A essência de Cristo | Mensagem Original
Adeildo Paulo da Silva | No livro Cristo, 2ª Edição-1985, Capítulo V, O CHOQUE ENTRE SISTEMA e
ANTI-SISTEMA, fica evidenciado que Cristo era uma pessoa do Anti-Sistema e que a Paixão representa um último
assalto do Anti-Sistema contra um elemento que lhe foge para ingressar no SISTEMA. Para melhor clareza do que afirmamos, seguem alguns tópicos entre aspáginas
59/63: "Postos, então, de lado os sujeitos humanos que contribuíram -
quais pobres inconscientes -para o desenrolar-se de forças por eles desconhecidas da paixão de Cristo, não
resta como causa de tudo senão a vontade do Pai, da qual Cristo havia feito Sua própria vontade. O Pai não O
obriga de modo nenhum, mas é Cristo que tem consciência da necessidade de obedecer-Lhe. É o próprio Cristo
que perante a ordem estabelecida pela Lei, reconhece a absoluta necessidade de Seu sacrifício e o cumpre com
conhecimento de causa. Assim: de um lado, permanece firme um princípio de ordem, do outro emerge a
necessidade de um sacrifício. Havia, pois, uma conta entre os dois, e Cristo devia pagá-la à justiça do Pai.
Era, então, esta que exigiatal pagamento e cumpria ao Cristo efetuá-lo, cônscio de Seu dever?" "Qual era então a dívida que Cristo devia pagar à Lei? Diz-se que sejam os
pecados dos homens que Cristo endossava, deixando só a eles a tarefa de cometê-los. Mas se o pagamento de
Cristo era efetuado para cumprir um ato de justiça perante a Lei, como é possível que o mesmo redundasse num
ato de injustiça qual o de pagar, com seu próprio sofrimento, as culpas dos outros? Assim sendo, o Pai por
aquele Seu princípio de justiça deveria ter exigido o pagamento por parte dos homens, porque as culpas eram
deles e não de Cristo." "A paixão de Cristo é, então, devida a um último
assalto do AS contra um elemento que lhe foge para reingressar no S, ao mesmo tempo em que constitui a
libertação deste ser em relação ao AS, assim como o seu triunfo no S. É esta a razão da estraciante
crucificação, assim como da glória da ressurreição. A primeira representa o método próprio do AS que se
acirra contra o homem que está para retornar purificado ao seio de Deus. Mas a zona de domínio do AS está
delimitada e logo que Cristo lhe ultrapasse os confins, aquele AS perde todo o poder sobre Ele. Neste
momento Cristo volta a ser cidadão do S, como ser de um Universo de outro tipo." "Eis que a paixão de Cristo nos mostra o maior fenômeno da existência que
tenha sido experimentalmente vivido: o da superação evolutiva do AS e da evasão do mesmo para reingressar,
vitorioso, no S. O fenômeno é bilateral, pois interessa simultaneamente ao AS e ao S, enquanto se realiza,
ao negativo no primeiro e ao positivo no segundo. Cristo alcançava uma posição de avançadíssimo nível
biológico, que nós todos deveremos atingir. Assim ele nos pôde mostrar a técnica de realização da passagem
dos mais altos planos do AS para o S. Eis qual é o significado da paixão de Cristo: o do retorno do ser a
Deus, depois de ter percorrido todo o ciclo involução-evolução." "Então
Cristo é um elemento de nosso tipo AS, mas tão avançado no caminho que todos percorremos, a ponto de superar
o nosso mundo e poder assim reingressar no S. Com isso Ele nos mostra aquilo que todos nós, cedo ou mais
tarde, deveremos fazer. Daí o valor do seu exemplo, por ser o de um indivíduo situado nas nossas mesmas
condições, que todavia realiza uma passagem normal em posição de perfeito enquadramento dentro da ordem da
Lei. Isto não é mito, e sim realidade. Daí o seu valor positivo. Provavelmente Cristo tenha feito parte de
uma humanidade tão evoluída a ponto de estar próximo do S, e dela descera à nossa humanidade involuída para
sujeitar-se a uma prova purificadora muito mais feroz de quanto não comportasse Sua demasiadamente elevada
humanidade". "Talvez a culpa que Cristo tinha de pagar, consistisse no
fato de ter exercido um grande poder nessa outra humanidade, mas em sentido egoísta, de tal modo a ter de
repelir, com terror, qualquer soberania de tipo AS para usar todas as suas forças em sentido altruísta..."
