ASTRONOMIA & ASTROLOGIA TIBETANA

UMA BREVE INTRODUÇÃO
 

(logotipo)

Men-Tsee-Khang
(Instituto Médico e Astrológico Tibetano de S.S. o Dalai Lama)
 
ÍNDICE

Prefácio
Agradecimentos
Prefácio da Segunda Edição

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Biografias

Introdução à Astro-ciência tibetana
pelo falecido Professor Jampa G. Dagthon
Taduzido por Jhampa Kalsang

Papel comunitário tradicional do Astro-praticante
Jhampa Kalsang
rTsipa Kachupa, Conferencista

A importância da Astro-ciência na Medicina
pelo falecido Professor Jampa G. Dagthon
Taduzido por Jhampa Kalsang

Descrição de um horóscopo tibetano
Sra. Tsering Choezom
Astróloga

Breve introdução ao Sridpa-Ho
Jhampa Kalsang
Conferencista

Perguntas mais freqüentes sobre a Astro-ciência tibetana
Sra. Tsering Choezom
Astróloga

APÊNDICE:
Mapa dos anos
Sra. Tsering Choezom
Astróloga
 
PREFÁCIO

 Alegra-me o fato de que o incentivo que tentei dar ao pessoal do departamento de Astronomia e Astrologia tenha rendido frutos. O departamento e eu precisamos ver de que forma podemos produzir mais livros sobre a Astro-ciência tibetana – um tema fascinante tanto para os tibetanos quanto para os indianos e ocidentais –, sem que transcorra muito tempo da publicação desta Astronomia e Astrologia Tibetana – uma breve introdução.

 Solicito ao pessoal do departamento de Astronomia e Astrologia que continue seu bom trabalho e, de minha parte, farei todo o possível para incentivá-los, divulgá-los e financiá-los.

(ass.)
Diretor
Men-Tsee-Khang
 
AGRADECIMENTOS

 
 Em seus agradecimentos na primeira edição de Astronomia e Astrologia Tibetana – uma breve introdução, o falecido Professor Jampa Gyaltsen Dagthon formulou seus agradecimentos a várias pessoas que muito apoiaram e contribuíram para nossa publicação inicial. O Professor Dagthon faleceu antes que esta segunda edição tomasse forma. Movido pelo profundo respeito que lhe voto e em seu nome, gostaria de exprimir meu apreço ao ex-Diretor de Men-Tsee-Khang, Sr. Tsering Tashi, sob cuja direção e orientação realizou-se, em outubro de 1994, a série de palestras em que este livro se baseia. Da mesma forma, ao conferencista de Astro-ciências, Sr. Jhampa Kalsang, que traduziu as palestras do Professor Dagthon e iniciou a publicação da primeira edição do livro, e ao Sr. Atelier Glok do Amnye Machen Institute, por ajudar com o projeto da capa do livro, que será novamente usado na segunda edição.
 Gostaria de agradecer a Jennifer Fendya, Ph.D., por seu maravilhoso aconselhamento e sua gentil ajuda, fazendo todas as necessárias correções em inglês. Gostaria também de agradecer à Sra. Chonyi Youden, por refazer o trabalho de computador para esta segunda edição, e a Todd Packer por suas sugestões.

(ass.)
Tsering Choezom
Astrólogo
 
Prefácio à segunda edição
 

 O livrete Astronomia e Astrologia Tibetana – uma breve introdução foi publicado pela primeira vez no ano de 1995, sendo considerado como útil por muitos leitores. Sua tiragem inicial praticamente esgotou-se, suscitando a oportunidade de uma nova impressão. No entanto, senti que era necessário e importante fazer algumas mudanças, acréscimos e correções. Portanto, nesta segunda edição, as biografias dos autores foram atualizadas, novas perguntas foram acrescentadas à parte de Perguntas mais freqüentes sobre a Astro-ciência tibetana, mais informações foram disponibilizadas na Descrição de um horóscopo  tibetano e foi incluído um novo MAPA DOS ANOS (1014 A.C. – 2046 A.D.). Esperamos que o MAPA DOS ANOS seja útil aos Astro-praticantes, pesquisadores e outros para a obtenção de informações relativas à correspondência entre os calendários tibetano e gregoriano e o ciclo Rab-Byung.

 Como o título sugere, este livro destina-se a fornecer aos leitores interessados uma compreensão básica das Astro-ciências tibetanas e do papel que desempenham na comunidade e na cultura tibetanas. Foi incluída uma breve história das Astro-ciências tibetanas e seus diferentes tipos de sistemas, o almanaque tibetano e informações relativas aos 8 sParkhas, 9 sMewas, 12 animais, 5 elementos astrológicos e 5 elementos astronômicos, amuletos, diferentes tipos de mapas e para quem, exatamente, os mapas precisam ser erigidos.

 No processo de condensar e simplificar um sistema complexo como este, podem ter ocorrido erros e omissões, pelos quais os autores assumem total responsabilidade. Perguntas e comentários serão benvindos, pois poderão estimular mais ainda o diálogo sobre este interessante e proveitoso campo de estudo.
 
BIOGRAFIAS
 

Jampa Gyaltsen Dathon (1939 – 1997)

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 Jampa gyaltsen Dagthon nasceu em 1939. Seu primeiro contato com a Astro-ciEncia, gramática e poesia tibetanas deu-s em uma escola em Kyirong, Tibete, em 1955, e foi lá que ele recebeu seus primeiros ensinamentos do Dharma. Em janeiro de 1961 fugiu do Tibete para o Butão, onde trabalhou para o governo-no-exílio até 1965. Com o crescimento da colônia tibetana no Butão, continuou a trabalhar para o governo e a ensinar leitura e escrita tibetana a crianças até 1967, quando foi-lhe concedida uma transferência para Dharamsala.

 Na sede do Men-Tsee-Khang em Dharamsala, continuou seus estudos de Astro-ciência, tornando-se logo um Astro-praticante qualificado e trabalhando para o Diretor do Departamento, Professor Lodeo Gyatso. Em 1969, Gyatso aposentou-se, e a responsabilidade de dirigir o departamento recaiu sobre Dagthon e seus colegas. Quando seus dois associados partiram para a colônia tibetana do Canadá, ele passou a executar sozinho o trabalho de direção, de 1973 a 1978, quando recebeu a colaboração de um graduado pela Faculdade de Medicina, que ficou trabalhando para ele por dois anos.

 O Professor Dagthon, que serviu como Conferencista Sênior e Diretor do Astro-Departamento de Men-Tsee-Khang, expirou em 30 de novembro de 1997, pelo que expressamos nossa profunda tristeza.
 
Jhampa Kalsang

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 Jhampa Kalsang nasceu em 1966 em Kathmandu, no Nepal. Freqüentou a escola Aldeia das Crianças Tibetanas (Tibetan Children’s Village – T.C. V.), em Dharamsala, de 1970 a 1985, e após a formatura ingressou na Faculdade de Medicina e Astro-ciência Tibetana (Tibetan Medical and Astro. College) para estudar Astronomia, Astrologia, Medicina, Gramática e Poesia tradicionais tibetanas, assim como ensinamentos do Dharma. Em 1989, Kalsang formou-se com a primeira divisão, recebendo o grau de rTsipa Kachupa. Trabalhou, então, no Departamento de Astro-ciências do Instituto, traduzindo palestras do tibetano para o inglês e calculando horóscopos para a considerável clientela internacional do Instituto. Em março de 1993, Kalsang começou a ensinar na Faculdade de Medicina e Astro-ciências, primeiramente como assistente do Diretor do Departamento, Professor Jampa G. Dagthon, e depois como conferencista nas matérias de Astronomia, Astrologia e Astrologia Médica.

 Estudou, também, linguística tradicional tibetana, tendo sido agraciado com o nome dByabgs-Cen rGyaspa’i Lang-Tso, aproximadamente traduzível como “crescimento, juventude e sabedoria da deusa.” No momento, atua como conferencista na Faculdade de Medicina e Astro-ciências Tibetanas, e como membro da Revista sMenr-tsis do Instituto de Medicina e Astro-ciências Tibetanas, em sua sede em Dharamsala.
 
