O telefinalismo da evolução. Não mais materialismo
evolucionista, mas evolucionismo espiritualista. Da matéria à vida. A técnica construtiva da evolução. Uma
inteligência dirige o fenômeno, que é regresso à perfeição perdida, meta preestabelecida e fatal. Objeções.
A técnica da tentativa prova e não desmente o telefinalismo. A entropia. Dinamismo cósmico e dinamismo
biológico. A vida na conquista do movimento para domínio da dimensão espaço.
Até aqui estudamos, a propósito de um caso vivido, o fenômeno do
choque entre involuído e evoluído, explicando seu significado com teorias gerais. Observamos, depois o mesmo
fenômeno, mas em dimensões maiores, na luta entre o Cristianismo como representante do Evangelho, e o mundo,
e ao contrário. Até agora permanecemos num terreno prático, como a realidade da vida se nos apresenta na
terra. Nesta última parte do presente volume, dilataremos ainda mais os nossos horizontes, ampliando a nossa
visão para considerar outro aspecto diferente de A Grande Batalha.
Revelar-nos-á ele o vasto e profundo significado
biológico do fenômeno dessa batalha, sua importância para o desenvolvimento da vida, e a que resultados
maravilhosos tende o fenômeno, levando com ele o ser. Isto nos erguerá acima deste mundo, do qual tivemos
que ocupar-nos até agora, colocando-nos em contato com os princípios universais, que estão nas raiz mais
profunda desse fenômeno, do qual traçam o caminho e impõe as conclusões. Esses princípios são os teológicos,
demonstrados nos dois volumes:
Deus e Universo e O
Sistema, princípios que aqui voltam, aplicados e confirmados em contato coma realidade da vida, onde
são observadas onde são observadas as suas conseqüências práticas. Essa subida permitir-nos-á unir a
realidade do relativo aos princípios que o dirigem, no plano das causas primeiras, e isto com absoluto
sentido unitário que liga tudo, e tudo funde monisticamente, fazendo achar a causa no efeito e o efeito na
causa.
Poderemos justificar assim, racionalmente a concepção de involuído e
evoluído em que se baseia este tratado, dando a esta concepção fundamento cientificamente positivo, de
acordo com o que a biologia admite. Poderemos explicar e provar
nossa afirmação de que o Evangelho representa a lei da humanidade futura. Mesmo pela teorias da ciência,
poderemos sustentar que a evolução leva o homem à sua própria espiritualização, pois é esta direção em que a
vida progride, e é no espiritualizar-se que verdadeiramente consiste o telefinalismo da evolução. Assim, por
outros caminhos positivos, poderemos dar plena confirmação às afirmativas em que nos baseamos no
desenvolvimento desta obra, uma confirmação lógica, enquadrada no seio da lei, ou seja, no seio do plano que
dirige o funcionamento e a evolução do universo.
Que haja um telefinalismo na evolução e que ele seja
representado pela espiritualização, já o afirmamos várias vezes neste volume, em rápidas referências.
Desenvolvamos agora esses pontos, explicando-nos o que isto significa e analisando o fenômeno e as razões
pelas quais isto acontece. Reside a explicação lógica desse fato numa razão profunda.
No volume O Sistema, foi demonstrado que a
evolução representa o trabalho de reconstrução do sistema, a partir das ruínas do anti-sistema em que aquele
caíra. Trata-se de uma experiência do fenômeno da evolução que são mais exaustivas e profundas do que as
oferecidas pela ciência que, segundo a concepção materialista de Darwin e Haeckel, sem penetrar no mundo das
causas, se detém na superfície dos efeitos, onde aparece apenas o desenvolvimento morfológico dos órgãos. A
este, que é um materialismo evolucionista, podemos agora substituir um evolucionismo espiritualista.
Podemos assim penetrar o
significado íntimo do fenômeno da evolução, ou seja, o de ser um processo de reconstrução de um sistema
destruído. Impõe-nos este fato conseqüências importantes. Com efeito, o modelo a reconstruir preexiste ao
processo evolutivo e estabelece a sua meta que constitui justamente o telefinalismo. Esse modelo já existe
e, se o atual estágio de evolução ainda está distante, ele já possui um objetivo determinado, que deverá
atingir ao identificar-se com o modelo. As fases sucessivas do progredir e aperfeiçoar-se da vida são
gradativas aproximações a este estado final. Este é estabelecido pelo sistema perfeito, não decaído, que
representa a primeira criação operada por Deus. Eis então que a evolução não caminha ao acaso, abandonada a
si mesma, mas é guiada pela atração para a meta longínqua, para a qual tende a marcha, como sobre um binário
marcado por um raio de luz.
