Página Principal | Download | Biografia | Álbum Fotográfico | Relação dos livros | Links | Artigos |
 
A DINÂMICA DA EVOLUÇÃO

Pietro Ubaldi

 

O telefinalismo da evolução. Não mais materialismo evolucionista, mas evolucionismo espiritualista. Da matéria à vida. A técnica construtiva da evolução. Uma inteligência dirige o fenômeno, que é regresso à perfeição perdida, meta preestabelecida e fatal. Objeções. A técnica da tentativa prova e não desmente o telefinalismo. A entropia. Dinamismo cósmico e dinamismo biológico. A vida na conquista do movimento para domínio da dimensão espaço.

 

 

Até aqui estudamos, a propósito de um caso vivido, o fenômeno do choque entre involuído e evoluído, explicando seu significado com teorias gerais. Observamos, depois o mesmo fenômeno, mas em dimensões maiores, na luta entre o Cristianismo como representante do Evangelho, e o mundo, e ao contrário. Até agora permanecemos num terreno prático, como a realidade da vida se nos apresenta na terra. Nesta última parte do presente volume, dilataremos ainda mais os nossos horizontes, ampliando a nossa visão para considerar outro aspecto diferente de A Grande Batalha.

 

Revelar-nos-á ele o vasto e profundo significado biológico do fenômeno dessa batalha, sua importância para o desenvolvimento da vida, e a que resultados maravilhosos tende o fenômeno, levando com ele o ser. Isto nos erguerá acima deste mundo, do qual tivemos que ocupar-nos até agora, colocando-nos em contato com os princípios universais, que estão nas raiz mais profunda desse fenômeno, do qual traçam o caminho e impõe as conclusões. Esses princípios são os teológicos, demonstrados nos dois volumes: Deus e Universo e O Sistema, princípios que aqui voltam, aplicados e confirmados em contato coma realidade da vida, onde são observadas onde são observadas as suas conseqüências práticas. Essa subida permitir-nos-á unir a realidade do relativo aos princípios que o dirigem, no plano das causas primeiras, e isto com absoluto sentido unitário que liga tudo, e tudo funde monisticamente, fazendo achar a causa no efeito e o efeito na causa.

 

Poderemos justificar assim, racionalmente a concepção de involuído e evoluído em que se baseia este tratado, dando a esta concepção fundamento cientificamente positivo, de acordo com o que a biologia admite. Poderemos explicar  e provar nossa afirmação de que o Evangelho representa a lei da humanidade futura. Mesmo pela teorias da ciência, poderemos sustentar que a evolução leva o homem à sua própria espiritualização, pois é esta direção em que a vida progride, e é no espiritualizar-se que verdadeiramente consiste o telefinalismo da evolução. Assim, por outros caminhos positivos, poderemos dar plena confirmação às afirmativas em que nos baseamos no desenvolvimento desta obra, uma confirmação lógica, enquadrada no seio da lei, ou seja, no seio do plano que dirige o funcionamento e a evolução do universo.

 

Que haja um telefinalismo na evolução e que ele seja representado pela espiritualização, já o afirmamos várias vezes neste volume, em rápidas referências. Desenvolvamos agora esses pontos, explicando-nos o que isto significa e analisando o fenômeno e as razões pelas quais isto acontece. Reside a explicação lógica desse fato numa razão profunda.

 

No volume O Sistema, foi demonstrado que a evolução representa o trabalho de reconstrução do sistema, a partir das ruínas do anti-sistema em que aquele caíra. Trata-se de uma experiência do fenômeno da evolução que são mais exaustivas e profundas do que as oferecidas pela ciência que, segundo a concepção materialista de Darwin e Haeckel, sem penetrar no mundo das causas, se detém na superfície dos efeitos, onde aparece apenas o desenvolvimento morfológico dos órgãos. A este, que é um materialismo evolucionista, podemos agora substituir um evolucionismo espiritualista.

 

Podemos assim penetrar o significado íntimo do fenômeno da evolução, ou seja, o de ser um processo de reconstrução de um sistema destruído. Impõe-nos este fato conseqüências importantes. Com efeito, o modelo a reconstruir preexiste ao processo evolutivo e estabelece a sua meta que constitui justamente o telefinalismo. Esse modelo já existe e, se o atual estágio de evolução ainda está distante, ele já possui um objetivo determinado, que deverá atingir ao identificar-se com o modelo. As fases sucessivas do progredir e aperfeiçoar-se da vida são gradativas aproximações a este estado final. Este é estabelecido pelo sistema perfeito, não decaído, que representa a primeira criação operada por Deus. Eis então que a evolução não caminha ao acaso, abandonada a si mesma, mas é guiada pela atração para a meta longínqua, para a qual tende a marcha, como sobre um binário marcado por um raio de luz.