Tsering Choezom

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 A Sra. Tserig Choezom, Astróloga Sênior, nascida em 1965, na Índia, foi a primeira mulher tibetana no exílio a formar-se em em Astro-ciências tradicionais tibetanas e Gramática Superior do Sânscrito. A Sra. Choezom estudou durante um ano Svarasvati Byakarana (Gramática Superior do Sânscrito) sob a direção de Shingnye Rinpoche Lungtok Gyatso, dele recebendo o nome Zla-bSrings rGyaspai Blo-Gros. Após formar-se em Men-Tsee-Khang em 1987, preparou almanaques, horóscopos, mapas conjugais e outros, contribuindo também com gTsug-lag, a revista de Astro-ciências tibetanas de Men-Tsee-Khang, e traduzindo para o inglês obras sobre a Astro-ciência tibetana. Ministrou, também, cursos de Astro-ciências em inglês para não-tibetanos. A Sra. Choezom viajou pela Europa, Ásia e Estados Unidos para mostrar a Astro-ciência tibetana, proferir conferências e dar consultas. Eleita em 1994, tem assento no Comitê de Alto-Nível de Medicina e Astro-ciências Tibetanas. Trabalha, no momento, no Departamento de Astro-ciências em Men-Tsee-Khang.
 
INTRODUÇÃO À ASTRO-CIÊNCIA TIBETANA

 A Astro-ciência tibetana é a arte ancestral do cálculo e interpretação dos fenômenos celestes. Classificamos a Astro-ciência em duas categorias: Astrologia Elemental (‘Byung-rTsis) e Astronomia (sKar-rTsis), e servimo-nos de ensinamentos de países vizinhos como a Índia, a China, a Pérsia e a Grécia para, numa síntese com os princípios do budismo, criar um sistema exclusivamente tibetano.
 

Astrologia Elemental

 O ‘Byung-rTsis, ou Astrologia Elemental, tem forte influência do sistema chinês de Astrologia Elemental desde a época do primeiro rei do Tibete, gNya’-bTsan-po (século II a.C.). Os praticantes da antiga religião Bon do Tibete já reconheciam os cinco elementos muitos anos antes, e usavam um sistema de previsão e adivinhação astrológica que era similar ao xamanismo, com suas técnicas de magia negra e branca e sacrifício de animais. As doutrinas Bon apresentavam-se em um sistema detalhado de categorias e sub-categorias, duas das quais eram a Astrologia e a Medicina. O advento do budismo no Tibete no século IV a.d. trouxe também avanços no estudo da Astro-ciência.
 Durante o século VII a.d., a quinta esposa do rei, uma princesa chinesa e competente astróloga, trouxe da China muitos livros sobre Astrologia Elemental e medicina. Assim, os princípios astrológicos do Bon e do budismo foram influenciados pela clássica Astrologia Elemental chinesa.
 O século VIII a.d. é considerado como a “Era de Ouro”, porque todos os campos co saber, como o Dharma, a Astro-ciência e Medicina, gozavam do mais alto patrocínio e desenvolvimento. Nessa época, muitos textos do Dharma foram traduzidos para o tibetano, e o desenvolvimento da Astronomia e da Astrologia chegou ao ápice. São os altos padrões firmados pelos eruditos daquele século que ainda nos inspiram no Instituto de Medicina e Astro-ciências Tibetanas nos dias de hoje.
 O século X a.d. viu um declínio no poder e na influência do Tibete, devido à fraqueza da liderança. Porém, no século XVII, sob a benevolente direção do quinto Dalai Lama, Ngag-dWang Blo-bSang rGyatso, o Tibete reergueu-se a sua glória do passado, e um sistema oficial de Astro-ciência foi entregue a seu regente sDe-Srid Sngs-rGyas rGyatsi, compilado em um fólio, e permanece em uso até hoje.
Os astrólogos tibetanos observam os cinco elementos de Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água, doze signos animais e nove números quadrados mágicos (sMewa). Vem da China o princípio dos oito sParkha, ou trigramas, que são arranjados em um círculo à volta dos sMewa dentro do mapa astrológico. A vida de uma pessoa pode ser influenciada pelos planetas e seu movimento, pelo karma passado desta pessoa, ou por espíritos benéficos ou maléficos. Os espíritos são classificados em nove categorias, representadas pelos nove números dentro do sMewa; embora a cada ano os números mudem de posição dentro do quadrado, o sMewa natal permanecerá sempre constante. Da mesma forma, cada sParkha simboliza um espírito ou uma deidade; os oito sParkhas também se movem à volta do mapa de ano para ano, e suas relações uns com outros são comparadas a uma família, com posições de mãe, pai, filho mais velho e filha mais velha, sobrinhos e sobrinhas. Os princípios chineses de yin e yang e seu conceito do Céu como pai e Terra como mãe encontram expressão nos sParkhas. Os antigos chineses consultavam os sParkhas sobre todos os assuntos, de previsões da vida até a estratégia militar.
O astrólogo tibetano irá examinar os oito sParkhas, os nove sMewas, os 12 animais e os cinco elementos em conjunção com o ano, mês, dia e hora de nascimento do indivíduo para construir uma previsão sobre qualquer das quatro categorias da vida. A mais importante destas é Srog, ou energia vital, seguida por Lus, condição de saúde; dWangthang, situação financeira; e rLung-r Ta, sucesso. O horóscopo da pessoa conterá observações e previsões para cada uma das quatro categorias. Onde o astrólogo notar um desequilíbrio de energia em qualquer das quatro, ele/ela irá recomendar um antídoto para contrabalançar as influências negativas ou para evitá-las no futuro. Os antídotos variam: a pessoa pode ser instruída a realizar uma puja  ou a dar esmolas, e os casos mais sérios podem exigir um ritual conhecido como gTo. Em um esforço para aplacar or enganar os maus espíritos, o praticante pode prescrever esta técnica ancestral, que foi inicialmente praticada na tradição Bon. Confecciona-se uma boneca à semelhança do paciente, e esta é ofertada aos espíritos em caso de doença; antes da construção de edificações importantes, pode-se erigir uma pequena réplica, sendo os maus espíritos atraídos a habitá-la. O gTo só é praticado nos casos mais desesperadores e em situações de perigo de vida.
O astrólogo pode também usar a Astrologia Elemental para construir um horóscopo natal, um mapa de compatibilidade conjugal, previsões anuais (sKeg-rTsis), cálculos médicos e cálculos de morte.
 

