O SEMINÁRIO EM CURITIBAVALORES HUMANOS E SUA PRÁTICA NA VIDA COTIDIANADalai Lama, Tenzin GyatsoManhã do dia 5 de abril de 1999:INVESTIGAR COMO SER FELIZDOIS NÍVEIS DE SOFRIMENTO — Há dois níveis de sofrimento e prazer. Um é ligado aos sentidos, e o outro ligado ao plano mental. O nível ligado aos sentidos também está presente nos animais. Ele representa o medo e a busca do prazer imediato, pois é uma visão de curto prazo: vemos algo agradável, ficamos bem. Temos uma experiência desagradável, ficamos mal. Nesse nível, há uma resposta imediata, mas sem pensar, sem análise. Já no nível mental funciona um processo de análise, de raciocínio. Então, através do pensamento, percebemos que algo que parece bom a curto prazo, pode ser ruim a longo prazo e vice-versa. SUPERIORIDADE DO NÍVEL MENTAL — As várias facilidades materiais que nos são oferecidas pelo mundo atual são muito benéficas. Mas esses confortos, basicamente, não nos trazem a felicidade. Quando há uma circunstância agradável ligada a objetos materiais, isso traz uma sensação de prazer, mas simultaneamente a mente pode não estar tranqüila. E esse prazer não terá o poder de acalmar a mente. Por outro lado, se, por exemplo, uma pessoa está tranqüila no nível mental, pode sobrepujar as ocorrências do nível material. Porque a experiência no nível mental é mais forte do que a do nível material. E o contrário não é verdadeiro. Uma pessoa vê um sofrimento físico como algo com sentido, algo que significa um resgate, uma experiência, uma aprendizado. Outra pessoa vê apenas sofrimento na mesma situação. Isso gera duas experiências totalmente diferentes. Assim, a questão central é: você quer sofrimento ou prazer? Quer felicidade? Então, terá que analisar a realidade, e verá que o desenvolvimento material é importante, mas que o desenvolvimento espiritual é o fundamental para o bem estar. O desenvolvimento, o conforto material é útil, mas é uma satisfação menor face ao desenvolvimento da espiritualidade. ESPIRITUALIDADE — Quando digo espiritualidade não me refiro necessariamente a uma religião. Há dois níveis de espiritualidade: um com fé religiosa, outro sem fé religiosa. Vou centrar este seminário na espiritualidade não religiosa. Nós, seres humanos, temos o dom único do raciocínio. É dentro desse contexto que é importante treinar a mente. E, para treina-la, é importante saber, primeiro, como ela opera. Quando falo em mente, não me refiro à mente física, mas ao conjunto de idéias, emoções etc. Para que se treine esse conjunto, é preciso saber que tipo de pensamento é benéfico e quais são os pensamentos negativos. A divisão entre negativo e positivo tem que ter se basear em algum fator. Portanto, vamos definir pensamentos benéficos, alegres, como positivos, e pensamentos dolorosos, infelizes, como negativos. E o que queremos com o treinamento da mente é incrementar os pensamentos positivos. No mundo natural, distinguimos o que é positivo do que é negativo, e fugimos do negativo, buscando o positivo. O mesmo acontece no nível mental, onde temos que procurar o positivo, e fugir do negativo. Isso será muito útil para mente, pois temos uma mente brilhante, que pode ser treinada, que pode aprender. Temos a incrível capacidade de treinar a mente para ser usada adequadamente, e adotar atitudes corretas para se ter uma vida feliz. Considerando a minha própria experiência, posso dizer que se pode modelar a mente, se pode mudar de atitude. E, se tivermos uma atitude mental correta, mesmo em meio a situações ruins e negativas em nosso ambiente poderemos ser felizes. Mas se a mente estiver perturbada, negativa, então pode se estar no melhor ambiente, em meio a bons amigos, com dinheiro, com tudo para ser feliz e se continuar a ser infeliz. Sabem, quando eu era jovem tinha um péssimo gênio, que herdei do meu pai. Então, tive que aprender, tive que analisar qual era a utilidade desse mau gênio e avaliar, de um lado oposto, qual era a utilidade e a função da compaixão. Quando se analisam os dois lados, se vê que as nossas emoções negativas são prejudiciais e geram infelicidade, e que as emoções positivas como compaixão nos trazem felicidade e geral tranqüilidade. Então, após essa análise, mudei minha atitude, meu estado mental. É claro que algumas vezes o mau humor volta, mas mudei muito, todos vocês podem fazer isso, podem melhorar muito, porque todos temos exatamente o mesmo potencial. A FUNÇÃO DO AMOR E DA COMPAIXÃO — Gostaria de explicar qual é a importância do amor e da compaixão. É importante saber o que é compaixão, algumas vezes pensamos que é pena, mas isso não é compaixão. Compaixão é o senso de preocupação, mas mais do que isso, é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade. Essa compreensão é que nos traz a compaixão. Também um outro aspecto que costuma ser confundido com compaixão é a sensação de proximidade, de ligação que temos com