 

Há mais, porém. Se conhecemos o ponto de chegada sabemos também qual é o ponto de partida da nossa evolução: a matéria. Em A Grande Síntese traçamos todo o caminho a que a evolução submete o ser, da matéria ao espírito. Chegamos a saber, assim, mais do que pode dizer-nos a ciência, porque, conhecidos o ponto de partida e o ponto de chegada da evolução, pode estabelecer-se também todo o traçado do seu caminho. É verdade que, no relativo, as estradas pela quais se pode evoluir são muitas; mas se são diferentes na forma, são iguais na substância, porque todas levam ao mesmo objetivo, e partindo da matéria vão ao espírito, ou seja, ao sistema e a Deus, que é o seu centro. Tudo parte de um pólo onde tudo se encontra no negativo (mal, trevas, dor, morte etc.), e caminha para um pólo em que tudo se encontra no positivo (bem, luz, alegria, vida etc.).

 

Eis então que a evolução se nos revela em seus mais profundos significados, como um fenômeno não casual e isolado, mas como um processo fundamental, enquadrado na ordem universal, como parte integrante do sistema, em função do objetivo supremo desta; um fenômeno guiado por uma inteligência e poder que o disciplinam, determinado por Deus e sujeito à Sua Lei, que permaneceu de pé mesmo depois da queda, para dirigir e salvar tudo. Os primeiros biólogos que descobriram a evolução nem sequer sonhavam com tudo isto. O conceito de telefinalismo está implícito nessa concepção. Ainda que o particular seja deixado ao livre-arbítrio individual, à mercê das tentativas e do erro, em suas grandes linhas o fenômeno da evolução é fatal e amarrado a um caminho próprio preestabelecido. Pode-se evoluir de várias maneiras, mas somente caminhando para Deus.

 

Já está, portanto, estabelecida a forma que deverá assumir no futuro da evolução humana, ou seja,  que ela só pode consistir no espiritualizar-se. Seu profundo trabalho criador faz-se no terreno das causas primeiras, que está no íntimo do ser, mesmo que se trate, como no passado, de construções morfológicas, que explicamos como produto ideoplástico. O regresso a Deus só pode significar o despertar, no ser, de todas as qualidades espirituais que aproximam de Deus. Assim se explica por que a evolução, quanto mais se sobe, mais se deve verificar no íntimo, no profundo, onde Deus está em nós. Assim se explica por que o caminho da evolução, para a raça humana que já se tornou madura, só pode continuar na forma de sua espiritualização. Significa isto o despertar do ser por conquista do conhecimento e consciência; significa desenvolver a vida interior; compreender e viver o espírito do Evangelho, e com isto realizar na terra o reino de Deus: espiritualização, porque a evolução vai da matéria para Deus, que é o espírito; desenvolvimento da vida interior, porque Deus é interior e não exterior ao ser e ao universo.

 

Aqui se vão delineando os argumentos racionais, positivos e científicos, que demonstram a exatidão de nossa precedente colocação do problema de A Grande Batalha, provando-nos que nosso ponto de vista não foi criação arbitrária de teorias, apenas para nos dar razão, mas que elas justificam e confirmam verdadeiramente a nossa interpretação dos fatos que narramos e dos fenômenos trazidos a exame.

 

Assim também obteremos confirmação da ciência, para a nossa tese do valor universal do Evangelho como fator biológico de evolução. O Evangelho insere-se na evolução, acompanhando o seu telefinalismo, com o qual coincide, porquanto é espiritualização. Que mais podemos fazer? Mais não podemos dar, porque mais não temos. Em nossos livros oferecemos todos os meios que o sentimento, o pensamento e a palavra podem oferecer para orientar, e também os dados positivos da ciência. Fazemos isso para cumprir  nosso sagrado dever. Aproveite quem quiser, como um salva-vidas, na hora do “salve-se quem puder”. É ordem da Lei, que é vontade de Deus, que se tenha de fazer este passo à frente na realização do Evangelho, o que quer dizer, na evolução da vida. A hora está madura, porque o mundo de hoje está espiritualmente em diluição, como no tempo do imperador Constantino estava o mundo romano, e de suas ruínas nascia o Cristianismo. Repitamo-lo para o Evangelho: “In hoc signo vinces”[1], para que do desfazimento do mundo de hoje nasça o novo cristianismo do Evangelho, vencendo a Grande Batalha.

 

Estes livros querem salvar o que pode ser salvo. Mas que podemos oferecer senão conceitos e avisos? Sozinhos, estes não podem ter poder decisivo para refazer o mundo. Seria loucura imaginá-lo. Então, a sua maior força não reside apenas nos argumentos escritos, porque o mundo está habituado a zombar dos sermões há muito tempo, como zomba de todas as religiões, do Evangelho e de Deus. A força destes livros, então, baseia-se nos acontecimentos que Deus prepara, aos quais o homem não poderá resistir e dos quais não poderá escapar, acontecimentos históricos que liquidarão o nosso mundo apodrecido, como foi liquidado o império romano. Quando isto tiver ocorrido, os elementos negativos da humanidade, contraproducentes para a evolução, terão sido todos afastados, assim como, pela mesma lei, ocorreu no pequeno episódio narrado.[2] E então estes escritos adquirirão um valor que o homem de hoje (que os aceita ou condena conforme sirvam ou não para o seu partido religioso) não pode, com tal forma mental, compreender, e que de fato, com tudo isso, demonstra não ter compreendido ainda. Se eles fossem apenas obra humana, não se explicaria a sua linguagem. Mas paralelamente a eles estão amadurecendo grandes acontecimentos históricos (V. volume: Profecias) e a mão de Deus é tremenda, quando é necessária a destruição, que executa sem piedade, e quando a operação do corte cirúrgico é necessária para o bem do enfermo a quem se precisa salvar a vida.

