| A Arte na expressão de Ubaldi
Gilson Teixeira Freire gilson@imh.com.br O último
capítulo da Grande Síntese nos fala, com muita propriedade e beleza da Arte. O ser em evolução manifesta sentimentos
que expressam sua afanosa busca de beleza, perfeição e harmonia. Estas são, na verdade, virtudes da
divindade para as quais fomos criados, cujas lembranças estão impressas nos nossos mais puros e primordiais
anseios. Somos filhos de Deus, porém estamos momentaneamente distanciados de Seus valores, sendo justa nossa
aspiração por aquilo que herdamos da criação de origem. Essas aspirações estão inquestionavelmente presentes
em todas as nossas fantasias e sonhos, por mais inconscientes que sejam e, para exprimi-los, usamos as mais
diversas linguagens, dentre as quais a arte é a mais genuína. Por isso a Grande Síntese a define
como a expressão dos anseios divinos na alma humana. A arte é também instrumento da evolução,
pois, recordando-nos as paisagens do Altíssimo nas harmonias das formas, nos concita a retornar ao Paraíso
Celeste. Precisamos dela para lembrar que, como herdeiros dos atributos do Criador, somos feitos da mais
primorosa beleza e harmonia. Por isso, nos anseios silenciosos de nossas almas, aspiramos pela arte
perfeita, pois a nobreza divina corre na seiva que nos alimenta os desejos. Segundo Ubaldi a arte é composta de
substância e forma. A forma veste a substância, sendo apenas o veículo para que esta se expresse. A forma
necessita de técnica e treino, sendo a substância a sua essência verdadeira, feita de linguagem divina. Esta
não tem formas, sendo apenas essência. Busca o belo, o perfeito, a harmonia e sintoniza a alma com o
pensamento que dirige a criação. O homem, na história da arte, faz evoluir a forma, aprimorando a maneira
como expressar a sua essência imutável. Muitas vezes, no entanto, no afã de inovar, prioriza a forma,
revestindo a substância de errônea degradação e rudeza, deturpando e obscurecendo a essência. A evolução da
arte deveria priorizar a simplicidade da forma, de maneira que a substância se expressasse cada vez com
maior pujança, tornando-se paulatinamente menos forma e mais substância, aproximando-se da essência pura,
que é Deus. Como todos os valores
evolutivos, a arte está sujeita também aos ciclos de ascensões e decadências. Na primeira fase, há
predomínio da positividade e do bem; na segunda, é colorida pela violência das paixões que atormentam a
alma. Sem o saber, o artista se deixa arrebatar por essas alternantes e contraditórias vias de expressões,
destrutivas ou construtivas, e atende aos apelos que predominam em sua época. Assim é que a arte passa por
períodos de enriquecimento e beleza, para se desfazer com o tormento e a desarmonia da fase degenerativa,
refletindo o pesar da alma diante de seu exílio evolutivo. Nos nossos dias, a arte vestiu-se de materialismo
e se deixou derruir pela negação do espírito que vivifica. Suas formas são feitas de agonia e desespero. O
que deveria ser a expressão da divindade tornou-se uma imprecisa angústia de formas, linguagem de desterro
de almas que perderam o apoio nas verdades que eternizam e consolam. Onde está a música que deveria ser
prece e elevar o espírito, nas dissonâncias alucinantes e carnais dos ritmos modernos? Onde está a harmonia
divina nas pinturas da atualidade, em suas agitadas e aberrantes linhas, que podem ser hodiernas mas nos
distanciam da beleza da criação? A
arte tem, sobretudo, a função de fazer ascender o espírito e como tal deveria nos falar dos princípios da
criação e de suas maravilhas. Deveria lembrar-nos a grandiosidade da divindade e suscitar em nossas mentes
ambientações paradisíacas. Sua função deveria ser a elevação da alma humana e não a excitação de tormentos e
paixões doentias em nossos corações. Deveria exaltar o bem e ser um veículo das belezas celestiais. Essa é a
arte genuína, expressiva linguagem do Criador, que fala de nossos mais profundos anseios, capaz de
sensibilizar as mais puras expressões de nossa emotividade. Essa será a arte do futuro. Já pertenceu ao
passado e nos brindou os olhos e os ouvidos com maravilhas, que todos conhecemos. Que seria de nossas preces
sem a harmonização que uma Ave Maria nos favorece? Que seria de nossos sonhos, sem as sugestões de beleza
com que as pinturas românticas os revestem? Não precisamos das expressões primitivas
da arte para nos mostrar os tormentos que ainda maculam nossa divindade e suscitar as mais vis paixões que
teimam em enodoar nossos sentimentos, pois, acossados pelo automatismo do passado e premidos pela urgência
das reformas, necessitamos de nos libertar de suas amargas lembranças. Aspiramos por genuínas expressões
artísticas que nos enlevem, suscitando-nos a paixão do eterno. O teatro e o cinema não deveriam ser
palco de violências e cenário de destruições, que apenas nos suscitam os hábitos agressivos da baixeza
animal. Deveriam ser difusores de bondade para as multidões, lembrando-lhes que nascemos para o bem e a
felicidade. Precisam deixar de se debater nas expressões das trevas e se apressar a construir valores de
eternidade. A verdadeira arte é
linguagem universal do espírito e como tal deveria buscar a unidade. No futuro ela haverá de expressar a
beleza dos princípios divinos que regem a criação. Por isso o artista deve incorporar nela a visão unitária
e sintética do Universo e tingir seus matizes com as mais profundas concepções da vida. Então ela nos
sublimará o espírito, aproximando-nos de Deus. A arte verdadeira deve buscar a unificação, a harmonização e
a bondade em todas as suas expressões. Tem de se iluminar com as luzes do espírito e adotar o Divino, o belo
e o bem como motivação única para suas inspirações. Deveria desmaterializar cada vez mais suas vestes e
tornar-se, cada vez mais, imponderabilidade, enlevo e arrebatamento, revestindo-se de infinito. Então sua função será cumprida, e a arte,
elevada à primazia do espírito, será o altar das ascensões humanas. Será a oração que une a
criatura ao Criador. Belo
Horizonte, agosto de 2001 Gilson Teixeira Freire
gilson@imh.com.br
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