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A TARDE
- em 16 de maio de 1988
-
Reportagem Rosane Santana
Lançamento do livro Relacionamento
Trajetória do Humano
Formada em Psicologia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro, a psicoterapeuta gestaltista baiana Vera Felicidade,
45 anos, lança seu quarto livro, intitulado "Relacionamento-Trajetória
do Humano". Há 20 anos, ela revolucionou a Psicologia
ao negar a idéia de inconsciente no livro "Psicoterapia
Gestaltista-conceituações" (agora relançado)
e criou um método psicoterápico próprio,
a partir dos fundamentos da Gestalt alemã e da Fenomenologia
de Husserl. Nesse seu mais recente trabalho, desenvolve o conceito
de que "todo relacionamento gera posicionamentos, geradores
de novos relacionamentos que, por sua vez, geram novos posicionamentos,
indefinidamente", além de conceituar o que é
desejo, dúvida, escolha, angústia, disponibilidade,
ilusão e realidade, e amor. Numa entrevista exclusiva
para A TARDE, ela fala de sua teoria e faz antítese a
uma série de conceitos da Psicologia atual:
A TARDE - Como surgiu a idéia
de fazer a Psicoterapia Gestaltista?
V.F. Quando eu estudava Psicologia,
em 64, e a Psicanálise não respondia e não
satisfazia aos questionamentos sobre o humano, na medida em que
me parecia uma coisa totalmente literária, que se fundamentava
no constructum do inconsciente, que era uma hipótese e
não tinha nada de científico. A questão
do inconsciente não permitia nenhuma comprovação
a não ser através dele próprio. Para isso,
influíram bastante minhas fundamentações
filosóficas de Materialismo, Materialismo Dialético,
minha preocupação muito grande com Epistemologia.
Isso também estava ligado à minha idéia
de que a Psicologia tinha de conhecer o homem e não ajudar,
como pensava aquela geração de psicólogos.
Então, fui tentando respostas ao que era o ser humano,
até que, em 1970, eu consegui responder a essa pergunta
e fiz um livro.
A TARDE - Como você
estruturou um método psicoterápico?
V.F. Foi como se todo o conhecimento
de Gestalt deixasse claro para mim que, para se entender o humano,
tinha de ser em termos do que ele era no mundo, enfim, como ele
percebia. Procurei transpor todas as leis da percepção,
dadas em experimentos, e fazer uma dinâmica. Tinha uma
série de conceitos da Psicanálise; "ato falho",
por exemplo, que era explicado pelo inconsciente, que a Lei da
Proximidade pode explicar; associação de idéias,
que Freud e Jung levaram tempos fazendo, pode-se explicar por
Proximidade, Boa Forma, Continuidade - leis da percepção.
Mas a minha preocupação maior foi a de colocar
conceituações. Escrevi, a partir daí, o
primeiro livro, que é o fundamento de todo o trabalho,
onde eu defino o que é o ser humano, pegando o problema
da temporalidade, mostrando que o passado não influi,
porque se ele influi, é presente, e mostrando também
que o futuro não existe, se ele existe é uma meta
e como meta é desestruturador. Nesse sentido, minha visão
é bastante fenomenológica, mas com uma divergência
da Fenomenologia, porque leva em consideração a
estrutura. Uma outra questão que precisava ser respondida
era a da carência afetiva, porque era considerada uma coisa
ruim, uma doença. Mostrei que a carência é
intrínseca ao ser humano, mas, quando percebi isso, percebi
níveis de estruturação do humano, que chamo
de necessidades e possibilidades. O ser humano é resultante
de possibilidades ou como busca de solução das
necessidades. O primeiro livro foi quase aquela imposição
de coerência científica, de dar luz a idéias
para que possam ser discutidas e, num certo sentido, também
um respaldo teórico para o meu trabalho, para não
ficar considerado uma coisa charlatã.
A TARDE - A Psicoterapia
Gestaltista é melhor do que a Psicanálise?
V.F. Quando eu criei a Psicoterapia
Gestaltista, minha preocupação não foi a
de fazer o que a Psicanálise não fez ou ser melhor
do que a Psicanálise. Posso até ter colocado isso,
na medida em que critico bastante a Psicanálise, porque
é uma teoria que carece de uma série de fundamentações
metodológicas e científicas; além de tudo,
uma teoria criada num contexto de final de século XIX.
Tínhamos, naquela época, uma Psicologia incipiente,
totalmente dominada pela Psicofísica, Psicofisiologia
e havia também uma ciência que se caracterizava
por medidas e o ser humano era considerado algo complexo, qualitativo,
que não podia ser medido. Qualquer teoria que não
tentasse pegar a complexidade humana, através de uma complexidade,
um mito, não tinha como agir. Já em 1970, após
o hippismo, uma série de crises dentro da Filosofia, superpopulação
etc, foram caindo os véus de uma coisa que era sempre
óbvia, quer dizer, o homem está no mundo e tem
mil variáveis, não adianta esclerosar, nem determinar
pontos de medição. A minha teoria acho válida
na medida em que ela procura mostrar a abrangência, a globalidade
da maneira de apreender o humano. A Gestalt é uma visão
global, uma visão de campo, não aquela coisa de
categorias, de tipos, classes. Se eu não tivesse criado
a Psicoterapia Gestaltista, provavelmente uma outra pessoa iria
fazer um equivalente, porque não era mais possível
trabalhar com aquele conceito rígido, estereotipado de
inconsciente.