Sistema astronômico tibetano

O Shri Kalachakra Tantra é a base de nosso sitema astronômico. Pela primeira vez traduzido do sânscrito para o tibetano em 1027 a.d. (ano do Coelho de Fogo), este texto tem-nos possibilitado construir nosso calendário e almanaque anuais. O Kalachakra Tantra, uma das mais elevadas expressões da filosofia budista, contém três capítulos. O primeiro capítulo, ou Kalachakra Externo, focaliza a criação do universo, sua cosmologia, os movimentos dos planetas e estrelas, os cinco elementos e estudos cronológicos. O segundo capítulo é o Kalachakra Interno, que se concentra nos chakras, ou centros de energia do corpo, seus canais de energia e o efeito que as forças externas, tais como os planetas e estrelas, têm cobre os órgãos do corpo. O terceiro e último capítulo, o Kalachakra Alternativo, é o mais importante para a meditação, a prática do yoga, os ensinamentos para iniciação, a tomada de iniciação e a visualização da deidade pessoal do indivíduo (Yidam).
O Kalachakra Externo explica que o movimento do Sol através de cada casa  astrológica constitui um ano. Aries, o terceiro mês do calendário tibetano, é também o primeiro mês do Ano Novo de Kalachakra. Ao contrário de muitas outras filosofias espirituais que possam ser baseadas em lendas, o sistema Kalachakra explica muitos fenômenos em termos realistas, de forma bem semelhante à moderna ciência astronômica. Por exemplo, o eclipse do Sol é explicado tanto pela astronomia moderna quanto pelo sistema Kalachakra como o fenômeno da trajetória da Lua passando entre o Sol e a Terra, enquanto que os Vedas Hindus atribuem o eclipse a Rahu, o planeta sombrio, engolindo a Lua.
Os pricípios mostrados no Kalachakra Tantra também levam à criação do Almanaque Anual Tibetano, com o qual podemos determinar as posições precisas das estrelas, dos planetas e dos signos do zodíaco. O primeiro Almanaque foi elaborado na tradição Tsur Lugs fundada pelo terceiro sKarmapa Rang Byung rDordje, e o Instituto de Medicina e Astro-ciência Tibetana continua a publicar um Almanaque tradicional a cada ano segundo o mais avançado sistema Phug Lugs.
O Calendário Tibetano, de base lunar, difere de modo significativo tanto do calendário indiano quanto do ocidental. A primeira diferença notada pelo observador ocidental é que nosso ano tem apenas 360 dias, assim como dias bissextos (Tses Chadpa) ou dias extra (Tses Lhagpa). Para os budistas e os hindus, a lua cheia e a lua nova devem cair exatamente no 15º e no 30º dia do mês; além disto, o dia lunar tem apenas 23:59 h de duração, em contraposição ao dia solar de 24 horas. Cada ano tem um animal e um dos cinco elementos a ele designado: 1998 é o ano do Tigre de Terra, e 1999 será um ano do Coelho de Terra. Cria-se, assim, um ciclo de sessenta anos, e os tibetanos acreditam que a intervalos de doze anos na vida do indivíduo, ele irá passar por perdas, dificuldades e sofrimento: cada décimo-segundo ano é denominado o “ano-obstáculo”.
A astronomia tibetana e a indiana compartilham uma mesma concepção de planetas, estrelas, constelações e casas do zodíaco. Os sistemas tibetano e indiano reconhecem cinco planetas (Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno) e doze casas. Os três planetas exteriores não são reconhecidos pelos astrólogos tibetanos, pois não aparecem no Kalachakra Tantra. Além disto, os astrólogos tibetanos acreditam que eles estão longe demais da Terra para exercerem uma influência observável. O Sol, a Lua, Rahu e Ketu (os planetas sombrios) são tidos como governantes da energia vital e dos canais de energia da pessoa, embora não sejam considerados planetas pelos astrólogos ocidentais.
Os nômades e agricultores do antigo Tibete usavam a astronomia para estudar as condições do tempo e as posições das estrelas, planetas e constelações, e transmitiam oralmente seus conhecimentos às gerações seguintes, pois não havia linguagem escrita no Tibete àquela época. Para determinar se os padrões, as épocas e os locais de plantio, faziam cálculos lunares e prestavam especial atenção à casa de Escorpião (Lag-so Kyorka) e à posição da constelação sMin-drug’s (Plêiades) com relação à Lua durante a 15ª noite do décimo mês do ano tibetano. Este importante cálculo, o Nyadu Tagpa, possibilitava prever-se a fortuna do ano seguinte para todo o país.
A Estrela do Norte assumia um significado especial para os antigos observadores do céu, que a chamavam de “Estrela Estável do Norte”. Alguns nômades na parte norte do Tibete ainda acreditam que se eles perderem um animal, só têm que localizar a Estrela do Norte e pedir-lhe que guarde o animal pela noite: no dia seguinte, eles irão conseguir localizá-lo com facilidade.
Os mapas a seguir mostram os 5 elementos, 8 sParkhas, 9 sMewas e 12 animais colocados em suas posições básicas:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

TERRA(SE) FOGO(Sul) TERRA(SW )
MADEIRA(Leste) Zonm Lir Khonk METAL(Oeste)
 Zinl n Dap
 Ginq Khamj Kheno
TERRA(NE) ÁGUA(Norte) TERRA(NW)

Nota: Em astronomia, usam-se os elementos Vento e Espaço em lugar de Madeira e Metal na astrologia.
 
 

(Sul)

Serpente             Cavalo
 

Dragão                                    Ovelha
 

Coelho                                      Macaco

(Leste)                                                                                           (Oeste)

Tigre                                       Pássaro
 

Boi     Rato                Porco   Cachorro
 

(Norte)

Dedos da mão esquerda (indicador, médio e anular)
 
