Qualé?

 

  É a vida que corre quente

Nas veias abertas

Do corpo caído

À beira do esquecido caminho.

 

  É a praga que rói

A mente cansada

De tanto pensar

A impensável vida vivida.

 

  É a ilusão que se nutre

Da imensa covardia

Do olhos fechados

Em pleno instante fatal.

 

  É a realidade inexorável

Do nossos destinos traçados

Pelas mãos caprichosas

De um Senhor entediado.

 

  É o conceito

Perfeito defeito

De uma mente enclausurada

Nos ardis de suas próprias concepções.

 

  É a ponte que falta...

A união que não houve...

A compreensão que tardou...

E a realidade que não mudou.

 

  É o descanso impossível

Refrega de uma luta eterna

Que se trava na consciência

De nossas angústias existenciais.

 

  É a água, a pedra, o ar...

A montanha que não se move

E o plasma que corre

Nos tecidos do corpo são.

 

  Que ainda se nutre da ilusão

De, um dia, chegar a compreender

O imenso mistério da vida

Que se esconde além do saber.

 

  Não ser esta vida

Um mistério qualquer

Que possa alguém, algum dia,

Chegar a compreender.

 

  Fernando A. Moreira

 

 

 

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