PATRUL RINPOCHÊ
AS PALAVRAS DE MEU MESTRE PERFEITO
As Dificuldades de se obter as liberdades e vantagens
O principal assunto deste capítulo, o ensinamento sobre a dificuldade
de se obter as liberdades e vantagens, é precedido por uma explicação
sobre a forma apropriada de se ouvir a qualquer instrução
espiritual.
I. A FORMA APROPRIADA DE SE OUVIR UM ENSINAMENTO ESPIRITUAL.
A Atitude apropriada de se ouvir os ensinamentos tem dois aspectos:
a atitude e a conduta corretas.
1. Atitude
A atitude certa combina a atitude vasta da Bodhicitta, a mente da iluminação,
e os vastos meios hábeis do Mantrayana Secreto.
1.1. A VASTA ATITUDE DA BODHICITTA.
Não há um único ser no samsara, este oceano imenso
de sofrimento, que no curso de tempos sem começo não tenha
sido nosso pai ou mãe. Quando eles foram nossos pais, o único
pensamento desses seres era nos criar com a maior bondade possível,
protegendo-nos com grande amor e dando-nos o melhor de sua própria
comida e vestimenta.
Todos estes seres, que já foram tão bondosos conosco,
querem ser felizes, mas eles não têm a menor idéia
de como por em prática o que trás a felicidade, os dez atos
positivos. Nenhum deles quer sofrer, mas eles não sabem como
abandonar os dez atos negativos na raiz de todo o sofrimento. O desejo
mais profundo deles e o que eles fazem de fato contradizem um ao outro.
Pobres seres, perdidos e confusos, como um homem cego abandonado no meio
de uma planície vazia!
Diga a sí próprio: "Será para o bem-estar deles
que eu vou ouvir o Dharma profundo e pô-lo em prática.
Eu conduzirei todos esses seres, meus pais, atormentados pelas misérias
dos seis reinos de existência, para a budeidade onisciente, libertando-os
de todos os fenômenos cármicos, padrões de hábitos
e sofrimentos de cada um dos seis reinos". É importante que
se tenha essa atitude cada vez que você ouvir aos ensinamentos ou
praticá-los.
Sempre que você fizer algo positivo, seja de maior ou menor importância,
é indispensável aumentar isso através dos três
métodos supremos. Antes de começar, desperte a Bodhicitta
como um meio hábil que assegurará que o ato vai tornar-se
uma fonte benéfica para o futuro. Enquanto executa o ato,
evite envolver-se com qualquer conceitualização, de forma
que o mérito não seja destruído pelas circunstâncias.
No final, sele o ato apropriadamente dedicando o mérito, o que assegurará
que o mesmo continuamente crescerá.
A forma como você ouve ao Dharma é muito importante.
Contudo, mais importante ainda é a motivação com a
qual você o ouve.
O que faz um ato bom ou mau?
Não como ele é visto, nem se ele é grande ou pequeno.
Mas a boa ou má motivação por trás dele.
Não importa quantos ensinamentos você tenha ouvido, estar
motivado por preocupações comuns - tais como o desejo de
grandeza, fama ou o que quer que seja - não é a forma do
Dharma puro. Assim, antes de tudo, é da mais alta importância
que se observe o interior e mude sua motivação. Se
você puder corrigir sua atitude, os meios habilidosos permearão
seus atos positivos, e você terá iniciado o caminho dos grande
seres. Se você não puder, você pode até
pensar que está estudando ou praticando o Dharma, mas isso não
será mais do que uma aparência do daquilo que deveria ser.
Por isso, sempre que você ouvir aos ensinamentos ou sempre que você
praticar, seja meditando em uma deidade, fazendo prosternações
e circumabulações, ou recitando mantras - até mesmo
um simples mani - é sempre essencial que faça-se surgir a
Bodhicitta.
1.2. OS VASTOS MEIOS HABILIDOSOS: A ATITUDE DO MANTRAYANA SECRETO.
A Lanterna dos Três Métodos fala do Mantrayana Secreto:
Tem o mesmo objetivo, mas é livre de toda confusão,
É rico em métodos e sem dificuldades.
É para aqueles com faculdades aguçadas.
O Veículo do Mantra é sublime.