A TARDE - Do primeiro livro
para este quanto, que você está lançando,
o que mudou em seus conceitos acerca do ser humano?
V.F. Agora, mudou tudo em termos
de desenvolvimento de conceituações. Por exemplo,
quando eu digo que todo relacionamento gera posicionamentos geradores
de novos relacionamentos, que por sua vez geram novos posicionamentos,
indefinidamente, e aí eu defino dúvida, angustia,
escolha, amor, disponibilidade, que seriam as diversas manifestações
de situações onde isso aparece, quer dizer, o desenvolvimento
de que todo relacionamento gera posicionamentos... num certo
sentido, estou mostrando que o ser humano existe num tempo e
num espaço. Que a temporalidade é o relacionamento
e a espacialidade é o posicionamento. Só que em
1972, eu não tinha a idéia clara de que todo posicionamento...
Eu explicava isso, talvez, em termos de dialética. Dizia
que as coisas são contínuas, mas eu já falava
numa espiral e nesse novo conceito estou explicando a espiral.
Então, é o desenvolvimento de uma conceituação
que estava em outro sentido. No quarto livro, já sabendo
o que é o ser humano, fui mostrar o que ele faz. Que ele
se relaciona ou se posiciona, está num tempo, num espaço.
Ainda no primeiro livro eu colocava que perceber é conhecer
pelos sentidos, porque estava procurando fazer antítese
ao conceito de consciência, que gerou a antítese
do conceito de inconsciente. Quando digo, no quarto livro, que
percepção é relacionamento, estou exatamente
abrangendo uma coisa que, numa certa visão acadêmica,
eu posicionava.
A TARDE - Quando é
que ocorrem posicionamentos como a angustia?
V.F. Angustia é um sintoma
de não aceitação, angustia é compromisso.
É um momento de parada do humano, que se detém
numa expectativa, num a priori. O ser humano perde toda uma dinâmica,
uma reversibilidade. Tem tremor, suor frio, não engole,
não consegue dormir, tem impotência sexual, tem
medo, está posicionado, aprisionado nos deslocamentos
resultantes de uma não-aceitação não
enfrentada. Esses posicionamentos vão gerar novos relacionamentos,
o medo de morrer, de ter um infarto, o drama de ver se consegue
uma ereção, o problema de ter de engolir diante
da comida, então esse posicionamento gera todo um relacionamento
com dificuldades. É mais ou menos o seguinte: se você
ficar deitado em qualquer situação, parado, o próprio
fato de ficar parado cria uma série de relacionamentos,
muda, cria sulcos na cama, escaras no corpo, dormência
nos músculos etc.
A TARDE - E de que forma
a psicoterapia gestaltista age para estruturar o ser humano?
V.F. Fazendo antítese
no sentido de neutralizar esses deslocamentos dos posicionamentos.
Vamos dizer, angustia é um posicionamento que foi gerado
por um compromisso, então esse compromisso vai criar uma
série de deslocamentos, medo, dor no peito, não
engolir, enfim, a somatização. Então, a
Psicoterapia Gestaltista começa a fazer com que o indivíduo
perceba que aquilo que ele sente é criado por ele próprio
e não resultante de nenhuma outra coisa, um feitiço,
um azar, uma doença orgânica, ou até mesmo
o inconsciente. Na idéia da Psicanálise, as pessoas
pensam que, inconscientemente, elas estão querendo se
destruir. A atitude da Psicoterapia Gestaltista é cortar
os álibis, impedir que o cliente utilize o problema como
uma justificativa para a própria dificuldade, fazendo
a pessoa se defrontar com a coisa que está problematizando.
A Psicoterapia Gestaltista não promete salvação
no sentido de que o indivíduo nunca vai ter problema.
E exatamente aí chega-se ao conceito principal da psicoterapia
no que tange à neurose.
A TARDE - O que é
neurose?
V.F. É não aceitação
da não-aceitação, que cria um auto-referenciamento,
responsável por uma distorção perceptiva,
que leva o indivíduo a viver referenciadamente ou num
tempo que não é o presente. O que a terapia pretende
é dar condição de a pessoa se aceitar, mesmo
que essa aceitação seja uma aceitação
da não-aceitação. Nesse sentido, a Psicoterapia
Gestaltista não tem valores, não tem idéias
fixas, não tem, inclusive, objetivo de ajuste. Se a pessoa
se aceita do jeito que ela é, ótimo. Se ela é
uma maravilha dentro do sistema em termos de ajuste, mas não
está se aceitando, tem de se modificar e a terapia propicia
isto.
A TARDE - As fobias, a depressão,
as psicoses, assim como a angustia são sintomas de não-aceitação?
