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Entrevistas publicadas nos jornais: A TARDE e Correio da Bahia

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A TARDE

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em 16 de maio de 1988 -
Reportagem Rosane Santana

Lançamento do livro Relacionamento Trajetória do Humano

 

Formada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a psicoterapeuta gestaltista baiana Vera Felicidade, 45 anos, lança seu quarto livro, intitulado "Relacionamento-Trajetória do Humano". Há 20 anos, ela revolucionou a Psicologia ao negar a idéia de inconsciente no livro "Psicoterapia Gestaltista-conceituações" (agora relançado) e criou um método psicoterápico próprio, a partir dos fundamentos da Gestalt alemã e da Fenomenologia de Husserl. Nesse seu mais recente trabalho, desenvolve o conceito de que "todo relacionamento gera posicionamentos, geradores de novos relacionamentos que, por sua vez, geram novos posicionamentos, indefinidamente", além de conceituar o que é desejo, dúvida, escolha, angústia, disponibilidade, ilusão e realidade, e amor. Numa entrevista exclusiva para A TARDE, ela fala de sua teoria e faz antítese a uma série de conceitos da Psicologia atual:

A TARDE - Como surgiu a idéia de fazer a Psicoterapia Gestaltista?


V.F. Quando eu estudava Psicologia, em 64, e a Psicanálise não respondia e não satisfazia aos questionamentos sobre o humano, na medida em que me parecia uma coisa totalmente literária, que se fundamentava no constructum do inconsciente, que era uma hipótese e não tinha nada de científico. A questão do inconsciente não permitia nenhuma comprovação a não ser através dele próprio. Para isso, influíram bastante minhas fundamentações filosóficas de Materialismo, Materialismo Dialético, minha preocupação muito grande com Epistemologia. Isso também estava ligado à minha idéia de que a Psicologia tinha de conhecer o homem e não ajudar, como pensava aquela geração de psicólogos. Então, fui tentando respostas ao que era o ser humano, até que, em 1970, eu consegui responder a essa pergunta e fiz um livro.

A TARDE - Como você estruturou um método psicoterápico?

V.F. Foi como se todo o conhecimento de Gestalt deixasse claro para mim que, para se entender o humano, tinha de ser em termos do que ele era no mundo, enfim, como ele percebia. Procurei transpor todas as leis da percepção, dadas em experimentos, e fazer uma dinâmica. Tinha uma série de conceitos da Psicanálise; "ato falho", por exemplo, que era explicado pelo inconsciente, que a Lei da Proximidade pode explicar; associação de idéias, que Freud e Jung levaram tempos fazendo, pode-se explicar por Proximidade, Boa Forma, Continuidade - leis da percepção. Mas a minha preocupação maior foi a de colocar conceituações. Escrevi, a partir daí, o primeiro livro, que é o fundamento de todo o trabalho, onde eu defino o que é o ser humano, pegando o problema da temporalidade, mostrando que o passado não influi, porque se ele influi, é presente, e mostrando também que o futuro não existe, se ele existe é uma meta e como meta é desestruturador. Nesse sentido, minha visão é bastante fenomenológica, mas com uma divergência da Fenomenologia, porque leva em consideração a estrutura. Uma outra questão que precisava ser respondida era a da carência afetiva, porque era considerada uma coisa ruim, uma doença. Mostrei que a carência é intrínseca ao ser humano, mas, quando percebi isso, percebi níveis de estruturação do humano, que chamo de necessidades e possibilidades. O ser humano é resultante de possibilidades ou como busca de solução das necessidades. O primeiro livro foi quase aquela imposição de coerência científica, de dar luz a idéias para que possam ser discutidas e, num certo sentido, também um respaldo teórico para o meu trabalho, para não ficar considerado uma coisa charlatã.

A TARDE - A Psicoterapia Gestaltista é melhor do que a Psicanálise?

V.F. Quando eu criei a Psicoterapia Gestaltista, minha preocupação não foi a de fazer o que a Psicanálise não fez ou ser melhor do que a Psicanálise. Posso até ter colocado isso, na medida em que critico bastante a Psicanálise, porque é uma teoria que carece de uma série de fundamentações metodológicas e científicas; além de tudo, uma teoria criada num contexto de final de século XIX. Tínhamos, naquela época, uma Psicologia incipiente, totalmente dominada pela Psicofísica, Psicofisiologia e havia também uma ciência que se caracterizava por medidas e o ser humano era considerado algo complexo, qualitativo, que não podia ser medido. Qualquer teoria que não tentasse pegar a complexidade humana, através de uma complexidade, um mito, não tinha como agir. Já em 1970, após o hippismo, uma série de crises dentro da Filosofia, superpopulação etc, foram caindo os véus de uma coisa que era sempre óbvia, quer dizer, o homem está no mundo e tem mil variáveis, não adianta esclerosar, nem determinar pontos de medição. A minha teoria acho válida na medida em que ela procura mostrar a abrangência, a globalidade da maneira de apreender o humano. A Gestalt é uma visão global, uma visão de campo, não aquela coisa de categorias, de tipos, classes. Se eu não tivesse criado a Psicoterapia Gestaltista, provavelmente uma outra pessoa iria fazer um equivalente, porque não era mais possível trabalhar com aquele conceito rígido, estereotipado de inconsciente.