PAPEL TRADICIONAL
DO ASTRO-PRATICANTE
NA COMUNIDADE
 

 Dentro da cultura tibetana, a astronomia e a astrologia têm sido harmoniosamente combinadas com o saber médico há mais de 2.500 anos. Para compreender e dominar esta composição tão exclusiva, deve-se ter um conhecimento básico tanto de Astro-ciências quanto de medicina tibetanas. Entretanto, para tornar-se um mestre astro-praticante, é natural que a pessoa dê ênfase ao estudo de astrologia e astronomia. No Instituto de Medicina e Astro-ciências Tibetanas na Índia, os astro-praticantes são treinados em um programa de prática estreitamente supervisionada, com cinco anos de duração.
A Astro-ciência tibetana compreende três matérias principais: dKar-rTsis, ou cálculo branco, Nag-rTsis, ou cálculo negro, e dByangs-‘char. O dKar-rTsis pode ser assemelhado ao campo ocidental da astronomia, pois inclui o estudo dos planetas e das estrelas, envolvendo uma grande quantidade de cálculos matemáticos. O Nag-rTsis é parecido com o campo ocidental da astrologia, e pode ser definido como o estudo das relações elementais no contexto de filho para mãe, ou de amigo para inimigo. Não são necessários cálculos no Nag-rTsis, que é um campo mais interpretativo do que o dKar-rTsis. A terceira matéria de estudo é o dByangs-‘char, que significa literalmente “vogais que dão origem” e é, na verdade, uma prática tântrica secreta dentro da categoria dKar-rTsis. O dKar-rTsis deriva principalmente de duas fontes indianas: o Sri Kalachakra Tantra e o Surgimento a partir do Sarodhya Tantra, como ensinado pelo Senhor Shiva. O Nag-rTsis tem muitos aspectos em comum com o sistema clássico chinês de cálculos e relações elementais. Os horóscopos natais são erigidos usando-se os cálculos dos sistemas dKar-rTsis, Nag-rTsis, e dByangs-‘char.
O papel ativo de um astro-praticante tibetano em sua comunidade mostra-se especialmente durante os eventos importantes da vida, como 1) o nascimento de uma criança; 2) a época do casamento; 3) quando uma doença não responde aos tratamentos normais; e 4) a morte. Os astro-praticantes são também consultados em outras épocas de mudança, como ir de uma residência para outra, ou iniciar um projeto ou viagem importante.
Há várias razões pelas quais é aconselhável consultar um astro-praticante nessas épocas. Quando nasce uma criança, os pais tibetanos ficam muito ansiosos para saber sobre o seu futuro. Assim, os pais visitam um astro-praticante e pedem-lhe que faça um mapa natal, ou horóscopo. Nas comunidades tibetanas, muitos pais são orientados pelo mapa natal, especialmente no que diz respeito aos planos para a educação daquela criança, o campo profissional para o qual ele ou ela está mais adequado, e se a vida monástica ou religiosa é a que ele ou ela dever ser incentivado a seguir.
Se as previsões do mapa natal forem desfavoráveis, será prescrito um antídoto para evitar os infortúnios. O antídoto está, com freqüência, sob a forma de uma oração que é adequada àquela determinada situação desfavorável. Poderá também ser pedido aos pais que dêem esmolas às pessoas pobres e necessitadas. Se a vida da criança estiver em perigo, podem ser tomadas medidas preventivas, como salvar a vida de um animal, geralmente uma ovelha, um bode ou um peixe que esteja para ser abatido.
Quando uma criança atinge a idade casadoura, novamente os pais podem consultar um astro-praticante para os cálculos do casamento de seu filho. Os pais do rapaz, ou da moça, podem buscar consultar-se, dependendo em que família o casal irá morar após o casamento. A partir deste cálculo, o astro-praticante pode predizer a duração da vida, os padrões econômicos, as condições de saúde, a fortuna ou sorte do casal. Esta é a forma mais básica de horóscopo de casamento. No entanto, podem-se fazer cálculos mais detalhados para prever informações como o número de filhos, ou se o marido ou a mulher terá mais poder na casa. Às vezes, se um casal estiver brigando com freqüência, poder ir a um astro-praticante para cálculos e antídotos.
Se qualquer das quatro condições mencionadas acima for desfavorável, e o indivíduo já for casado, o papel do astro-praticante tibetano é preparar um amuleto especial para o indivíduo. Considera-se que os aspectos de duração da vida e de fortuna/sorte sejam os mais importantes para o homem, pois ele tradicionalmente deve prover o alimento da família. Se algum desses cálculos for desfavorável, ser-lhe-á prescrito um amuleto. Por outro lado se a saúde ou as condições econômicas forem desfavoráveis no mapa da mulher, ser-lhe-a prescrito um amuleto, pois é seu papel tradicional a gerência do dinheiro da família, a criação dos filhos e a manutenção da saúde. Se tudo for favorável no mapa do casamento, nem o homem nem a mulher precisarão de usar um amuleto, ou talvez um deles pode usá-lo. Num casal mais desfavorecido, ambos podem usar amuletos.
Um outro tipo de antídoto prescrito em casos de mapas conjugais desfavoráveis é conhecido como gTor-bChos: neste caso, faz-se a oferenda de seu melhor traje a um Lama, ou a um mosteiro. O astro-praticante pode também solicitar aos pais que recitem uma reza especial determinada pelos cálculos.
Quando o povo tibetano cai doente e já buscou tratamento por muito tempo sem sinais de melhoria, pode, frequentemente, apelar para um outro recurso. Como se lê nos textos médicos tibetanos, os médicos nunca devem olhar exclusivamente para as causas e sintomas físicos de uma doença: é necessário também considerar que a doença pode ser ausada por espíritos ou por karma negativo (para nossos propósitos, karma pode ser simplesmente definido como uma marca feita em vidas passadas). Essas doenças são chamadas kármicas, ou inflingidas por espíritos, e a medicina sozinha não consegue curá-las. É muito importante que se tenha o apoio de um antídoto prescrito por um astro-praticanto ou pela adivinhação de um Lama – as pessoas às vezes buscam o apoio dos dois.
Os astro-praticantes determinam qual o espírito que está afligindo a pessoa doente, o tipo de doença que está resultando desse espírito, e a oração que é necessária para apaziguar o espírito. Um número corresponde a cada uma das oito categorias principais de espíritos, e há rezas e deidades protetoras que também correspondem aos números e categorias dos espíritos. Este sistema de correspondência orienta o astro-praticante na direção de uma determinação correta dos espíritos e moléstias que estão afligindo a pessoa doente, assim como o tipo de oração que será mais benéfica àquele determinado indivíduo. Somente após a recitação da oração necessária o remédio irá funcionar para o paciente.
Outro modo de os astro-praticantes ajudarem as pessoas que estão doentes é determinar que médico ou que sistema terapêutico (seja alopático, ayurvédico ou tibetano) será mais favorável no tratamento de uma determinada doença. É feito um cálculo baseado no dByangs-‘char, ou “vogais que dão origem”, para fazer este tipo de previsão. Da mesma forma, se uma operação for considerada como a cura possível, o astro-praticante pode avaliar se haverá um resultado bem-sucedido. Esta interpreta;cão pode ser feita examinando-se os cálculos dYangs-‘char em combinação com a hora exata em que o pedido for feito.
Mais uma vez, o astro-praticante desempenha um importante papel durante a morte de entes queridos dentro da comunidade tibetana. O astro-praticante fará um calculo de morte para determinar se a pessoa moribunda tem alguma vida remanescente no corpo: a qualquer momento ele, ou ela, pode ser chamado de qualquer parte por um parente ou vizinho que solicite este tipo de cálculo. Neste caso sugerem-se as rezas e rituais necessários, após considerarem-se as circunstâncias dos familiares remanescentes.
O astro-praticante prescreve quando o corpo deve ser removido do quarto (ou da casa), marcando um dia e hora favorável de acordo com as conjunções dos planetas e constelações. É importante evitar os maus espíritos quando se transporta o falecido para o crematório. Para evitar esses maus espíritos, outras orientações podem ser dadas, como por exemplo, quem pode e quem não pode tocar o corpo, em que dia o corpo pode ser removido para o crematório, a direção em que o corpo deve ser removido e quais as orações que a família deve fazer. Além disso, outras pujas são realizadas por 49 dias e novamente um ano após a morte.
Na cultura tibetana, após a morte de um ente querido, a família convidará pelo menos quatro monges para ler os textos sagrados e para entoar certas rezas fixas que são prescritas de acordo com os cálculos da morte. Este ritual é ainda seguido de forma bastante regular nas comunidades tibetanas, pois é nosso costume há já muitas centenas de anos.
Além de orientar a programação de importantes rituais ao longo da vida de um indivíduo, o astro-praticante irá elaborar almanaques e calendários segundo a tradição tibetana clássica. Os calendários são preparados para observar tanto o Ano Novo Elemental quanto o Ano Novo de Kalachakra, e seguir os ciclos animais/elementais de doze anos.
O povo tibetano vai com freqüência solicitar conselho aos astro-praticantes quando quer mudar de residência, iniciar um projeto importante, começar uma viagem ou alcançar um objetivo de forma fácil e pacífica. Mais uma vez, faz parte do papel do astro-praticante orientar na determinação da hora e do dia favorável para qualquer transição importante. Se um evento inevitável e desfavorável estiver em curso, serão sugeridos antídotos, como a leitura de textos sagrados e a oferta de esmolas aos pobres e necessitados.
Em conclusão, sempre que os tibetanos precisam de orientação, tanto nas grandes quanto nas pequenas transições da vida, tendem a consultar um astro-praticante tradicional. Desta forma, os astro-praticantes continuam a ocupar um importante papel em muitas comunidades tibetanas, como sempre tem ocorrido há milhares de anos.
 