Pode-se entrar no Mantrayana por muitos caminhos. Ele possui muitos
métodos para a acumulação de mérito e sabedoria,
e meios habilidosos profundos para fazer o potencial dentro de nós
manifestar-se sem termos que nos submeter a grandes austeridades.
A base para esse método é a forma que nós direcionamos
nossas aspirações:
Tudo é circunstancial
e depende inteiramente da nossa aspiração.
Não considere o lugar onde o Dharma está sendo ensinado,
o professor, os ensinamentos e etc, como comuns e impuros. A medida
que você ouve, mantenha as cinco perfeições de
forma clara na mente:
O lugar perfeito é o refúgio de extensão absoluta,
chamado Akanishtha, "O Insuperável". O professor perfeito
é Samantabhadra, o dharmakaya. A assembléia perfeita
consiste dos bodhisattvas masculinos e femininos e as deidades da linhagem
mental dos Conquistadores e da linhagem simbólica dos Vidyadharas.
Ou você pode considerar que o lugar onde o Dharma está
sendo ensinado é o Palácio da Luz de Lótus da Montanha
Cor de Cobre Gloriosa, o professor que ensina é Padmasambhava de
Uddiyana, e nós, a audiência, somos os Oito Vidyadharas, os
Vinte e Cinco Discípulos, e os dakas e dakinis.
Ou considere que o lugar perfeito é o Campo Búdico Oriental,
Alegria Manifesta, onde o professor perfeito Vajrasattva, o perfeito sambhogakaya,
está ensinando a assembléia das divindades da Família
Vajra e o Bodhisattvas masculinos e femininos.
Igualmente bem, o lugar perfeito onde o Dharma está sendo ensinado,
pode ser o Campo Búdico Ocidental, a Beatitude, o professor perfeito
o Buddha Amitaba, e a assembléia dos Bodhisattvas masculinos e femininos,
e divindades da família Lótus.
Sempre que for o caso, o ensinamento é aquele do Grande Veículo,
e o tempo é a roda sempre giratória do tempo.
Estas visualizações sã para ajudar-nos a compreender
como as coisas são na realidade. Não é que estejamos
temporariamente criando algo que não existe de fato.
O professor incorpora a essência de todos os Buddhas através
dos três tempos. Ele é a união das Três
Jóias: seu corpo é a Sangha, sua palavra é o Dharma,
sua mente o Buddha. Ele é a união das Três Raízes:
seu corpo é o professor, sua palavra o yidam, sua mente as dakini.
Ele é a união dos três kayas: seu corpo é o
nirmanakaya, sua palavra o sambhogakaya, sua mente o dharmakaya.
Ele é a encorporação de todos os Buddhas do passado,
fonte de todos os Buddhas do futuro e o representante de todos os Buddhas
do presente. Uma vez que ele aceita como seus discípulos seres
degenerados como nós, os quais nenhum dos Buddhas do Bom Kalpa poderia
ajudar, sua compaixão e bênçãos excede aquela
de todos os Buddhas.
O professor é o Buddha, o professor é o Dharma,
O professor é também a Sangha.
O professor é aquele que realiza todas as coisas.
O professor é o Glorioso Vajradhara.
Nós, a assembléia reunida para ouvir aos ensinamentos,
usamos nossa própria natureza de Buddha, o suporte da nossa preciosa
vida humana, a circunstância de termos um amigo espiritual e o método
de seguirmos seus conselhos, para tornarmos os Buddhas do futuro.
Como o Hevajra Tantra diz:
Todos os seres são Buddhas,
Mas isto é ocultado pelas impurezas que se acumulam.
Quando suas impurezas são purificadas, a Budeidade é
revelada.
2. Conduta.
A conduta correta quando se ouve aos ensinamentos é descrita
em termos do que se evitar e do que se fazer.
2.1. O QUE SE EVITAR.
O que se evitar inclui os três defeitos do pote, as seis impurezas
e as cinco formas de recordar.
2.1.1. Os Três Defeitos do Pote.
Não ouvir é ser como um pote virado de cabeça para
baixo. Não ser capaz de reter o que você ouve é
ser como um pote com um buraco. Misturar as emoções
negativas com o que você ouve é ser como um pote com
veneno.