A TARDE - Do primeiro livro para este quanto, que você está lançando, o que mudou em seus conceitos acerca do ser humano?

V.F. Agora, mudou tudo em termos de desenvolvimento de conceituações. Por exemplo, quando eu digo que todo relacionamento gera posicionamentos geradores de novos relacionamentos, que por sua vez geram novos posicionamentos, indefinidamente, e aí eu defino dúvida, angustia, escolha, amor, disponibilidade, que seriam as diversas manifestações de situações onde isso aparece, quer dizer, o desenvolvimento de que todo relacionamento gera posicionamentos... num certo sentido, estou mostrando que o ser humano existe num tempo e num espaço. Que a temporalidade é o relacionamento e a espacialidade é o posicionamento. Só que em 1972, eu não tinha a idéia clara de que todo posicionamento... Eu explicava isso, talvez, em termos de dialética. Dizia que as coisas são contínuas, mas eu já falava numa espiral e nesse novo conceito estou explicando a espiral. Então, é o desenvolvimento de uma conceituação que estava em outro sentido. No quarto livro, já sabendo o que é o ser humano, fui mostrar o que ele faz. Que ele se relaciona ou se posiciona, está num tempo, num espaço. Ainda no primeiro livro eu colocava que perceber é conhecer pelos sentidos, porque estava procurando fazer antítese ao conceito de consciência, que gerou a antítese do conceito de inconsciente. Quando digo, no quarto livro, que percepção é relacionamento, estou exatamente abrangendo uma coisa que, numa certa visão acadêmica, eu posicionava.

A TARDE - Quando é que ocorrem posicionamentos como a angustia?

V.F. Angustia é um sintoma de não aceitação, angustia é compromisso. É um momento de parada do humano, que se detém numa expectativa, num a priori. O ser humano perde toda uma dinâmica, uma reversibilidade. Tem tremor, suor frio, não engole, não consegue dormir, tem impotência sexual, tem medo, está posicionado, aprisionado nos deslocamentos resultantes de uma não-aceitação não enfrentada. Esses posicionamentos vão gerar novos relacionamentos, o medo de morrer, de ter um infarto, o drama de ver se consegue uma ereção, o problema de ter de engolir diante da comida, então esse posicionamento gera todo um relacionamento com dificuldades. É mais ou menos o seguinte: se você ficar deitado em qualquer situação, parado, o próprio fato de ficar parado cria uma série de relacionamentos, muda, cria sulcos na cama, escaras no corpo, dormência nos músculos etc.

A TARDE - E de que forma a psicoterapia gestaltista age para estruturar o ser humano?

V.F. Fazendo antítese no sentido de neutralizar esses deslocamentos dos posicionamentos. Vamos dizer, angustia é um posicionamento que foi gerado por um compromisso, então esse compromisso vai criar uma série de deslocamentos, medo, dor no peito, não engolir, enfim, a somatização. Então, a Psicoterapia Gestaltista começa a fazer com que o indivíduo perceba que aquilo que ele sente é criado por ele próprio e não resultante de nenhuma outra coisa, um feitiço, um azar, uma doença orgânica, ou até mesmo o inconsciente. Na idéia da Psicanálise, as pessoas pensam que, inconscientemente, elas estão querendo se destruir. A atitude da Psicoterapia Gestaltista é cortar os álibis, impedir que o cliente utilize o problema como uma justificativa para a própria dificuldade, fazendo a pessoa se defrontar com a coisa que está problematizando. A Psicoterapia Gestaltista não promete salvação no sentido de que o indivíduo nunca vai ter problema. E exatamente aí chega-se ao conceito principal da psicoterapia no que tange à neurose.

A TARDE - O que é neurose?

V.F. É não aceitação da não-aceitação, que cria um auto-referenciamento, responsável por uma distorção perceptiva, que leva o indivíduo a viver referenciadamente ou num tempo que não é o presente. O que a terapia pretende é dar condição de a pessoa se aceitar, mesmo que essa aceitação seja uma aceitação da não-aceitação. Nesse sentido, a Psicoterapia Gestaltista não tem valores, não tem idéias fixas, não tem, inclusive, objetivo de ajuste. Se a pessoa se aceita do jeito que ela é, ótimo. Se ela é uma maravilha dentro do sistema em termos de ajuste, mas não está se aceitando, tem de se modificar e a terapia propicia isto.