A IMPORTÂNCIA DA ASTRO-CIÊNCIA NA MEDICINA
 

No Tibete, as artes da Astro-ciência e da medicina trabalham juntas há milhares de anos. Embora a interrelação entre estas duas ciências possa ser um conceito estranho para muitos ocidentais, a maioria dos tibetanos as vê como inseparáveis, e a medicina e a astro-ciência tibetanas têm sido historicamente conhecidas como “as Artes da Cura”. O curador verdadeiramente eficaz dentro da tradição tibetana terá estudado tanto medicina quanto astro-ciência, pois as influências sobre o corpo vêm tanto de fora quanto de dentro.
A religião pré-budista Bon reconhecia os rGyui Bon Shespa chan bchu gNyis (12 Principais Tópicos de Estudo), assim como as Bon sGo bzhi (as Quatro Portas do Bon), que eram vistos como uma série de rituais que conduziam ao objetivo último da iluminação, mZod lNga (os Cinco Tesouros). A astrologia e a medicina eram duas disciplinas em um conjunto de doze, e eram combinadas com o conhecimento dos cinco elementos – Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água – para explicar a criação e a degeneração do nosso universo e de seus seres vivos.
Durante o século VI a.d., quato dos mais brilhantes jovens estudantes do Tibete foram enviados à China para estudar astrologia e astronomia pelo Rei gNamri Srong bTsan. Embora trouxessem de volta informações inestimáveis, que ainda fazem parte de nosso patrimônio médico e astrológico, só puderam transmitir oralmente os ensinamentos, pois não havia linguagem escrita no Tibete naquela época. O século VII viu um rápido desenvolvimento, pois o rei rSong bTsan sGam Po, filho do rei do século VI, casou-se com uma princesa chinesa que trouxe consigo para o Tibete textos chineses sobre astrologia e medicina.
O Senhor Manjushri ensinou que como há 84.000 moléstias físicas e mentais, há 84.000 antídotos, que podem vir sob a forma da leitura de textos sagrados, de salvar a vida de um outro ser, ou de buscar um tratamento médico que incorpore os cinco elementos com os três “humores”. A teoria médica tibetana percebe a saúde de um indivíduo como relacionada ao equilíbrio entre os princípios ou humores do vento (rLung), da bílis (mKhris-pa) e da fleuma (Bad-kan).
A teoria dos ‘Byung-ba lNga (Cinco Elementos) afirma que todos os fenômenos físicos, seja no mundo macrocósmico ou no microcósmico, são formados pelas cinco energias da Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água, que expressam as qualidades dinâmicas do Movimento, do Calor, da Solidez, do Vazio e da Umidade, respectivamente. Os elementos têm três tipos de aplicações: Internas, Externas e Alternativas. Externamente, a Madeira é usada para combustível e para cozinhar; o Fogo, para aquecer; a Terra, sobre a qual vivemos; o Metal, para facas e ferramentos; e a Água, para beber. Os elementos aparecem Internamente como nervos e músculo (Madeira), calor digestivo (Fogo), carne (Terra), osso (Metal) e sangue (Água). Os elementos Alternativos correspondem aos cinco órgãos vitais e aos seis órgãos ocos: fígado e vesícula (Madeira), coração e intestino delgado (Fogo, baço e estômago (Terra), pulmões e intestino grosso (Metal) e os rins, vesícula seminal e bexiga (Água).
Podem-se também encontrar variações da teoria Elemental nas tradições médicas da China, da Grécia e da Índia. No século VIII a.d., o sábio indiano Guru Padma Sambhava veio para o Tibete e introduziu o conceito de que como os elementos em sua forma “pura” constituem a base de toda vida no universo, os mesmos elementos em uma forma ïmpura” podem ser venenosos ao corpo e ao espírito. Na forma impura, o elemento Madeira é visto como a fonte dos ciúmes de rLung, ou das desordens do vento; o Fogo origina o orgulho assim como mKhris-pa e doenças quentes; a Terra é a raiz da estupidez assim como dos tumores e das desordens Bad-kan; o Metal está conectado ao ódio e aos problemas do fígado, assim como a combinações de diferentes doenças; e a Água está relacionada ao apego, às doenças frias e às desordens dos rins e da bexiga.
Em sua forma pura, os elementos podem ser vistos como o portal da iluminação, pois há diferentes manifestações do Buda expressas por cada elemento. A Madeira representa um que auxilia no caminho espiritual; o Buda Amoghasiddhi e a cor verde estão conectados com o elemento Madeira. O Fogo tem a qualidade do conhecmento, e representa o Buda Ratnasambhava e a cor amarela. A terra expressa o corpo de Buda e é conectada com Vairocana e com a cor branca. O Metal represeenta a mente do Buda; sua manifestação é Aksobhya e a cor azul. A Água é o elemento associado à fala do Buda; sua manifestação é Amitabha e sua cor é o vermelho. Os cinco elementos em sua forma pura são conhecidos como a “Família dos Cinco Budas”, e como cada indivíduo tem um elemento predominante em sua constituição física, assim o mesmo elemento pode pô-lo em contato com a manifestação do Buda Supremo mais apropriada àquele indivíduo.
A medicina tibetana afirma que a causa de toda doença é a ignorância. Interpretamos isto como falta de consciência, que nos leva a tomar as decisões erradas em termos de nossa dieta e de nosso comportamento, e que se desenvolve em desordens de rLung, mKhris-pa e Bad-kan. rLung é conectado ao desejo e ao apego, mKhris-pa ao ódio e Bad-kan à ignorância.
Já que os cinco elementos e os três humores têm um efeito tão profundo sobre a mente e o corpo humano, é necerrário que o médico tibetano tenha uma compreensão das influências macrocósmicas sobre o cormo na forma de treinamento nas Astro-ciências, e que o astro-praticante compreenda o mundo microcósmico do corpo humano. Por esta razão, os estudantes de medicina de nosso instituto tomam cursos de astro-ciência, e os estudantes de astro-ciência recebem treinamento em teoria médica. Um bom exemplo da interrelação entre a medicina e a astro-ciência pode ser encontrado na técnica do pulso-diagnóstico: na estação da primavera, o pulso do fígado predomina, sendo conectado ao elemento Madeira. Se o médico não está a par da influência sazonal sobre o pulso de um paciente, pode diagnosticar a doença erroneamente.
 

Auxílios Astronômicos à Medicina
 

 As ciências da astronomia e da medicina vêm juntas no Shri Kalachakra Tantra, cuja primeira tradução do sânscrito para o tibetano apareceu em 1027 a.d. O capítulo sobre o Kalachakra Interno explica que a vida humana começa quando as sementes dos pais recebem a centelha da consciência e são nutridas com a energia tirada da alimentação da mãe, a qual é, por sua vez, composta pelos cinco elementos. O Tantra explica que o embrião passa por três fases, nas quais ele se parece, sucessivamente, com um peixe, uma tartaruga e um porco; explica, também, que o corpo humano passa pelas fases de desenvolvimento, existência e degeneração.
 Os dois mais importantes textos em medicina tibetana, o Kalachakra Tantra e o rGyud bZhi (Quatro Tantras-Raízes da Medicina), postulam uma base elemental para toda vida, mas com pequenas diferenças: embora a astronomia e a medicina observem Fogo, Terra, Água, Ar e Espaço, os astrólogos observam Fogo, Terra, Água, Madeira e Metal. Ar e Madeira são vistos como possuindo qualidades de movimento, enquanto que Espaço e Metal trazem uma conotação de vazio.
Segundo o Kalachakra Tantra, já que o corpo é composto de cinco elementos e recebe alimento composto dos elementos, e já que a doença é uma expressão de desequilíbrio entre os elementos, a terapêutica deveria ser composta dos elementos correspondentes. Encontram-se muitas similaridades entre o Kalachakra Interno e o rGyud bZhi, em termos de terapias que podem incluir remédios ou prática ióguica, diretrizes comportamentais ou técnicas de puja. Há também, sem dúvida, referências à Astro-ciência em outros textos de Dharma, como o bDe mChog mKha ‘Gro rGya mTso e o Dorje bDen bZhi. Quando algumas pessoas vêem o texto do Kalachakra pela primeira vez, pensam que é um texto médico, o que dá uma indicação da proximidade com que estas duas ciências estão relacionadas.
 
(Ilustração)
 

Mapa natal detalhado
 
DESCRIÇÃO DE UM HORÓSCOPO TIBETANO
 
 

