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FATOS: A LINGUAGEM DA VIDA

Glean Peach

Nossa vida, num de seus aspectos mais prático e material, caracteriza-se por um encadeamento sucessivo de FATOS, sejam eles simples, corriqueiros, automáticos, devastadores, trágicos, coletivos, individuais, isolados, milagrosos, esdrúxulos, transformadores, etc. Podemos nega-los, interpretá-los da forma que bem entendermos, mas não há como suprimi-los! Eles são a mais densa expressão da vida em nosso mundo.

Uma tempestade, um raio, uma doença, um auxílio, um encontro, um prejuízo, um amigo, um acidente, um pedido, uma agressão, uma paixão, um assalto, um abraço, um socorro, um descaso, uma despedida, uma viagem, uma visita, etc... Com quantas destas situações já não nos deparamos ou ainda poderemos vir a nos deparar! A maioria das pessoas, na maioria das vezes e com toda a razão que o seu nível de conhecimento permite, simplesmente os enfrenta como pode, tentando evitar os que considera prejudiciais e buscando os que julga benéficos, sem buscar uma razão lógica para isto, considerando-os frutos do "acaso". Não é muito, mas basta isto, pois, mesmo assim, já se cumpre o mecanismo básico de reaprendizagem seguido pela evolução nos níveis mais elementares de consciência.

Porém, basta colocarmos em dúvida a explicação do "acaso", e começam a surgir consequências profundas com significados tremendos para as nossas vidas. A primeira e fundamental conclusão é que, se não existe o acaso, então os fatos obedecem a uma "Lei", portanto, tudo que acontece, assim o faz de acordo com uma "Ordem", e, se soubermos qual é esta Lei, possuiremos a chave para a explicação e o controle dos fatos. Além disso, se existe uma Lei, então existe um pensamento orgânico diretor, sem o qual a Lei não teria razão de existir, e, assim, não podemos concluir por outra coisa que não seja a presença de Deus. É interessante notar este antagonismo entre "acaso" e "Lei", "caos" e "Ordem", "nada" e "Deus". Se aceitamos o acaso, devemos suportar também o caos e o nada, caindo em abandono e desespero. Se, ao contrário, pudermos perceber a "Ordem", estaremos na direção de compreendermos a "Lei" e sentirmos "Deus"!

É surpreendente a simplicidade dos encadeamentos lógicos que nos conduzem a Deus. E os fatos nos gritam a sua existência! Pode-se objetar que talvez não seja o caso de se colocar o dilema de "acaso" x "Lei" ou "caos" x "Ordem", afirmando-se que na verdade a vida pode ser simplesmente um meio termo deste dois polos, dispensando a necessidade de existência de um ou de outro, porém, novamente os fatos nos esmagam, escancarando-nos o processo evolutivo, que sob este ponto de vista, simplesmente teria que ser varrido para debaixo do tapete do nosso raciocínio.

O acaso, que muitas vezes queremos ver nos fatos, não se encontra nos mesmos, mas sim em nossa limitada consciência, correspondente ao nosso grau de evolução, que restringe nossa capacidade de perceber a justiça e a harmonia do encadeamento dos acontecimentos que nos cercam. Em nosso atual estágio no caminho de retorno à perfeiçao perdida, os fatos, quase que como uma regra geral, são percebidos e interpretados como chicotadas absurdas e injustas, desfechadas pelo malvado senhor do azar, ou então dádivas desconexas da bondosa senhora da sorte. Mérito... nem pensar! Por este ângulo, o ser luta como pode para escapar de um e aproveitar-se de outro, sem ver nenhuma lógica, equilíbrio, conexão, explicação, finalidade ou justiça nos acontecimentos que compõem a sua vida. Nestas condições, a revolta é a tônica da interpretação dos fatos, arrastando o ser para um sofrimento no qual a existência e a presença da Lei de Deus ficam embaçadas, tornando ainda mais dolorido o sofrer. Mas, não importa, a evolução também se processa desta forma.

Em um nível mais avançado, um pouco mais maduro pelo viver revivendo e sofrendo, a consciência já não possui o mesmo ímpeto da revolta, nem a mesma cegueira da ignorância. Amansada pela dor, a fera humana pode entrever uma certa coerência nos fatos, ou até mesmo considerar a hipótese de que estes podem obedecer algum tipo de lei. Consegue perceber que, de alguma forma, o resultado dos acontecimentos, sempre traz uma transformação, e que esta possui um sentido preferêncial para seguir. Pode iniciar uma análise preliminar, ainda bastante frágil, da correlação entre o seu modo de ser, de pensar e de agir com os fatos que sucedem em sua vida, testando algumas interpretações lógicas e pequenos esboços de uma Lei maior por tras de tudo. Desta forma, a incessante torrente de reações da Lei expressada duramente pelos fatos, destila-se, durante um acumular progressivo de experimentações de causas e efeitos, em princípios diretores cada vez mais abrangentes e permanentes, que passam a ser utilizados como novas bússolas para a orientação da própria vida.

Aos poucos, porém insistentemente, a vida ensina, sendo que os testes e as respectivas aprovações ou reprovações são expressos com fatos. Este desenvolvimento de idéias, naturalmente, se faz no sentido de uma espiritualização cada vez maior. Da interpretação e compreensão das consequências dos atos que praticamos, evidenciada pelos fatos, gradualmente chega-se ao entendimento da influência do conteúdo espiritual nos acontecimentos, tornando-se cada vez mais sólida a compreensão da influência decisiva do fator ético em tudo que está relacionado com nossas vidas.

Pode-se então perceber a força incomensurável contida no merecimento. Chega-se, assim, a uma conscientização cada vez mais profunda da razão da vida e do funcionamento de sua estrutura espiritual que, sendo o elemento que gera e plasma a energia e a matéria, não poderia deixar de ser o fator decisivo para a expressão final de suas manifestações: os fatos.

A defesa pode passar da utilização das próprias e limitadas forças para a proteção suprema da "Lei", quando então surgem as primeiras percepções do funcionamento da chamada Divina Providência. O destino, ao invés de ser visto como um carrasco, apresenta-se então como um professor amigo! Os fatos, antes interpretados como algo negativo, são então encarados como justos, redirecionadores e merecidos. A constante espiritualização, além de abrir os horizontes para uma mais profunda e iluminadora interpretação dos fatos, permite um controle cada vez mais abrangente e efetivo dos acontecimentos que compõem o destino, até chegar aos mais altos estágios da evolução, quando então o espírito tem o controle completo de seu destino, por haver compreendido a "Lei"e aderido completamente à sua vontade, conforme o exemplo fundamental de Cristo.

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