amigos e parentes. Mas isso não é compaixão verdadeira, porque esse sentimento está ligado ao apego. Muitas vezes, nosso senso de preocupação com o outro depende da atitude que ele adota. Se a pessoa age de forma negativa, nosso senso de compaixão desaparece. Mas um senso de compaixão verdadeiro é o que nos leva a ver o outro como tendo exatamente o mesmo direito que eu à felicidade. A compaixão que se assenta no apego não se sustenta. A que se baseia na compreensão da igualdade de todos os seres é desprovida de apego, e é verdadeira. Qual é o benefício da compaixão? Ela nos traz força interior. Geralmente, temos um senso de "eu, eu, eu". E nossa mente centra tudo em nós mesmos. Então, todas as experiências negativas, mesmo pequenas, se tornam muito dolorosas, enormes. Mas quando pensamos nos outros, nossa mente se amplia, e os nossos pequenos problemas se tornam realmente pequenos, e as coisas negativas não prejudicam nossa mente. Alguns, quando experimentam tragédias que são involuntárias, se sentem enterrados em uma montanha de sofrimento. Mas, por outro lado, quando se pensa voluntariamente nos problemas dos outros, se procura alivia-los de seus sofrimentos, essa atitude voluntária traz uma abertura para o ser. Dessa maneira, mesmo em meio a problemas pessoais, isso traz uma base de clareza, e a pessoa será capaz de se sustentar. COMPAIXÃO E BEM-ESTAR — Quando se pensa em compaixão por outras pessoas, alguns perguntam se isso não seria sinônimo de auto-sacrifício. Não, não é. Porque não se deve ser negligente em relação a si mesmo. E, baseado na minha própria experiência, acredito que se deve ser compassivo em benefício próprio. Um exemplo: uma vida feliz precisa de amigos, apoio. Há amigos do dinheiro, amigos do poder, mas para esses indivíduos, se o dinheiro acaba ou o poder se vai, a amizade também acaba. Mas os amigos verdadeiros ficam. Então, como criar amigos verdadeiros? Se você tiver um sentimento de compaixão, terá mais amigos verdadeiros. Mostre sentimentos gentis e sorria, e terá bons amigos. Porque essa atmosfera pacífica será a sua base, que irá criar as condições para a amizade. A prática de compaixão também é imensamente benéfica para a saúde. De acordo com a medicina, os que tem mais compaixão, são mais interessados pelos outros, geralmente são mais saudáveis quando comparados com pessoas egoístas. Os egoístas sofrem mais freqüentemente de enfartes e outras doenças. A mente mais egoísta, mais voltada para si mesma é muito ruim para a saúde. A mente mais compassiva, mais voltada para o próximo traz mais tranqüilidade, resultando por isso em saúde muito melhor. Vejamos a sociedade atual, em que a criminalidade está crescendo, ligada à problemas econômicos e sociais, como a diferença entre ricos e pobres (inclusive entre países ricos e pobres). No nosso sistema educacional, muita atenção é dada ao desenvolvimento do intelecto, e menor atenção é dada ao coração, aos sentimentos. Pois isso é considerado tarefa da religião. E assim as crianças não recebem nenhuma orientação sobre como serem mais compassivas, e desenvolver um coração mais generoso. Mas a compaixão é tão importante para a sociedade que é incentivada por todas as religiões. AS RELIGIÕES E A COMPAIXÃO — Por causa das diferenças filosóficas entre as grandes religiões existem diferentes técnicas para desenvolver a compaixão e algumas diferenças da definição do que seja. Mas basicamente todas elas falam da necessidade de se cultivar a compaixão. Portanto, sinto que mesmo neste século, as maiores tradições religiosas têm um papel importante no desenvolvimento dessas qualidades. Vejo aqui pessoas de diferentes tradições religiosas, o que me faz sentir feliz, porque a tolerância religiosa é muito importante. E acredito que, independente de diferentes tradições religiosas, todos temos o potencial de ajudar a humanidade. Vim do Oriente e sou um monge budista, assim, naturalmente, quando falo desses valores e do treinamento da mente, o faço da minha perspectiva de monge budista. Mas é claro que não quero influenciá-los. Vocês devem manter suas tradições religiosas, mudar de religião não é bom, pode gerar mais confusão do que benefício. Portanto, mantenham e sigam sua fé. Cada uma das grandes religiões tem coisas únicas, mas também há muita coisa em comum entre elas. Assim, é sábio usar técnicas úteis de outras religiões, mesmo sem mudar de religião. Até para aplicá-las na própria religião. Com isso, as tradições religiosas diferentes desenvolvem respeito mútuo e compreensão. Isso é fundamental. A compaixão e a bondade são indispensáveis. Sem esses valores não há felicidade. Mas muitos crêem que a prática de valores como a compaixão, o perdão e o amor são relevantes apenas para os que praticam uma religião. Isso não é verdadeiro. Podemos ver que no passado e presente existiram pessoas que mesmo sem nenhuma fé religiosa