O pote virado de cabeça para baixo. Quando você
estiver ouvindo aos ensinamentos, ouça ao que está sendo
dito e não deixe-se estar distraído por mais nada.
Doutra forma, você será como um pote de cabeça para
baixo, no qual um líquido é lançado. Embora
você esteja fisicamente presente, você não ouve uma
palavra do ensinamento.
O pote com um buraco. Se você apenas ouvir, sem conseguir
lembrar nada do que você ouve ou compreende, você será
como um pote com um buraco: não importa quanto líqüido
seja lançado nele, nada pode ser retido. Não importa
quantos ensinamentos você ouça, você nunca assimila
ou os coloca em prática.
O pote contendo veneno. Se você ouvir aos ensinamentos
com a atitude errada, tal como o desejo de tornar-se grande e famoso, ou
com a mente cheia dos cinco venenos, o Dharma não terá o
efeito esperado de ajudar a sua mente; e ele também será
transformado em algo que não é, de forma alguma, Dharma,
semelhante a um néctar lançado num pote contendo veneno.
Essa é a razão do sábio indiano, Padampa Sangye,
ter dito:
Ouça aos ensinamentos como um veado ouvindo música;
Contemple-as como um nômade do norte tosquiando uma ovelha;
Medite neles como um mudo saboreando um alimento;
Pratique-os como um yak faminto comento grama;
Atinja seus resultados como o sol surgindo por detrás
das núvens.
Quando estiver ouvindo aos ensinamentos, você deve ser como um
veado hipnotizado pelo som do vina, de tal forma que não percebe
o caçador escondido atirando uma flecha envenenada. Ponha
suas mãos juntas e ouça, tendo cada poro de seu corpo em
ardência e com seus olhos molhados com lágrimas, nunca permitindo
qualquer outro pensamento atravessar o caminho.
Não é bom ouvir somente com o corpo fisicamente presente,
enquanto sua mente se desconecta, vagueando atrás dos pensamentos
e sua palavra fica solta envolvida com rios de fofoca, falando o que gosta
e olhando para tudo ao redor. Quando estiver ouvindo a ensinamentos,
você deve até mesmo parar de recitar mantras e orações,
ou quaisquer outras atividades meritórias que você possa estar
fazendo.
Após ter ouvido apropriadamente a um ensinamento como foi ensinado,
é então também importante que se retenha o significado
daquilo que foi dito sem esquecimento, e continuamente pô-lo em prática.
Pois, como o próprio Grande Sábio disse:
Eu mostrei para vocês os métodos
Que conduzem à liberação.
Mas vocês precisam saber
Que a liberação depende de vocês mesmos.
O professor dá instruções ao discípulo,
explicando como ouvir ao Dharma e como praticá-lo, como abandonar
os atos negativos, como executar os atos positivos, e como praticar.
Fica por conta do discípulo a lembrança das instruções,
sem esquecer nada; pô-las em prática; e realizá-las.
Apenas ouvir ao Dharma, talvez seja de algum benefício por sí
só. Mas, a menos que você lembre aquilo que você
ouviu, você não terá o menor conhecimento das palavras
e nem do significado do ensinamento - o que não diferente de não
se ter ouvido nada.
Se você lembrar dos ensinamentos, mas misturá-los com
suas emoções negativas, eles nunca serão o Dharma
puro. Como o incomparável Dagpo Rinpoche ensina:
A menos que você pratique o Dharma de acordo com o Dharma,
O Dharma transforma-se na causa de renascimentos malignos.
Livre-se de cada pensamento errôneo com respeito ao professor
e o Dharma, não critique ou faça o uso errado de seus irmãos
espirituais e companheiros, esteja liberto do orgulho e do desprezo, abandone
todos os pensamentos maus. Pois todas essas coisas causam renascimentos
inferiores.
2.1.2. Os Seis Venenos.
Na Argumentação Bem Explicada é dito:
Orgulho, falta de fé e falta de esforço,
Distrações externas, tensão interna e desencorajamento;
Estas são os seis venenos.
Evite estes seis: orgulhosamente crer-se superior ao professor que está
explicando o Dharma, não confiar no mestre e nos seus ensinamentos,
fracassar em aplicar a si o Dharma, distrair-se por eventos externos, focar
seus cinco sentidos muito intensamente para dentro de sí, e desencorajar-se
se, por exemplo, um ensinamento é muito longo.