Há mais, porém. Se conhecemos o ponto de chegada sabemos também qual
é o ponto de partida da nossa evolução: a matéria. Em A Grande Síntese traçamos todo o caminho a que a evolução submete o
ser, da matéria ao espírito. Chegamos a saber, assim, mais do que pode dizer-nos a ciência, porque,
conhecidos o ponto de partida e o ponto de chegada da evolução, pode estabelecer-se também todo o traçado do
seu caminho. É verdade que, no relativo, as estradas pela quais se pode evoluir são muitas; mas se são
diferentes na forma, são iguais na substância, porque todas levam ao mesmo objetivo, e partindo da matéria
vão ao espírito, ou seja, ao sistema e a Deus, que é o seu centro. Tudo parte de um pólo onde tudo se
encontra no negativo (mal, trevas, dor, morte etc.), e caminha para um pólo em que tudo se encontra no
positivo (bem, luz, alegria, vida etc.).
Eis então que a evolução se nos revela em seus mais profundos
significados, como um fenômeno não casual e isolado, mas como um processo fundamental, enquadrado na ordem
universal, como parte integrante do sistema, em função do objetivo supremo desta; um fenômeno guiado por uma
inteligência e poder que o disciplinam, determinado por Deus e sujeito à Sua Lei, que permaneceu de pé mesmo
depois da queda, para dirigir e salvar tudo. Os primeiros biólogos que descobriram a evolução nem sequer
sonhavam com tudo isto. O conceito de telefinalismo está implícito nessa concepção. Ainda que o particular
seja deixado ao livre-arbítrio individual, à mercê das tentativas e do erro, em suas grandes linhas o
fenômeno da evolução é fatal e amarrado a um caminho próprio preestabelecido. Pode-se evoluir de várias
maneiras, mas somente caminhando para Deus.
Já está, portanto, estabelecida a forma que deverá
assumir no futuro da evolução humana, ou seja, que ela só pode
consistir no espiritualizar-se. Seu profundo trabalho criador faz-se no terreno das causas primeiras, que
está no íntimo do ser, mesmo que se trate, como no passado, de construções morfológicas, que explicamos como
produto ideoplástico. O regresso a Deus só pode significar o despertar, no ser, de todas as qualidades
espirituais que aproximam de Deus. Assim se explica por que a evolução, quanto mais se sobe, mais se deve
verificar no íntimo, no profundo, onde Deus está em nós. Assim se explica por que o caminho da evolução,
para a raça humana que já se tornou madura, só pode continuar na forma de sua espiritualização. Significa
isto o despertar do ser por conquista do conhecimento e consciência; significa desenvolver a vida interior;
compreender e viver o espírito do Evangelho, e com isto realizar na terra o reino de Deus: espiritualização,
porque a evolução vai da matéria para Deus, que é o espírito; desenvolvimento da vida interior, porque Deus
é interior e não exterior ao ser e ao universo.
Aqui se vão delineando os argumentos racionais,
positivos e científicos, que demonstram a exatidão de nossa precedente colocação do problema de A Grande Batalha, provando-nos
que nosso ponto de vista não foi criação arbitrária de teorias, apenas para nos dar razão, mas que elas
justificam e confirmam verdadeiramente a nossa interpretação dos fatos que narramos e dos fenômenos trazidos
a exame.
Assim também obteremos confirmação da ciência, para a nossa tese do
valor universal do Evangelho como fator biológico de evolução. O Evangelho insere-se na evolução,
acompanhando o seu telefinalismo, com o qual coincide, porquanto é espiritualização. Que mais podemos fazer?
Mais não podemos dar, porque mais não temos. Em nossos livros oferecemos todos os meios que o sentimento, o
pensamento e a palavra podem oferecer para orientar, e também os dados positivos da ciência. Fazemos isso
para cumprir nosso sagrado dever. Aproveite quem quiser, como um
salva-vidas, na hora do “salve-se quem puder”. É
ordem da Lei, que é vontade de Deus, que se tenha de fazer este passo à frente na realização do
Evangelho, o que quer dizer, na evolução da vida. A hora está madura, porque o mundo de hoje está
espiritualmente em diluição, como no tempo do imperador Constantino estava o mundo romano, e de suas ruínas
nascia o Cristianismo. Repitamo-lo para o Evangelho: “In hoc signo vinces”, para que do
desfazimento do mundo de hoje nasça o novo cristianismo do Evangelho, vencendo a Grande Batalha.
Estes livros querem salvar o que
pode ser salvo. Mas que podemos oferecer senão conceitos e avisos? Sozinhos, estes não podem ter poder
decisivo para refazer o mundo. Seria loucura imaginá-lo. Então, a sua maior força não reside apenas nos
argumentos escritos, porque o mundo está habituado a zombar dos sermões há muito tempo, como zomba de todas
as religiões, do Evangelho e de Deus. A força destes livros, então, baseia-se nos acontecimentos que Deus
prepara, aos quais o homem não poderá resistir e dos quais não poderá escapar, acontecimentos históricos que
liquidarão o nosso mundo apodrecido, como foi liquidado o império romano. Quando isto tiver ocorrido, os
elementos negativos da humanidade, contraproducentes para a evolução, terão sido todos afastados, assim
como, pela mesma lei, ocorreu no pequeno episódio narrado. E então estes escritos adquirirão um valor que o homem de
hoje (que os aceita ou condena conforme sirvam ou não para o seu partido religioso) não pode, com tal forma
mental, compreender, e que de fato, com tudo isso, demonstra não ter compreendido ainda. Se eles fossem
apenas obra humana, não se explicaria a sua linguagem. Mas paralelamente a eles estão amadurecendo grandes
acontecimentos históricos (V. volume: Profecias) e a mão de Deus é
tremenda, quando é necessária a destruição, que executa sem piedade, e quando a operação do corte cirúrgico
é necessária para o bem do enfermo a quem se precisa salvar a vida.