Não há pessoa alguma neste universo que não tenha algum tipo de problema, seja grande ou pequeno. Em larga escala, isto se aplica aos países, comunidades e organizações. Em pequena escala, aplica-se à família e ao indivíduo. Todo país tem suas próprias maneiras tradicionais de resolver esses problemas e nós, tibetanos, temos também o nosso sistema próprio. Em questões importantes, buscamos o conselho de oráculos ou solicitamos uma adivinhação de um grande Lama. Contamos também com os cálculos astrológicos.
Na tradição tibetana, diz-se que a astrologia é a chave de todas as portas do conhecimento. Ela traz informações definitivas concernentes a acontecimentos específicos na vida individual assim como em previsões gerais.
Para assuntos individuais, dependendo do tipo de problema, podemos usar previsões, cálculos ou adivinhações astrológicas. Para determinar os eventos bons ou infortúnios que ocorrerão durante a vida de um indivíduo, deve-se erigir um horóscopo baseado nos detalhes pessoais do dia, hora e local de nascimento do indivíduo.
Para os adultos, há mapas para determinar a compatibilidade de um parceiro conjugal; para os doentes, há cálculos para determinar a causa da doença, que tratamento deve ser aplicado, que médicos são apropriados, quando encontrarão alívio, e, em última análise, se irão sobreviver à doença. Fazem-se também cálculos após a morte para determinar como proceder com o corpo com relação aos cinco elementos: Fogo, por cremação; Terra, sepultamento; Água, na água; Metal, ser enterrado sob a própria casa; ou Madeira, ser dado aos abutres. Estes cálculos também mostrarão o tipo de cerimônias religiosas que devem ser realizadas pelo falecido, quando trazer o corpo para cremação, e que rezas são necessárias para evitar que aconteça algum mal aos familiares remanescentes.
Será aqui tratado o horóscopo do indivíduo. O Manjushri Mula Tantra diz: “Dizem que existem muitas constelações: 64.000. Elas exercerão sua influência durante o último período de tempo”. Nós, pessoas comuns que não podemos nascer de acordo com nosso desejo, mas cujo renascimento é governado por ações kármicas, sem dúvida precisamos da ajuda dos horóscopos. Sem eles, através da influência de planetas e estrelas maléficos, veremos fracassarem nossas atividades, sofreremos com a má saúde e conheceremos obstáculos em nossas vidas. Muitos outros impedimentos surgirão.
Para evitá-los, nosso compassivo mestre, o Buda, revelou este sistema. Temos marcas benéficas e não-benéficas, acumuladas por muitas existências. Quando recebem a influência de planetas e estrelas maléficos, as marcas não-benéficas criam raízes e se desenvolvem sob a forma de efeitos indesejáveis. Nessas épocas, o astro-praticante pode orientar o indivíduo sugerindo comportamentos ou rituais de purificação para evitar essas condições, assim como encorajar meios e cerimônias hábeis para prevenir o infortúnio. Como os Vitoriosos não mentem, não devemos ter dúvidas de que, se seguirmos essas diretrizes, é possível prevenir os obstáculos criados pelas más condições antes que estes ocorram, a menos que tenha chegado o tempo de amadurecerem nossas ações passadas.
É um aspecto exclusivo do budismo a crença de que as sementes das boas e das más ações podem ser destruídas. A raiva destrói o bom potencial, enquanto que o erro é purificado pelo reconhecimento e a correção do ato negativo. Diz um ditado budista: “Construa uma barragem antes da enchente. Evite-a antes que aconteça.” Ao descobrir, por meio de um horóscopo, que obstáculos nocivos e eventos indesejáveis irão ocorrer na vida de uma pessoa, podemos também saber, a partir do horóscopo, como evitá-los.
Há três sistemas para se fazer um horóscopo:
1. dByangs-‘char         : as Vogais que Dão Origem
2. Dhus’Khor               : o Sistema Kalachakra
3. ‘Byung-rTsis            : o Sistema Elemental
 Para todos estes três sistemas, a hora do nascimento é muito importante. Diz-se que “A arma da hora é afiada.”
 

dByangs-‘char

 O sistema “Surgimento a Partir da Vogal” tem muitas semelhanças com os sistemas ocidental e indiano, como se segue:

                                                      Sistema Tibetano

Zodíaco Símbolo
LuggLangKh’rigKartaSenggeBhumoSrangsThiggShuChusrinBhumpaNya OvelhaTouroCasalSapoLeão da NeveMoçaBalançaEscorpiãoArco & FlechaCabeça de dragão comrabo de peixeAguadeiroPeixe
 

                                                      Sistema Indiano

Zodíaco Símbolo
MeshaVrishabhaMithunaKarkataSimhaKanyaTulaVrischikaDhanuMakaraKumbhaMeena CarneiroTouroGêmeosCaranguejoLeãoVirgemBalançaEscorpiãoCentauroCrocodiloAguadeiroPeixe
 
 
 

                                                      Sistema Ocidental

Zodíaco Símbolo
AriesTouroGêmeosCâncerLeãoVirgemLibraEscorpiãoSagitárioCapricórnioAquárioPeixes CarneiroTouroGêmeosCaranguejoLeãoVirgemBalançaEscorpiãoArqueiroBodeAguadeiroPeixe
 

Depois de elaborar a posição zodiacal, predizemos felicidade ou sofrimento examinando a posição dos planetas nas doze casas do zodíaco. Assim como temos amigos, inimigos e conhecidos (neutros), o mesmo se passa também entre os planetas. A posição dos bons planetas leva a bons resultados, enquanto que a posição de planetas maus ou neutros conduz a resultados maus e resultados neutros. Os significados das casas é o que se segue:
Casa 1 – nascimento ou corpo; casa 2 – riqueza, gado; casa 3 – parentes; casa 4 – amigos e colegas; casa 5 – filhos; casa 6 – inimigos; casa 7 – cônjuge e vida no lar; casa 8 – vida e morte; casa 9 – inteligência, prática religiosa, fortuna; casa 10 – trabalho ou profissão; casa 11 – ganhos; casa 12 – perdas.
 Os planetas, ordenados segundo a força com que influenciam nossas ações, são: Saturno (o mais fraco), Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, a Lua e o Sol. Embora sombrios, os Nodos (Rahu e Ketu) são os mais fortes de todos.
 A força de seu poder em um dia é:
Mercúrio é sempre poderoso; oSol, Júpiter e Vênus são fortes durante o dia; A Lua, Marte, Rahu e Saturno são poderosos à noite. Cada planeta assemelha-se a certas personalidades: o Sol – governantes e líderes políticos; a Lua – ministros e rainhas ou outras dignidades femininas; Marte – soldados e comandantes militares; Mercúrio – empresários; Júpiter – sacerdotes e estudiosos; Vênus – músicos e artistas; e Saturno – agricultores, trabalhadores e servos.
 Sexos planetários: o Sol, Marte e Júpiter são masculinos; a Lua e Vênus são femininos; Mercúrio e Saturno são eunucos.
 Após observar cuidadosamente e reconhecer a força e a natureza da influência planetaria, assim como as relações entre os planetas, o astro-praticante pode formar uma interpretação para o indivíduo porque as previsões referentes aos bons e maus eventos futuros se baseiam nas posições planetárias na hora do nascimento da pessoa. Segundo o sistema indiano de nove planetas (Maha-Dasha, ou período importante), que pode ser elaborado a oitenta-e um (Antar-Dasha, ou período secundariamente importante), a vida humana é calculada até um máximo de 120 anos. Segundo a astro-ciência tibetana, acredita-se que o tempo de vida máximo de 120 anos era o que havia na época em que este sistema de cálculo foi ensinado pela primeira vez. Atualmente, postulamos uma vida máxima de 100 anos. Entretanto, a prática de boas ações pode acrescentar anos à vida do indivíduo. Chamamos esses anos acrescentados de “vida resgatada”, ou ’Chi-bSlu (literalmente, enganar a morte).
Durante a vida do indivíduo, ele será influenciado por cada um dos nove planetas em um grau variável: o Sol, a Lua, Marte, o Nodo Ascendente (Rahu), Júpiter, Saturno, Mercúrio, o Nodo Descendente (Ketu) e Vênus. Os períodos gerais para os planetas, em anos, são: 6, 10, 7, 18, 16, 19, 17, 7 e 20, respectivamente, cujo total é 120 anos. Os nove planetas são, também, dividisos de acordo com seus aspectos pacíficos ou violentos. Os bons eventos ocorrerão durante o período de um planeta pacífico, enquanto que durante os períodos dos planetas violentos, observar-se-ão efeitos maus.
Os planetas pacíficos são: a Lua, Júpiter, Mercúrio e Vênus. Por exemplo, durante o reinado da Lua, a pessoa gozará de um bom sono, sucesso em atividades pacíficas, aumento na riqueza e conhecimento de pessoas agradáveis. Sob Júpiter, a pessoa encontrará sucesso tanto nas atividades pacíficas quanto nas impetuosas, capacidade mental aumentada, maior eficiência no trabalho e uma atividade religiosa mais rica e mais compensadora.
Os planetas violentos são: o Sol, Marte, Rahu, Saturno e Ketu. Durante o reinado de Marte, irão manifestar-se febre, doenças do sangue e da bílis. Há perigo de incêndio, processos legais e roubo, assim como conflitos com membros da família e amigos chegados. A influência de Saturno traz embotamento, preguiça, falhas no trabalho e separação de entes queridos; pode também trazer uma mudança indesejada de residência.
Quanto às fases da Lua, os planetas maus/maléficos (Sol, Marte, Saturno e planetas sombrios) são geralmente fortes durante as metades escuras do mês lunar, e os planetas bons/benéficos (Lua, Mercúrio, Vênus e Júpiter) são, portanto, fortes durante as metades brilhantes do mês lunar.
É também importante notar as transições entre os períodos de influência planetária e seu efeito nocivo. Na época da “passagem de mandato” de um planeta violento para um pacífico, surgirão pequenos problemas, como doenças sem gravidade. O trânsito entre um planeta pacífico e um irado poderá ocasionar doenças, sofrimento e perdas de natureza mais séria, enquanto que o trânsito entre um planeta irado e outro é um prenúncio de morte e destruição quase certas. Sugere-se extrema precaução nesses períodos. Especificamente, durante um trânsito da Lua para Marte, podem resultar doenças de menor gravidade; de Rahu para Júpiter, ligeiro declínio na riqueza e nas posses; e de Saturno para Mercúrio, sorte e boa fortuna. Durante os trânsitos entre o violento Marte e Rahu, as medidas paliativas podem não funcionar, e a morte é provável; e o trânsito de Mercúrio para Ketu é dito como emissário de morte certa.
 