V.F. A sua pergunta é
interessante na medida em que permite revelar o que é
a Psicoterapia Gestaltista. Ela não é uma teoria
de classe, é uma teoria de campo. Então, ela não
tem categorias de neurose, tipos de sintoma, quer dizer, é
a impotência sexual, a frigidez, a falta de ereção,
não engolir, ficar tonto, ter medo de ir à rua,
ter uma úlcera, tudo são posicionamentos resultantes
de uma quebra do relacionamento, de uma quebra da gestalt eu-no-mundo.
A Gestalt, como o Budismo, o Taoismo, a Biologia, a Física
e a Química, pensa no mundo como uma totalidade, não
existem setores, nem partes. O que é que a Biologia faz:
pega uma célula do epitélio do braço e dali
descreve toda a estrutura cromossomial. O que a Psicoterapia
Gestaltista pretende é que com uma simples mostra de comportamento,
possa ser reproduzido tudo quanto o indivíduo é.
Não existe essa coisa de que em casa o indivíduo
é assim, no trabalho, ele é assado. A Psicanálise,
como terapia de apoio, admite que o indivíduo é
ótimo e tem um distúrbio. Na Psicoterapia Gestaltista
não existe isso, há uma unicidade. Qualquer problema
é sempre um índice, um sintoma de neurose. É
uma visão num certo sentido, muito simples, óbvia.
Tipo o "Ovo de Colombo". Se uma laranja está
estragada, não adianta cortar um pedacinho. Quando fizer
a laranjada, vai ficar com o gosto de laranja estragada, porque
quando uma parte está afetada, o todo está comprometico,
pois o todo não é a soma das partes.
A TARDE - Isso explica o
fato de você aceitar casos considerados irrecuperáveis,
como as psicoses?
V.F. Sim. Desde que se consiga
mudar a percepção que o indivíduo tem dele
mesmo, ele muda o relacionamento com tudo. Agora, claro que,
no caso de psicose, seria o mesmo trabalho, em termos de conceituação,
que a neurose, mas há variáveis que atrapalham,
porque quando o indivíduo está psicótico,
ele já não tem autonomia econômica, autonomia
de ir e vir, então fica difícil o tratamento e
o resultado, mas não por ele ser psicótico, e sim
porque à medida que ele é psicótico, cria
uma série de posicionamentos que o impermeabilizam a um
diálogo.
A TARDE - A tipificação,
a classificação da neurose por categorias, é
uma distorção da Psicologia atual?
V.F. As visões antigas,
quando achavam que o ser humano era complexo, estabeleciam tipos
de complexidade, então começavam a tipificar. Aí,
vêm as fobias, os pánicos, as regras, até
os comportamentos típicos das diversas faixas etárias.
Adolescentes agem assim, pessoas adultas agem assado, até
comportamento de categorias profissionais: psicólogos
são sempre malucos, jornalistas não sei o que lá
etc, como uma maneira de, somando aquele resultado, chegar-se
a um entendimento, quer dizer, é o método dedutivo
e indutivo, que ainda predomina nas Ciências Sociais e
na Psicologia. Não conseguem apreender a globalidade,
então param para classificar. Daí, vêm as
fobias, as características. Além de se falar nas
fobias, fala-se também no karma,no destino, nas coisas
paranormais para tentar explicar. Está cada vez mais acentuada
a idéia de que o ser humano é complexo, é
enigmático, porque cada vez se dispõe menos de
uma forma de globalizar, cada vez mais se cai na tipificação,
porque a gente está vivendo uma época de alta tecnologia,
da operacionalização das coisas. A essência
do humano nunca é configurada, nem considerada, o que
existe é o funcionamento do humano.
A TARDE - E como se situa
a Psicoterapia Gestaltista dentro deste contexto?
V.F. A Psicoterapia Gestaltista
não pensa no humano como uma coisa linear. Quando se pensar
no humano, tem de se pensar, mais ou menos, numa coisa tão
dinâmica quanto aquele modelo do átomo. Existem
mil variáveis, mil interseções, mil movimentações.
Não existe diferença entre o homem do século
XX ou do século X, ou antes de Cristo. O homem é
sempre o mesmo enquanto essência. Falando nisso, me lembro
de Husserl, criador da Fenomenologia, quando ele disse que a
ciência era descrição e causou um terror
na época, porque a ciência era compreensiva e explicativa,
quer dizer, dedutiva e indutiva. Chegaram para ele e perguntaram
quem nasceu primeiro, se foi o ovo ou a galinha. Ele respondeu:
tragam-me o ovo e a galinha e eu respondo. Isso é a descrição
fenomenológica. Quando eu digo que não há
um homem de ontem, num certo sentido estou parafraseando Husserl.
Quero dizer, tem de se pensar no homem agora, no homem aqui.
Não existe esse homem hipotético, quimérico,
existe sempre um homem de carne e osso num tempo.
A TARDE - Porque o método
dedutivo e indutivo é predominante na Psicologia?