* * *
À sua velha concepção mecanicista do mundo, segundo a física
clássica, a ciência substitui hoje a de uma física quantística e estatística, em que não mais dominam leis
dinâmicas, mas leis estatísticas ou de probabilidade, não mais reguladoras de um caso singular, mas de
inumeráveis processos individuais; leis que governam uma multidão de acontecimentos, nos quais o indivíduo
desaparece (V. Problemas do
Futuro, cap. XVII, “As ultimas orientações da ciência”). Eis o que nos diz a estrutura atômica da
matéria, hoje, que a velha visão do conjunto-observação que poderia chamar-se macroscópica ou de síntese —
se substitui uma visão analítica da matéria, da qual se penetrou a estrutura, com uma observação
submicroscópica e intuitivo-matemática. Compreendeu-se então que a concepção estática da matéria, como um
sólido imutável, era devida apenas à escala de observação usada pelo homem no passado. Verificou-se que,
mudando as dimensões da escala de observação, o fenômeno se revela constituído segundo uma natureza diversa.
Assim a física se baseia hoje em resultados gerais de massa, segundo os quais de uma desordem básica pode
derivar, todavia, uma ordem de conjunto, que nos revela a escala normal de observação, obtida com os meios
de nossos sentidos limitados. E é assim que, no grande número, desaparecem as irregularidades individuais em
uma regularidade coletiva de conjunto, nas quais se fundamentam as leis vistas pela física clássica. Mas eis
que a ciência admite hoje, para a matéria, leis que se baseiam no acaso e na desordem. Mesmo que depois haja
compensação, para revelar as características dominantes de massa, é um fato que, na dimensão submicroscópica
da escala de observação, se verifica a irregularidade de inumeráveis liberdades individuais.
Ora, em nosso grande mundo vemos as
formas de existência escalonadas segundo vários planos de desenvolvimento, unidas por um contínuo
transformismo no mesmo caminho traçado pelo processo evolutivo que estabelece sua parentela e lhe mantém a
unidade. Assim, partindo do mundo inorgânico da matéria, através do dinâmico da energia, chega-se ao mundo
orgânico da vida, vegetal e animal, no cume da qual se desponta com o homem, o mundo imaterial das idéias e
do espírito. Cada um desses mundos se transforma, evoluindo, por imperceptíveis gradações, infiltrando-se no
seguinte. Achamo-nos como que diante da construção de um grande edifício, cujas qualidades e complexidade de
estrutura, revelam uma sabedoria que aumenta a cada plano. Se a evolução fosse um processo isolado,
abandonado a si mesmo, sem grandes bastidores de forças e de inteligência que a guiam, não se poderia
explicar como da pedra se chegaria ao gênio. E que o pensamento faça parte de nosso universo, tanto quanto a
matéria e a energia, é um fato que não se pode negar e que a ciência não pode deixar de reconhecer cada dia
mais.
Não basta comprovar
o fenômeno da evolução. É indispensável explicar-se as forças determinantes e a sabedoria que a dirige. Aqui
está a incógnita que escapa à ciência e que é necessário conhecer, porque ela é a causa de tudo, é a chave
do fenômeno da evolução. Matéria e energia sozinhas não são suficientes para explicar a derivação da vida,
pois não possuem diante desta o poder de causa determinante. O complexo não pode ser gerado pelo simples,
nem o mais pelo menos. Onde estão as causas determinantes de maravilhoso florescimento produzido pela
evolução? Olhando desde a matéria inorgânica até o homem que pensa, podemos compreender o tremendo trabalho
criador que a evolução deu provas de saber realizar.
Para fazer compreender melhor, quisemos
aqui recordar qual é a estrutura intima da matéria. Agora perguntamos: como pode, de um mundo dirigido pelo
acaso, derivar, sem a intervenção de qualquer outro fator, o mundo biológico em que uma série imensa de
fatores aparece não só disciplinada: segundo um funcionamento próprio, bem diferente do estado orgânico, mas
orientada segundo um transformismo que arrasta tudo na direção evolutiva, capaz de levar a vida da primeira
célula até à complexidade do organismo humano, no qual o cérebro atua em ordem ainda mais complexa, a do
mundo psíquico e espiritual? As causas desses efeitos não as achamos na matéria. Ela é insuficiente para
determiná-los. Onde estão, pois, essas causas? Como pode, de um sistema constituído por movimentos livres
dos indivíduos componentes, baseados em leis estatísticas ou de probabilidades, desenvolver-se aquele
maravilhoso edifício biológico, em que vemos, no fim, aparecer o pensamento e o espírito?
