Pai

 

  Onde estava tu, meu Pai,

Quando nas noites escuras

Eu me embebedava

Com toda a miséria

Desse mundo?

 

  Onde estava tu, meu Pai,

Quando nas ruelas desertas

Eu dividia o pão aos ladrões

Ora, o meu e,

Às vezes,

O dos outros?

 

  Onde estava tu, meu Pai,

Quando nas alcovas sombrias

Eu fazia de mim

Um palhaço

A divertir as prostitutas?

 

  E, agora, me condenas

Como a um proscrito

Como se a sina,

A mim traçada,

Não tivesse a mão

Da pena tua.

 

  Não!

 

  Eu não quero absolvição

De um crime

Que não é meu

 

  Não!

Eu não quero absolvição

Dessa pena

Que, na verdade, é tua.

 

  Dessa auto-condenação

Que te flagela

O peito e a alma

E, dilacera

A carne tua.

 

  Dessa tua omissão infinita

Dos meus sonhos

E dos meus heróis.

Da minha esperança eterna

De ser capaz

De uma mudança.

 

  Não!

Eu não quero absolvição

Da pena

De tua incompreensão...

 

  Desse teu desvario insano

De fazer de mim, a imagem

Do teu fracasso,

Da tua fraqueza.

Dessa tua miséria de espírito

E, desse teu falso heroísmo.

 

  Logo eu, que todo tempo,

Só queria

 

  Ser o teu Herói...

 

  Fernando A. Moreira

 

 

 

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