Eis então que a evolução se nos revela em seus mais profundos significados, como um fenômeno não casual e
isolado, mas como um processo fundamental, enquadrado na ordem universal, como parte integrante do
sistema, em função do objetivo supremo desta; um fenômeno guiado por uma inteligência e poder que o
disciplinam, determinado por Deus e sujeito à Sua lei, que permaneceu de pé mesmo depois da queda, para
dirigir e salvar tudo. Os primeiros biólogos que descobriram a evolução nem sequer sonhavam com tudo
isto. O conceito de telefinalismo está implícito nesta concepção. Ainda que o particular seja deixado ao
livre-arbítrio individual, à mercê das tentativas e do erro, em suas grandes linhas o fenômeno da
evolução é fatal e amarrado a um caminho próprio preestabelecido. (P. Ubaldi - Evolução e
Evangelho)
Já está, portanto, estabelecida a forma que deverá assumir no futuro a
evolução humana, ou seja, que ela só pode consistir no espiritualizar-se. Seu profundo trabalho criador
faz-se no terreno das causas primeiras, que está no íntimo do ser, mesmo que se trate, como no passado,
de construções morfológicas, que explicamos como produto ideoplástico. (P. Ubaldi - Evolução e
Evangelho)
A hora está madura, porque o mundo de hoje está espiritualmente em
diluição, como, no tempo do imperador Constantino estava o mundo romano, e de suas ruínas nascia o
Cristianismo. Repitamo-lo para o Evangelho: "In hoc signo vinces", para que do desfazimento do mundo de
hoje nasça o novo cristianismo do Evangelho. (P.
Ubaldi - Evolução e Evangelho)
A física se baseia hoje em resultados gerais de massa, segundo os quais, de
uma desordem básica pode derivar, todavia, uma ordem de conjunto, que nos revela a escala normal de
observação, obtida com os meios de nossos sentidos limitados. E é assim que, no grande número,
desaparecem as irregularidades individuais numa regularidade coletiva de conjunto, nas quais se
fundamentam as leis vistas pela física clássica. Mas eis que a ciência admite hoje para a matéria, leis
que se baseiam no acaso e na desordem. Mesmo que depois haja compensação, para revelar as características
dominantes de massa, é um fato que, na dimensão submicroscópica da escala de observação, se verifica a
irregularidade de inumeráveis liberdades individuais. Ora, em nosso grande mundo vemos as formas de
existências escalonadas segundo vários planos de desenvolvimento, unidas por um contínuo transformismo no
mesmo caminho traçado pelo processo evolutivo que estabelece sua parentela e lhe mantém a unidade. Assim,
partindo do mundo inorgânico da matéria, através do dinâmico da energia, chega-se ao mundo orgânico da
vida, vegetal e animal, no cume da qual desponta o homem, o mundo imaterial das idéias e do espírito.
Cada um desses mundos se transforma, evoluindo, por imperceptíveis gradações, infiltrando-se no seguinte.
Achamo-nos como que diante da construção de um grande edifício, cujas qualidades e complexidade de
estrutura revelam uma sabedoria que aumenta em cada plano. Se a evolução fosse um processo isolado,
abandonado a si mesmo, sem grandes bastidores de forças e inteligência que a guiam, não se poderia
explicar como da pedra se chegaria ao gênio. E que o pensamento faça parte de nosso universo, tanto
quanto a matéria e a energia, é um fato que não se pode negar e que a ciência não pode deixar de
reconhecer cada dia mais. (P. Ubaldi - Evolução e Evangelho)
Agora perguntamos: como pode de um mundo dirigido pelo acaso, derivar, sem
a intervenção de qualquer outro fator, o mundo biológico em que uma série imensa de fatores aparece não
só disciplinada segundo um funcionamento próprio, bem diferente do estado orgânico, mas orientada segundo
um transformismo que arrasta tudo na direção evolutiva, capaz de levar a vida da primeira célula até a
complexidade do organismo humano, no qual o cérebro atua em ordem ainda mais complexa, a do mundo
psíquico e espiritual? As causas desses efeitos não as achamos na matéria. Ela é insuficiente para
determiná-los. Onde estão, pois, essas causas? Como pode, de um sistema constituído por movimentos livres
dos indivíduos componentes, baseados em leis estatísticas ou de probabilidades, desenvolver-se aquele
maravilhoso edifício biológico, em que vemos, no fim, aparecer o pensamento e o espírito? Dado o ponto de
partida estatisticamente falando, o fenômeno do surgir da vida é estranhamente improvável, e seu
desenvolvimento até ao homem é inexplicável. Usando o cálculo das probabilidades pode demonstrar-se
matematicamente a impossibilidade de explicar, apenas com o acaso, o aparecimento espontâneo da vida na
terra. As primeiras células não podiam nascer de uma desordem caótica por uma combinação fortuita de
elementos atômicos, mesmo que, dispondo de um tempo ilimitado, fosse possível teoricamente qualquer
combinação. Antes de tudo, para a terra, há limites de tempo, imensamente inferior ao necessário para que
tal combinação tenha podido verificar-se em larga escala. Além disso, as propriedades da célula implicam,
não uma simples combinação de elementos, mas pressupõe uma coordenação de complexidade que jamais poderá
resultar do acaso, mas apenas de uma direção inteligente. (P. Ubaldi - Evolução
e Evangelho)