 

*  *  *

 

À sua velha concepção mecanicista do mundo, segundo a física clássica, a ciência substitui hoje a de uma física quantística e estatística, em que não mais dominam leis dinâmicas, mas leis estatísticas ou de probabilidade, não mais reguladoras de um caso singular, mas de inumeráveis processos individuais; leis que governam uma multidão de acontecimentos, nos quais o indivíduo desaparece (V. Problemas do Futuro, cap. XVII, “As ultimas orientações da ciência”). Eis o que nos diz a estrutura atômica da matéria, hoje, que a velha visão do conjunto-observação que poderia chamar-se macroscópica ou de síntese — se substitui uma visão analítica da matéria, da qual se penetrou a estrutura, com uma observação submicroscópica e intuitivo-matemática. Compreendeu-se então que a concepção estática da matéria, como um sólido imutável, era devida apenas à escala de observação usada pelo homem no passado. Verificou-se que, mudando as dimensões da escala de observação, o fenômeno se revela constituído segundo uma natureza diversa. Assim a física se baseia hoje em resultados gerais de massa, segundo os quais de uma desordem básica pode derivar, todavia, uma ordem de conjunto, que nos revela a escala normal de observação, obtida com os meios de nossos sentidos limitados. E é assim que, no grande número, desaparecem as irregularidades individuais em uma regularidade coletiva de conjunto, nas quais se fundamentam as leis vistas pela física clássica. Mas eis que a ciência admite hoje, para a matéria, leis que se baseiam no acaso e na desordem. Mesmo que depois haja compensação, para revelar as características dominantes de massa, é um fato que, na dimensão submicroscópica da escala de observação, se verifica a irregularidade de inumeráveis liberdades individuais.

 

Ora, em nosso grande mundo vemos as formas de existência escalonadas segundo vários planos de desenvolvimento, unidas por um contínuo transformismo no mesmo caminho traçado pelo processo evolutivo que estabelece sua parentela e lhe mantém a unidade. Assim, partindo do mundo inorgânico da matéria, através do dinâmico da energia, chega-se ao mundo orgânico da vida, vegetal e animal, no cume da qual se desponta com o homem, o mundo imaterial das idéias e do espírito. Cada um desses mundos se transforma, evoluindo, por imperceptíveis gradações, infiltrando-se no seguinte. Achamo-nos como que diante da construção de um grande edifício, cujas qualidades e complexidade de estrutura, revelam uma sabedoria que aumenta a cada plano. Se a evolução fosse um processo isolado, abandonado a si mesmo, sem grandes bastidores de forças e de inteligência que a guiam, não se poderia explicar como da pedra se chegaria ao gênio. E que o pensamento faça parte de nosso universo, tanto quanto a matéria e a energia, é um fato que não se pode negar e que a ciência não pode deixar de reconhecer cada dia mais.

 

Não basta comprovar o fenômeno da evolução. É indispensável explicar-se as forças determinantes e a sabedoria que a dirige. Aqui está a incógnita que escapa à ciência e que é necessário conhecer, porque ela é a causa de tudo, é a chave do fenômeno da evolução. Matéria e energia sozinhas não são suficientes para explicar a derivação da vida, pois não possuem diante desta o poder de causa determinante. O complexo não pode ser gerado pelo simples, nem o mais pelo menos. Onde estão as causas determinantes de maravilhoso florescimento produzido pela evolução? Olhando desde a matéria inorgânica até o homem que pensa, podemos compreender o tremendo trabalho criador que a evolução deu provas de saber realizar.

 

Para fazer compreender melhor, quisemos aqui recordar qual é a estrutura intima da matéria. Agora perguntamos: como pode, de um mundo dirigido pe­lo acaso, derivar, sem a intervenção de qualquer ou­tro fator, o mundo biológico em que uma série imen­sa de fatores aparece não só disciplinada: segundo um funcionamento próprio, bem diferente do estado orgânico, mas orientada segundo um transformismo que arrasta tudo na direção evolutiva, capaz de le­var a vida da primeira célula até à complexidade do organismo humano, no qual o cérebro atua em ordem ainda mais complexa, a do mundo psíquico e espiri­tual? As causas desses efeitos não as achamos na matéria. Ela é insuficiente para determiná-los. Onde estão, pois, essas causas? Como pode, de um siste­ma constituído por movimentos livres dos indivíduos componentes, baseados em leis estatísticas ou de pro­babilidades, desenvolver-se aquele maravilhoso edifício biológico, em que vemos, no fim, aparecer o pen­samento e o espírito?

