PERSIGA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

    Persiga era uma garotinha linda e loira que estava fazendo um piquenique na beira do rio Itacaiúnas. Enquanto empanturrava-se de quitutes, galinha com farofa, cachaça e enfiava as velas de despacho no cu, sua atenção voltou-se para uma Brida toda pelada que trazia ao pescoço um grande relógio de parede. "É tarde, é tarde, é tarde", dizia a cadela apressada.
        - "Ei, espere, linda cadela!"- disse Persiga, mas a cadelinha nem a ouviu. Morta de curiosidade, Persiga resolveu segui-la. Adentrou bosques e florestas até que perdera a cadela de vista quando esta se meteu dentro de um buraco no chão. Persiga parou em frente ao buraco e ficou imaginando, com os dedinhos no queixo, onde ele iria dar. Neste momento, apareceu do nada o lenhador Negão Tapa Nela, que, sem vê pra quê, tacou um tapão na cara de Persiga com tal força que esta, perdendo o equilíbrio, caiu rumo incerto a lugar nenhum. "Aaaaaaaahhhhhhhhhh!".
    Persiga caiu, caiu. Primeiro como uma porca gorda e inchada, depois tão leve como uma pena. Enquanto caía, ela podia ver desfilando no ar, uma rata que paria ratinhos de ouro, uma harpa com cara de Sandra, ou seja, uma harpa metade roupa de pobre, metade cara de porca, um cu, um trapézio azul, um golão de jurema, uma Sula que poderia estar morta e um negão que veio pra cima dela pra dar mais outro tapão que a deixou desacordada por um bom tempão. "Aaaaaahhhhhhh!".
    Persiga acordou depois de muitas horas. Abriu os olhos e viu-se numa sala estranha. Na sala podia-se ver uma minúscula porta e uma mesa com dois frascos: em um estava escrito "beba-me", no outro, "enfia-me no teu cu". Persiga, como era puta, pegou o segundo frasco e enfiou-o no cu. Sua bunda então inchou tanto que seria impossível atravessar a porta. Resolveu tomar o líquido do primeiro frasco que a fez virar uma rata e assim pôde passar pela porta. Do outro lado havia uma floresta toda feita de velas, cortinas azuis, tudo muito fino e de muito bom gosto.
    Lá encontrou seres estranhos a ela: pessoas morenas de sol que jogavam gamão à beira de um lindo lago do amor. "Posso jogar também?"- perguntou. "Claro, bela menina", responderam as pessoas totalmente despidas de preconceitos. O jogo consistia em perguntas e respostas. "Quero ser a DM"- gritou logo a puta de ego maior que a boca. "Oh, linda criança, neste jogo não existe DM. Você só precisa responder ao que lhe for perguntado. Se acertar, ganha um brinde"- responderam pacientemente as generosas pessoas. "O que é o brinde?". "De fato, isso não interessa. O que importa realmente são os agradáveis momentos de convivência aprazível que este jogo irá nos proporcionar. Podemos começar?". "Huuumm...tá bom"- respondeu finalmente a desgraça insuportável. O jogo teve início. A primeira pergunta saiu para Persiga:
        - O que você prefere, suco de abacaxi ou de cenoura?
        - De abacaxi, é claro. Jamais tomo suco de cenoura, pois tenho medo de ficar preta.
    Ao perceberem o comentário racista, aquelas adoráveis pessoas que tanto prezavam a melanina sentiram-se agredidas em seus princípios. Toda a ira nelas a custo contida veio então à tona. Amarraram Persiga a um pelourinho e a chicotearam até a morte. Depois, só por precaução, destruíram todas as plantações de cenoura que havia naquele maravilhoso país.
1