tinham esse sentimento de cometimento, de responsabilidade, de compaixão pelo próximo. Essas pessoas se tornaram mais felizes, mais úteis, mais benéficas para a sociedade. A UNIVERSALIDADE DA COMPAIXÃO — Podemos questionar se o valor da compaixão, de um coração compassivo é universal. Eu acredito que todos os seres humanos têm o mesmo potencial. Basicamente, o ser humano é voltado para a vida e comunidade. Assim, a semente da compaixão está lá, a semente do trabalho em conjunto está lá. É da natureza humana trabalhar em conjunto. O individualista não pode sobreviver. As abelhas também são animais sociais. Não há polícia, não há um estado, no entanto trabalham em conjunto. Uma abelha não pode ser individualista. Mas, diferentemente dos outros animais sociais, o ser humano tem a capacidade de se votar ao altruísmo ilimitado. Temos a semente da compaixão dentro de nós. Todos nós. Quando vemos os benefícios de uma mente compassiva, e o mal de uma mente não compassiva, é fácil ver a diferença. Então, voluntariamente iremos analisar cada vez mais, mudar cada vez mais a nossa atitude. E assim, dia após dia, mudamos. O treinamento da mente não pode ser imposto a ninguém. É preciso que nós mesmos vejamos os benefícios. Pense sobre o que o ódio traz para sua vida, para sua saúde, para as pessoas que estão à sua volta. Pense sobre a compaixão e o que traz. E assim, teremos o ímpeto de cultivar certos valores, e rejeitar outros. Dessa maneira crescemos a cada dia, mas se não fazemos nada para reduzir nosso ódio e cultivar a compaixão tudo ficará como está, a semente nunca irá germinar. Normalmente nossos problemas nascem de percebermos apenas o nível das aparências, e não a realidade. Ficamos no nível das aparências, e com base nelas fazemos o nosso julgamento. Também nos concentramos na felicidade de curto prazo, e não na de longo prazo. -------------------------------------------------------------------------------- Tarde do dia 5 de abril de 1999: A RAIVA E SEUS ANTÍDOTOS Durante a manhã falamos sobre compaixão e como desenvolve-la. E, naturalmente, os seres humanos trazem em si a semente da compaixão. Quando vemos nossos irmãos e irmãs sofrendo, sentimos por eles, nos sentimos mal. Alguns dizem que a natureza básica do ser humano é agressiva, outros dizem que é gentil. Ambos têm certo grau de razão, mas entendo que a natureza básica do ser humano é gentil, porque todo mundo quer alegria, não sofrimento. A IMPORTÂNCIA DO AMOR E DA TRANQÜILIDADE — Quando no ventre da mãe, antes de nascer, o estado tranqüilo da mãe é vital para a saúde da criança. Depois de algumas semanas de nascimento, o toque físico na criança é vital para o desenvolvimento adequado da mente. Portanto, durante esse período — e aqui não se está falando de religião e fé — a gentileza e a bondade são vitais para a criança. Depois, quando se trata de educar uma criança, aquelas que têm uma atmosfera gentil, de apoio, aprendem e se desenvolvem mais; as que não recebem afeto humano se desenvolvem menos. Isso mostra claramente a necessidade do amor, e de uma atmosfera afetiva. A compaixão, o cuidado gentil, são qualidades predominantes em seres humanos. Também vemos seres humanos se expressando de modo violento, mas isso se deve ao mau uso da inteligência e ao desejo — que terminam por gerar estados mentais nada agradáveis. E esses não são aspectos mentais de nossa natureza básica. Usualmente vemos no jornal, rádio, televisão atrocidades, atos negativos, e a partir disso concluímos que a natureza humana é negativa. E nos perguntamos por que essas coisas negativas se tornam usuais. Essa nossa reação mostra que atividades como a compaixão e o cuidado são naturais. Por isso os tomamos por habituais. O crime, o assassinato, as ações violentas são um pouco fora da natureza humana, e por isso são notícia. Na sociedade humana, as atividades de ajuda e compaixão são predominantes — e por o serem, não são notícia. Se analisamos de perto as atividades humanas, veremos que a parte dominante das atividades humanas são as compassivas e generosas, não as agressivas. Nesta manhã vimos que a raiva e ódio são coisas que fazem mal a nossa saúde. O nosso corpo sente-se bem com emoções positivas, e sofre com as negativas. COMO CHEGAR À NÃO VIOLÊNCIA — Para enfrentar a raiva, o ódio, o ciúme e as demais emoções negativas, temos que analisar o que são e de que forma agir em relação a eles. Hoje em dia é muito comum se falar sobre paz e não violência como uma coisa positiva. Mas qual é a linha que separa a violência da não violência? A verdadeira linha que as separa é a motivação e a resolução. Para que se possa promover a não violência, temos que cultivar a compaixão, o senso de cuidado com os outros. Temos que controlar nossas emoções negativas. E se nós tentarmos suprimir essas emoções à força, não conseguiremos. O controle está ligado a