Vida

 

  Súbito, ouviu-se a gargalhada.

Rindo-se do próprio nada,

Invocando triste o passado,

A imagem do perfil acabado.

Cercou-se de estórias,

Contos, poesias e aventuras

À procura do retrato,

Que outrora pintara

Na grande tela da vida.

 

  Recordações vêm, em saudações,

Sinceras, contudo,

Não escondem a esperança

De um futuro criança,

Povoado de ilusões,

De grandes sensações

À espera de preencher

O imenso vazio de viver.

 

  Encarnado no presente,

Estando contudo ausente,

Vestiu, heróico, a máscara

E galopou, triunfante, pela glória.

 

  No rosto, a expressão do sério.

Na alma, a alegria irônica.

O sabor sem gosto de rir

Ao vento, ao céu, às nuvens,

À terra, ao campo e ao mar.

À tudo enfim

Que compõem a melodia,

A canção de sua vida.

 

  E, no auge da emoção

Ouviu-se a voz clamante,

Em um eco surdo, delirante,

Pedir, de novo,

A canção.

 

  Mas a canção ficou no ar.

Esperando um novo dia,

Uma nova nota,

Um arranjo melhor

Para encontrar a melodia.

E, ao pulsar do ritmo

Sentir, enfim, a harmonia.

 

  Fernando A. Moreira

 

 

 

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