Dus ‘Khor

Enquanto que o sistema dByang-‘char calcula o horóscopo com referência a nove planetas, o sistema Kalachakra, ou Dus ‘Khor, reconhece apenas oito: omite-se Ketu. Os quatro planetas irados aparecem nas posições Norte, Sul, Leste e Oeste no mapa de cálculo, enquanto que os planetas pacíficos ficam em seus quatro cantos, exercendo suas influências favoráveis ou desfavoráveis. As interpretações também são feitas com referência ao dia da semana em que o nascimento ocorreu, aos doze elos de originamento dependente (a saber, ignorância, ação conectiva, consciência, nome & forma, fontes, contato, sensação, desejo, avidez, existência, nascimento e envelhecimento & morte), e o signo zodiacal da pessoa. Neste sistema, calcula-se o período de vida até um máximo de 108 anos.
 

‘Byung-rTsis

 O sistema ‘Byung-rTsis, ou Elemental, não usa cálculos matemáticos, embora seja considerada a melhor maneira de prever a futura felicidade ou infortúnio de uma pessoa. Os elementos Metal, Água, Fogo, Terra e Madeira são caracterizados pela função de corte, umidade, calor, solidez e movimento, respectivamente. Sua interrelação é similar à que existe entre mãe, filho, inimigo e amigo. Sua principal finalidade é determinar, na vida de uma pessoa, os perigos, doenças, riqueza e sorte no trabalho e negócios, e o astrólogo irá ressaltar diferentes temas para cada tipo de indivíduo. Para os homens, será dada especial atenção à segurança de vida e a evitarem-se os males; para os jovens e os idosos, será enfatizada a saúde; para os administradores, sucesso nos negócios; e para as mulheres, capacitação e prosperidade.
Após o momento da concepção, o desenvolvimento do feto ocorre segundo os cinco elementos, e durante nossa vida, nosso estado de conforto e desconforto depende do estado de harmonia ou perturbação dos cinco elementos. Finalmente, quando morremos, o processo da morte é uma dissolução gradual dos elementos em seqüência: a Terra é absorvida pela Água, que, por sua vez, é absorvida pelo Fogo. O Fogo é absorvido pelo Ar ou Madeira, que é finalmente absorvida pelo Espaço ou Metal.
Quando os elementos não estão perturbados, a pessoa vivencia felicidade. Quando estão em estado de desequilíbrio, a pessoa sofre e vivencia doenças e até mesmo a morte. O horóscopo de um bebê recém-nascido é calculado de acordo com o sistema elemental baseado no ano, mês, dia e hora do nascimento. Além disto, concidera-se o respectivo elemento da criança, o signo animal, o sParkha natal e o sMewa natal, e os elementos e signos dos pais. Estes são coordenados com os cinco elementos para criar cálculos simples ou complexos, resultando em um mapa com a marca de um “O” ou pedra branca, denotando combinações auspiciosas; ou um “X” ou pedra negra, para denotar combinações não-auspiciosas.
Os doze signos animais usados de acordo com a astrologia elemental são: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Ovelha, Macaco, Ave, Cachorro e Porco. As combinações mais desfavoráveis de animais, no tocante às relações entre pessoas nascidas durante esses anos, são: Rato e Cavalo, Boi e Ovelha, Tigre e Macaco, Coelho e Ave, Dragão e Cachorro, Serpente e Porco. Em segundo lugar de desfavorabilidade, vêm as seguintes combinações: para o Rato (Coelho e Ave), Boi (Dragão e Cão), Tigre (Serpente e Porco), Coelho (Cavalo e Rato), Ovelha (Cão e Dragão), Macaco (Porco e Serpente), Ave (Rato e Cavalo), Cão (Boi e Ovelha), Porco (Tigre e Macaco).
O astro-praticante pode oferecer diretrizes e sugestões baseadas em um, dois, ou em todos os três tipos de horóscopo (isto é, Vogais que Dão Origem, Kalachakra e Astrologia Elemental). Se as informações necessárias para os cálculos forem exatas, e se as recomendações forem recebidas conforme sugerido, seguindo-se os sistemas mencionados, existe, então, a melhor oportunidade possível para viver-se a vida com prosperidade.
 
 
 

(ilustração)
 
 
 
 
 
 
 
 

Mapa Amuleto
 
 
 
 
 
 
 

(ilustração)
 

Thangka de Sridpa-Ho
 
BREVE INTRODUÇÃO AO
Sridpa-Ho
 
 

Panorama histórico

Sridpa-Ho é a linguagem simbólica da astrologia, e representa os signos e símbolos do universo e seus seres sencientes. Através de toda a história da astrologia tibetana, ela tem sido interpretada por muitos diferentes tradutores, estudiosos e Lamas, com graus variados de consistência. O Regente do quinto Dalai Lama, sDe-Srid Sangs-rGyas rGyatso, foi um especialista em todos os campos do saber tibetano, inclusive as Astro-ciências, e pôde padronizar muitos campos de estudo. A arte da pintura thangka, com seus miríades de possibilidades de símbolos e estilos, tornou-se também padronizada com a ajuda de estudiosos e tradutores como as princesas chinesas Kong-Jo, Me nya zin e Ka-lak. Desde o século XVII, esse sistema de representar o Sridpa-Ho espalhou-se como o vento, por todo o Tibete.
 

Descrição de Sridpa-Ho

A figura central do Sridpa-Ho é uma grande tartaruga de ouro, a manifestação do Senhor Manjushri, deitada de costas e rodeada de chamas, como proteção contra a má sorte. Sobre a barriga da tartaruga aparecem camadas de círculos. Os mais internos são os nove números quadrados mágicos (sMewa dGu), e na camada do meio estão oito trigramas (sPar Kha brGyad), acompanhados pelas doze manifestações animais dos seis deuses e seis deusas que influenciam aquele determinado ano. Abaixo da cauda da tartaruga estão os símbolos tradicionais dos oito planetas: (de cima para baixo) Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, Saturno e Rahu. Ao lado esquerdo da tartaruga de ouro está o deus do elemento Madeira no Leste; o deus do elemento Fogo está sobre a cabeça no Sul; do lado esquerdo está o elemento Metal no Oeste; na cauda da tartaruga, o elemento Água está ao Norte. Nos quatro membros, o elemento Terra está representado pelos quatro pontos cardeais.
Na parte de baixo da thangka estão representadas duas rodas, uma à esquerda e outra à direita. Dentro destas “rodas de Ngan pa Kun thup”, baseadas na concepção de Khyung Nag Shagdar, estão escritos mantras sagrados de proteção, em conjunção com os oito sParkhas e os nove sMewas. De cada lado da thangka estão os símbolos das serpentes Naga e Nagina, espíritos da terra e deuses e deusas influenciando o ano, mês, dia e hora. À esquerda, no alto, está o rNam bChu dWang-lDan, um símbolo compilando as dez letras do mantra de Kalachakra, e à direita, no alto, está o mantra da essência dos nove números quadrados mágicos.
No topo da thangka estão representações de três deuses: Avalokitesvara, o deus da compaixão, à esquerda; Manjushri, o deus da sabedoria, ao centro; e Vajrapani, o deus da estabilidade, à direita. Acredita-se que o poder combinado dos três traga alívio de qualquer problema ou obstáculo.
 