De todas as emoções negativas, o orgulho e a inveja são
as mais difíceis de serem reconhecidas. Por isso, examine
sua mente minuciosamente. Qualquer sentimento, mínimo que
seja, de que há algo de especial em suas próprias qualidades,
espirituais ou materiais, fará você cego às suas próprias
faltas e insensível às boas qualidades dos outros.
Assim, renuncie ao orgulho e sempre tome um assento mais inferior.
Se você não tiver fé, o acesso ao Dharma está
bloqueado. Dos quatro tipos de fé, aspire pela fé que
é irreversível (fé vívida, fé desejosa,
fé confiante, e fé irreversível).
Seu interesse no Dharma é a base do que você alcançará.
Então, dependendo se seu grau de interesse é superior, médio
ou inferior, você se tornara praticante superior, médio ou
inferior. E se você, de forma nenhuma, estiver interessado
no Dharma, não haverá, de forma alguma, resultados.
Como um para provérbio diz:
O Dharma não é propriedade de ninguém. Ele
pertence àquele que estiver mais interessado.
O próprio Buddha obteve os ensinamentos ao preço de centenas
de austeridades. Para obter um simples verso de quatro linhas, ele
perfurou buracos em sua própria carne para serem usados como oferta
de luzes, preenchendo tais buracos com óleo e colocando neles milhares
de pavios acesos. Ele pulou dentro de fossos flamejantes, e perfurou
seu corpo com mil pregos (Estes exemplos tirados das histórias das
vidas anteriores do Buddha servem para ilustrar o nível do seu comprometimento,
e não devem ser tomadas como uma recomendação à
prática do ascetismo extremo).
Mesmo que você tenha que enfrentar infernos em chamas ou afiadas
lâminas de navalhas,
Busque o Dharma até que morra.
Ouça aos ensinamentos, por essa razão, com grande esforço,
ignorando o calor, o frio e todas as outras adversidades.
A tendência da consciência ficar absorta com os objetos
dos seis sentidos (a mente é o sexto sentido) é a raiz de
todas as alucinações do samsara e a fonte de todos os sofrimentos.
É assim como a mariposa morre na chama da vela, pois devido à
sua consciência visual é atraída pelas formas; como
o cervo é morto pelo caçador por ser atraído pelos
sons; como as abelhas são engolidas pelas plantas carnívoras,
seduzidas por seu cheiro; como o peixe é pego, com seu paladar o
atraindo pelo sabor da isca; como os elefantes afundam no pântano
pelo prazer da sensação física causada pela lama.
Da mesma forma, sempre que você ouvir ao Dharma, a um ensinamento,
quando meditar ou praticar, é importante não seguir as tendências
do passado, não sonhar sobre o futuro e não permitir que
seus pensamentos daquele momento sejam distraídos por nada ao seu
redor. Como Gyalse Rinpoche ensina:
Suas alegria e dores do passado são como desenhos sobre a água:
Nenhum traço deles permanece. Não corra atrás
deles!
Mas, caso eles surjam em sua mente, reflita como o sucesso e o fracasso
vêm e vão.
Há qualquer outro objetivo no Dharma, recitadores de mani?
Seus projetos e planos para o futuro são como redes (de pesca)
lançadas no leito de um rio seco:
Eles nunca te darão o que você quer. Limite seus
desejos e aspirações!
Mas, caso eles surjam em sua mente, pense o quão incerto isso
será quando você morrer.
Vocês conseguem tempo para qualquer outra coisa além do
Dharma, recitadores de mani?
Seus trabalho presente é como um serviço em um sonho.
Uma vez que todos tais esforços são sem objetivos, lance-os
a parte.
Considere até mesmo seus vencimentos honestos sem qualquer apego.
As atividades são sem essência, recitadores de mani!
Entre as sessões de meditação, aprenda a controlar
dessa forma todos os pensamentos surgindo dos três venenos;
Até que todos os pensamentos e percepções surjam
como o dharmakaya,
Isto é indispensável - lembrar sempre que você
precisar,
Não dê rédeas aos pensamentos iludidos, recitadores
de mani!
Também é dito:
Não convide o futuro. Se você o convidar,
Você é como o pai da Lua Famosa!