 

Dado o ponto de partida estatisticamente falando, o fenômeno do surgir da vida é estranhamente improvável, e o seu desenvolvimento até ao homem é inexplicável. Usando o cálculo das probabilidades pode demonstrar-se matematicamente a impossibilidade de explicar,apenas com o acaso, o apareci­mento espontâneo da vida na terra. As primeiras cé­lulas não podiam nascer de uma desordem caótica por uma combinação fortuita de elementos atômicos, mesmo que, dispondo de um tempo ilimitado, fosse possível teoricamente qualquer combinação. Antes de tudo, para a terra, há limites de tempo, imen­samente inferior ao necessário para que tal com­binação tenha podido verificar-se em larga esca­la. Além disso, as propriedades da célula implicam, não uma simples combinação de elementos, mas pressupõem uma coordenação de complexidade que ja­mais poderá resultar do acaso, mas apenas de uma direção inteligente. Sem dúvida foi utilizada matéria prima menos evoluída. Mas não significa absolu­tamente que isto seja a causa do fenômeno. Devemos admitir, ao invés, que a vida não é uma criação da matéria, mas apenas uma manifestação  e revelação através da matéria. Igualmente temos de aceitar que o espírito não ó uma criação da vida, mas somen­te uma manifestação e revelação através dela. É inevitável, então, concluir admitindo que o mundo biológico não ó o produto gerado pelo mundo físico e dinâmico; que o mundo psíquico espiritual não é um efeito determinado pelo mundo biológico, mas que todos eles são a expressão de um princípio superior que utiliza as construções precedentes para delas realizar outras cada vez mais complexas e per­feitas coordenando seus elementos em combinações cada vez mais sábias. Se nada se cria, e nada se des­trói, e se do nada, nada se produz, não nos resta senão buscar naquele princípio superior uma causa, para esses efeitos.

 

Passando, ao evoluir, do mundo físico ao dinâmico, ao biológico, ao psíquico e espiritual, assisti­mos, em cada degrau,a uma inovação radical, como se fora uma revolução em que se manifestam efeitos que as causas existentes nos planos inferiores não contêm e não explicam. A cada salto para frente nas­ce um mundo novo, dirigido por novos princípios, que são muito mais do que simples conseqüência dos pre­cedentes. Nada se destrói, o velho continua a existir no novo, mas apenas em posição subordinada, como meio e suporte de algo que ele não conhece.

 

Além disso, podemos observar um fato estranho. O plano da vida e do pensamento constituem um mundo físico e energeticamente de grandeza despre­zível, diante daquela grandeza imensa dos astros e planetas, e da quantidade e potência das energias cósmicas. Trata-se de um mundo quantitativamente menor, mas qualitativamente superior. A que causa atribuir essa superação qualitativa? Não, de certo, aos planos inferiores, dos quais é, justamente, uma superação. Nenhuma entidade sozinha pode conter os elementos aptos a produzir a própria superação, que lhe permitam sair das próprias dimensões ele­vando-se acima delas. È verdade que, nos planos inferiores, encontramos maior riqueza de quantidade. Mas poderá a quantidade sozinha produzir a qua­lidade?

A evolução parece proceder construindo em for­ma de pirâmide, selecionando cada vez mais, quan­to mais sobe, os seus elementos e mandando para a frente apenas os mais escolhidos. E assim que a evo­lução consegue fazer qualidades com a quantidade, extraindo-a da massa. Mas para que isto seja possível, seria necessário que a quantidade contivesse, embora em medida reduzida, a qualidade. Ora, como pode um plano inferior conter as características complemente diferentes que individualizam um pla­no superior?

 

Eis que quanto mais observamos e raciocinamos mais somos arrastados para o mesmo ponto. Os fatos e a lógica nos constrangem a aceitar, como explicação de tudo isto, a presença de uma inteligência e poder diretores, preexistentes ao fenômeno da evolução, à qual impõe determinado caminho e telefinalismo. Torna-se então explicável essa transformação de potência criadora, compreendendo-a não como uma absurda derivação do menos no mais, mas co­mo uma destilação progressiva de valores substan­ciais, já contidos em potência, como numa semente, que depois gera a árvore, contidos numa coisa que não é menor, mas apenas aparece assim, porque ain­da não se desenvolveu. Mas donde derivam, então, esses valores substanciais, e como podem existir no estado latente, não-expresso, à espera de desenvolvi­mento, mesmo nos mais baixos planos da evolução? Para responder, é indispensável ter compreendido a teoria da queda, explicada em nossos dois volumes Deus e UniversoeO Sistema, e o desenvolvimento evolutivo traçado em A Grande Síntese,que se pode definir: a teoria do reerguimento. Nesses livros está explicada a origem da matéria, pela queda, cor­rupção ou involução do espírito, e o regresso, pelo caminho da evolução, àquele perfeito estado originário, o que é um estado de reerguimento ou recons­trução do sistema, a partir do anti-sistema, sob a guia daquele mesmo Deus que, tirando-o de si, tinha cria­do tudo.