A TARDE - As fobias, a depressão, as psicoses, assim como a angustia são sintomas de não-aceitação?

V.F. A sua pergunta é interessante na medida em que permite revelar o que é a Psicoterapia Gestaltista. Ela não é uma teoria de classe, é uma teoria de campo. Então, ela não tem categorias de neurose, tipos de sintoma, quer dizer, é a impotência sexual, a frigidez, a falta de ereção, não engolir, ficar tonto, ter medo de ir à rua, ter uma úlcera, tudo são posicionamentos resultantes de uma quebra do relacionamento, de uma quebra da gestalt eu-no-mundo. A Gestalt, como o Budismo, o Taoismo, a Biologia, a Física e a Química, pensa no mundo como uma totalidade, não existem setores, nem partes. O que é que a Biologia faz: pega uma célula do epitélio do braço e dali descreve toda a estrutura cromossomial. O que a Psicoterapia Gestaltista pretende é que com uma simples mostra de comportamento, possa ser reproduzido tudo quanto o indivíduo é. Não existe essa coisa de que em casa o indivíduo é assim, no trabalho, ele é assado. A Psicanálise, como terapia de apoio, admite que o indivíduo é ótimo e tem um distúrbio. Na Psicoterapia Gestaltista não existe isso, há uma unicidade. Qualquer problema é sempre um índice, um sintoma de neurose. É uma visão num certo sentido, muito simples, óbvia. Tipo o "Ovo de Colombo". Se uma laranja está estragada, não adianta cortar um pedacinho. Quando fizer a laranjada, vai ficar com o gosto de laranja estragada, porque quando uma parte está afetada, o todo está comprometico, pois o todo não é a soma das partes.

A TARDE - Isso explica o fato de você aceitar casos considerados irrecuperáveis, como as psicoses?

V.F. Sim. Desde que se consiga mudar a percepção que o indivíduo tem dele mesmo, ele muda o relacionamento com tudo. Agora, claro que, no caso de psicose, seria o mesmo trabalho, em termos de conceituação, que a neurose, mas há variáveis que atrapalham, porque quando o indivíduo está psicótico, ele já não tem autonomia econômica, autonomia de ir e vir, então fica difícil o tratamento e o resultado, mas não por ele ser psicótico, e sim porque à medida que ele é psicótico, cria uma série de posicionamentos que o impermeabilizam a um diálogo.

A TARDE - A tipificação, a classificação da neurose por categorias, é uma distorção da Psicologia atual?

V.F. As visões antigas, quando achavam que o ser humano era complexo, estabeleciam tipos de complexidade, então começavam a tipificar. Aí, vêm as fobias, os pánicos, as regras, até os comportamentos típicos das diversas faixas etárias. Adolescentes agem assim, pessoas adultas agem assado, até comportamento de categorias profissionais: psicólogos são sempre malucos, jornalistas não sei o que lá etc, como uma maneira de, somando aquele resultado, chegar-se a um entendimento, quer dizer, é o método dedutivo e indutivo, que ainda predomina nas Ciências Sociais e na Psicologia. Não conseguem apreender a globalidade, então param para classificar. Daí, vêm as fobias, as características. Além de se falar nas fobias, fala-se também no karma,no destino, nas coisas paranormais para tentar explicar. Está cada vez mais acentuada a idéia de que o ser humano é complexo, é enigmático, porque cada vez se dispõe menos de uma forma de globalizar, cada vez mais se cai na tipificação, porque a gente está vivendo uma época de alta tecnologia, da operacionalização das coisas. A essência do humano nunca é configurada, nem considerada, o que existe é o funcionamento do humano.

A TARDE - E como se situa a Psicoterapia Gestaltista dentro deste contexto?

V.F. A Psicoterapia Gestaltista não pensa no humano como uma coisa linear. Quando se pensar no humano, tem de se pensar, mais ou menos, numa coisa tão dinâmica quanto aquele modelo do átomo. Existem mil variáveis, mil interseções, mil movimentações. Não existe diferença entre o homem do século XX ou do século X, ou antes de Cristo. O homem é sempre o mesmo enquanto essência. Falando nisso, me lembro de Husserl, criador da Fenomenologia, quando ele disse que a ciência era descrição e causou um terror na época, porque a ciência era compreensiva e explicativa, quer dizer, dedutiva e indutiva. Chegaram para ele e perguntaram quem nasceu primeiro, se foi o ovo ou a galinha. Ele respondeu: tragam-me o ovo e a galinha e eu respondo. Isso é a descrição fenomenológica. Quando eu digo que não há um homem de ontem, num certo sentido estou parafraseando Husserl. Quero dizer, tem de se pensar no homem agora, no homem aqui. Não existe esse homem hipotético, quimérico, existe sempre um homem de carne e osso num tempo.

A TARDE - Porque o método dedutivo e indutivo é predominante na Psicologia?