V.F. É muito mais fácil
entender qualquer coisa através de uma analogia, ou seja,
o entendimento através de uma essência implica numa
globalização. A globalização fica
difícil pelos próprios posicionamentos referenciados.
Então, toda vez que vem qualquer raciocínio analógico,
esse raciocínio é mais compreensível. Quando
Freud, por exemplo, dizia que seus mestres eram os gregos e pegava
uma tragédia como "Édipo" e aí
estruturava toda a coisa do Complexo de Édipo, ele usava
todo o conteúdo, toda uma forma literária, simbólica,
que dava respaldo para as pessoas irem interpretando, irem, digamos,
fazendo analogia, analogando. Quando se fala que tem de apreender
a essência, configurar, globalizar o fenômeno, a
coisa fica meio seca, meio solta. Por exemplo: os gestaltistas
eram muito criticados, porque explicavam o comportamento humano
através da percepção e quando iam falar
de percepção, desenhavam pontinhos. Toda a formação
da sociedade, e aí contribuiu muito a Igreja Católica
na sua vertente presbiteriana e protestante, é uma visão
pragmática, inclusive a ciência do século
XX se desenvolveu através da abordagem pragmática
de Auguste Comte. Quer dizer, qualquer coisa existe com algum
motivo, com alguma finalidade. Então, quase que, hoje
em dia, a recuperação do humano deveria ser feita
no sentido de diletantismo. Eu falo, nesse quarto livro, que
o início da transcendência no massificado é
a atitude estética, quer dizer (sem fugir do assunto para
não dar margem a distorções), a gente pode
falar que um desfile de escola de samba, ou uma partida de futebol
com aquela coordenação harmônica das coisas,
já é uma transcendência, porque permite a
instauração de uma harmonia, é algo que
transcende a realidade. Retomando a questão, por incrível
que pareça, as contingências, às vezes, explicam
melhor do que as conceituações. É muito
mais fácil dizer que o indivíduo é desajustado
do que dizer que o indivíduo é desajustado porque
não aceita os seus limites.
A TARDE - Se percepção
é relacionamento e a neurose é distorção
perceptiva, o que pode acontecer com uma civilização
onde os indivíduos se relacionam distorcidamente?
V.F. Se as percepções
são cada vez mais distrocidas, os relacionamentos vão
ser mais distorcidos. Agora, como todo relacionamento gera posicionamentos
geradores de novos relacionamentos... indefinidamente, a própria
massificação vai dar condições do
homem se humanizar. Vai funcionar como antítese. Num certo
sentido, por que é que existe espaço, hoje em dia,
para a Psicoterapia Gestaltista, embora sem a repercussão
que tem a Psicanálise, um Eduardo Mascarenhas? Porque
a Psicanálise já não atende. Ou, num outro
nível, por que a Medicina maravilhosa dos anos 60 chegou
ao ponto que chegou, em termos de atendimento, e cada vez mais
cresce a Medicina alternativa, a Macrobiótica, a Homeopatia,
os tratamentos por ervas, a Acupuntura e tudo o mais? Chega um
ponto em que a massificação é tão
grande que o sistema se reverte. Essa é a esperança,
por mais massificado que seja o sistema, sempre haverá
uma condição de humanizar as pessoas. Por isso,
eu trabalho com Psicoterapia Gestaltista. É aquela coisa
que diz que tudo que sobe desce, é a Lei da Gravidade
da Física, e o próprio mito grego da Fênix.
A coisa como uma regeneração, mas uma regeneração
naquele sentido de que todo relacionamento leva a um posicionamento...
A TARDE - Neste quarto livro,
você diz que não existe escolha. Dá para
explicar isso?
V.F. A escolha vai estar sempre
comprometida com alguma contingência. Essa contingência
passa a ser necessariamente uma aderência, extrínseca
a própria situação escolhida. Quando as
situações forem diferentes e você tiver de
escolher, você vai escolher em função de
algum referencial outro, que não o da coisa escolhida.
Esse referencial outro é um comprometedor, desde que ele
é um orientador, um determinante de conduta. Então,
no que a sua conduta de escolha fica em função
de um determinante, a escolha já é uma total aderência,
quer dizer, ou ela é um acaso ou é um obrigatório.
No primeiro caso, aliena; no segundo, orienta. De 1960 para cá,
a escolha foi uma palavra que ficou em moda, porque Sartre começou
a dizer que o homem é livre quando escolhe. Isto porque
as pessoas eram tão comprometidas pelas engrenagens do
sistema, que sequer escolhiam. O grande momento humano da não-coisa,
da geração de 60, era quando o indivíduo
podia escolher. Camus disse que a liberdade é a possibilidade
de dizer não. Caetano disse que é a possibilidade
de dizer sim. Então, é a liberdade como aquele
ato desesperado, quando o indivíduo transcende a circunstância
e consegue dizer sim, eu quero isto, não, eu não
quero isto. É uma visão meio desesperada, meio
aquela frase de Brecht: "Triste do país que precisa
de heróis". Quando eu digo que a escolha é
o que há de mais negativo, quero dizer triste da pessoa
que tem de escolher.