Isto refere-se à história de um homem pobre que
achou um grande monte de cevada. Ele colocou tudo em um grande saco,
pendurou na viga de uma casa, e deitou-se bem debaixo e começou
a sonhar acordado.
"Esta cevada vai fazer-me uma pessoa bem rica", ele pensou. "Uma
vez rico, eu vou conseguir uma esposa... ela vai ter um menino...
Como vou chamá-lo?"
Foi naquele momento que a lua apareceu, e ele decidiu chamar seu filho
de Lua Famosa. Contudo, durante todo o tempo um rato estava roendo
a corda que segurava o saco de cevada. A corda subitamente partiu-se
com um estalo, o saco caiu sobre o homem e ele morreu.
Tais sonhos sobre o passado e o futuro nunca se realizarão,
e são apenas uma distração. Abandone todos eles.
Seja atento e ouça com atenção e cuidado.
Não focalize muito intensamente, escolhendo palavras individuais
ou partes, como um urso dremo desencavando marmotas - toda vez que você
lança mão de um item, você esquece o anterior, e nunca
consegue compreender o todo. Muita concentração também
leva à sonolência. No lugar disso, mantenha um balanço
entre o rigor e a frouxidão.
Uma vez, no passado, Ananda estava ensinando Shrona a meditar.
Shrona estava tendo muita dificuldade para compreender da forma correta.
Algumas vezes ele ficava muito tenso, noutras vezes, muito relaxado.
Shrona decidiu discutir o assunto como o Buddha, o qual perguntou a ele:
"Quando você era um leigo, você era um bom tocador de vina,
não era?"
"Sim, eu tocava muito bem."
"Sua vina soava melhor quando as cordas estavam muito frouxas ou quando
elas estavam muito esticadas?"
"O instrumento soava melhor quando as cordas não estavam nem
muito esticadas, e nem muito frouxas."
"É o mesmo para sua mente," disse o Buddha; e praticando com
aquele conselho Shrona alcançou o seu objetivo.
Machik Labdrön diz:
Esteja firmemente concentrado e vagamente relaxado:
Aqui está um ponto essencial para a Visão.
Não deixe sua mente ficar muito tensa ou muito concentrada internamente;
deixe seus sentidos estarem naturalmente à vontade, equilibrada
entre a tensão e o relaxamento.
Você não deve cansar-se de ouvir aos ensinamentos.
Não se sinta desencorajado quando ficar com fome ou sede durante
um ensinamento, que continua por muito tempo, ou quando você tiver
que enfrentar desconforto causado pelo vento, sol, chuva e etc. Simplesmente
fique feliz por você ser detentor nesse momento das liberdades e
vantagens da vida humana, por você ter encontrado um professor autêntico,
e por você ser capaz de ouvir às suas instruções
profundas.
O fato de que você está neste momento ouvindo ao Dharma
profundo é o fruto de méritos acumulados durante inumeráveis
kalpas. É como se por toda sua vida você só conseguisse
comer uma única refeição num espaço de tempo
em que 100 refeições deveriam ser feitas. Assim, é
imperativo que se ouça com alegria, fazendo votos de suportar o
calor, o frio e quaisquer provações e dificuldades que possam
surgir, a fim de se receber estes ensinamentos.
2.1.3. As Cinco Formas Erradas de se Lembrar.
Evite lembrar as palavras, mas esquecer o significado,
Ou lembrar o significado, mas esquecer as palavras.
Evite lembrar ambos, sem ter compreensão,
Lembrar fora de ordem, ou lembrar incorretamente.
Não dê importância indevida a formas elegantes de
discursos, sem fazer qualquer tentativa de analisar o significado profundo
das palavras, como uma criança coletando flores. As palavras
somente não são de benefício para a mente. Por
outro lado, não desconsidere a forma na qual os ensinamentos são
expressados, como sendo apenas palavras e por isso dispensáveis.
Pois, mesmo que você lembre o significado profundo, você não
mais terá os meios através dos quais expressar os ensinamentos.
As palavras e os significados terão perdido sua conexão.
Se você lembrar dos ensinamentos sem identificar os diferentes
níveis - o significado oportuno, o significado real e o significado
indireto - você ficará confuso quanto às palavras
a serem utilizadas. Isto pode te conduzir para longe do Dharma verdadeiro.