V.F. É muito mais fácil entender qualquer coisa através de uma analogia, ou seja, o entendimento através de uma essência implica numa globalização. A globalização fica difícil pelos próprios posicionamentos referenciados. Então, toda vez que vem qualquer raciocínio analógico, esse raciocínio é mais compreensível. Quando Freud, por exemplo, dizia que seus mestres eram os gregos e pegava uma tragédia como "Édipo" e aí estruturava toda a coisa do Complexo de Édipo, ele usava todo o conteúdo, toda uma forma literária, simbólica, que dava respaldo para as pessoas irem interpretando, irem, digamos, fazendo analogia, analogando. Quando se fala que tem de apreender a essência, configurar, globalizar o fenômeno, a coisa fica meio seca, meio solta. Por exemplo: os gestaltistas eram muito criticados, porque explicavam o comportamento humano através da percepção e quando iam falar de percepção, desenhavam pontinhos. Toda a formação da sociedade, e aí contribuiu muito a Igreja Católica na sua vertente presbiteriana e protestante, é uma visão pragmática, inclusive a ciência do século XX se desenvolveu através da abordagem pragmática de Auguste Comte. Quer dizer, qualquer coisa existe com algum motivo, com alguma finalidade. Então, quase que, hoje em dia, a recuperação do humano deveria ser feita no sentido de diletantismo. Eu falo, nesse quarto livro, que o início da transcendência no massificado é a atitude estética, quer dizer (sem fugir do assunto para não dar margem a distorções), a gente pode falar que um desfile de escola de samba, ou uma partida de futebol com aquela coordenação harmônica das coisas, já é uma transcendência, porque permite a instauração de uma harmonia, é algo que transcende a realidade. Retomando a questão, por incrível que pareça, as contingências, às vezes, explicam melhor do que as conceituações. É muito mais fácil dizer que o indivíduo é desajustado do que dizer que o indivíduo é desajustado porque não aceita os seus limites.

A TARDE - Se percepção é relacionamento e a neurose é distorção perceptiva, o que pode acontecer com uma civilização onde os indivíduos se relacionam distorcidamente?

V.F. Se as percepções são cada vez mais distrocidas, os relacionamentos vão ser mais distorcidos. Agora, como todo relacionamento gera posicionamentos geradores de novos relacionamentos... indefinidamente, a própria massificação vai dar condições do homem se humanizar. Vai funcionar como antítese. Num certo sentido, por que é que existe espaço, hoje em dia, para a Psicoterapia Gestaltista, embora sem a repercussão que tem a Psicanálise, um Eduardo Mascarenhas? Porque a Psicanálise já não atende. Ou, num outro nível, por que a Medicina maravilhosa dos anos 60 chegou ao ponto que chegou, em termos de atendimento, e cada vez mais cresce a Medicina alternativa, a Macrobiótica, a Homeopatia, os tratamentos por ervas, a Acupuntura e tudo o mais? Chega um ponto em que a massificação é tão grande que o sistema se reverte. Essa é a esperança, por mais massificado que seja o sistema, sempre haverá uma condição de humanizar as pessoas. Por isso, eu trabalho com Psicoterapia Gestaltista. É aquela coisa que diz que tudo que sobe desce, é a Lei da Gravidade da Física, e o próprio mito grego da Fênix. A coisa como uma regeneração, mas uma regeneração naquele sentido de que todo relacionamento leva a um posicionamento...

A TARDE - Neste quarto livro, você diz que não existe escolha. Dá para explicar isso?

V.F. A escolha vai estar sempre comprometida com alguma contingência. Essa contingência passa a ser necessariamente uma aderência, extrínseca a própria situação escolhida. Quando as situações forem diferentes e você tiver de escolher, você vai escolher em função de algum referencial outro, que não o da coisa escolhida. Esse referencial outro é um comprometedor, desde que ele é um orientador, um determinante de conduta. Então, no que a sua conduta de escolha fica em função de um determinante, a escolha já é uma total aderência, quer dizer, ou ela é um acaso ou é um obrigatório. No primeiro caso, aliena; no segundo, orienta. De 1960 para cá, a escolha foi uma palavra que ficou em moda, porque Sartre começou a dizer que o homem é livre quando escolhe. Isto porque as pessoas eram tão comprometidas pelas engrenagens do sistema, que sequer escolhiam. O grande momento humano da não-coisa, da geração de 60, era quando o indivíduo podia escolher. Camus disse que a liberdade é a possibilidade de dizer não. Caetano disse que é a possibilidade de dizer sim. Então, é a liberdade como aquele ato desesperado, quando o indivíduo transcende a circunstância e consegue dizer sim, eu quero isto, não, eu não quero isto. É uma visão meio desesperada, meio aquela frase de Brecht: "Triste do país que precisa de heróis". Quando eu digo que a escolha é o que há de mais negativo, quero dizer triste da pessoa que tem de escolher.