Porém, no livro DEUS E UNIVERSO, capítulo XIV, A ESSÊNCIA DE
CRISTO, dá a entender justamente ao contrário, isto é, que Cristo tenha sido um elemento do Sistema, senão
vejamos. "Chegamos, assim, ao nó central de uma questão tremenda: quem era o Cristo? Todos nós mais ou menos
conhecemos a Sua figura humana, historicamente retraçável. Mas que haveria por trás dela? Eis o grande
problema. Certamente; estes quesitos não se podem nem ao menos formular para a forma mental da ciência
moderna, pois com os seus métodos de conceber, eles não são solúveis."
"As religiões não dão explicações racionais cabais e são obrigadas a recorrer aos únicos meios pelos
quais tais problemas se podem apresentar ao involuído atual: o mistério e a fé. Procuremos, pois,
compreender. "A luz verdadeira é "aquela que ilumina - todo homem que vem a este mundo" e o espírito, a
centelha de Deus, que se manifesta como consciência, o saber-se "eu", a fundamental qualidade e sensação do
ser. A treva é a inconsciência, a ignorância, que se torna cada vez mais densa, à medida que se precipita no
anti-sistema, involvendo na matéria. De onde provém a luz verdadeira. De Deus, centro do sistema, e ela o
anima por completo. Ela é sinônimo de consciência e de vida, é o espírito, é a substância do ser, que
permanece Substância em cada um dos seus três aspectos ou momentos. Cristo é, pois, a luz irradiada por
Deus, está conexo com Deus e provém do centro do sistema. Ele mesmo, de fato, repetidamente, se declara
Filho de Deus." "João fala claro: "E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós". O espírito de Cristo era, pois, o Verbo. Já vimos que este é o segundo momento da
Trindade, em que a idéia (espírito), dinamizando-se, encaminha-se à ação, o momento da gênese, do Pai, de
Quem nascem todas as coisas, isto é, de que deriva o terceiro momento, a obra completa na forma. Mas o
Cristo, aquele que o homem viu na Terra, era o Verbo feito carne, isto é, o Verbo não mais como o segundo
momento, mas como terceiro; ou seja, era o Pai imerso na Sua manifestação em nosso plano físico, não mais
apenas dinamismo sem forma concreta, mas revestido de matéria. Ele é, pois, o Filho derivado do Pai, o
Unigênito do Pai, como lhe chama João. Tudo isto corresponde perfeitamente à estrutura do sistema, como
acima descrito e representa a sua fase mais periférica, mais distanciada do centro - Deus; aquela em que o
espírito, provindo do centro, submerge nos antípodas, na matéria."
Com o progresso da ciência, que aponta a nossa Terra apenas como um ínfimo grãozinho de poeira cósmica,
torna-se cada vez mais inadmissível o antropomorfismo, que pretendia fazer dela o teatro dos maiores
acontecimentos da criação. Não é concebível que a vida possa estar toda aqui. E, se Deus enviou Cristo como
seu representante, torna-se cada vez mais difícil que Ele se tenha ocupado apenas de nossa humanidade, esse
Deus que deve sê-Lo não apenas para nós, mas para todo o infinito Universo que escapa a qualquer medida e
compreensão nossa. Por que devemos acreditar que Cristo tenha sido o único meio da intervenção de Deus para
salvar o ser decaído, quem sabe em quantas e variadas formas? Por que admitir que Cristo tenha sido o único
raio enviado pelo Centro para reanimar e reconstruir o universo desmoronado? Deve-se acreditar ter Cristo
eventualmente, desempenhado, também em algum lugar, a sua missão redentora, ou ainda, já que o campo por ele
escolhido tenha se limitado à Terra, que se tenha valido de outros colaboradores, com Ele enviados por Deus
a todo o universo, que igualmente deve ser repleto de vida. Como separar os fatos da vida terrena dos
acontecimentos da vida cósmica? No Evangelho de João (Cap. 17: 1-2,4) estão as palavras de Cristo dirigidas
ao: Pai: (...) "Para que o Filho Te glorifique a Ti, porque Lhe
conferiste poder sobre toda a humanidade". (...) "Quem me vê, vê o Pai" (. . . .),-
Cap. 14:9. (...) "O Pai, que habita em Mim, faz estas obras. Crede-me que estou no Pai
e o Pai está em Mim" - cap. 14:10-11. (...) "O Pai, que me enviou" - Cap. 14: 24.
