As Características do
Grupo Cristão
Obstáculos e Dificuldades
(3ª sessão do Curso de animadores - Outubro 1996)
Relação/Amizade: relações que não se baseiam numa mera simpatia, mas numa amizade conquistada pela aceitação e respeito mútuos, pela confiança de uns para com os outros, pela ajuda que procuram prestar, pelo esforço de partilhar cada vez mais o que são e o que têm.
Reflexão e aprofundamento na fé: abrir-se à mensagem de Jesus Cristo e procura em conjunto da resposta a dar a essa mensagem. Colocar-se numa atitude de conversão, revendo a sua vida em comum. Para assegurar uma caminhada nesta reflexão, convém marcar um temário. Cada tema desenvolve-se a partir de um documento ou de uma leitura pessoal que se comenta entre todos e aí aparecem as interrogações da vida. Por vezes, pode fazer-se a reflexão a partir de uma passagem evangélica ou de um acto que aconteceu.
Oração-celebração: orar para celebrar e tornar consciente a presença de Jesus no grupo para buscar a vontade de deus e pedir força para cumprir. A oração pode ser sugerida pelo tema que se reflectiu ou por algum acontecimento. Antes de cada reunião pode rezar-se um pouco ou dedicar um encontro cada mês para isso.
Compromisso: comprometer-se na acção e pouco a pouco esse compromisso vai transformar-se num projecto de vida, segundo os valores que se vão assumindo.
É o grupo que se deixa com facilidade, por qualquer motivo. O grupo é "mais uma experiência", de modo que quando há interferências com outras actividades (desporto, festas de aniversário, dança, música...) abandona-se o grupo. Por isso é frequente encontrar grupos nos quais os animadores e o resto dos membros do grupo não sabem sequer quantos pertencem de facto ao grupo.
Isto deve-se evitar desde o primeiro momento, fazendo com que a assiduidade seja a primeira exigência a fazer, não só por parte do animador, mas também por parte de todos os membros.
Não falamos de escassez de membros, mas de grupos que reduzem as dimensões próprias de qualquer grupo cristão: a amizade, a reflexão, a oração e o compromisso. Ao princípio os grupos dificilmente podem dar importância às quatro dimensões, daí que seja o animador quem deve garantir que as quatro sejam atendidas. Com o tempo, á grupos que tendem a centrar-se exclusivamente nalguma das quatro dimensões: a oração (neste caso será uma oração desenraizada da realidade), o compromisso (com o que constituiremos somente um grupo de tipo social), etc.
O mais frequente é que muitos grupos se reduzam ao âmbito da reflexão, que aparentemente é o mais fácil de atender, pois "basta" seguir o programa de cada reunião (quando há um itinerário a seguir). Mas neste caso, a reflexão não cumpre os requisitos que se lhe exigem, já que deve partir não só de documentos, mas também da análise da realidade, e nessa análise deve aparecer também o compromisso e a oração.
Acontece nos grupos que tendem a estruturar-se em função dos problemas dos membros do grupo. Seriam "grupos-estufa", isto é, lugares onde os membros se sentiriam muito bem e onde os objectivos se situam "dentro de portas", na satisfação das próprias necessidades afectivas. Os objectivos do grupo não se encontram somente dentro, mas, principalmente, fora dele, de modo que, com o processo do grupo, se chegue a descobrir que o grupo é uma célula de construção do Reino, e não uma estrutura para desenvolver somente as minhas próprias capacidades e para me enriquecer pessoalmente.
É um problema que costuma acontecer nos grupos onde há conflitos pessoais entre os seus membros. Com este problema não se pode conviver e há que evitá-lo logo que possível. Não pretendemos um grupo ideal, no qual tudo corre bem nas relações dos seus membros; mas um grupo no qual as tensões são tão fortes que é impossível o diálogo, o consenso ou a aceitação dos membros, é inviável.
Será necessário que se procurem meios para que essas tensões se superem: algum encontro de grupo, a possibilidade de realizar algum trabalho juntos, etc.
Referimo-nos com este termo aos grupos nos quais um bom número dos seus membros, normalmente os mais tímidos, não têm a oportunidade de expressar-se ou participar de diversas formas porque os outros têm uma liderança absorvente. O animador deve estar atento de um modo especial aos membros que lhes custa mais falar, em primeiro lugar valorizando a sua participação, e em segundo lugar aumentando a sua auto-estima, isto é, animando as suas participações e felicitando aqueles que as fazem.
Ao falar de "pactos" fazêmo-lo em sentido figurado. O que caracteriza estes grupos é a mútua "não agressão": "eu respeito-te, não exijo de ti... e tu fazes o mesmo comigo". Deste modo vive-se sem tensões, sem crises... e sem caminhar. É difícil que um grupo assim se mantenha por muito tempo, porque cai pelo seu próprio peso.