A TARDE - É mais ou menos a situação do filme "A Escolha de Sofia"?

V.F. "A Escolha de Sofia", quando ela está com as duas crianças e o cara diz olha, você tem dois filhos, um vai morrer, você vai escolher qual? Se você não escolher nenhum, morrem os dois. Quando ela escolheu um e salvou o outro, percebeu a total armadilha, a total impotência. Quando a filha vai, ela aceita, mas está tão massificada tão comprometida, que ela grita, mas não corre, porque se corresse seria metralhada, morreriam todos. Para isto, ela teria que ter uma atitude espontânea e não estar ainda querendo sobreviver. Existem situações na vida que é melhor não sobreviver a elas, em termos de uma visão estruturada, autêntica, individualizada. Dentro de uma visão massificada, de sobrevivência, as pessoas querem sempre sobreviver ao que quer que seja, custe o que custar. Quando o indivíduo é um ser disponível, no sentido de espontâneo, nenhuma escolha o coloca contra a parede. A trajetória, se observada como um contínuo, não tem bifurcações, não há quebras. Essa quebra é que propicia a escolha, a angustia. Quando a gente fala de massificação e essa coisa de sobrevivência, fica claro que, apesar de 30 séculos de pensamento filosófico e dois séculos de ciência, a gente continua pensando no ser humano como um organismo. O pensamento é esse, o ser humano é pensado como um organismo que tem necessidades sexuais etc. Ou então, como fruto do divino. Fica difícil pensar no ser humano como temporalidade e espacialidade.

A TARDE - É possível a transcendência sem psicoterapia?

V.F. Sem a psicoterapia eu acho impossível que um ser humano se estruture. Quem transforma o ser humano é o outro, mas o outro enquanto aceitação e disponibilidade. Se a pessoa não se aceita, é porque nunca encontrou esse outro. O outro que poderia aceitá-la e transformá-la seria o psicoterapeuta, na medida em que estabeleça o questionamento. Ou então, o amor. Se alguém for amado pelo outro ao ponto de ser aceito com toda a disponibilidade, ele se transforma. Saindo desse movimento de amor como entrega, integração, aceitação total, e da terapia, não tem como. Se o indivíduo é problemático, ele não pode amar, mas por um "milagre", alguém pode amá-lo ao ponto dele se transformar.

A TARDE - Terapia gera dependência?

V.F. A psicoterapia Gestaltista é um questionamento, uma dinamização, uma antítese, um corte de deslocamentos, o outro lado, o oposto do posto, então dinamiza. Quem vivencia um processo terapêutico sabe disso. Quem está fora, às vezes, o pai, o marido, a mulher, o amante, vê como dependência, a bengalinha, a coisa ruim. Porque é um outro, que não ele, que está interferindo naquele que ele gostaria de agir. É uma dinamização, e vista por olhos que não os dos participantes do processo, começa a ser conceituada e considerada dentro dos referenciais problemáticos da pessoa que está olhando. Uma coisa é o que se vivencia, outra é como o outro vê aquela vivência. Terapia não é uma coisa de bom senso. Não que ela seja uma coisa de loucos. O bom senso é o consensual, é o estatisticamente pregnante, mais válido. Isso vai ser, necessariamente, um geral definidor, e um geral definidor não é nunca individualizante. Não é bom senso, com isso não quero dizer que seja contra-senso. É senso, juízo sem atribuições valorativas. Não é bom senso, nem consenso, nem contra-senso, nos verdadeiros sentidos das palavras.

A TARDE - Há 20 anos, você criou um meetodo psicoterápico. Durante todo esse tempo vem trabalhando como psicoterapeuta, mas não é conhecida do grande público. Isso não te incomoda?

V.F. Todo o meu trabalho é um trabalho de antítese, dada toda essa ordem vigente da Psicanálise, do estágio atual do pensamento da Psicologia, das Ciências Sociais, acerca do que é o humano. Porque a Psicologia, a Sociologia, a Psicanálise, a Linguística, enfim, todas as ciências sociais acham que o ser humano é resultante de ene variáveis, como cultura, economia, família etc. Eu não digo que ele é resultante, digo que ele é um ser-no-mundo e que se relaciona com todas essas demandas. Nesse sentido, meu trabalho é antítese e antítese nunca é reconhecida. Só é reconhecida quando síntese. Dentro disso, não me incomodo, até entendo, porque seria completamente anti meu pensamento dizer que as coisas são como são, saber que isso que eu penso não se pensa em geral, e querer ser reconhecida. Agora, se estou criando uma coisa, é claro que eu gostaria que isso fosse reconhecido, numa visão transversal. Porque longitudinalmente, eu sei que, se faço antítese, meu trabalho só vai sendo reconhecido aos poucos. No dia-a-dia da terapia eu sinto o meu trabalho totalmente reconhecido, eficaz, exatamente por isso ele se mantém há 20 anos. Quando digo que não existe inconsciente, que o ser humano não é resultante do instinto, das ordens econômicas, não é determinado pela cultura, não tem nada a ver com o karma etc, estou colocando uma antítese a toda uma série de explicações. O importante é o passo a passo, tijolo por tijolo, contribuir para mudar o pensamento dominante, estruturando um outro.