A TARDE - É mais ou
menos a situação do filme "A Escolha de Sofia"?
V.F. "A Escolha de Sofia",
quando ela está com as duas crianças e o cara diz
olha, você tem dois filhos, um vai morrer, você vai
escolher qual? Se você não escolher nenhum, morrem
os dois. Quando ela escolheu um e salvou o outro, percebeu a
total armadilha, a total impotência. Quando a filha vai,
ela aceita, mas está tão massificada tão
comprometida, que ela grita, mas não corre, porque se
corresse seria metralhada, morreriam todos. Para isto, ela teria
que ter uma atitude espontânea e não estar ainda
querendo sobreviver. Existem situações na vida
que é melhor não sobreviver a elas, em termos de
uma visão estruturada, autêntica, individualizada.
Dentro de uma visão massificada, de sobrevivência,
as pessoas querem sempre sobreviver ao que quer que seja, custe
o que custar. Quando o indivíduo é um ser disponível,
no sentido de espontâneo, nenhuma escolha o coloca contra
a parede. A trajetória, se observada como um contínuo,
não tem bifurcações, não há
quebras. Essa quebra é que propicia a escolha, a angustia.
Quando a gente fala de massificação e essa coisa
de sobrevivência, fica claro que, apesar de 30 séculos
de pensamento filosófico e dois séculos de ciência,
a gente continua pensando no ser humano como um organismo. O
pensamento é esse, o ser humano é pensado como
um organismo que tem necessidades sexuais etc. Ou então,
como fruto do divino. Fica difícil pensar no ser humano
como temporalidade e espacialidade.
A TARDE - É possível
a transcendência sem psicoterapia?
V.F. Sem a psicoterapia eu acho
impossível que um ser humano se estruture. Quem transforma
o ser humano é o outro, mas o outro enquanto aceitação
e disponibilidade. Se a pessoa não se aceita, é
porque nunca encontrou esse outro. O outro que poderia aceitá-la
e transformá-la seria o psicoterapeuta, na medida em que
estabeleça o questionamento. Ou então, o amor.
Se alguém for amado pelo outro ao ponto de ser aceito
com toda a disponibilidade, ele se transforma. Saindo desse movimento
de amor como entrega, integração, aceitação
total, e da terapia, não tem como. Se o indivíduo
é problemático, ele não pode amar, mas por
um "milagre", alguém pode amá-lo ao ponto
dele se transformar.
A TARDE - Terapia gera dependência?
V.F. A psicoterapia Gestaltista
é um questionamento, uma dinamização, uma
antítese, um corte de deslocamentos, o outro lado, o oposto
do posto, então dinamiza. Quem vivencia um processo terapêutico
sabe disso. Quem está fora, às vezes, o pai, o
marido, a mulher, o amante, vê como dependência,
a bengalinha, a coisa ruim. Porque é um outro, que não
ele, que está interferindo naquele que ele gostaria de
agir. É uma dinamização, e vista por olhos
que não os dos participantes do processo, começa
a ser conceituada e considerada dentro dos referenciais problemáticos
da pessoa que está olhando. Uma coisa é o que se
vivencia, outra é como o outro vê aquela vivência.
Terapia não é uma coisa de bom senso. Não
que ela seja uma coisa de loucos. O bom senso é o consensual,
é o estatisticamente pregnante, mais válido. Isso
vai ser, necessariamente, um geral definidor, e um geral definidor
não é nunca individualizante. Não é
bom senso, com isso não quero dizer que seja contra-senso.
É senso, juízo sem atribuições valorativas.
Não é bom senso, nem consenso, nem contra-senso,
nos verdadeiros sentidos das palavras.
A TARDE - Há 20 anos,
você criou um meetodo psicoterápico. Durante todo
esse tempo vem trabalhando como psicoterapeuta, mas não
é conhecida do grande público. Isso não
te incomoda?
V.F. Todo o meu trabalho é
um trabalho de antítese, dada toda essa ordem vigente
da Psicanálise, do estágio atual do pensamento
da Psicologia, das Ciências Sociais, acerca do que é
o humano. Porque a Psicologia, a Sociologia, a Psicanálise,
a Linguística, enfim, todas as ciências sociais
acham que o ser humano é resultante de ene variáveis,
como cultura, economia, família etc. Eu não digo
que ele é resultante, digo que ele é um ser-no-mundo
e que se relaciona com todas essas demandas. Nesse sentido, meu
trabalho é antítese e antítese nunca é
reconhecida. Só é reconhecida quando síntese.
Dentro disso, não me incomodo, até entendo, porque
seria completamente anti meu pensamento dizer que as coisas são
como são, saber que isso que eu penso não se pensa
em geral, e querer ser reconhecida. Agora, se estou criando uma
coisa, é claro que eu gostaria que isso fosse reconhecido,
numa visão transversal. Porque longitudinalmente, eu sei
que, se faço antítese, meu trabalho só vai
sendo reconhecido aos poucos. No dia-a-dia da terapia eu sinto
o meu trabalho totalmente reconhecido, eficaz, exatamente por
isso ele se mantém há 20 anos. Quando digo que
não existe inconsciente, que o ser humano não é
resultante do instinto, das ordens econômicas, não
é determinado pela cultura, não tem nada a ver
com o karma etc, estou colocando uma antítese a toda uma
série de explicações. O importante é
o passo a passo, tijolo por tijolo, contribuir para mudar o pensamento
dominante, estruturando um outro.