Dado o ponto de partida estatisticamente
falando, o fenômeno do surgir da vida é estranhamente improvável, e o seu desenvolvimento até ao homem é
inexplicável. Usando o cálculo das probabilidades pode demonstrar-se matematicamente a impossibilidade de
explicar,apenas com o acaso, o aparecimento espontâneo da vida na terra. As primeiras células
não podiam nascer de uma desordem caótica por uma combinação fortuita de elementos atômicos, mesmo que,
dispondo de um tempo ilimitado, fosse possível teoricamente qualquer combinação. Antes de tudo, para a
terra, há limites de tempo, imensamente inferior ao necessário para que tal combinação tenha podido
verificar-se em larga escala. Além disso, as propriedades da célula implicam, não uma simples combinação de
elementos, mas pressupõem uma coordenação de complexidade que jamais poderá resultar do acaso, mas apenas
de uma direção inteligente. Sem dúvida foi utilizada matéria prima menos evoluída. Mas não significa
absolutamente que isto seja a causa do fenômeno. Devemos admitir, ao invés, que a vida não é uma criação da
matéria, mas apenas uma manifestação e revelação através
da matéria. Igualmente temos de aceitar que o espírito não ó uma criação da vida, mas somente uma
manifestação e revelação através dela. É inevitável, então, concluir admitindo que o mundo biológico não ó o
produto gerado pelo mundo físico e dinâmico; que o mundo psíquico espiritual não é um efeito determinado
pelo mundo biológico, mas que todos eles são a expressão de um princípio superior que utiliza as construções
precedentes para delas realizar outras cada vez mais complexas e perfeitas coordenando seus elementos em
combinações cada vez mais sábias. Se nada se cria, e nada se destrói, e se do nada, nada se produz, não nos
resta senão buscar naquele princípio superior uma causa, para esses efeitos.
Passando, ao evoluir, do mundo físico ao dinâmico, ao biológico, ao psíquico e espiritual, assistimos, em
cada degrau,a uma inovação radical, como se fora uma revolução em que se manifestam efeitos que
as causas existentes nos planos inferiores não contêm e não explicam. A cada salto para frente nasce um
mundo novo, dirigido por novos princípios, que são muito mais do que simples conseqüência dos precedentes.
Nada se destrói, o velho continua a existir no novo, mas apenas em posição subordinada, como meio e suporte
de algo que ele não conhece.
Além disso, podemos observar um fato
estranho. O plano da vida e do pensamento constituem um mundo físico e energeticamente de grandeza
desprezível, diante daquela grandeza imensa dos astros e planetas, e da quantidade e potência das energias
cósmicas. Trata-se de um mundo quantitativamente menor, mas qualitativamente superior. A que causa atribuir
essa superação qualitativa? Não, de certo, aos planos inferiores, dos quais é, justamente, uma superação.
Nenhuma entidade sozinha pode conter os elementos aptos a produzir a própria superação, que lhe permitam
sair das próprias dimensões elevando-se acima delas. È verdade que, nos planos inferiores, encontramos maior
riqueza de quantidade. Mas poderá a quantidade sozinha produzir a qualidade?
A evolução
parece proceder construindo em forma de pirâmide, selecionando cada vez mais, quanto mais sobe, os seus
elementos e mandando para a frente apenas os mais escolhidos. E assim que a evolução consegue fazer
qualidades com a quantidade, extraindo-a da massa. Mas para que isto seja possível, seria necessário que a
quantidade contivesse, embora em medida reduzida, a qualidade. Ora, como pode um plano inferior conter as
características complemente diferentes que individualizam um plano superior?
Eis que quanto mais observamos e
raciocinamos mais somos arrastados para o mesmo ponto. Os fatos e a lógica nos constrangem a aceitar, como
explicação de tudo isto, a presença de uma inteligência e poder diretores, preexistentes ao fenômeno da
evolução, à qual impõe determinado caminho e telefinalismo. Torna-se então explicável essa transformação de
potência criadora, compreendendo-a não como uma absurda derivação do menos no mais, mas como uma destilação
progressiva de valores substanciais, já contidos em potência, como numa semente, que depois gera a árvore,
contidos numa coisa que não é menor, mas apenas aparece assim, porque ainda não se desenvolveu. Mas donde
derivam, então, esses valores substanciais, e como podem existir no estado latente, não-expresso, à espera
de desenvolvimento, mesmo nos mais baixos planos da evolução? Para responder, é indispensável ter
compreendido a teoria da queda, explicada em nossos dois volumes Deus e UniversoeO Sistema, e o desenvolvimento
evolutivo traçado em A Grande
Síntese,que se pode definir: a teoria do reerguimento. Nesses livros está explicada a
origem da matéria, pela queda, corrupção ou involução do espírito, e o regresso, pelo caminho da evolução,
àquele perfeito estado originário, o que é um estado de reerguimento ou reconstrução do sistema, a partir
do anti-sistema, sob a guia daquele mesmo Deus que, tirando-o de si, tinha criado tudo.