Diante do exposto, faço a seguinte indagação: Como conciliar esta
aparente incongruência? | Resposta
Pedro
Orlando Ribeiro | Para compreender estas colocações de Ubaldi é necessário levar em conta que
a obra ubaldiana é um todo orgânico, espelhando – como não poderia deixar de ser, por ser uma obra inspirada
pelo Alto – a constituição orgânica do todo. Assim, ela forma um todo em que as suas diversas partes se
fundem numa unidade maior. Ao estudarmos um determinado ponto devemos ter em mente que existe um embasamento
comum a todos os temas abordados. Assim a obra foi construída de
conformidade com a lei da evolução. Ubaldi chegou a afirmar, no livro Deus e Universo, que sua
compreensão do assunto (Cristo) constituía-se num fenômeno em evolução: No Capítulo XIV: "A essência do
Cristo" do volume Deus e Universo, escrevi na Itália em 1942 e publiquei no Brasil em 1954, estas
palavras: Sinto que nestas paginas se aproxima a visão do conceito da essência do Cristo numa primeira
aproximação, prelúdio de uma compreensão mais profunda que alcançará seu ápice no último volume,
coroamento de toda a Obra". Ao concluir o referido capítulo eu confirmava: "Encerro esta visão sobre a
essência do Cristo, primeiro esboço de visões maiores". Tinha consciência assim, desde aquela época, que
minha compreensão do assunto constituía-se num fenômeno em evolução. De uma entrevista de Ubaldi em 1968 à José Amaral retirei o seguinte
trecho: J. A. — Que pensa, Prof.. Ubaldi, a respeito do livro
Cristo, tão ansiosamente esperado.? UBALDI — O livro Cristo
será o coroamento da obra. O vértice da pirâmide e também o ponto final de minha vida e o término de
minha missão. Quando chegar a hora, saberei o que devo escrever. Mas sei que pouco falarei da vida humana do
Cristo, mas muito de Sua vida divina, a respeito do que ele verdadeiramente é, independentemente da sua
permanência na Terra. Este livro aparecerá quando eu estiver perto da
morte. Para perceber o Cristo é preciso que o corpo esteja diminuindo. E quanto mais isto acontece com a
velhice, tanto mais percebo que a visão do Cristo está se aproximando, tomando-se cada dias mais clara. Este livro já estava planejado quando eu escrevi um dos primeiros
volumes da Obra: Ascese Mística. No fim da 2ª parte; no capítulo III, “A Dor”, lê-se: "Cristo me
espera, e no fim descerá o marco interior da devoção, e do amor". "No fim de tanto trabalho da mente e do
coração, depois de tanto escrever, só uma palavra ficará: Cristo. Sobre esta palavra, que é a síntese
suprema do conhecimento e do Amor, eu me curvarei satisfeito e feliz". O livro Deus e Universo foi escrito em 1942 e o volume Cristo
em 1971. Neste intervalo a visão de Ubaldi sobre a personalidade de Cristo amadureceu e ele alcançou uma
compreensão mais profunda sobre o tema. Ao escrever Deus e Universo
, Ubaldi atravessava uma fase de intenso deslumbramento com as revelações que recebia do Alto, e assim
seus escritos refletiam o explosivo dinamismo espiritual que vivia. A figura de Cristo surgia como um
gigantesco sol que ofuscava seu horizonte espiritual. Já ao redigir o livro Cristo, Ubaldi já
dominava totalmente a técnica inspirativa (Cf. Um Destino Seguindo Cristo) e em conseqüência o fluxo
inspirativo era mais calmo, sem o caráter explosivo das primeiras revelações, deste modo Cristo aparece mais