A TARDE - Então, Vera,
seu trabalho é aquilo que você diz sobre a dúvida:
"Toda afirmação negada, que possibilita uma
pergunta?"
V.F. Isso! Você apreendeu
a Gestalt.
Correio da Bahia
Segunda-feira - 13.12.1999
- reportagem: Sandro Lobo -
Lançamento do livro Desespero
e Maldade
Criadora da Psicoterapia Gestaltista, Vera
Felicidade lança hoje, no Theatro XVIII, seu sexto livro,
'Desespero e maldade - Estudos perceptivos relação
Figura-Fundo'
O estado de violência e bestialidade
em que se encontra o mundo neste final de século (que
não é um privilégio da época) tem
despertado a atenção de diversos estudiosos das
mais variadas áreas. Mesmo a sociologia não tem
conseguido dar conta da abrangência da questão,
em cujo cerne está a forma de estruturação
psicológica do ser humano. "A não-aceitação
do indivíduo e o deslocamento decorrente dos impasses
não enfrentados concorrem para a existência da maldade,
que não é intrínseca ao humano",
afirma a psicoterapeuta gestaltista Vera Felicidade de Almeida
Campos, que lança hoje seu sexto livro, Desespero e maldade
- Estudos perceptivos relação figura-fundo (Edição
da Autora, 104 páginas, R$20), às 18h, no Theatro
XVIII, Pelourinho.
"Não há um bem, não
há um mal", defende Vera
Felicidade - como é mais conhecida -, considerada o maior
expoente em Psicologia Gestaltista da América Latina.
"A maldade não resulta de condições
sociais e econômicas adversas, tanto quanto não
é um instinto humano, nem a ausência de Deus, nem
a presença do demônio". Segundo ela, a
relação das pessoas com a percepção
que têm de si próprias, do outro e do mundo é
o que estrutura o que chamamos "humano" - mas também
o desumano. A partir dos estudos da percepção,
ela procura responder a uma questão específica:
por que nos comportamos como nos comportamos. Criadora da Psicoterapia
Gestaltista, ela foi buscar nos gestaltistas clássicos,
como Köeller e Wertheimer, mas especialmente Kurt Koffka,
conceitos a partir dos quais desenvolve seu trabalho.
Em seu novo livro, Vera Felicidade vai retomar
questões que interessavam a Koffka, como "por que
se vêem as coisas como se vêem". Para estruturar
a psicoterapia, ela transpôs os conceitos da psicologia
gestaltista. "O objetivo é a estruturação
do indivíduo, de forma que ele se aceite como ser no mundo",
diz. O enfoque é na relação figura-fundo,
seja no visual, táctil, gustativo ou olfativo. "Antigamente,
achava-se que nós estávamos no mundo, captávamos
as coisas pela sensação, elaborávamos pela
percepção e isso dava a consciência. O gestaltismo
vem acabar com esse dualismo entre percepção e
sensação: você capta o que você percebe,
não tem que elaborar".
Uma experiência feita ainda à
época de sua formação no curso de Psicologia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acabou entrando
para o novo trabalho. Nela, a psicoterapeuta reuniu alguns deficientes
visuais no Museu do Índio, e constatou que eles podiam
"conhecer" os objetos que lhes eram apresentados, como
tacapes, lanças e cocares, entre outros. "Os gestaltistas
já haviam descoberto que há uma transponibilidade
da forma, ou seja, das percepções; um cego de nascença
não tem o engrama, a memória de uma experiência
visual, mas podia perceber pelo táctil ou pelo olfativo,
por exemplo".
Trabalhando há 31 anos na área,
Vera radicalizou suas conceituações no âmbito
da percepção. "Nós somos o que nós
percebemos, agimos conforme o que percebemos; mas a percepção
é um átimo no presente, a gente tem memória,
história, uma série de percepções
que vão se sucedendo, então a gente percebe em
'x' e imediatamente contextua em 'y' (que é uma percepção
anterior, a memória). O prolongamento da percepção
do presente é o pensamento. Neste livro, eu digo que a
gente pensa muito e percebe pouco: se seguíssemos o que
a gente percebe, haveria menos preconceito, menos compromisso
e mais disponibilidade". Quem quiser mais informações
sobre Vera Felicidade, pode acessar a internet no endereço
www.geocities.com/Athens/8935
FICHA
Livro: Desespero e maldade - Estudos Perceptivos
Relação Figura-Fundo
Editora: Edição da Autora, 104 páginas
Preço: R$20
Local: Theatro XVIII
Horário: A partir das 18h
BIBLIOGRAFIA DA AUTORA
Psicoterapia Gestaltista - Conceituações
(Edição da Autora, 1973)
Mudança e Psicoterapia Gestaltista (Zahar Editores,1978)
Individualidade, questionamento e Psicoterapia Gestaltista (Alhambra,
1983)
Relacionamento - Trajetória do humano (Edição
da Autora, 1988)
Terra e Ouro são iguais - Percepção em Psicoterapia
Gestaltista (Jorge Zahar Editor, 1994)
Nem Deus nem diabo
Normalmente, livros do universo da Psicologia
são extremamente difíceis para o público
leigo, porque exigem um prévio conhecimento da linguagem
e algum entrosamento com as diversas linhas de pensamento. No
caso de Desespero e maldade - Estudos perceptivos relação
figura-fundo, de Vera Felicidade, este público não-iniciado
não precisa ficar apreensivo no que toca à possibilidade
de compreensão do livro.