O fenômeno da evolução torna-se, então,
bem compreensível, como um caminho de volta, paralelo e inverso ao de ida; compreensível, porque toda a
trajetória do projeto se toma visível, equilibrada em suas duas fases opostas de descida e subida, do ponto
de partida até ao pólo oposto, e, deste, recuperando tudo o que perdeu, novamente até ao ponto de partida.
Explica-se, assim, esse estranho fenômeno do "mais" que nasce do "menos", pelo qual a
qualidade emerge da quantidade, o complexo, do mais simples, porque esse mais não é gerado do menos assim
como a qualidade não o é da quantidade, nem o complexo do simples. A posição precedente, de menos, de
quantidade, de simplicidade, não representa a causa do "mais", da qualidade, do complexo, mas
apenas uma fase de diverso grau de desenvolvimento de um mesmo processo, que consiste na restituição ao
estado atual daquilo que se reduzira ao estado latente. Restituição, isto é, regresso e reerguimento,
porque a involução é uma queda do espírito na matéria, da substância na forma; ao passo que, com a evolução,
da matéria reaparece o espírito, da forma emerge e revela-se a substância. Com eleito, esse é o processo
evolutivo, que significa tornar a subir a Deus, que é, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada.
Leva-nos tudo isto, fatalmente, ao
conceito telefinalístico, que agora nos parece indispensável, para poder compreender e explicar-nos o
processo evolutivo que, não podemos deixar de admitir, é presidido por esse guia que fixa a meta
preestabelecida e fatal. Assim, podemos agora explicar-nos, finalmente, o significado e as causas da
distinção entre involuído e evoluído em que se baseia este volume. Sabemos agora qual é o poder que faz
nascer, num plano inferior, os primeiros exemplares de um superior. Agora vemos qual a força que preside ao
fenômeno, que defende e salva, num ambiente ciumento e inimigo,esses tipos biológicos fora da
série, como todas as exceções isoladas e contrastadas pela massa diferente dos menos evoluídos, que é
contrária a elas. Explica-se dessa maneira como o mais adiantado, que é mais difícil e complexo para
sobreviver, pode vencer a batalha da vida, e fixar-se como novo tipo biológico, fazendo desse moda
progredir; a evolução. Tudo se explica, mas por obra de um conceito metafísico, que já agora se torna
indispensável até à ciência; pois enquanto esta não descobrir o lado imponderável do fenômeno, só poderá
atingir uma visão parcial, insuficiente para compreender o processo evolutivo, que permanecerá um mistério
cheio de incógnitas. Conceito metafísico, o no entanto, tão íntimo aos seres, inclusive a nós, humanos, e
que em todos grita e sabe realmente fazer-se compreender e obedecer muito bem, por meio de um instinto
irrefreável de melhoria e ascensão, em que se exprime a grande chamada de Deus a todas as criaturas.
* * *
Não faltam, todavia, as objeções a essa concepção telefinalística. Mas o fato é que, mesmo parecendo que
elas a possam abalar nos pormenores, elas a confirmam nas linhas gerais. Observa-se que, na evolução da
vida, a natureza procede por tentativas, e não com a segurança de um plano pré-organizado. A técnica da
tentativa contrasta completamente com o conceito de telefinalismo e o desmente. Se fosse verdadeiro aquele
conceito, a evolução deveria caminhar retilínea e segura. Ao invés, ela avança incerta, como quem não
conhece absolutamente o caminho a seguir; sua tendência a progredir é falaz, como de quem não sabe aonde
quer chegar Ela tende a subir, mas erra, corrige-se, pára, toma outra estrada, retrocede, depois recomeça
e continua a subir. Muitas formas, inúteis como resultado final, permanecem abandonadas, mortas, nas
margens do grande caminho. Por que esses erros, essas tentativas sem êxito? Naufraga com isto o poder do
telefinalismo? E, vindo ele de Deus, como pode falir em tantos pontos? Vemos que sua sabedoria não está
absolutamente presente na evolução, que não conhece nenhum telefinalismo.
Ao invés de uma consciência organizadora,
dá-nos tudo isto a sensação de um cego à procura de luz, apalpando as paredes de sua prisão para achar a
porta de saída para formas de vida menos duras e mais livres. Por que esse esforço de evoluir, com risco
próprio, expondo-nos a todos os perigos? E o poder diretivo dirige o quê, se fica impassível a olhar?
Parece ser fraco, incerto, quase ausente, ou, no máximo, presente apenas como um vago e longínquo
chamamento que o ser sente como uma ânsia confusa, que só pode realizar-se através de seu esforço mais
árduo.