A TARDE - Então, Vera, seu trabalho é aquilo que você diz sobre a dúvida: "Toda afirmação negada, que possibilita uma pergunta?"

V.F. Isso! Você apreendeu a Gestalt.


Correio da Bahia
Segunda-feira - 13.12.1999
- reportagem: Sandro Lobo -

Lançamento do livro Desespero e Maldade

Criadora da Psicoterapia Gestaltista, Vera Felicidade lança hoje, no Theatro XVIII, seu sexto livro, 'Desespero e maldade - Estudos perceptivos relação Figura-Fundo'

O estado de violência e bestialidade em que se encontra o mundo neste final de século (que não é um privilégio da época) tem despertado a atenção de diversos estudiosos das mais variadas áreas. Mesmo a sociologia não tem conseguido dar conta da abrangência da questão, em cujo cerne está a forma de estruturação psicológica do ser humano. "A não-aceitação do indivíduo e o deslocamento decorrente dos impasses não enfrentados concorrem para a existência da maldade, que não é intrínseca ao humano", afirma a psicoterapeuta gestaltista Vera Felicidade de Almeida Campos, que lança hoje seu sexto livro, Desespero e maldade - Estudos perceptivos relação figura-fundo (Edição da Autora, 104 páginas, R$20), às 18h, no Theatro XVIII, Pelourinho.

"Não há um bem, não há um mal", defende Vera Felicidade - como é mais conhecida -, considerada o maior expoente em Psicologia Gestaltista da América Latina. "A maldade não resulta de condições sociais e econômicas adversas, tanto quanto não é um instinto humano, nem a ausência de Deus, nem a presença do demônio". Segundo ela, a relação das pessoas com a percepção que têm de si próprias, do outro e do mundo é o que estrutura o que chamamos "humano" - mas também o desumano. A partir dos estudos da percepção, ela procura responder a uma questão específica: por que nos comportamos como nos comportamos. Criadora da Psicoterapia Gestaltista, ela foi buscar nos gestaltistas clássicos, como Köeller e Wertheimer, mas especialmente Kurt Koffka, conceitos a partir dos quais desenvolve seu trabalho.

Em seu novo livro, Vera Felicidade vai retomar questões que interessavam a Koffka, como "por que se vêem as coisas como se vêem". Para estruturar a psicoterapia, ela transpôs os conceitos da psicologia gestaltista. "O objetivo é a estruturação do indivíduo, de forma que ele se aceite como ser no mundo", diz. O enfoque é na relação figura-fundo, seja no visual, táctil, gustativo ou olfativo. "Antigamente, achava-se que nós estávamos no mundo, captávamos as coisas pela sensação, elaborávamos pela percepção e isso dava a consciência. O gestaltismo vem acabar com esse dualismo entre percepção e sensação: você capta o que você percebe, não tem que elaborar".

Uma experiência feita ainda à época de sua formação no curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acabou entrando para o novo trabalho. Nela, a psicoterapeuta reuniu alguns deficientes visuais no Museu do Índio, e constatou que eles podiam "conhecer" os objetos que lhes eram apresentados, como tacapes, lanças e cocares, entre outros. "Os gestaltistas já haviam descoberto que há uma transponibilidade da forma, ou seja, das percepções; um cego de nascença não tem o engrama, a memória de uma experiência visual, mas podia perceber pelo táctil ou pelo olfativo, por exemplo".

Trabalhando há 31 anos na área, Vera radicalizou suas conceituações no âmbito da percepção. "Nós somos o que nós percebemos, agimos conforme o que percebemos; mas a percepção é um átimo no presente, a gente tem memória, história, uma série de percepções que vão se sucedendo, então a gente percebe em 'x' e imediatamente contextua em 'y' (que é uma percepção anterior, a memória). O prolongamento da percepção do presente é o pensamento. Neste livro, eu digo que a gente pensa muito e percebe pouco: se seguíssemos o que a gente percebe, haveria menos preconceito, menos compromisso e mais disponibilidade". Quem quiser mais informações sobre Vera Felicidade, pode acessar a internet no endereço www.geocities.com/Athens/8935

FICHA

Livro: Desespero e maldade - Estudos Perceptivos Relação Figura-Fundo
Editora: Edição da Autora, 104 páginas
Preço: R$20
Local: Theatro XVIII
Horário: A partir das 18h