 

O fenômeno da evolução torna-se, então, bem compreensível, como um caminho de volta, paralelo e inverso ao de ida; compreensível, porque toda a trajetória do projeto se toma visível, equilibrada em suas duas fases opostas de descida e subida, do pon­to de partida até ao pólo oposto, e, deste, recuperan­do tudo o que perdeu, novamente até ao ponto de partida. Explica-se, assim, esse estranho fenômeno do "mais" que nasce do "menos", pelo qual a qualida­de emerge da quantidade, o complexo, do mais simples, porque esse mais não é gerado do menos assim como a qualidade não o é da quantidade, nem o complexo do simples. A posição precedente, de menos, de quantidade, de simplicidade, não repre­senta a causa do "mais", da qualidade, do complexo, mas apenas uma fase de diverso grau de desenvolvi­mento de um mesmo processo, que consiste na resti­tuição ao estado atual daquilo que se reduzira ao estado latente. Restituição, isto é, regresso e reergui­mento, porque a involução é uma queda do espírito na matéria, da substância na forma; ao passo que, com a evolução, da matéria reaparece o espírito, da forma emerge e revela-se a substância. Com eleito, esse é o processo evolutivo, que significa tornar a subir a Deus, que é, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada.

 

Leva-nos tudo isto, fatalmente, ao conceito tele­finalístico, que agora nos parece indispensável, pa­ra poder compreender e explicar-nos o processo evo­lutivo que, não podemos deixar de admitir, é presidi­do por esse guia que fixa a meta preestabelecida e fatal. Assim, podemos agora explicar-nos, finalmen­te, o significado e as causas da distinção entre invo­luído e evoluído em que se baseia este volume. Sabemos agora qual é o poder que faz nascer, num plano inferior, os primeiros exemplares de um superior. Agora vemos qual a força que preside ao fenômeno, que defende e salva, num ambiente ciumento e inimi­go,esses tipos biológicos fora da série, como todas as exceções isoladas e contrastadas pela massa diferente dos menos evoluídos, que é contrária a elas. Explica-se dessa maneira como o mais adiantado, que é mais difícil e complexo para sobreviver, pode vencer a batalha da vida, e fixar-se como novo tipo biológico, fazen­do desse moda progredir; a evolução. Tudo se explica, mas por obra de um conceito metafísico, que já agora se torna indispensável até à ciência; pois enquanto esta não descobrir o lado imponderável do fenôme­no, só poderá atingir uma visão parcial, insuficiente para compreender o processo evolutivo, que permanecerá um mistério cheio de incógnitas. Conceito metafísico, o no entanto, tão íntimo aos seres, inclusi­ve a nós, humanos, e que em todos grita e sabe real­mente fazer-se compreender e obedecer muito bem, por meio de um instinto irrefreável de melhoria e ascensão, em que se exprime a grande chamada de Deus a todas as criaturas.

 

*  *  *

 

Não faltam, todavia, as objeções a essa concep­ção telefinalística. Mas o fato é que, mesmo parecendo que elas a possam abalar nos pormenores, elas a confirmam nas linhas gerais. Observa-se que, na evolução da vida, a natureza procede por tentati­vas, e não com a segurança de um plano pré-organizado. A técnica da tentativa contrasta completamen­te com o conceito de telefinalismo e o desmente. Se fosse verdadeiro aquele conceito, a evolução deveria caminhar retilínea e segura. Ao invés, ela avança incerta, como quem não conhece absolutamente o ca­minho a seguir; sua tendência a progredir é falaz, como de quem não sabe aonde quer chegar Ela ten­de a subir, mas erra, corrige-se, pára, toma outra es­trada, retrocede, depois recomeça e continua a su­bir. Muitas formas, inúteis como resultado final, per­manecem abandonadas, mortas, nas margens do grande caminho. Por que esses erros, essas tentativas sem êxito? Naufraga com isto o poder do telefinalis­mo? E, vindo ele de Deus, como pode falir em tantos pontos? Vemos que sua sabedoria não está absoluta­mente presente na evolução, que não conhece ne­nhum telefinalismo.

 

Ao invés de uma consciência organizadora, dá-nos tudo isto a sensação de um cego à procura de luz, apalpando as paredes de sua prisão para achar a porta de saída para formas de vida menos duras e mais livres. Por que esse esforço de evoluir, com ris­co próprio, expondo-nos a todos os perigos? E o po­der diretivo dirige o quê, se fica impassível a olhar? Parece ser fraco, incerto, quase ausente, ou, no máximo, presente apenas como um vago e longínquo cha­mamento que o ser sente como uma ânsia confusa, que só pode realizar-se através de seu esforço mais árduo.