conhecer, analisar essas emoções e, com base nessa análise, escolher um caminho diferente. Se você tem o objetivo de ser uma pessoa com potencial de ajudar os outros, será necessário ter uma atitude perante um dos fatores que mais bloqueiam nossa ação positiva nesse sentido: a raiva e o ódio. Terá que ter uma atitude capaz de lidar com esses sentimentos. E o antídoto mais eficaz contra eles é a paciência. OS MALEFÍCIOS DA RAIVA — Que benefício a raiva pode trazer? Às vezes pensamos que ela vem em nosso socorro: em uma situação trágica, a raiva parece nos dar mais coragem e energia. Sob essa perspectiva, seria algo que nos ajudaria a superar uma situação difícil. Mas a energia que vem da raiva é cega, não tem nenhuma sabedoria, e traz o potencial de fazer com que você se auto-destrua. A raiva bloqueia nossa capacidade de discernimento, e cega nossa inteligência. Por exemplo: às vezes perdemos a cabeça e dizemos palavras absurdas, depois nos sentimos envergonhados, temos vergonha do que dissemos, de nossas palavras impensadas. No momento em que a raiva tomou conta, perdemos a capacidade de pensar e de discernir. A raiva também não faz bem a nossa saúde. Algumas vezes, quando queremos atingir um inimigo, deixamos a raiva nos guiar. Não é certo que conseguiremos atingir o inimigo, mas uma coisa é certa: prejudicaremos a nós mesmos. Se temos um inimigo que resolve nos perturbar, quando reagimos estamos deixando que a situação continue a se desenvolver. E, mesmo depois que terminou, continuamos a sentir raiva — deixando que a situação nos perturbe mesmo depois de terminada. Se, no entanto, temos paciência, a situação irá acabar por si mesma. A raiva causa dor de estômago, mal estar — em nós. E o inimigo pode até se regozijar com isso. Temos que tomar atitudes de uma maneira pensada, sem perder a paz de espírito. Aqueles que tem alguma prática de compaixão e tolerância conseguem fazê-lo muito bem. Vários monges tibetanos que estiveram em prisões chinesas, alguns por muito tempo. Os que conseguiram atravessar essa situação de forma menos traumática foram os que mais cultivavam uma atitude compassiva. Todos eles passaram por tortura física, mas os mais compassivos sofreram muito menos com a tortura. Um monge que ficou 18 anos em uma prisão, em uma ocasião em que conversávamos, me falava sobre a vida na prisão. Ele me disse que em algumas ocasiões esteve em grande perigo. E eu perguntei: "que tipo de perigo"? Ele me respondeu: "perigo de perder a compaixão pelos chineses". Isso mostra o quanto a paciência e a tolerância são importantes. Elas não são fraquezas, e sim um sinal de fortaleza interior. Se você pratica a compaixão, eventualmente você pode até desenvolver algum grau de gratidão pelo seu inimigo, porque só através da prática da tolerância e paciência se manifesta a compaixão. E para praticar a paciência e a tolerância você tem que enfrentar situações difíceis. Como praticar tolerância diante de um Buda? Para aprender tolerância e paciência temos que exerce-las. Portanto, o inimigo é o seu mestre, e o ajuda a desenvolver essas qualidades. Algumas vezes temos a noção de que a prática da paciência e tolerância significa nos curvarmos diante dos outros, mas não é isso. Estou falando de não deixarmos a raiva nos dominar, não de submissão. COMO LIDAR COM A RAIVA — Como lidar com a raiva? Há diferentes tipos e níveis de raiva. Algumas são mais razoáveis, como a raiva motivada pela compaixão — ela pode nos levar a ficar irados com uma pessoa, e há razão para isso. Há no entanto outros tipos de raiva que não têm uma base na realidade. Surgem na mente como uma projeção de um estado mental negativo. Há também diferentes graus de intensidade. Algumas raivas são mais intensas, outras menos. Dependendo do grau e do tipo, se adotam medidas diferentes. Quando a raiva é mais branda, ao percebermos que está para vir, devemos lembrar o caráter perturbador dela, e então seremos capazes de controlá-la. No caso de uma raiva muito violenta, é muito difícil pensar em medidas preventivas como no caso de uma raiva mais branda. Então o melhor é neutraliza-la pensando em outros assuntos, para ao menos não deixa-la tomar conta. E, à medida que nos tornamos mais habilidosos, podemos adotar diferentes tipos de contra-ação. Um outro tipo de prática é destinado à raiva que nos é causada por desastres naturais, tragédias. Então temos que olhar o problema de diferentes ângulos. No meu caso, em que perdi meu país, vejo que isso trouxe uma oportunidade de encontrar muita gente e repartir experiências. Qualquer evento tem dois aspectos. Algo que parece muito ruim quando se está com raiva, pode ter aspectos benéficos. Outro método é tentar olhar os eventos à distância. Vistos dessa nova perspectiva, os problemas ficam menores. Se olhamos muito de perto, parecem incontroláveis. Devo pensar "esse não é somente o meu caso, mas há muitos