Se você lembrar fora de ordem, você vai misturar a seqüência
apropriada do ensinamento, e cada vez que você ouvir, explicar ou
meditar no ensinamento, a confusão será multiplicada.
Se você lembrar incorretamente o que foi dito, idéias errôneas
sem fim proliferarão. Isto estragará sua mente e degradará
o Dharma. Evite todos esses erros e lembre cada ponto - as palavras, o
significado e a ordem dos ensinamentos - sem qualquer erro.
Mesmo que o ensinamento seja longo e difícil, não sinta-se
desencorajado, e considere que haverá um fim; persevere. E
mesmo que o ensinamento seja simples e curto, não o desvalorize
como sendo algo elementar.
2.2. O QUE FAZER.
A conduta a ser adotada enquanto se ouve aos ensinamentos é
explicada como as quatro metáforas, as seis perfeições
transcendentes, e outros modos de conduta.
2.2.1. As Quatro Metáforas.
O Sutra Disposto como uma Árvore ensina:
Oh Nobre, você deve pensar de ti mesmo como alguém
que está doente,
Do Dharma como o remédio,
Do amigo espiritual como um médico habilidoso
E da prática da diligência como o forma de recuperar-se.
Nós estamos doentes. Desde tempos sem começo,
neste imenso oceano de sofrimento que é o samsara, somos constantemente
atormentados pela doença dos três venenos e seus frutos, os
três tipos de sofrimento.
Quando as pessoas ficam seriamente enfermas, elas vão consultar
um bom médico. Elas seguem a orientação médica,
tomam quaisquer remédios que ele prescreva, e fazem de tudo para
superarem a doença e sentirem-se bem. Da mesma forma, vocês
precisam curarem-se das doenças do carma, das emoções
negativas e dos sofrimentos, seguindo as prescrições do médico
experiente, o autêntico professor, e tomando o remédio do
Dharma.
Seguir um professor sem fazer o que ele ensina é como desobedecer
seu médico, o que tira dele qualquer chance de tratar sua doença.
Não tomar o remédio do Dharma - isto é, não
pô-los em prática - é como ter diversos medicamentos
e orientações debaixo de sua cama sem nunca tocá-los.
Isso fará que sua doença nunca seja curada.
Nestes dias, as pessoas dizem cheias de otimismo: "Lama,
olhai-me com compaixão!" achando que mesmo que elas façam
coisas terríveis, elas nunca padecerão as conseqüências.
Eles crêem que o professor, e sua compaixão, os arremessará
para os reinos celestes como se ele estivesse lançando uma pedra.
Contudo, quando falamos do professor nos mantendo em sua compaixão,
o que isso realmente significa é que ele amorosamente nos aceita
como seus discípulos, e que ele nos dá suas instruções
profundas, abre nossos olhos para o que fazer e o que não fazer,
mostra-nos o caminho para a liberação ensinado pelo Conquistador.
Que maior compaixão poderia haver? Depende de nós se
aproveitamos ou não de tal compaixão, e verdadeiramente buscamos
o caminho da liberação.
Agora que nós temos este nascimento humano livre e bem-dotado,
agora que nós sabemos o que devemos e não devemos fazer,
nossa decisão neste momento crucial, quando temos a liberdade de
escolha, sinaliza aquele ponto de mudança que determinará
nossa sorte, para melhor ou para pior para o futuro. É crucial
que nós escolhamos entre o samsara e o nirvana de uma vez por todas,
e que coloquemos as instruções de nosso professor em prática.
Aqueles que celebram as cerimônias nos vilarejos farão
com que você acredite que no seu leito de morte, você ainda
pode subir ou descer, como se você estivesse conduzindo um cavalo
pelas rédeas. Contudo, naquele momento, a menos que você
tenha dominado o caminho, os ventos violentos de suas ações
passadas te perseguirão, enquanto diante de ti uma escuridão
negra avança rapidamente em sua direção, a medida
em que você é levado impotentemente pelo caminho longo e perigoso
do estado intermediário. Os inumeráveis carrascos do
Senhor da Morte te perseguirão gritando: "Mata! Mata! Bate! Bate!