É o grupo que se limita às reuniões, mas que não vive nenhum outro elemento que lhe dê vida e lhe ajude a olhar para fora: elementos dinamizadores que facilitem uma melhor compreensão do que é o grupo, actividades que superem a simples reunião, etc. Não estamos a propor um activismo, mas a tentar abrir os olhos para descobrir que, ao longo de um ano, são necessárias determinadas actividades que permitam que o grupo se sinta como tal fora do âmbito da reunião semanal. Se o compromisso de tipo social não puder ser algo contínuo, ao menos deve fazer-se o possível para que se possa viver alguma acção de tipo pontual, que sirva de estímulo e impulso para o andamento do grupo e que permita uma aproximação às realidades de necessidade. Este tipo de actividades que saem fora do "normal" são as que, ao terminar o ano, dão ao grupo consciência de ter feito uma caminhada e que lhes permite descobrir o sentido de tudo o que, teoricamente, se realiza no grupo.
Os componentes do grupo sentem-se muito bem uns com os outros, tanto que lhes parece inimaginável outro grupo no qual faltassem alguns dos seus membros. É um perigo, porque se pode chegar a identificar o grupo não com os valores que proporciona, mas com as pessoas que o formam. É curioso, por exemplo, observar como jovens que pertenceram a um grupo durante vários anos, e de uma forma muito activa, abandonam esse modo de viver ao mudar de residência. Motivo? Lá existem grupos, mas não estão os seus antigos companheiros.
Este obstáculo dá-se mais a nível pessoal do que a nível de grupo, mesmo que, logicamente, há uma relação entre aquilo que o grupo é e como este influencia em cada um dos membros. Entendemos como "estanque" a situação em que o grupo é só uma actividade mais na semana, valorizada pelos membros como mais uma ocupação, similar ou de menor importância que as actividades extracurriculares: desporto, cursos de línguas, informática, etc. A vida têm um grande número de compartimentos e o grupo é só mais um deles. Tudo o que faço no resto da semana não tem nada a ver com o grupo, por isso o grupo não é mais que um compartimento mais na vida de dos seus membros.
Todos os restantes obstáculos podem ser de maior ou menor compreensão, mas este é o mais simples. O grupo "de desordem" é aquele no qual não existe escuta, o animador "não suporta" os outros, é necessário intervir constantemente para voltar ao tema, etc. É muito frequente quando o animador é muito jovem e quando o grupo tem muitos membros. Que fazer? Antes demais, não desanimar, pois há animadores com verdadeira vocação, que perante estas experiências sofrem verdadeiras frustrações. É aconselhável não ser muito condescendente no princípio, deixar as coisas muito claras, fazer que sejam os próprios membros do grupo a exigir ordem e escuta, fomentar o valor do respeito de uns pelos outros... e ter muita paciência...
Diz respeito ao animador. É lógico que nos primeiros momentos do grupo o animador tenha um maior protagonismo; mas à medida que passa o tempo e o grupo vai amadurecendo, é necessário que o animador, sem renunciar ao seu trabalho, vá dando protagonismo ao grupo e fazendo que as decisões sejam tomadas pelos membros do grupo. Os grupos que dependem constantemente da pessoa do animador dificilmente pode amadurecer, e se isto ocorre é possível que a principal responsabilidade seja do animador.
Antes de explicar este obstáculo devemos deixar bem claro é que de facto o grupo é algo aberto. No entanto, isto não quer dizer que no nosso grupo haja lugar para todos, mesmo que seja "pouco popular" dizer isto. Vemos no Evangelho que o número dos que seguiam Jesus se reduziu muitíssimo à medida que as pessoas percebiam o que implicava seguí-lo. Por isso é um erro pretender reduzir tanto as exigências do que significa formar parte do grupo, cujo fim é tornar possível o seguimento de Jesus, que nele todos tenham lugar, mesmo os que vivem valores totalmente opostos. Normalmente não é o grupo que tem que dizer que alguém deixe o grupo. Mas o grupo deve deixar bem claro o que significa a pertença a ele para que cada um veja se isso é para ele ou não.
Seria precisamente o extremo oposto. Por definição, um grupo fechado, no qual se dissesse um "não" logo à partida a determinadas pessoas por preconceitos de qualquer tipo, não poderia ser chamado de "cristão".
Às vezes corre-se o risco de converter o grupo num lugar "de passagem": gente que vai "para ver", "experimentar", "convidado por um amigo"... Logicamente não se pode entrar num grupo "às cegas". É necessário saber em que se compromete, mas isso não pode significar que se condiciona de tal modo o grupo que não existe nenhum tipo de estabilidade. É necessário que as pessoas optem e quem faz parte do grupo saiba com quem pode contar.
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Arciprestal da Pastoral Juvenil de Barcelos
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Última revisão: 21-04-1997