outros". Isso coloca as coisas em perspectiva. Quando se tenta perceber as coisas de uma perspectiva mais ampla, se vê de forma diferente. Então, se abre um novo espaço para um novo sentimento, uma nova atitude. Isso revela a importância do estado mental. Para se desenvolver a compaixão inamovível e sem preconceitos, é fundamental ter uma atitude correta frente aos inimigos. Assim, os budistas adotam a seguinte estratégia para desenvolver a compaixão sem preconceitos: Recuam. Recue você também. Recue da proximidade dos sentimentos, da proximidade dos amigos e da distância dos inimigos. Adote a equanimidade. O apego aos amigos e o desagrado dos inimigos são um entrave. Quando se olha com equanimidade, vemos que todos os seres querem a felicidade, querem se livrar do sofrimento. E quando percebemos isso, podemos chegar à compaixão. -------------------------------------------------------------------------------- Manhã do dia 6 de abril de 1999: A NATUREZA E O TREINAMENTO DA MENTE Embora uma explicação detalhada sobre esse tema fosse exigir muito tempo, acredito que qualquer um decidido a conhecer a mente e a treina-la terá sucesso. A filosofia oriental tem ensinamentos sobre a natureza da mente que podem ser úteis a pessoas de todo mundo. É muito importante conhecer o funcionamento da mente, porque quando falamos em nos aperfeiçoar, estamos falando em treinar a mente. Portanto, do que falamos é de transformar a mente. E na verdade é a própria mente que transforma a si mesma. Quando vamos examinar quais as características que queremos eliminar, físicas ou verbais, quando avaliamos quais as características de comportamento que queremos implantar, usamos a própria mente. Portanto, é a mente que estuda a si mesma. A NATUREZA DA MENTE — Para esse estudo, temos que analisar alguns pontos da natureza da mente. É através dos cinco sentidos que temos contato com o mundo. É através deles que conhecemos os objetos. Vemos um objeto, ouvimos um som, sentimos um cheiro e assim por diante. Esse processo de conhecimento dos objetos é que é chamado de consciência — temos consciência de algo, de alguma coisa, através da informação dos sentidos. Em relação ao conhecimento dos objetos através da consciência, há um sujeito, um conhecedor. Portanto, precisamos saber quem é esse sujeito. Há, desde as mais antigas tradições filosóficas, diferentes conceitos sobre esse sujeito. Alguns dizem que ele é permanente, que é independente do corpo. Alguns dizem que ele está no corpo e portanto esse sujeito, esse self, é o cérebro. Outros dizem que é algo diferente, que é uma continuidade de estados mentais. Portanto, há conceitos diferentes sobre o que seja o self. A maioria das tradições religiosas chamam esse sujeito de alma. Normalmente, quando falamos de consciência, estamos nos referindo a um estado mental que é basicamente luminoso e que tem a natureza de uma experiência. E embora a natureza última da mente possa ser descrita como luminosa, nós precisamos entender essa natureza em relação à nossa própria experiência. Por exemplo: precisamos entender os vários estados de consciência que surgem em função de diferentes estímulos externos. De modo geral, nossa consciência está relacionada com objetos. A visão de um objeto faz surgir uma experiência visual. Um som dá origem a uma experiência auditiva. Nossa percepção é contaminada, portanto, por essas experiências, por essas impressões vindas dos objetos externos. Para se conhecer a natureza última da mente, precisamos eliminar essas contaminações. A mente, nesse caso, pode ser comparada à água: é preciso eliminar os sedimentos para se conhecer o que é a água pura. Da mesma forma, precisamos bloquear os pensamentos conceituais para conhecer a mente pura. Uma pessoa pode seguir essa prática de conhecer a natureza da mente quando está com o corpo e a mente sossegados. Por exemplo: de manhã, a mente e corpo estão repousados. Então é mais fácil interromper o fluxo dos pensamentos, eliminar da mente as experiências passadas, evitar pensar sobre projetos futuros e dessa forma se conseguirá, aos poucos, levar a mente ao seu estado puro e calmo. Quando encontramos esse estado, inicialmente temos uma sensação de vazio. Posteriormente, conheceremos o estado puro da mente. E a natureza última da mente é de clareza absoluta, livre de poluição e contaminação, dotada da capacidade de conhecer claramente. É como um tecido puro e branco. AS EMOÇÕES — Agora, vamos analisar as emoções. As emoções significam a manifestação da consciência acompanhada de sentimentos fortes. Emoções podem ser destrutivas ou construtivas. Se nossa mente permanecer neutra, sem sentimentos, isso não seria bom. É preciso ter sentimentos, sentimentos de responsabilidade, de compromisso, mas mantendo-se calmo e intocado. As emoções podem também ser classificadas em dois tipos: o primeiro é o das emoções que