E no entanto, podemos responder, quantas
coisas conseguiu a evolução construir com essa sua enganadora técnica da tentativa Em última análise, com
suas maravilhosas construções, a vida demonstrou que sabe responder a esse íntimo chamamento
telefinalístico. O esforço árduo nos levou até aqui, onde nos achamos hoje no caminho da evolução, as
dificuldades foram superadas, a vida triunfou sobre todos os erros e obstáculos, seus objetivos foram
atingidos Pelo nosso comodismo, somos levados a conceber a presença de Deus fazendo tudo com seu infinito
poder (aliás, isto nada lhe custa), poupando‑nos um cansaço que nos custa muito. Mas, ao contrário, a
presença de Deus em nós é uma conquista que temos de fazer com esforço próprio, merecendo-a pelo fato de
saber subir até Ele. Então, esse imperativo telefinalístico não é um elevador, dentro do qual nos sentamos
para sermos levados para o alto, mas é uma escada que precisamos subir com as próprias pernas. Não se trata
de fazer-nos arrastar preguiçosamente pela vontade de Deus, mas de reconstruir por meio de nosso trabalho,
de acordo com a vontade de Deus, uma perfeição perdida, que permaneceu como recordação e nostalgia de
reconquista, impressa na profundidade do ser.
Há tanta miséria de fraqueza e ignorância
nessa cegueira da tentativa,e no entanto aí vemos também a mais profunda sabedoria, que sabe
erguer-se e ressurgir de todas as quedas, transformando cada erro e falência num aprendizado para aprender
a subir. Na evolução, vemos agir as suas forças opostas, a do anti-sistema e a do sistema, que disputam o
campo. A primeira, negativa, para corromper e paralisar a subida; a segunda, positiva, para curar e fazer
progredir. A miséria da fraqueza e da ignorância pertence ao ser que deve subir, desde o fundo. A riqueza
de poder e sabedoria pertence a Deus que o chama e ajuda a subir. Explica-se assim como a técnica da
tentativa não destrói absolutamente a presença do telefinalismo na evolução.
Se tentativa significa incerteza, também
quer dizer tendência para uma finalidade. A presença dessa técnica poderá indicar-nos a imperfeição do
método, mas não a ausência de um fim; poderá ligar-se a um telefinalismo difícil de realizar-se, porque
cheio de obstáculos, mas não uma falta de meta. Se caminhamos até aqui, isto significa que existe uma
estrada na qual se caminha. A tentativa exprime, justamente, o esforço para alcançar qualquer coisa. O
acaso não tende a nenhum ponto particular, nem faz esforços para atingi-lo. Ele não tem finalidades não
luta por alguma coisa,é imparcial e indiferente. Ao contrário, a evolução manifesta-se — além
das paradas e desvios — como o efeito de uma atração lenta e sistemática, que faz movimentar-se em
determinada direção. Apesar da técnica da tentativa, o fenômeno está intimamente auto-orientado por um
impulso seu animador que tenazmente o solicita sempre na mesma direção. E eis que as objeções contra a
concepção telefinalística, ao invés de destruí-la, a reforçam, obrigando-nos a observar com exatidão cada
vez maior. Continuemos a observar esse grande fenômeno da evolução, para compreender-lhe cada vez mais o
significado profundo.
Já notamos que seu ponto de partida é um
mundo de inumeráveis irregularidades individuais, que desaparecem numa regularidade coletiva de conjunto,
que se revela por leis estatísticas ou de probalidade. Ora, essa ordem de massa, que deriva de uma desordem
de base, só pode levá-la sozinha ao nivelamento das diferenças individuais, eliminando o individualismo. A
evolução, ao contrário, tende à diferenciação, ao assimétrico, à distinção por formas definidas, e à
coordenação dos elementos componentes. Eis que o princípio de base é invertido. Ora, o cálculo das
probabilidades prova a impossibilidade prática de atingir, com aquele sistema de desordem básica, e de ordem
de massa, uma sucessão de fatos cada vez mais assimétricos e irregulares. E na biologia os tipos
conservados são exatamente aqueles constituídos pela maior complexidade e assimetria, justamente os que
são mais improváveis estatisticamente, mas que em contrapartida são os mais avançados em direção à meta.
É verdade que, nas sociedades de unidades
biológicas, as leis estatísticas tornam a regular os maiores acontecimentos da coletividade. Mas isto é um
expoente, efeito de outros impulsos determinantes, a serviço da evolução, e não uma causa suficiente que
possa explicar-nos e ter determinado desde o início sua constante direção progressiva, tão tenazmente
orientada que, apesar de todas as falências, chega ao homem e ao mundo do espírito. Do ponto de partida ao
de chegada, da monera ao homem, existe um crescimento sistemático de complexidade e uma contínua conquista
de qualidades superiores. Se isto acontece por tentativas, não se pode negar que estas se movimentaram
sempre em uma direção determinada, para um objetivo certo, sem o que não se explicam os resultados finais,
obtidos com a formação do homem pensante. Se aceitarmos como procedente o principio do acaso, ou seja,
aquele da ação dos fatores da adaptação e seleção, jamais poderemos explicar-nos como esses fatores se
orientaram, em média, para a construção de uma forma que é a mais improvável estatisticamente.