próximo e revela o Cristo-Homem em contraste com o Cristo-Deus do primeiro livro. A passagem que o levou a considerar que poderia haver uma contradição entre
os dois livros é a citação do Evangelho de João (Cap. 17: 1-2,4). Nesta citação Cristo afirma ser filho de
Deus e enviado do Alto e com poder sobre toda a humanidade e conclui afirmando que ele e o Pai formam uma
unidade. Tudo isto realmente é verdadeiro e não é passível de contestação. O que não foi dito nesta passagem
é que também as outras criaturas são filhas de Deus, pois também foram criadas da substância Divina
original. Ubaldi explica isto claramente: Há três modos de existir do
Tudo-Uno-Deus, isto é, como:
I - Espírito (concepção) II - Pai (verbo ou ação) III- Filho
(o ser criado). (....)É deste processo que nasceu a Criação, que
foi chamada o Filho, gerado pelo Pai e permanecendo sempre idêntico a Deus. (....)A realidade da origem
divina ficou impressa no ser, porque dela ele se originou. Assim todos são filhos do Pai, e
constituem o terceiro modo de existir do Tudo-Uno-Deus, isto é, o Filho.
Pode-se agora compreender porque afirmamos, aqui, que Cristo é realmente Filho de Deus. Ele como criatura do
Sistema derivara do Pai, era da mesma substância de Deus. É assim que podemos dizer que ele era a 2ª pessoa,
pois era o 3º momento da Trindade. É deste modo admissível que ele seja Deus, uno com o Pai, que é o Verbo
criador, ao qual o Filho, como cada ser, deve a sua gênese. Compreendendo-se o fato de Cristo se
referir constantemente ao Pai com um sentido de unidade e identidade, e falar de regresso ao seio deste.
Isto porque os espíritos do Sistema são sempre Deus, mesmo que no seu 3º modo de ser: o de Filho.
Agora fica fácil compreender que todos nós e Cristo somos feitos da
mesma substância Divina. A diferença entre as outras criaturas e Cristo é fruto da imensa defasagem entre as
nossas posições evolutivas e o altíssimo grau evolutivo alcançado por Cristo. Quando Cristo afirmou que Ele
e o Pai eram um, Ele já havia alcançado a unificação consciente com a Divindade e estava deixando o Anti-
Sistema para regressar ao Sistema. Este fenômeno também acontecerá com toda a humanidade, mais cedo ou mais
tarde. Quanto ao fato de ser ele um enviado de Deus com poderes sobre toda a humanidade, nada há de mais
natural num sistema hierarquizado, (como o é o nosso Universo) que o de colocar no vértice da pirâmide a
criatura mais evoluída: Desse modo Cristo é nosso irmão e mestre e
como tal tem o direito de elevar-se como exemplo, porque fez aquilo que cada um de nós deverá fazer,
obedecendo como Ele a Lei de Deus. (. . . .) Ele enfrentou o inimigo e fez primeiro aquilo que todos deverão
fazer e farão para cumprirem e resolverem o ciclo involutivo-evolutivo. Ele tem o direito de se colocar como
exemplo e cabe-lhe a função de modelo, porque a sua paixão não se reduz a de poucas horas que nós nos
limitamos a comemorar, mas se projeta nos milênios que cada um de nós deve viver. Ela se condensa num cálice
bem mais amargo, o qual consiste em ter de sofrer todas as provas, fadigas e dores do AS, absorvidas hora
por hora, até assimilar toda a lição.(P. Ubaldi - Cristo) Finalmente
devemos compreender que é um tremendo absurdo a crença de que Deus encarnou no nosso mundo. Como Deus
é por definição Infinito seria o mesmo que colocar um oceano dentro de uma gota d'água. Encerrar no
finito, tal infinito. |
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