surgem como uma manifestação de sentimentos fortes e não são fruto de uma análise lógica. Nessa categoria estão o apego e a raiva. Mas há também emoções que nascem de uma investigação, de uma reflexão. Quando se analisa a natureza de uma determinada qualidade se pode chegar à convicção que se deve adotar certa atitude. Isso pode se manifestar de forma emocional, mas tem uma base racional. Vejamos o exemplo do apego. Ele aparece espontaneamente. Embora possamos ter uma explicação para o surgimento do apego, essa explicação não será uma razão sólida, profunda. Posso dizer "gosto dele porque me tratou bem". Já no caso da compaixão verdadeira, embora tenhamos todos a semente dela, pode não surgir naturalmente, mas através do cultivo e da determinação, do esforço para se chegar a ela. De maneira geral, as emoções positivas nos vêm através da meditação analítica, não espontaneamente, mas as negativas vêm de forma espontânea. Digo "alguém quer me prejudicar, é meu inimigo", e o odeio. Mas não penso que é meu inimigo hoje. E daqui a um ano? Não há uma razão sólida para sustentar as emoções negativas. CULTIVO DAS QUALIDADES POSITIVAS — A questão seguinte sobre o processo de transformação e mudança da mente é identificar os dois níveis de mente. Temos dois níveis de mente: o construtivo e o destrutivo. O primeiro deve ser incentivado, apoiado. O segundo precisa ser eliminado. E o segundo é eliminado quando se desenvolve o primeiro. Porque são de naturezas opostas, e o cultivo das qualidades positivas naturalmente ajuda a eliminar as características negativas. Assim é que o cultivo da virtude elimina o mal. Da mesma forma, quando queremos eliminar um vírus, usamos contra-forças, remédios que o eliminam. Portanto, o processo de mudança da mente nada mais é que aumentar os seus aspectos positivos e reduzir os negativos. Mais uma vez, vamos usar um exemplo. A compaixão genuína e o ódio são opostos. Se o ódio cresce, a compaixão diminui. E vice-versa. Como já dissemos, emoções como a compaixão são baseadas na razão lógica, e a raiva é baseada em razões tolas. Assim, no longo termo, é muito mais provável que a compaixão prevaleça, por se basear em razões lógicas. O fator mais importante aqui é o tempo. Mesmo a meditação esporádica não irá afetar muito a mente. O mesmo vale para recitar mantras. É preciso esforço ano após anos, então se conseguem grandes transformações. Há um dito de um monge sábio tibetano que diz "se você somente recitar o mala (rosário budista), talvez não consiga por fim às emoções aflitivas. Mas certamente você acabará por gastar suas unhas". O mesmo gesto repetitivo pode ser usado tanto para recitar as contas de um mala ou para contar dinheiro. E o mala pode ser usado até como punição, como faziam alguns professores muito rígidos no Tibete, que usavam o mala para golpear os alunos. Por isso, lembrem-se: o tempo é um fator muito importante. OS DOIS TIPOS DE MEDITAÇÃO — A meditação tem duas formas: a analítica e a unidirecional (voltada para só um ponto). A analítica se volta para a análise, que é algo que fazemos constantemente. A unidirecional, por sua vez, tem dois tipos: um em que, após uma longa meditação analítica e quando se chega a uma conclusão se deixa a mente repousar sobre essa conclusão. A outra forma é a aquela em que a pessoa que medita dedica-se a colocar a mente centrada em um objeto, sem fazer nenhuma análise. A efetividade da meditação analítica é muito maior. Porque ela traz a convicção, a determinação de fazer esforços de mudança. Portanto, é muito mais poderosa. Em qualquer tipo de meditação, é importante mencionar alguns pontos relevantes. O primeiro deles é a lembrança. Durante a meditação, devemos constantemente nos lembrar do objeto da meditação. O segundo ponto é a consciência. Você tem que se manter vigilante e ciente do que está acontecendo com a mente, se está entorpecida, se está nublada, se está excitada. E constantemente você aplica medidas de correção apropriadas. Para se adotar uma prática séria de meditação, é preciso estar consciente das deficiências e problemas que podem aparecer. Esses problemas são basicamente a excitação excessiva e o entorpecimento da mente. AS ARMADILHAS — Porém, mesmo que tenha consciência da necessidade de lidar com esses fatores, como o entorpecimento da mente, e mesmo que tenha sucesso ao lidar com eles, pode acontecer um outro problema. Você pode saber lidar com o entorpecimento, saber como controla-lo, mas pode se tornar apenas um meditador que "sabe como lidar com o entorpecimento", e seu objeto de meditação passa a ser "como lidar com o entorpecimento". Pode ocorrer de uma pessoa que está fazendo uma meditação sobre compaixão se tornar apenas um especialista em controle do entorpecimento. A meditação unidirecional tem a função de tornar nossa mente mais aguda, o que é bom, independente da atividade que exercemos. Uma