"Dá para entender, mesmo eu
utilizando todo um arcabouço teórico-conceitual,
que é um pouco duro e realmente requer alguma formação.
Mas na segunda parte do livro eu vou justificar o meu conceito
de maldade, para entender toda essa violência, mil situações
absurdas, como o holocausto, a violência contra a mulher
na Índia; isso está no universo de qualquer pessoa
e não pode ser entendido como neurose, ou aquelas explicações
que falam de um instinto do mal. Não é Deus, não
é o Diabo, o que pode ser então?".
A resposta genérica, segundo Vera,
é a de que a não-aceitação cria deslocamentos
absurdos, como a violência. "Essa constatação
está presente nos meus outros trabalhos, mas eu afinei
mais o conceito em Desespero e maldade. No fundo, essa é
toda a minha preocupação teórica, porque
eu estou o tempo inteiro em interlocução com esses
gestaltistas clássicos, Koffka, Wertheimer e Köeller,
de 1912", conta. Para Vera, aquele foi um grande momento
científico da Psicologia. "Mas depois da Primeira
e Segunda Guerras, tudo o que era feito in Germany, especialmente
no campo do pensamento, passou a ser execrado pelo mundo ocidental,
que não absorveu aquelas descobertas", conclui.
A Tarde
Segunda-feira - 13.12.1999
- reportaqgem: Rosane Santana -
Lançamento do livro Desespero
e Maldade
A psicóloga gestaltista Vera Felicidade,
57 anos, lança hoje, às 18 horas, no Theatro XVIII,
Pelourinho, o seu sexto livro, Desespero e Maldade, dando continuidade
a sua obra conceitual em Psicologia, iniciada há 30 anos.
Nele, a autora fala sobre a violência, o desespero e a
ética e afirma que "a maldade não é
obra de Deus nem do Diabo, nem é mal-estar da civilização
comandada peloThanatus". A seguir, entrevista com a
psicóloga.
P - A senhora
construiu, ao longo dos anos, uma obra conceitual em Psicologia,
que se caracterizou pela quebra de idéias estabelecidas,
como o inconsciente, abrindo novas perspectivas no campo do conhecimento,
da epistemologia. O que há de novo neste seu sexto livro?
R - No Desespero
e Maldade, enfoco os estruturantes perceptivos, a relação
Figura-Fundo das próprias percepções. Quando
estabeleci a diferença entre conhecer e categorizar, percebi
que, além de não existir inconsciente, também
não existe mente, nem consciência. Agora, posso
dizer que vida psicológica é vida perceptiva.
P - A senhora
está dizendo que, além de não existir inconsciente,
também não existe mente, nem consciência?
R - A questão
do inconsciente já expliquei há mais ou menos 30
anos atrás, em meu livro Psicoterapia Gestaltista - Conceituações,
especificamente no capítulo O Mito do Inconsciente, que
está na minha homepage. Agora, pra entender a questão
da não-existência da mente e da consciência,
vale considerar algumas coisas: no século XIX dominava
a visão causalista, associacionista e determinista em
toda a Ciência. O processo do conhecimento era explicado
como resultante da elaboração dos dados sensoriais.
Essa elaboração, essa organização
era feita pela consciência, pela mente. Explicava-se o
fenômeno através do epifenômeno. Acontece
que a organização é intrínseca ao
percebido. O mundo está aí, nós estamos
nele. É uma Gestalt, uma coisa só, e não
uma soma. Uma das implicações deste conceito é
que podemos dizer minha língua decide, meu nariz escolhe,
minha pele cogita. O comportamento vai depender destas relações
perceptivas.
P - Quais são
as implicações dessa abordagem, como fazer psicoterapia
sem mente?
