TELÉPHONA
- Teléphona era uma telefonista do
serviço de auxílio à lista telefônica da EMBRATEL. Todos os dias ela vestia seu lindo
tailler azul que lhe fazia uma cinturinha de pilão, passava o batom rouge-carmim e ia
para seu trabalho. Passava o dia inteiro atendendo os clientes que perguntavam o número
do açougueiro, do pedreiro, do padeiro e da puta que pariu. Numa dessas chamadas, Telé
atendeu a um homem de voz muito estranha. Do outro lado da linha, uma voz máscula e viril
lhe recitou um poema de Genivaldo Lacerda que dizia assim: " me liga, me liga,
não me deixe nessa solidão. O meu coração vive na solidão e eu te pedindo pra ligar
pra mim..." Ao final, o enigmático homem completou: "sei quem tu és, sei que
usas um tailler azul. Morrerás hoje, sua puta".
- A pobre moça ficou estupefata.
Cancelou todas as chamadas e, alegando estar passando mal, saiu um pouco pra tomar ar
puro.
- Parou em um boteco próximo e pediu ao
atendente um copo de leite frio. Enquanto tomava, seus olhos passeavam pelas pessoas
sentadas nas mesas: um velho gordo e feio conversando com uma moça de aproximadamente 20
anos; uma senhora só com um cachorrinho york-shire no colo e mais ao fundo um homem
belíssimo lendo um livro de Genivaldo Lacerda. "É ele", pensou Telé em
desespero. Sue pânico tornou-se ainda maior quando percebeu que aquele homem levantou-se
e seguiu em sua direção.
- -Com licença,
a senhora poderia me dar uma informação?
- Tentando manter a calma, Telé
respondeu-lhe: - Pois não.
- -Gostaria de
saber fica a rua Ne Me Quite Pas.
- Telé gelou, mas o olhar hipnotizante
de seu interlocutor não a deixou escolha:
- -Fica na Puta
Que Pariu, entre os Caralho e os Babado.
- -Obrigado, -
disse o homem com um olhar de quem escondia um segredo.
- Telé foi para casa intranqüila. Não
conseguiu dormir direito, pois aquele endereço que revelara era o de sua casa. Esperou
pacientemente algo que tinha certeza que iria acontecer, embora não soubesse o quê. Nem
por quê. Vestiu seu tailler azul, abriu uma garrafa de vinho e sentou-se na sala.
- Por volta da meia-noite, ouviu ranger
a porta de seu apartamento. Passos em sua direção. Ela deitou a cabeça no encosto da
poltrona e contemplou o rosto do homem que vira no bar. Fechou os olhos.
- No espelho do quarto, o reflexo dos
belíssimos salto agulha que enfeitavam a elegância do tailler. O corte estruturado deu
ao corpo viril daquele homem formas delicadamente femininas. Dirigiu-se até a janela como
quem tivesse costume de andar sobre saltos. Viu passar na rua uma linda morena vestido um
impecável tailler branco que lhe desenhava o corpo escultural e a tornava bela como uma
sereia. Seguiu-a com o olhar inebriado.
- Na sala, o sangue de Telé
misturava-se ao vinho tinto, ainda por terminar.