meditação unidirecional pela manhã é muito proveitosa. Há dois tipos de meditação: quando vamos fazer uma meditação sobre a fé, ou compaixão, esse não é o objeto da meditação, mas sim o resultado que se pretende obter. Portanto, vamos fazer uma meditação cujo resultado é gerar a fé ou compaixão. Por outro lado, se vamos fazer uma meditação sobre impermanência, não pretendemos transformar a mente em impermanência, e sim ter uma maior familiaridade com esse objeto de meditação. O PROCESSO DE MUDANÇA É LENTO — Quando vivemos o processo de transformação da mente, sabemos que ele levará tempo, e que não é possível uma transformação súbita. Se estiver meditando, por exemplo, na impermanência e qual o seu sentido, a compreensão virá aos poucos. Assim, por exemplo, inicialmente você verá um objeto como permanente e imutável, mas considerará que talvez essa seja uma consciência errada. Posteriormente, será capaz de ficar em dúvida, e se perguntará se é impermanente ou permanente? Ao ponderar entre ambas as possibilidades, concluirá que é permanente. Depois, e com a prática, chegará a um segundo tipo de dúvida, a dúvida que pode ser chamada de "equalitária", quando a mente pensará que é tanto permanente como impermanente. Mais à frente, chegará à noção de que pode ser realmente impermanente. Depois, gradualmente, chegará à conclusão de que é impermanente. Essa certeza, entretanto, será conceitual, baseada na lógica. Só posteriormente é que irá chegar a noção pura, sem conceitos, da impermanência do objeto. -------------------------------------------------------------------------------- Tarde do dia 6 de abril de 1999: AS MUDANÇAS SÃO POSSÍVEIS SINAIS DE MUDANÇA — Todos somos iguais, quanto ao potencial, desejos etc. Portanto, todos queremos o mesmo: uma vida feliz, uma família feliz, uma sociedade feliz. A humanidade pode mudar positivamente através desse desejo, através do indivíduo que cultiva esse desejo. É uma mudança longa, mas é a única forma de mudança possível. No início deste século, muitas ideologias nasceram e no entanto já morreram. O conceito de paz, de solidariedade se tornou mais forte ao longo deste século. O espírito de não violência, de solidariedade e negociação também cresceu. Vejam o exemplo da África do Sul! Também cresceram os sinais de espiritualidade. No início do século, as pessoas apenas se abrigavam em uma crença religiosa. Agora, neste final de século, com a incorporação de hábitos e métodos da ciência, as pessoas aprenderam a observar, analisar. Ciência e religião se aproximaram. Um exemplo: a física quântica tem várias similaridades com os conceitos budistas. Também o poder de destruição do homem hoje é muito grande, e isso faz crescer o desejo de paz. Antes da Segunda Guerra, quando as nações declaravam guerra e se mobilizavam, chamando a população para se alistar, não havia questionamentos. Já no Vietnã e a partir de então não há esse comportamento. Muitos se opõem às guerras. Do ponto de vista da ecologia, no início deste século não se conhecia nada sobre ecologia. A preocupação com o meio ambiente era algo reservado a especialistas. Agora, a consciência ecológica cresceu muito. O mesmo aconteceu com os conceitos de direitos humanos e auto-determinação das nações, que atualmente gozam de aceitação universal. Todas essas mudanças são indicações positivas que nos levam a crer que o próximo século será melhor, mais pacífico. Isso também significa que teremos que pensar mais holisticamente e nos esforçarmos mais. INTERDEPENDÊNCIA DE TODOS NÓS — Hoje, graças à tecnologia e à economia moderna, o mundo está ficando menor e mais interdependente, especialmente quanto ao meio ambiente e à economia. Em termos modernos, nações e continentes são tremendamente interdependentes. É impossível pensar em termos de uma nação independente. Considerando isso, o conceito de separação entre "nós" e "eles" não mais existe. Meu interesse e os interesses dos outros são interdependentes, o interesse deles é o meu e vice-versa. Por isso temos que pensar globalmente, pensar em uma responsabilidade global. Conceitos como Oriente e Ocidente, Norte e Sul não mais se aplicam. Especialmente no campo da ecologia e do meio ambiente não podemos pensar como nações isoladas, temos que fazer esforços coletivos de preservação. Por isso, fico feliz de ver esta cidade limpa, pura e bem conservada. É muito bom isso. Quando estive no Rio de Janeiro em 1992 não havia a preocupação com a limpeza, e havia um problema muito sério de meninos de rua. Outro problema sério para o Brasil é a questão da Amazônia. Um dano na Amazônia afeta não afeta só o Brasil, mas todo o mundo. Os problemas ecológicos não são isolados. Temos que analisa-los e fazer esforços coletivos a nível global, nações ricas e pobres. Porque em todo lugar, está o mesmo ser humano, e é a mesma Terra. Outro problema sério é a discrepância