gente não sonhou.

Por aquele quadro

Que você não pintou.

Por aquele poema

Que eu não escrevi.

 

  É por aquele projeto

Que não se realizou.

Por aquele encontro

Que a gente não marcou.

Por aquele telefonema

Que a gente não discou.

 

  Pela Disneylandia

Que a gente não viu.

Por aquele boné

Que eu não usei.

Por aquele brinco

Com que você não brincou.

 

  É por aquele porre

Que a gente não tomou

Por aquele livro

Que nunca acabou

E, por todas aquelas coisas

Que a gente nem sequer imaginou.

 

  E, agora,

Eu, aqui, sentado

Na mesa

Desse estranho inferninho,

Tão triste,

Sem saber sequer

 

  Se você, realmente, existe...

 

  Fernando A. Moreira

 

 

 

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