BIBLIOGRAFIA DA AUTORA

Psicoterapia Gestaltista - Conceituações (Edição da Autora, 1973)
Mudança e Psicoterapia Gestaltista (Zahar Editores,1978)
Individualidade, questionamento e Psicoterapia Gestaltista (Alhambra, 1983)
Relacionamento - Trajetória do humano (Edição da Autora, 1988)
Terra e Ouro são iguais - Percepção em Psicoterapia Gestaltista (Jorge Zahar Editor, 1994)

Nem Deus nem diabo

Normalmente, livros do universo da Psicologia são extremamente difíceis para o público leigo, porque exigem um prévio conhecimento da linguagem e algum entrosamento com as diversas linhas de pensamento. No caso de Desespero e maldade - Estudos perceptivos relação figura-fundo, de Vera Felicidade, este público não-iniciado não precisa ficar apreensivo no que toca à possibilidade de compreensão do livro.

"Dá para entender, mesmo eu utilizando todo um arcabouço teórico-conceitual, que é um pouco duro e realmente requer alguma formação. Mas na segunda parte do livro eu vou justificar o meu conceito de maldade, para entender toda essa violência, mil situações absurdas, como o holocausto, a violência contra a mulher na Índia; isso está no universo de qualquer pessoa e não pode ser entendido como neurose, ou aquelas explicações que falam de um instinto do mal. Não é Deus, não é o Diabo, o que pode ser então?".

A resposta genérica, segundo Vera, é a de que a não-aceitação cria deslocamentos absurdos, como a violência. "Essa constatação está presente nos meus outros trabalhos, mas eu afinei mais o conceito em Desespero e maldade. No fundo, essa é toda a minha preocupação teórica, porque eu estou o tempo inteiro em interlocução com esses gestaltistas clássicos, Koffka, Wertheimer e Köeller, de 1912", conta. Para Vera, aquele foi um grande momento científico da Psicologia. "Mas depois da Primeira e Segunda Guerras, tudo o que era feito in Germany, especialmente no campo do pensamento, passou a ser execrado pelo mundo ocidental, que não absorveu aquelas descobertas", conclui.


A Tarde
Segunda-feira - 13.12.1999
- reportaqgem: Rosane Santana -

Lançamento do livro Desespero e Maldade

 

A psicóloga gestaltista Vera Felicidade, 57 anos, lança hoje, às 18 horas, no Theatro XVIII, Pelourinho, o seu sexto livro, Desespero e Maldade, dando continuidade a sua obra conceitual em Psicologia, iniciada há 30 anos. Nele, a autora fala sobre a violência, o desespero e a ética e afirma que "a maldade não é obra de Deus nem do Diabo, nem é mal-estar da civilização comandada peloThanatus". A seguir, entrevista com a psicóloga.

P - A senhora construiu, ao longo dos anos, uma obra conceitual em Psicologia, que se caracterizou pela quebra de idéias estabelecidas, como o inconsciente, abrindo novas perspectivas no campo do conhecimento, da epistemologia. O que há de novo neste seu sexto livro?

R - No Desespero e Maldade, enfoco os estruturantes perceptivos, a relação Figura-Fundo das próprias percepções. Quando estabeleci a diferença entre conhecer e categorizar, percebi que, além de não existir inconsciente, também não existe mente, nem consciência. Agora, posso dizer que vida psicológica é vida perceptiva.

P - A senhora está dizendo que, além de não existir inconsciente, também não existe mente, nem consciência?

R - A questão do inconsciente já expliquei há mais ou menos 30 anos atrás, em meu livro Psicoterapia Gestaltista - Conceituações, especificamente no capítulo O Mito do Inconsciente, que está na minha homepage. Agora, pra entender a questão da não-existência da mente e da consciência, vale considerar algumas coisas: no século XIX dominava a visão causalista, associacionista e determinista em toda a Ciência. O processo do conhecimento era explicado como resultante da elaboração dos dados sensoriais. Essa elaboração, essa organização era feita pela consciência, pela mente. Explicava-se o fenômeno através do epifenômeno. Acontece que a organização é intrínseca ao percebido. O mundo está aí, nós estamos nele. É uma Gestalt, uma coisa só, e não uma soma. Uma das implicações deste conceito é que podemos dizer minha língua decide, meu nariz escolhe, minha pele cogita. O comportamento vai depender destas relações perceptivas.

P - Quais são as implicações dessa abordagem, como fazer psicoterapia sem mente?