 

E no entanto, podemos responder, quantas coi­sas conseguiu a evolução construir com essa sua enganadora técnica da tentativa Em última análise, com suas maravilhosas construções, a vida demonstrou que sabe responder a esse íntimo chamamento telefinalístico. O esforço árduo nos levou até aqui, onde nos achamos hoje no caminho da evolução, as dificuldades foram superadas, a vida triunfou sobre todos os erros e obstáculos, seus objetivos foram atin­gidos Pelo nosso comodismo, somos levados a con­ceber a presença de Deus fazendo tudo com seu infinito poder (aliás, isto nada lhe custa), poupando‑nos um cansaço que nos custa muito. Mas, ao contrário, a presença de Deus em nós é uma conquista que te­mos de fazer com esforço próprio, merecendo-a pelo fato de saber subir até Ele. Então, esse imperativo telefinalístico não é um elevador, dentro do qual nos sentamos para sermos levados para o alto, mas é uma escada que precisamos subir com as próprias pernas. Não se trata de fazer-nos arrastar preguiço­samente pela vontade de Deus, mas de reconstruir por meio de nosso trabalho, de acordo com a vonta­de de Deus, uma perfeição perdida, que permaneceu como recordação e nostalgia de reconquista, impres­sa na profundidade do ser.

 

Há tanta miséria de fraqueza e ignorância nessa cegueira da tentativa,e no entanto aí vemos também a mais profunda sabedoria, que sabe erguer-se e res­surgir de todas as quedas, transformando cada erro e falência num aprendizado para aprender a subir. Na evolução, vemos agir as suas forças opostas, a do anti-sistema e a do sistema, que disputam o campo. A primeira, negativa, para corromper e paralisar a subida; a segunda, positiva, para curar e fazer pro­gredir. A miséria da fraqueza e da ignorância per­tence ao ser que deve subir, desde o fundo. A rique­za de poder e sabedoria pertence a Deus que o chama e ajuda a subir. Explica-se assim como a técnica da tentativa não destrói absolutamente a presença do telefinalismo na evolução.

 

Se tentativa significa incerteza, também quer di­zer tendência para uma finalidade. A presença des­sa técnica poderá indicar-nos a imperfeição do méto­do, mas não a ausência de um fim; poderá ligar-se a um telefinalismo difícil de realizar-se, porque cheio de obstáculos, mas não uma falta de meta. Se caminhamos até aqui, isto significa que existe uma estrada na qual se caminha. A tentativa exprime, justamen­te, o esforço para alcançar qualquer coisa. O acaso não tende a nenhum ponto particular, nem faz esfor­ços para atingi-lo. Ele não tem finalidades não luta por alguma coisa,é imparcial e indiferente. Ao con­trário, a evolução manifesta-se — além das paradas e desvios — como o efeito de uma atração lenta e sistemática, que faz movimentar-se em determinada direção. Apesar da técnica da tentativa, o fenôme­no está intimamente auto-orientado por um impulso seu animador que tenazmente o solicita sempre na mesma direção. E eis que as objeções contra a concepção telefinalística, ao invés de destruí-la, a reforçam, obrigando-nos a observar com exatidão cada vez maior. Continuemos a observar esse grande fe­nômeno da evolução, para compreender-lhe cada vez mais o significado profundo.

 

Já notamos que seu ponto de partida é um mun­do de inumeráveis irregularidades individuais, que desaparecem numa regularidade coletiva de conjun­to, que se revela por leis estatísticas ou de probalida­de. Ora, essa ordem de massa, que deriva de uma desordem de base, só pode levá-la sozinha ao nive­lamento das diferenças individuais, eliminando o in­dividualismo. A evolução, ao contrário, tende à di­ferenciação, ao assimétrico, à distinção por formas definidas, e à coordenação dos elementos componen­tes. Eis que o princípio de base é invertido. Ora, o cálculo das probabilidades prova a impossibilidade prática de atingir, com aquele sistema de desordem básica, e de ordem de massa, uma sucessão de fa­tos cada vez mais assimétricos e irregulares. E na biologia os tipos conservados são exatamente aque­les constituídos pela maior complexidade e assime­tria, justamente os que são mais improváveis estatis­ticamente, mas que em contrapartida são os mais avançados em direção à meta.

 

É verdade que, nas sociedades de unidades bio­lógicas, as leis estatísticas tornam a regular os maiores acontecimentos da coletividade. Mas isto é um expoente, efeito de outros impulsos determinantes, a serviço da evolução, e não uma causa suficiente que possa explicar-nos e ter determinado desde o início sua constante direção progressiva, tão tenazmente ori­entada que, apesar de todas as falências, chega ao ho­mem e ao mundo do espírito. Do ponto de partida ao de chegada, da monera ao homem, existe um cresci­mento sistemático de complexidade e uma contínua conquista de qualidades superiores. Se isto acontece por tentativas, não se pode negar que estas se movi­mentaram sempre em uma direção determinada, pa­ra um objetivo certo, sem o que não se explicam os resultados finais, obtidos com a formação do homem pensante. Se aceitarmos como procedente o princi­pio do acaso, ou seja, aquele da ação dos fatores da adaptação e seleção, jamais poderemos explicar-nos como esses fatores se orientaram, em média, para a construção de uma forma que é a mais improvável estatisticamente.