Como poderia em tal momento - quando não há lugar nenhum
para se correr ou para se esconder, nenhum refúgio e nenhuma esperança,
quando você está desesperado e sem ter a menor idéia
do que fazer - como poderia em tal momento ser um ponto de mudança
ao seu controle? Como o Grande de Uddiyana diz:
Quando o "empowerment" está sendo dado à
carta onde lê-se o seu nome,
é muito tarde ! Sua consciência, já vagueando
no estado intermediário
como um cachorro maluco, vai achar muito difícil pensar sobre
reinos superiores.
De fato, o ponto de mudança, o único momento que você
pode realmente direcionar-se para cima ou para baixo como estivesse conduzindo
um cavalo pelas rédeas, é agora, enquanto você ainda
está vivo
Como um ser-humano, seus atos positivos são mais poderosos do
que aqueles dos outros tipos de seres. Isto dá a você,
por outro lado, uma oportunidade aqui e agora, nesta exata vida, de abandonar
o ciclo de renascimento de uma vez por todas. Mas seus atos negativos
também são mais poderosos também; assim também
é muito provável, por outro lado, que você nunca se
liberte das profundezas dos reinos inferiores. Assim, agora que você
encontrou um professor, um médico habilidoso, e o Dharma, o elixir
que subjuga a morte, este é o momento de utilizarmos as quatro metáforas,
colocando o que você ouviu em prática, e trilhando o caminho
da liberação.
O Tesouro de Preciosas Qualidades descreve quatro noções
erradas que devem ser evitadas, as quais são o oposto das quatro
metáforas que nós mencionamos:
Homens de língua curta com tendências malignas
Aproximam-se do professor como se ele fosse um almiscareiro.
Após terem extraído o almíscar, o perfeito Dharma,
Cheios de alegria, desdenham a samaya (laços sagrados entre
professor e discípulos, e também entre os discípulos).
Tais pessoas comportam-se como se seu professor espiritual fosse
um almiscareiro, o Dharma o almíscar, e eles próprios como
os caçadores, e a prática intensa a forma de matar o almiscareiro
com um flecha ou armadilha. Eles praticam os ensinamentos que receberam
e não sentem qualquer gratidão para com o professor.
Eles usam o Dharma para acumularem atos malignos, amarrando ao redor de
seus próprios pescoços a pedra que vai arrastá-los
para baixo, para as profundezas dos reinos inferiores.
2.2.2. As Seis Perfeições Transcendentes.
No Tantra da Completa Compreensão das Instruções
sobre Todas as Práticas Dhármicas, é dito:
Faça ofertas excelentes, tais como flores e almofadas,
Coloque o lugar em ordem e controle seu comportamento,
Não cause mal nem mesmo a um inseto,
Tenha fé genuína em seu professor,
Ouça às suas instruções sem distração
E faça perguntas a ele para dissipar suas dúvidas;
Estas são as seis perfeições transcendentes.
Um pessoa ouvindo aos ensinamentos deve praticar as seis perfeições
transcendentes, como se segue:
Prepare o assento do professor, disponha almofadas sobre o assento,
ofereça uma mandala, flores e outras ofertas. Isto é
a prática da generosidade.
Varra o local ou cômodo, depois assente a poeira com água,
e refreie-se contra quaisquer atitudes desrespeitosas . Isto é
a prática da disciplina.
Evite causar mal até mesmo ao menor dos insetos, e suporte calor,
frio e quaisquer outras dificuldades. Isto é a prática
da paciência.
Coloque de lado quaisquer visões errôneas concernentes
ao professor e ao ensinamento, e ouça alegremente com fé
genuína. Isto é a prática da diligência.
Ouça às instruções do Lama sem distrair-se.
Isto é a prática da concentração.
Faça perguntas para dissolver quaisquer faltas de convencimento
e dúvidas. Isto é a prática da sabedoria.
2.2.3. Outros Modos de Conduta.
Todas as formas de comportamento desrespeitoso deve ser evitado.
O Vinaya diz:
Não ensine àqueles que não têm respeito,
Àqueles que cobrem suas cabeças mesmo estando em bom
estado de saúde,
Àqueles que carregam porretes, armas e sombrinhas
Ou àqueles cuja cabeças estão embrulhadas em turbantes.