 
 
 

Uso

A thangka do Sridpa-Ho encontra-se exposta em muitos lares das comunidades tibetanas. É geralmente pendurada em uma porta para impedir que os maus espíritos entrem na casa, e é considerada como uma espécie de amuleto de proteção contra a má sorte. O Sridpa-Ho pode ser exposto em muitas ocasiões auspiciosas ou não-auspiciosas, como a ocasião do casamento, nas transições importantes, na morte, ou na época da mudança de residência; ou pode ser exibida ao longo de todo o ano. Esta thangka desempenha um importante papel para todos da comunidade tibetana.
 
Perguntas mais freqüentes sobre a Astro-ciência tibetana

P.: Como é que a Medicina e a Astro-ciência tibetanas trabalham juntas, se não há uma conexão semelhante dentro dos sistemas indiano ou ocidental?

R.: Isto se deve à diferença de ideologia entre a Medicina tibetana e a ciência moderna. Segundo a Filosofia tibetana, o corpo humano é uma composição dos cinco elementos, e a doença pode ser percebida como um desequilíbrio entre estes elementos. Portanto, a doença só pode ser curada com a ajuda de remédios feitos dos mesmos cinco elementos. Os astrólogos tibetanos acreditam que todo o universo e seus habitantes são compostos dos elementos, e então a fabricação do remédio e a prescrição de um tratamento de cura só podem ser feitos por aqueles que tenham conhecimento dos princípios astrológicos e astronômicos.

P.: Que tipo de informação é necessário para o mapa natal ou horóscopo individual?

R.: A informação necessária é a data, hora local e lugar de nascimento do indivíduo.

P.: A Astro-ciência tibetana é mais comparável aos sistemas da Índia e da China, ou ao do Ocidente?

R.: Temos dois sistemas principais: o Byuns-rTsis (astrologia Elemental) e o sKar-rTsis (Astronomia). A parte astronômica é mais próxima do sistema indiano, e tem algumas informações em comum com o sistema ocidental, enquanto que a parte astrológica tem mais em comum com o sistema chinês clássico.

P.: Qual a importância da hora de nascimento para o horóscopo? E se a hora do nascimento for desconhecida?

R.: A hora do nascimento é vital para calcular-se o horóscopo do indivíduo. Para aqueles que não sabem sua hora de nascimento, pode ser esboçado um horóscopo simplificado, com as características comportamentais do indivíduo, seus gostos e aversões, a compatibilidade com certas cores, etc., mas sem maiores detalhes.

P.: Qual é o percentual de precisão nos mapas astrológicos tibetanos?

R.: 75 a 80 por cento das informações dadas no mapa são precisos se as informações solicitadas para calcular o mapa forem corretas.

P.: As Astro-ciências podem ser estudadas pelo público tibetano em geral, ou somente por monges e monjas?

R.: Em geral, as Astro-ciências podem ser estudadas por qualquer pessoa, especialmente médicos e praticantes tântricos, de qualquer sexo. No entanto, antigamente, na Escola Tibetana de Astrologia e Medicina em Lhasa (Lhasa Men-Tsee-Khang), a admissão limitava-se a monges e militares.

P.: Durante quanto tempo se precisa estudar para se tornar um astrólogo? Os ocidentais podem estudar Astrologia tibetana?

R.: Para se tornar um astro-praticante qualificado, deve-se estudar ao todo seis anos: cinco anos de teoria e um ano de estudos práticos. Atualmente, nossos estudantes têm que ser formados no nível Secundário Sênior (equivalente a 12 anos de escolaridade). Solicita-se que os ocidentais e outros não-tibetanos sejam proficientes em tibetano, tanto escrito quanto falado.

P.: Rahu e Ketu são planetas?  Se o forem, onde se localizam no sistema solar?

R.: Embora nós os categorizemos sob o nome tibetano de Sa (planeta), Rahu e Ketu são forças sombrias, sem corpo. O texto do Kalachakra fala de Rahu e Ketu como a cabeça e a cauda de um animal mitológico, geralmente um dragão, feito de pedras preciosas de cor azul-celeste. Como a cabeça e a cauda são da mesma cor do céu, é impossível vê-las, a não ser durante os períodos de eclipse solar e lunar. Nesse momento, o sol e a lua têm uma aparência vermelha ou vermelha-escura. Dentro do sistema solar eles podem ser também chamados de “nodos lunares”.

P.: Qual é o papel do astro-praticante para o país e seus cidadãos?

R.: Identificar os presentes e futuros problemas e obstáculos ao progresso, e mostrar os melhores caminhos e maneiras possíveis para o bem-estar do público em geral.

P.: Fazem-se mapas astrológicos para os Grandes Lamas?

R.: Nós acreditamos, e, mais ainda, é ensinado em nossos textos, que os mapas natais só são necessários para aqueles que são dependentes de marcas passadas e não podem renascer segundo seu próprio desejo. Os Grandes Lamas não são mais dependentes de marcas passadas, e têm total direito de renascer onde e quando desejarem.

P.: O mapa torna a pessoa mais eficiente para conduzir sua vida com mais sucesso e prosperidade?

R.: Ele tem, com certeza, um grande efeito, já que dá informações claras relativas aos pontos fracos que a pessoa deverá trabalhar, e, além disto, sobre a maneira pela qual o rumo da vida deve ser desenvolvido.

P.: O que é, especificamente, o amuleto feito pelos astro-praticantes? Há alguma diferença entre esses amuletos e aqueles que se recebe dos grandes lamas?

R.: Embora os dois tipos de amuleto sejam para proteção, os amuletos especialmente feitos pelo Astro-departamento têm a ver com o cálculo astrológico. Os amuletos feitos atualmente aqui são chamados “a Roda Amarela de Manjushri”. Há dois tipos principais: o Geral e o Específico. Os amuletos específicos exigem detalhes pessoais de nascimento e finalidade (p.ex., boa saúde, prosperidade no casamento, etc.), o que não ocorre com os gerais. Os gerais são feitos para proteger contra todas as negatividades e podem ser usados por todos.
 
Breve introdução ao
MAPA DOS ANOS
Início – 1014 a.C. – 2046 a.d.
 
 

A principal finalidade deste mapa é fornecer elementos para determinar a correspondência dos anos tibetano e gregoriano, e o ciclo Rab-Byung. Estas informações serão especialmente úteis para os Astro-praticantes e para aqueles que estejam envolvidos em pesquisa histórica.
O mapa é apresentado em sua forma mais simples, de modo que qualquer pessoa possa usá-lo sem dificuldade. Por exemplo, se a pessoa quiser encontrar o correspondente ano tibetano e número de Rab-Byung a que pertence o ano de 1998, é só ir diretamente à célula que contém o número 1998. Procure na linha superior o número de Rab-Byung e na coluna direita o elemento e signo animal. Busque na coluna da esquerda abaixo de “No.” o ano do ciclo Rab-Byung ao qual ele pertence.
Embora os anos possam ser calculados mais além, no passado e no futuro, constam somente os mapas dos anos entre 1014 a.C. – 2046 a.d., que parecem ser os de maior importância e necessidade. Este mapa dos anos foi feito com base no ciclo de sessenta anos, começando pelo ano do Coelho de Fogo, o ano no qual o sistema Kalachakra foi introduzido no Tibete.
 
 
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