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A Cadeia Alimentar

Pedro Orlando Ribeiro

Pergunta:

Qual a explicação de Ubaldi para o fato de termos de nos alimentar uns dos outros? Ou seja, temos que matar animais/plantas para a nossa sobrevivência, inclusive necessária para o equilíbrio do ecossistema através das cadeias alimentares?

Resposta:

Para responder a questão é necessário se apoiar nos fundamentos da filosofia monista de Ubaldi. Inicialmente devemos nos preocupar em compreender a causa primeira que deu origem a este comportamento dos seres vivos. Desta forma é bom recordar os pontos principais da teoria da queda, magistralmente explanada nos livros Deus e Universo e O Sistema de autoria de Pietro Ubaldi.

Segundo esta teoria, os espíritos foram criados perfeitos e livres dentro de um organismo hierarquizado constituindo um Todo harmônico, sendo Deus o vértice desta hierarquia. Estes seres eram perfeitos porque foram criados da substância de Deus, cujo atributo principal é a perfeição. Seria um absurdo admitir que a imperfeição é filha da perfeição. O que é absolutamente perfeito por natureza não pode gerar o imperfeito já que não tem em si mesmo a semente da imperfeição.

A revolta e a queda surgiram em virtude das criaturas serem livres, já que a liberdade é uma qualidade da perfeição. Deus não criou escravos mas sim seres livres. A criatura que vivia num sistema hierarquizado quis ser igual ao Deus criador, advindo daí a queda. Ubaldi nos informa:

"Já dissemos sobre Deus criador, que a primeira criação dos espíritos puros produziu não uma simples multiplicidade, mas um verdadeiro organismo, um Sistema, com hierarquia de posições e distribuição de funções, como é indispensável em qualquer organismo ou sistema. A estrutura orgânica não foi apenas uma necessidade para contrabalançar o processo divisionista, de onde derivara a criação e que podia ameaçar a coesão da unidade do todo. O Sistema assumiu a estrutura orgânica sobretudo porque a criação de tantos seres diferentes se baseava no princípio do Amor, o qual foi a força que continuou a cimentá-los, o impulso que devia mantê-los unidos em sistema, o único possível num regime de absoluta liberdade. (P. Ubaldi – O Sistema)"

Com a queda surgiu então a cisão dualística entre Sistema e Anti-Sistema. Ubaldi descreve este desmoronamento da seguinte forma: "O fenômeno da queda, estudado em seu aspecto dinâmico, apresenta-se- nos, agora, como uma curvatura cinética, ou envolvimento gradual do movimento sobre si mesmo, equivalente a um contrair-se da liberdade do espírito (Sistema) no determinismo da matéria (Anti-Sistema). Com a queda, assistimos a uma curvatura progressiva do estado cinético da substância, livre e aberto na origem, até ao ponto em que se aprisiona no Sistema cinético fechado do átomo. Neste ponto, chegamos ao fundo da queda, no reino da matéria e do máximo divisionismo, onde dominam no caos as individuações atômicas isoladas, no triunfo pleno do princípio separatista da revolta. (P. Ubaldi - O Sistema)"

Neste ponto o sistema orgânico da criação encontra-se esfacelado, fracionado nas suas individualidades. Inicia-se então o processo inverso ao da queda, o período evolucionista de reconstrução da organicidade perdida. É um processo lento com avanços e recuos pois traz embutido em si o motivo original da queda. Sobre isso Ubaldi comenta:

"Urge explicar essa técnica estranha de construção, mediante a qual a evolução constrói, para depois demolir reconstruindo mais alto; em seguida tornar a demolir para mais tarde reconstruir mais acima assim por diante. Que maneira estranha de avançar, retrocedendo a cada passo! (P. Ubaldi – O Sistema)"

O Sistema original antes da queda tinha como características básicas a perfeição, a liberdade e o amor, portanto, é claro que por ser absolutamente perfeito deveria ter no seu interior um mecanismo que possibilitasse a reconstrução do Sistema caso a criatura usasse da sua liberdade para tentar impor uma hierarquia diferente da estabelecida pela Lei divina, isto é, a revolta.

Este mecanismo é a Evolução. É um impulso em sentido contrário ao da revolta promovida pela criatura. É o mecanismo gerado pela lei divina que mesmo respeitando a liberdade de escolha do ser está reconstruindo o Sistema desmoronado.