O que não se pode negar, é que deve ter
havido uma tendência prévia a evoluir em dado sentido, em obediência a forte chamamento. Evidentemente era
necessária a ação de um poder bem grande, embora escondido e latente, para conduzir a nossa existência, das
estradas do mundo inorgânico da matéria às tão diferentes do mundo orgânico da vida. O primeiro não possuía
os elementos que o tornassem capaz de fazer, sozinho, um salto tão grande. Havia uma revolução grande demais
para realizar; uma ponte muito longa, para atravessar o abismo e uma encosta muito íngreme para subir, para
que o milagre pudesse ocorrer apenas com as leis e os recursos do mundo inorgânico.
Mas outros fatos existem ainda. Em A Grande Síntesejá
falamos (cap. XLVIII, Série evolutiva das espécies dinâmicas), e também no volume A Nova Civilização do Terceiro Milênio
(Cap. XXV, "O dualismo universal fenomênico"), do fenômeno da entropia, pelo qual se verifica, no universo dinâmico, a tendência à quietude final do nivelamento. A entropia manifesta-se como um fenômeno
de cansaço no dinamismo universal, que culmina na uniformidade, pela completa exaustão atingida por todas as
diferenças. Este deveria ser o fim natural do universo inorgânico, segundo suas leis, se ele fosse somente
isso. Com a entropia, ele tende a nivelar as desigualdades, a cancelar os valores; tende a caminhar para uma
distribuição cada vez mais simétrica da energia, ou seja, para a diminuição e a supressão das dissimetrias.
E no entanto, eis que aparece, neste
ponto da evolução, um mundo novo, o orgânico da vida vegetal e animal, a caminho para outras direções,
regido por outras leis e por um dinamismo de outro tipo. Este é dado por um princípio diferente do da
entropia, pelo qual, no fenômeno vida, verificamos não uma diminuição, mas um incremento das dissimetrias;
ao invés de uma tendência a nivelar as desigualdades e a cancelar valores, uma tendência a acentuar as
desigualdades, a criar valores, diferenças, complicações. E eis que a evolução se coloca numa estrada
diversa que leva não ao nivelamento dinâmico, mas ao surgimento de individuações autônomas que se tornam
senhoras do movimento e o utilizam livremente para as próprias finalidades
Assistimos, assim, a um fato rico de
profunda significação. Acima do universo físico, tendente à sua liquidação, aparece, quase numa compensação,
e tendente ao seu desenvolvimento, em direção e forma diversa, o universo da vida. Os dois fenômenos parecem
ligados por complementaridade, além de sê-lo por continuação. Se a vida, como dizíamos acima, pode parecer
um acontecimento quantitativamente secundário, desprezível, pela pequena quantidade de matéria e energia
que usa, entretanto a vida se nos apresenta como a herdeira da degradação do mundo físico e dinâmico, que
ela vence por uma superioridade qualitativa. Paralelamente ao seu desaparecimento nos planos inferiores,
parece que o universo quer reconstruir-se em outra forma, mais acima. Então, cada plano de existência seria
antes utilizado para dele se derivar, por evolução, o plano superior; e depois como suporte deste, para
fazê-lo desenvolver-se; seria depois abandonado e eliminado, logo que o ser, mais avançado, se tenha tomado
independente. E assim que todo o anti-sistema acaba transformando-se em sistema.
É assim que o dinamismo, partindo de sua imensa massa de
energias cósmicas, se torna mais exíguo, embora de qualidade superior; pois que ele — nesse ponto da
evolução — não regula mais os astros, mas sim a vida, que é fenômeno muito mais evoluído pela complexidade
de movimentos, por um dinamismo agora dirigido pela inteligência, coordenado aos objetivos desta e por ela
dominado, e que, assim se libertou do determinismo que lhe era próprio nos planos inferiores. Conquista de
autonomia de movimento, que se liberta cada vez mais da escravidão daquele determinismo, tornando-se cada
vez mais livre e conscientemente apto ao trabalho — agora bem diferente — de construir a vida.
A matéria como a energia, os átomos como
os astros, representam movimentos poderosos e velozes. Mas átomos e astros não os dirigem,e sim
os sofrem. Manifesta-se a evolução como uma conquista de individual independência de movimento, como uma
libertação do determinismo das leis dinâmicas e daquilo que aparece como estaticidade da matéria.
Na passagem da matéria à energia,
assistimos a uma primeira libertação do movimento fechado nas trajetórias circulares do átomo, que assim se
expandem por transmissão ondulatória. Neste ponto de evolução, o mundo inorgânico da matéria, chegado à
fase energia, impelido pelo íntimo impulso ascensional, quebrou e abriu os sistemas atômicos fechados em si
mesmos, e deles lançou o dinamismo nos espaços, em forma livre, de onda. Libertação apenas de trajetória,
para projetar-se para todos os lados, mas ainda nenhuma superação do determinismo das leis da matéria,
porque a energia não conquistou nenhum domínio sobre o próprio movimento nem possui liberdade para dirigi-
lo. Como a matéria, a energia deve obedecer cegamente à sua lei, mesmo que isto se passe de forma diversa,
já que o movimento não está mais fechado em si mesmo.