R - Pense
em um viciado: comida, tóxicos, remédios, satisfação,
por exemplo. Tudo pode ter começado por uma não-aceitação
do próprio corpo. Destacado por esse processo, o corpo
passa a ser o outro. Essa divisão, estrutura o auto-referenciamento,
quer dizer, além do próprio corpo, existem apenas
os próprios critérios. Exilado o outro, criado
o abismo, existe apenas o desejo de construir situações,
de preencher o que nos falta. O vício, a droga, a comida,
a dependência afetiva são sistemas de ampliação,
meios desesperados de conseguir o
que se quer. Quando, em psicoterapia, o indivíduo começa
a perceber que o outro é ele, ele percebe o vazio, o isolamento
em que se encontra. Ele aceita isso e muda, ou ele utiliza isso
para justificar seus incômodos e propósitos. Tudo
que poderia ser enfocado como resíduo, trauma inconsciente
responsável pela autodestruição, é
visto como posicionamento perceptivo responsável pelo
estar de costas para o mundo, por estar de olhos fechados, as
mãos seguras nos próprios braços, ouvidos
tamponados, nariz embalsamado pelo éter etc. Para a psicoterapia
gestaltista é fundamental configurar o que é percepção,
pois sabemos que quando muda a percepção muda o
comportamento. Às vezes, o drogado quer apenas não
ter insônia, não lembrar da oportunidade perdida
quando não conseguiu vencer a competição
esportiva.
P - Em Desespero
e Maldade, a senhora aborda a questão da violência
na sociedade contemporânea?
R - Para
sobreviver é preciso lutar, se esforçar para conseguir
vencer. A violência se impõe no nível de
sobrevivência. Como homens, temos possibilidades de transcender
limites. Para isso, temos de integrá-los a fim de transformá-los.
Este meu último livro é sobre isso, sobre a violência,
o desespero e a ética. Algumas frases, literárias
é verdade, foram pregnantes para mim. Bataille dizia:
"Diante da necessidade de ação, impõe-se
a honestidade de Franz Kafka, que não se concedia direito
algum"; Dostoievski: "A lógica sempre comporta
o tédio"; e Baudelaire: "O tédio é
o que te torna cruel". Tudo isso foi por mim percebido no
contexto da conceituação de loucura elaborado por
Sócrates: "Quando uma pessoa ignora a si mesma, não
se conhece, é a loucura". É fundamental que
o ser humano se perceba, não se auto-referencie. Só
assim, ele pode desenvolver suas possibilidades humanas transcendendo
as contingências do sobreviver.
P - O que é
a maldade?
R - Não
é obra de Deus nem do Diabo, nem é mal-estar da
civilização comandada pelo Thanatus. Maldade é
o que se consegue quando os impasses não são enfrentados.
Criam-se
deslocamentos. O limite não-aceito é transformado
em impasse, pois é percebido no contexto dos desejos,
das metas, dos resultados. Percebe-se a falta estruturante do
desejo, busca-se realizá-lo, não importa como.
P - Mas essa
não é uma visão nietzschiana? A senhora
quer super-homens?
R - O trágico,
o super-humano é exatamente a não-aceitação
do limite. Tudo sempre depende do contexto estruturante. Por
exemplo, tragédia na Grécia era a palavra que designava
os rituais dionisíacos dos cânticos e sacrifícios
dos trágos (bode em grego). Os bodes eram sacrificados
aos sons de cânticos. No contexto atual, quando se fala
em tragédia, sequer lembramos dos bodes...( pausa). Quanto
mais nos humanizamos, mais percebemos o outro. A ética
é construída numa dimensão cultural. Porém,
é na transcendência das necessidades
biológicas, das formalizações culturais,
que se inicia a estruturação do nível existencial.
Nem sempre, o politicamente correto é corretamente humano.
É absurdo proibir e impedir, embora, algumas vezes, impedimentos
e proibições sejam exatamente os responsáveis
por
transcendências. São antíteses que podem
estruturar mudança. O importante é perceber a realidade,
aceitar os limites, e ser-no-mundo-com-os-outros.
Trechos
"Os gestaltistas clássicos, principalmente
Kurt Koffka, se preocupavam em saber: 'por que se vêem
as coisas como se vêem?' Uma das implicações
diretas disto era que o que comumente
se percebe, o que o senso comum vê como existindo não
é a percepção do existente, é o que
Koffka (1929) chamava de erro da experiência... Continuando
a conceituação gestaltista, agora no campo psicoterápico,
sempre quis saber, por que as pessoas, os seres humanos se
comportam como se comportam? A resposta a esta pergunta foi dada
de uma maneira obscura pela Psicologia..." "O encontro
com o outro, o amor, a dedicação, é o que
ultrapassa a imanência orgânica, é o que possibilita
ao humano a transcendência, o se deter". "Toda
vez que o desejo é ameaçado surge a maldade, como
forma, como poder viabilizador do desejo. Por meio da maldade
corta-se o obstáculo que impede a realização
do desejo. Neste sentido, a
maldade é um instrumento de realização,
de bem-estar, de prazer".
Quem é
Vera Felicidade de Almeida Campos é
psicoterapeuta gestaltista. É considerada uma grande teórica
em Psicologia. A síntese de sua obra, exposta em seis
livros, pode ser encontrada em sua homepage: http://geocities.datacellar.net/Athens/8935.
Recentemente, foi criada no Departamento de Psicologia da UFBA
a disciplina "A Psicoterapia Gestaltista de Vera Felicidade".
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