Pela necessidade de respeitar o livre arbítrio da criatura, a evolução parece caminhar tortuosamente, como os meandros de um grande rio. São avanços e recuos que repetem o motivo da queda original em todo o fenômeno por mais insignificante que ele possa ser.

A repetição do motivo da queda em todas as alturas do nosso universo nada mais é que um reflexo no particular, da imensa luta cósmica entre o bem e o mal. O bem é propriedade do Sistema e está fadado a vitória nesta luta em virtude de ser filho da perfeição e, portanto, mais forte que o mal. A fragilidade do mal vem da sua filiação à revolta que tem como fundamento a imperfeição. Aquilo que é imperfeito por natureza não pode ser mais forte do aquilo que é perfeito na sua essência.

A luta no nível da vida terrestre toma a forma de luta pela sobrevivência do mais forte. A dureza desta luta é proporcional ao grau evolutivo da espécie. Esta luta está presente em todos setores da vida vegetal e animal (incluindo aí também o homem) onde a lei da sobrevivência do mais forte é a nota fundamental. Para sobreviver-se é preciso matar para não ser morto, devorar para não ser devorado. Mas como faz a evolução para superar este ciclo e fazer a vida evoluir? Simplesmente usa as próprias forças do mal para fazer o ser evoluir, desenvolvendo a inteligência das criaturas no fragor do combate. O ser precisa desenvolver cada vez mais a inteligência para sobreviver, primeiramente no nível da força e depois no nível da astúcia e por fim o colaboracionismo orgânico já numa fase super-humana. A cada degrau evolutivo conquistado a luta torna-se menos feroz mas nunca cessa de todo.

A cadeia alimentar é uma conseqüência da luta, o mais forte devora o mais fraco. A natureza sabiamente usa o processo da cadeia alimentar para fazer a matéria evoluir. Veja nas palavras de Ubaldi como isto se dá:

"Massas de milhões de plantas cada dia, assimilando-a no seu organismo, transformam a matéria prima inorgânica em material orgânico. Milhões de animais comendo-o e assimilando-o, transformando-o assim em carne o levam a um nível mais alto. Milhões de seres humanos, sem poder deter-se, para viver, devem ingerir cada dia montanhas de toneladas deste material que plantas e animais lhe fornecem, transformando-o em substância ainda mais evoluída, nervos e cérebro, produtores de dinamismo volitivo e mental. Gradualmente diminui a massa da quantidade em favor da qualidade na qual ela se transforma, destilando e concentrando os valores espalhados naquela quantidade. Para que serve esta contínua ingestão de matéria de grau menos evoluído, colocada assim em circulação para cumprir funções cada vez mais elevadas em organismos mais evoluídos? Começando pelas plantas assimiladoras do terreno, e assim se elevando até ao homem, vemos que a matéria, do seu estado inorgânico passa através de uma elaboração contínua, pela qual os átomos que a compõe, chegam ao estado orgânico da vida, até ao nervoso e cerebral, no qual devem saber funcionar como elemento do instrumento do pensamento; esses átomos dispõe-se a colaborar de mil maneiras e devem aprender muitas coisas. Assistimos assim a uma espécie de curso de educação da matéria."

Como vemos só um átimo do processo evolutivo não sabemos dizer aonde nos levará num futuro mais remoto, no entanto Ubaldi nos informa que este método da cadeia alimentar será superado e não haverá necessidade de sacrificar as vidas menores (vegetal e animal):

Por meio desse refinamento evolutivo, que culmina no espírito, ao lado da progressiva desmaterialização das formas, o futuro se prepara à preponderância transbordante do psiquismo e prepara um banquete energético extraído de um raio de sol. Sem luta nem assassinatos, repousareis saciados de eflúvios solares, absorvendo diretamente seu dinamismo. Isto acontece em planetas mais evoluídos que o vosso, mas para vós, constitui um futuro ainda distante. Estômago e sangue formaram-se em vós como são agora, e através de idades incalculáveis, portanto, oferecem uma resistência proporcional para manter-se em sua linha atávica de funcionamento. Nem mesmo a venenosa síntese artificial das substâncias alimentares é própria para libertar- vos do animalesco circuito da química intestinal. Nem a introdução direta dos princípios nutritivos no sangue é trabalho adequado para vossa medicina de superfície, grosseira e violenta.

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