O MANTRA DA SABEDORIA SUPREMA

Pema Wangyal Rinpochê

 
Com frequência, antes de começar uma prática espiritual ou um trabalho importante, é bom consagrar o local e a nossa intenção com o mantra da sabedoria transcendental.

Teyathá Om Gate Gate Paragate Parasamgate Bodhi Svâhâ


Todos os aspectos da sabedoria e do conhecimento podem ser explicados a partir deste mantra, da essência do prajnapâramitã ou sabedoria suprema, pois ele contém a essência de todos os ensinamentos dados por Buda. Literalmente, as sílabas do mantra significam:
Têyathâ: como os Budas.
Om: de bom augúrio (pode ter outros sentidos, consoante o contexto). Gaté: que foi, ou que teve sucesso. Esta palavra é repetida quatro vezes, em referência aos quatro níveis de sucesso que leva à bodhi. Pâragaté: que foi sem dificuldade, ou que conseguiu sem dificuldade. Pârasamgaté: que foi completamente.
Bodhi: a perfeição do despertar.
Svâhâ: omnipresente.

Urna tradução simples poderia ser: «Como os budas, possamos nós concluir sem obstáculos tudo aquilo que começamos».
Este mantra evoca assim as cinco vias sucessivas percorridas pelos budas para atingir a iluminação absoluta: a via da acumulação, a via da junção, a via da visão ou da compreensão, a via da meditação e do treino espiritual, e a via além da meditação.
Este conjunto de sílabas foi transmitido de mestre a discípulo desde Buda Shakyamuni até aos nossos dias. Ele explica as diversas etapas da prática, da qual a conversão dos cinco venenos em cinco sabedorias, e a maneira de seguir as cinco vias que levarão à realização dos cinco budas centrais da mandala.
Podemos também aplicar este mantra aos acontecimentos da vida quotidiana para que tudo se passe sem obstáculos. Antigamente nos países budistas, os ferreiros, os médicos, os carpinteiros ou os sapateiros utilizavam este mantra consoante as necessidades da sua arte; alguns tornaram-se assim, sob uma aparência vulgar, grandes siddhas . Para um médico por exemplo, as sílabas do mantra representam os cinco órgãos, a essência dos cinco elementos e as diferentes maneiras de socorrer a outrem. Desde que um camponês receba o mantra do seu mestre espiritual, ele poderá aí encontrar, sob forma codificada, todas as informações necessárias ao seu trabalho. Significando exatamente “possa tudo ser favorável”, o mantra traz a ciência das cinco etapas que um camponês tem obrigação de conhecer: o local, a orientação, a estação, a forma de fertilizar a terra e de associar as plantas para afastar insetos, bem como o momento propício à colheita. O carpinteiro, por sua vez, pode deduzir o modo de fabricar os seus utensílios, as essências que deve usar, o momento propício para cortar a madeira, os segredos da montagem, etc.
Nos nossos dias, o saber é encarado de um ponto de vista meramente técnico, enquanto que outrora ele consistia num conhecimento sagrado transmitido de mestre a discípulo no seio de cada corporação: a profissão era um ritual que tinha em conta a via espiritual. Aqueles que, tendo recebido tais ensinamentos, sabiam integrá-los na sua vida quotidiana, tornavam-se com frequência grandes sábios.
As sílabas de um mantra não são anódinas, elas detêm um poder estimulante. O simples fato de recitar regularmente o mantra da prajnapârarmitâ aumenta as capacidades intelectuais do praticante libertando os bloqueios que o impedem de estudar, de compreender ou de memorizar.

As aplicações deste mantra são múltiplas. Ele oferece uma ajuda preciosa no momento de começar uma tarefa quando nos encontramos num ambiente adverso, ou ainda se acordamos com uma sensação desagradável, uma angústia ou um mau pressentimento. Sonhar, em geral, não é exatamente fazer o visionamento de um cassete de video: os sonhos que o espírito projeta no decurso do sono são simples reflexos ilusórios do jogo de energia passando sobre as impressões que pensamentos e ações deixaram na consciência fundamental. Mas por vezes as energias de quem dorme estão em perfeito equilíbrio e o seu espírito encontra-se num estado particularmente subtil. Os sonhos trazem-lhe então indicações especificas, donde alguns podem revelar-se premonitórios e avisar, por exemplo, dum perigo iminente para si próprio, seus parentes ou outros. Se tal é o caso, ele pode fazer apelo ao mantra da pranapâramitâ : recitar nove ou vinte e uma vezes tem por efeito afastar ou dissipar completamente as dificuldades que se anunciam. Nesta circunstância é preciso visualizar da seguinte maneira: durante a primeira parte da recitação, vagas de bênçãos de todos os seres iluminados inunda-vos e vós tomais a forma luminosa dum buda radiante de compaixão. Continuem recitando pelo menos nove vezes o mantra, conscientes do valor inestimável desta prática transmitida oralmente através de uma linhagem ininterrupta de mestres. Sobre a palma da vossa mão direita, visualizem um disco solar, e sobre a mão esquerda, um disco lunar. Obstáculos, forças negativas e outras causas de eventuais acidentes ou dificuldades juntam-se no centro do disco lunar. Sentindo claramente isso, recitem ainda o mantra e depois batam energicamente palmas por três vezes. Nesse preciso instante, os obstáculos são aniquilados e todos os perigos desaparecem, desintegrados entre o sol e a lua.
Esta técnica aliando concentração mental e a recitação do mantra pode, pela força da prática, tornar-se muito poderosa. Transmitida em linha direta, ela já provou a sua eficácia imensas vezes. Antes de a exercer, é preferível receber a transmissão de um mestre que a detenha.

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