existente entre o hemisfério Norte e Sul, a diferença econômica. Mesmo nos Estados Unidos, há uma grande diferença entre ricos e pobres. O número de pobres cresce, e também cresce a concentração de bilionários. Essas diferenças econômicas graves são uma fonte de problemas como a criminalidade urbana. É fundamental que encontremos solução para elas. Imagine se na Índia e na China, com cerca de dois bilhões de habitantes, houvesse um nível de vida dos países do Norte. Cada pessoa teria um carro. Isso é impossível. Seria um desastre ecológico. Portanto, chegou o momento de se pensar na humanidade e seus problemas como únicos, comuns a todos. O QUE É O TEMPO — Agora vamos agora analisar a perspectiva do tempo. O tempo de fato existe, e nós existimos no tempo. Mas se investigamos onde está tempo, não o achamos. Portanto, não é absoluto, é relativo. O passado, bom ou mau, se foi. O futuro é que importa, mas o futuro depende do presente. O agora é que faz a diferença para o futuro. Mas onde está o presente? Também não o consigo achar. Só posso ver o passado e o futuro, não posso achar o presente. Um segundo, um milésimo de segundo, onde está? Mas sem o presente, onde estão o passado e o futuro? Isso nos leva a crer que o presente deve existir. Mas não o achamos. Em toda a parte, em todos os países as respectivas populações se acreditam o centro do mundo. No Tibete, se acreditava que nosso país era o centro do mundo, porque foi onde floresceu o Dharma. Mas os chineses também acreditam o mesmo em relação ao seu país. E no México, me contaram que a cultura tradicional dos povos nativos diz que ali é o centro do mundo. De maneira similar, para os moradores desta cidade ela é o centro do mundo. Os que estão aqui na Ópera de Arame acreditam que ela é o centro do mundo. E este ser humano acredita que ele é o centro do mundo. O OBSERVADOR CONSTRÓI A REALIDADE — É lógico que as coisas sejam assim. O mundo é conhecido a partir do ponto de vista do observador. É a partir do seu eu que determina onde ficam o Norte, Leste, Oeste, Sul. Essas determinações são feitas a partir do eu. Mas não podemos achar o eu! Se dissermos que é o corpo, o eu vai dizer "não, esse é o meu corpo". Se dissermos que é o cérebro, o eu vai dizer "não, esse é o meu cérebro". Mas se também se disse quer o eu não existe, também se estará errado. Porque o eu está aí, já que vemos, percebemos, temos sensações. Temos, então, que ver o conceito budista de existência interdependente. Como essas coisa estão aí, e não conseguimos encontrá-las? Para entender isso, temos que pensar no conceito de surgir interdependente, que é um conceito que se assemelha aos desenvolvidos pela física quântica. Muitos cientistas não gostam de usar a palavra realidade, porque realidade pressupõe algo absoluto, e não há nada absoluto. É por isso também que algumas filosofias nascidas na Índia dizem que as coisas estão aí mas não podem ser encontradas, elas existem apenas através da cognição. PODEMOS SER FELIZES — O objetivo desse encontro foi podermos nos tornar pessoas melhores, com um coração mais caloroso. Meramente utilizar nosso potencial humano para encontrar prazeres sensoriais não iria nos diferenciar muito dos animais. O que pode nos diferenciar é nossa consciência, o potencial que ela contém e como podemos usar esse recurso pra adquirir um senso de paz e tranqüilidade duradouros. Primeiramente, nosso objetivo foi ver como ganhar mais tranqüilidade interior, como ter uma mente mais relaxada, descontraída, como eliminar os problemas criados pelo homem ou ao menos reduzi-los. Com relação aos problemas com que temos que conviver, como a velhice, doença e morte, cabe nos preparamos e aceitarmos para que possamos atravessar esses momentos. Por isso, é preciso ter tranqüilidade mental.Uma perspectiva holística é muito adequada para isso. De modo geral, não vemos que os problemas têm uma infinidade de causa e condições. Geralmente consideramos que têm uma única causa e nos concentramos nela.Mas uma abordagem holística é mais eficiente e está ligada à idéia de interdependência. É importante, portanto, que nosso foco de visão seja amplo. A educação e a pesquisa científica podem abrir nossa cabeça, desde que não estreitemos nosso campo de visão como alguns cientistas que deixam de ver o todo.A autoconfiança também é importante, não a autoconfiança cega e excessiva, mas uma autoconfiança baseada na compaixão. Essa pode os levar a ter força interior. Então, podemos ter um cérebro movido por uma visão holística baseado em um coração caloroso. E um cérebro investigativo baseado em um coração caloroso é a melhor forma de encontrar a paz.O seminário foi realizado em Curitiba, no teatro Ópera de Arame, nos dias 5 e 6 de abril de 1999. Tradução do tibetano para o inglês do monge LHAKDOR. Tradução do inglês para o português de MANOEL VIDAL. Notas de LIGIA GOMES CARNEIRO. |