E nessa altura da subida que intervém o
impulso telefinalístico. Abandonado a si mesmo, já o dissemos, seguindo o seu caminho, o mundo dinâmico
chegaria a uma ordem final sua, em que, atingido o completo nivelamento das diferenças energéticas, se
alcança o zero absoluto dinâmico, que é a anulação do movimento numa estase final, em que, no equilíbrio
atingido pela entropia, cessam todas as manifestações energéticas de nosso universo. Mas a evolução não se
deixa arrastar por essa estrada, que seria a conseqüência lógica das causas presentes no fenômeno. Ao
contrário, introduz nele outras novas, inéditas, desviando-o para seus fins que são completamente
diferentes. Assim a vida se inicia e a subida toma outra direção. Aquele movimento que tende a anular-se de
um lado, reaparece sob forma diversa do outro.
Na irritabilidade da célula, primeira
forma de vida, aparece um início de conquista do movimento de forma autônoma: movimentos mínimos e lentos,
(que são eles diante dos de um meteorito), mas dependentes da vontade do sujeito. Os movimentos precedentes
continuam a girar cegos no íntimo dos átomos componentes, mas são tomados numa escala maior, em movimentos
de que o ser não é efeito, como na matéria, mas é causa, como na vida. Começa, então, com a evolução, uma
espécie de luta na libertação contra as leis físicas. As árvores se erguem, vencendo as leis da gravidade;
os animais conquistam por terra, por água, pelo ar, seus meios independentes de locomoção, adaptando à sua
vontade, as leis físicas para utilidade própria. Assim, como antes se pensava na descoberta das Américas,
agora se pensa nas viagens interplanetárias. Assim se manifesta, em realizações cada vez mais poderosas,
aquele impulso de libertação que leva o ser a apoderar-se do movimento para a conquista do espaço. Este é
assim cada vez mais dominado, até que, chegando a evolução à fase pensamento e espírito, essa dimensão
espacial será superada definitivamente com a do tempo, atingindo, para além delas, outras superiores.
Então, o espírito, livre da matéria, poderá gozar, sem esforço, de um movimento próprio gratuito e
ilimitado, como é o dos corpos celestes. Com a diferença de que o espírito não é um escravo cego do
movimento, como aqueles corpos, mas senhor consciente.
Assim, continuamente regenerado por novos
impulsos evolutivos, nada se submete ao natural cansar‑se e envelhecer do fenômeno, e tudo sobrevive,
mas de forma qualitativamente destilada, em que se manifesta a evolução. O velho é superado, só para dar
lugar a um novo melhor. Com isto, é vencida não só a inferioridade do passado, mas se fortifica cada vez
mais sua fraqueza, garantindo a sobrevivência do ser ao defendê-lo, e tornando-o mais poderoso, em vista
da caducidade, tanto maior quanto mais se retrocede na escala da evolução. Poder-se-á assim chegar a um
estado em que, — por ter o caminho evolutivo de desmaterialização levado o ser até ao plano espiritual, a
vida, para existir não terá mais necessidade do suporte físico. Ela perderá, então faltas e imperfeições
devidas ao seu estado involuído; libertar-se-á dos males inerentes à matéria — inclusive a morte — e o ser
poderá continuar a existir, sem mais necessidade do sustento dos corpos planetários em que se apoia,
tornando-se assim independente das sortes do mundo físico, mesmo se essa forma da substância não tiver
sido ainda eliminada de todo pela evolução.
Eis que, então, a entropia, que parece nutrir-se com um parasita do esgotamento do universo, só destrói
deste, em realidade, um modo de existir, e não a substância, que continua indestrutível para evoluir em
outras formas. Em outros termos, com a entropia tende a extinguir-se o movimento em sua forma inferior,
passiva e determinística, em que ele é fatalmente aceito e inconscientemente seguido, para transformar-se
num movimento de forma superior, ativa e livre, em que ele é querido e guiado pelo ser. É bem evidente a imensa distância que corre entre os
dois fenômenos. O primeiro tipo de movimento pode ser representado por um meteorito ou planeta ou astro
lançado no espaço, cegamente submetido às leis determinísticas do mundo físico e dinâmico; enquanto o
segundo tipo de movimento pode ser o de um disco voador, dirigido pela vontade de um ser inteligente.
Quanto dinamismo existe também no primeiro caso, muito mais poderoso quantitativamente, mas quanto é ele
inferior em qualidade! Pode compreender-se, assim, por que os modernos progressos científicos e técnicos,
têm um significado biológico. Com o domínio do movimento, levam a vida à superação das dimensões de espaço e
tempo, próprias do mundo físico, liberando a vida dessas dimensões, quando o levam a transpor os limites
daquele estágio evolutivo, permitindo que a vida possa entrar numa fase mais adiantada, a do espírito.