 

O que não se pode negar, é que deve ter havido uma tendência prévia a evoluir em dado sentido, em obediência a forte chamamento. Evidente­mente era necessária a ação de um poder bem gran­de, embora escondido e latente, para conduzir a nossa existência, das estradas do mundo inorgânico da ma­téria às tão diferentes do mundo orgânico da vida. O primeiro não possuía os elementos que o tornassem capaz de fazer, sozinho, um salto tão grande. Havia uma revolução grande demais para realizar; uma ponte muito longa, para atravessar o abismo e uma encosta muito íngreme para subir, para que o mila­gre pudesse ocorrer apenas com as leis e os recursos do mundo inorgânico.

 

Mas outros fatos existem ainda. Em A Grande Síntesejá falamos (cap. XLVIII, Série evolutiva das espécies dinâmicas), e também no volume A Nova Civilização do Terceiro Milênio (Cap. XXV, "O dualismo universal fenomênico"), do fenômeno da entropia, pelo qual se verifica, no universo dinâmico, a tendência à  quietude final do nivelamento. A entro­pia manifesta-se como um fenômeno de cansaço no dinamismo universal, que culmina na uniformidade, pela completa exaustão atingida por todas as diferenças. Este deveria ser o fim natural do universo inorgânico, segundo suas leis, se ele fosse somente isso. Com a entropia, ele tende a nivelar as desigualdades, a cancelar os valores; tende a caminhar para uma distribuição cada vez mais simétrica da energia, ou seja, para a diminuição e a supressão das dissimetrias.

 

E no entanto, eis que aparece, neste ponto da evolução, um mundo novo, o orgânico da vida vege­tal e animal, a caminho para outras direções, regido por outras leis e por um dinamismo de outro tipo. Este é dado por um princípio diferente do da entropia, pelo qual, no fenômeno vida, verificamos não uma diminuição, mas um incremento das dissimetrias; ao invés de uma tendência a nivelar as desigualdades e a cancelar valores, uma tendência a acentuar as desigualdades, a criar valores, diferenças, complicações. E eis que a evolução se coloca numa estrada diversa que leva não ao nivelamento dinâmico, mas ao surgimento de individuações autônomas que se tornam senhoras do movimento e o utilizam livremen­te para as próprias finalidades

 

Assistimos, assim, a um fato rico de profunda significação. Acima do universo físico, tendente à sua liquidação, aparece, quase numa compensação, e tendente ao seu desenvolvimento, em direção e forma diversa, o universo da vida. Os dois fenômenos parecem ligados por complementaridade, além de sê-lo por continuação. Se a vida, como dizíamos aci­ma, pode parecer um acontecimento quantitativa­mente secundário, desprezível, pela pequena quan­tidade de matéria e energia que usa, entretanto a vi­da se nos apresenta como a herdeira da degradação do mundo físico e dinâmico, que ela vence por uma superioridade qualitativa. Paralelamente ao seu de­saparecimento nos planos inferiores, parece que o universo quer reconstruir-se em outra forma, mais aci­ma. Então, cada plano de existência seria antes utilizado para dele se derivar, por evolução, o plano superior; e depois como suporte deste, para fazê-lo de­senvolver-se; seria depois abandonado e eliminado, logo que o ser, mais avançado, se tenha tomado independente. E assim que todo o anti-sistema acaba transformando-se em sistema.

 

É assim que o dinamismo, partindo de sua imen­sa massa de energias cósmicas, se torna mais exí­guo, embora de qualidade superior; pois que ele — nesse ponto da evolução — não regula mais os as­tros, mas sim a vida, que é fenômeno muito mais evo­luído pela complexidade de movimentos, por um di­namismo agora dirigido pela inteligência, coordena­do aos objetivos desta e por ela dominado, e que, as­sim se libertou do determinismo que lhe era próprio nos planos inferiores. Conquista de autonomia de movimento, que se liberta cada vez mais da escravi­dão daquele determinismo, tornando-se cada vez mais livre e conscientemente apto ao trabalho — agora bem diferente — de construir a vida.

 

A matéria como a energia, os átomos como os astros, representam movimentos poderosos e velozes. Mas átomos e astros não os dirigem,e sim os sofrem. Manifesta-se a evolução como uma conquista de individual independência de movimento, como uma li­bertação do determinismo das leis dinâmicas e daquilo que aparece como estaticidade da matéria.

 

Na passagem da matéria à energia, assistimos a uma primeira libertação do movimento fechado nas trajetórias circulares do átomo, que assim se expan­dem por transmissão ondulatória. Neste ponto de evolução, o mundo inorgânico da matéria, chegado à fase energia, impelido pelo íntimo impulso ascensional, quebrou e abriu os sistemas atômicos fecha­dos em si mesmos, e deles lançou o dinamismo nos espaços, em forma livre, de onda. Libertação ape­nas de trajetória, para projetar-se para todos os la­dos, mas ainda nenhuma superação do determinis­mo das leis da matéria, porque a energia não conquistou nenhum domínio sobre o próprio movimento nem possui liberdade para dirigi- lo. Como a matéria, a energia deve obedecer cegamente à sua lei, mes­mo que isto se passe de forma diversa, já que o movimento não está mais fechado em si mesmo.