R - Pense em um viciado: comida, tóxicos, remédios, satisfação, por exemplo. Tudo pode ter começado por uma não-aceitação do próprio corpo. Destacado por esse processo, o corpo passa a ser o outro. Essa divisão, estrutura o auto-referenciamento, quer dizer, além do próprio corpo, existem apenas os próprios critérios. Exilado o outro, criado o abismo, existe apenas o desejo de construir situações, de preencher o que nos falta. O vício, a droga, a comida, a dependência afetiva são sistemas de ampliação, meios desesperados de conseguir o
que se quer. Quando, em psicoterapia, o indivíduo começa a perceber que o outro é ele, ele percebe o vazio, o isolamento em que se encontra. Ele aceita isso e muda, ou ele utiliza isso para justificar seus incômodos e propósitos. Tudo que poderia ser enfocado como resíduo, trauma inconsciente responsável pela autodestruição, é visto como posicionamento perceptivo responsável pelo estar de costas para o mundo, por estar de olhos fechados, as mãos seguras nos próprios braços, ouvidos tamponados, nariz embalsamado pelo éter etc. Para a psicoterapia gestaltista é fundamental configurar o que é percepção, pois sabemos que quando muda a percepção muda o comportamento. Às vezes, o drogado quer apenas não ter insônia, não lembrar da oportunidade perdida quando não conseguiu vencer a competição esportiva
.

P - Em Desespero e Maldade, a senhora aborda a questão da violência na sociedade contemporânea?

R - Para sobreviver é preciso lutar, se esforçar para conseguir vencer. A violência se impõe no nível de sobrevivência. Como homens, temos possibilidades de transcender limites. Para isso, temos de integrá-los a fim de transformá-los. Este meu último livro é sobre isso, sobre a violência, o desespero e a ética. Algumas frases, literárias é verdade, foram pregnantes para mim. Bataille dizia: "Diante da necessidade de ação, impõe-se a honestidade de Franz Kafka, que não se concedia direito algum"; Dostoievski: "A lógica sempre comporta o tédio"; e Baudelaire: "O tédio é o que te torna cruel". Tudo isso foi por mim percebido no contexto da conceituação de loucura elaborado por Sócrates: "Quando uma pessoa ignora a si mesma, não se conhece, é a loucura". É fundamental que o ser humano se perceba, não se auto-referencie. Só assim, ele pode desenvolver suas possibilidades humanas transcendendo as contingências do sobreviver.

P - O que é a maldade?

R - Não é obra de Deus nem do Diabo, nem é mal-estar da civilização comandada pelo Thanatus. Maldade é o que se consegue quando os impasses não são enfrentados. Criam-se
deslocamentos. O limite não-aceito é transformado em impasse, pois é percebido no contexto dos desejos, das metas, dos resultados. Percebe-se a falta estruturante do desejo, busca-se realizá-lo, não importa como.

P - Mas essa não é uma visão nietzschiana? A senhora quer super-homens?

R - O trágico, o super-humano é exatamente a não-aceitação do limite. Tudo sempre depende do contexto estruturante. Por exemplo, tragédia na Grécia era a palavra que designava os rituais dionisíacos dos cânticos e sacrifícios dos trágos (bode em grego). Os bodes eram sacrificados aos sons de cânticos. No contexto atual, quando se fala em tragédia, sequer lembramos dos bodes...( pausa). Quanto mais nos humanizamos, mais percebemos o outro. A ética é construída numa dimensão cultural. Porém, é na transcendência das necessidades
biológicas, das formalizações culturais, que se inicia a estruturação do nível existencial. Nem sempre, o politicamente correto é corretamente humano. É absurdo proibir e impedir, embora, algumas vezes, impedimentos e proibições sejam exatamente os responsáveis por
transcendências. São antíteses que podem estruturar mudança. O importante é perceber a realidade, aceitar os limites, e ser-no-mundo-com-os-outros.

Trechos

"Os gestaltistas clássicos, principalmente Kurt Koffka, se preocupavam em saber: 'por que se vêem as coisas como se vêem?' Uma das implicações diretas disto era que o que comumente
se percebe, o que o senso comum vê como existindo não é a percepção do existente, é o que Koffka (1929) chamava de erro da experiência... Continuando a conceituação gestaltista, agora no campo psicoterápico, sempre quis saber, por que as pessoas, os seres humanos se
comportam como se comportam? A resposta a esta pergunta foi dada de uma maneira obscura pela Psicologia..." "O encontro com o outro, o amor, a dedicação, é o que ultrapassa a imanência orgânica, é o que possibilita ao humano a transcendência, o se deter". "Toda vez que o desejo é ameaçado surge a maldade, como forma, como poder viabilizador do desejo. Por meio da maldade corta-se o obstáculo que impede a realização do desejo. Neste sentido, a
maldade é um instrumento de realização, de bem-estar, de prazer".

Quem é

Vera Felicidade de Almeida Campos é psicoterapeuta gestaltista. É considerada uma grande teórica em Psicologia. A síntese de sua obra, exposta em seis livros, pode ser encontrada em sua homepage: http://geocities.datacellar.net/Athens/8935. Recentemente, foi criada no Departamento de Psicologia da UFBA a disciplina "A Psicoterapia Gestaltista de Vera Felicidade".


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©1996, 1997. 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 - Vera Felicidade de Almeida Campos
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