 

E nessa altura da subida que intervém o impul­so telefinalístico. Abandonado a si mesmo, já o dissemos, seguindo o seu caminho, o mundo dinâmico chegaria a uma ordem final sua, em que, atingido o completo nivelamento das diferenças energéticas, se alcança o zero absoluto dinâmico, que é a anulação do movimento numa estase final, em que, no equilí­brio atingido pela entropia, cessam todas as manifestações energéticas de nosso universo. Mas a evolu­ção não se deixa arrastar por essa estrada, que seria a conseqüência lógica das causas presentes no fenô­meno. Ao contrário, introduz nele outras novas, iné­ditas, desviando-o para seus fins que são completa­mente diferentes. Assim a vida se inicia e a subida toma outra direção. Aquele movimento que tende a anular-se de um lado, reaparece sob forma diversa do outro.

 

Na irritabilidade da célula, primeira forma de vida, aparece um início de conquista do movimento de forma autônoma: movimentos mínimos e lentos, (que são eles diante dos de um meteorito), mas dependentes da vontade do sujeito. Os movimentos precedentes continuam a girar cegos no íntimo dos átomos componentes, mas são tomados numa esca­la maior, em movimentos de que o ser não é efeito, como na matéria, mas é causa, como na vida. Come­ça, então, com a evolução, uma espécie de luta na libertação contra as leis físicas. As árvores se erguem, vencendo as leis da gravidade; os animais conquistam por terra, por água, pelo ar, seus meios indepen­dentes de locomoção, adaptando à sua vontade, as leis físicas para utilidade própria. Assim, como antes se pensava na descoberta das Américas, agora se pensa nas viagens interplanetárias. Assim se manifesta, em realizações cada vez mais poderosas, aque­le impulso de libertação que leva o ser a apoderar-se do movimento para a conquista do espaço. Este é assim cada vez mais dominado, até que, chegando a evolução à fase pensamento e espírito, essa dimen­são espacial será superada definitivamente com a do tempo, atingindo, para além delas, outras superio­res. Então, o espírito, livre da matéria, poderá gozar, sem esforço, de um movimento próprio gratuito e ilimitado, como é o dos corpos celestes. Com a diferen­ça de que o espírito não é um escravo cego do movi­mento, como aqueles corpos, mas senhor consciente.

 

Assim, continuamente regenerado por novos im­pulsos evolutivos, nada se submete ao natural cansar‑se e envelhecer do fenômeno, e tudo sobrevive, mas de forma qualitativamente destilada, em que se manifesta a evolução. O velho é superado, só para dar lugar a um novo melhor. Com isto, é vencida não só a inferioridade do passado, mas se fortifica cada vez mais sua fraqueza, garantindo a sobrevi­vência do ser ao defendê-lo, e tornando-o mais pode­roso, em vista da caducidade, tanto maior quanto mais se retrocede na escala da evolução. Poder-se-á assim chegar a um estado em que, — por ter o cami­nho evolutivo de desmaterialização levado o ser até ao plano espiritual, a vida, para existir não terá mais necessidade do suporte físico. Ela perderá, então faltas e imperfeições devidas ao seu estado involuí­do; libertar-se-á dos males inerentes à matéria — in­clusive a morte — e o ser poderá continuar a existir, sem mais necessidade do sustento dos corpos planetários em que se apoia, tornando-se assim indepen­dente das sortes do mundo físico, mesmo se essa for­ma da substância não tiver sido ainda eliminada de todo pela evolução.

 

Eis que, então, a entropia, que parece nutrir-se com um parasita do esgotamento do universo, só destrói deste, em realidade, um modo de existir, e não a substância, que continua indestrutível para evoluir em outras formas. Em outros termos, com a entropia tende a extinguir-se o movimento em sua forma infe­rior, passiva e determinística, em que ele é fatalmente aceito e inconscientemente seguido, para transformar-se num movimento de forma superior, ativa e li­vre, em que ele é querido e guiado pelo ser. É bem evidente a imensa distância que corre entre os dois fenômenos. O primeiro tipo de movimento pode ser representado por um meteorito ou planeta ou astro lançado no espaço, cegamente submetido às leis de­terminísticas do mundo físico e dinâmico; enquanto o segundo tipo de movimento pode ser o de um dis­co voador, dirigido pela vontade de um ser inteligen­te. Quanto dinamismo existe também no primeiro caso, muito mais poderoso quantitativamente, mas quanto é ele inferior em qualidade! Pode compreen­der-se, assim, por que os modernos progressos científicos e técnicos, têm um significado biológico. Com o domínio do movimento, levam a vida à superação das dimensões de espaço e tempo, próprias do mundo fí­sico, liberando a vida dessas dimensões, quando o le­vam a transpor os limites daquele estágio evolutivo, permitindo que a vida possa entrar numa fase mais adiantada, a do espírito.

 



[1]“Com este sinal venceremos”. (N. do T.)

 

[2]   Fato narrado no livro A Grande Batalha

 
Página Principal | Download | Biografia | Álbum Fotográfico | Relação dos livros | Links | Artigos |
1