E os Jatakas:
Tome o assento mais baixo.
Cultive o comportamento digno da disciplina completa.
Com seus olhos transbordando de felicidade,
Sorva as palavras como um néctar
E esteja completamente concentrado.
Esta é a forma de ouvir-se aos ensinamentos.
II. OS ENSINAMENTOS EM SI: UMA EXPLICAÇÃO DE COMO É
DIFÍCIL OBTER ÀS LIBERDADES E VANTAGENS (de um precioso nascimento
humano).
O assunto principal do capítulo é explicado em quatro
seções: refletindo na natureza da liberdade, refletindo nas
vantagens particulares relacionadas ao Dharma, refletindo em imagens que
mostram o quanto é difícil se obter as liberdades e vantagens,
e refletindo em comparações numéricas.
1. Refletindo na natureza da liberdade. (liberdade: não
escravo ou sob o controle de outrem; condição de estar livre,
sem restrições).
Em geral, aqui, "liberdade" significa ter a oportunidade de praticar
o Dharma, e não ter nascido em um dos oito estados sem tal oportunidade.
"Falta de liberdade" refere-se àqueles oito estados onde não
há tal oportunidade:
Nascer nos infernos, no reino dos pretas,
(nascer) como um animal, um deus de vida longa ou um bárbaro,
(nascer) tendo visões errôneas, nascer quando não
há um Buddha
ou nascer surdo e mudo; estes são os oito estados sem liberdade.
Os seres nascidos nos infernos não têm oportunidade de
praticar o Dharma por eles estarem constantemente atormentados pelo calor
e frio intensos.
Os pretas não têm a oportunidade de praticar o Dharma
por sofrerem a experiência da fome e da sede.
Os animais não têm oportunidade de praticar o Dharma por
estarem sujeitos a escravidão e sofrerem ataques de outros animais.
Os deuses de longa vida não têm oportunidade de praticar
o Dharma por passarem seu tempo em um estado de vazio mental.
Aqueles nascidos nos países fronteiriços (longe de um
local onde se ensina o Dharma) não têm a oportunidade de praticarem
o Dharma devido a doutrina do Buddha ser desconhecida em tais locais.
Aqueles que nascem como tirthikas (praticante de uma religião
não-budista ou de uma tradição filosófica
que detenham visões errôneas) ou com visões errôneas
similares, não têm a oportunidade de praticar o Dharma por
suas mentes estarem tão influenciadas por tais crenças equivocadas.
Aqueles nascidos durante um kalpa escuro não têm oportunidade
de praticarem o Dharma por nunca terem ouvido sobre as Três Jóias,
e por não poderem distinguir o bom do mau.
Aqueles nascidos mudos ou mentalmente deficientes não têm
a oportunidade de praticar o Dharma por suas faculdades serem incompletas.
Os habitantes dos três reinos inferiores de existência sofrem
com o calor, o frio, a fome, a sede e outros tormentos, os quais são
o resultado de seus atos negativos do passado; eles não têm
a oportunidade de praticar o Dharma.
"Bárbaros" significa aqueles que vivem nos trinta e dois países
fronteiriços, tais como o Lokatra, e todos aqueles que consideram
causar o malefício dos outros como um ato de fé, ou aqueles
selvagens que crêem que matar é bom. Estas pessoas os
territórios remotos, têm a forma humana, mas suas mentes carecem
da orientação correta e sintonizarem-se com o Dharma.
Herdando, de seus ancestrais, tais costumes perniciosos, tais como casamento
com a própria mãe, eles vivem de uma forma extremamente oposta
à prática do Dharma. Tudo que eles fazem é maligno,
e é nas técnicas de tais atividades prejudiciais, como matar
insetos e caçar animais, que eles de fato se excedem. A maioria
deles caem nos reinos inferiores logo após morrerem. Para
tais pessoas não há oportunidade de praticar o Dharma.
Os deuses de longa vida são aqueles deuses que estão
absorvidos em um estado de vazio mental. Os seres nascem neste reino
como resultado de crerem que a liberação é um estado
no qual todas as atividades mentais, boas e ruins, estão ausentes,
e de meditarem neste estado. Eles permanecem em tais estados de concentração
por vários kalpas a fio. Mas uma vez que o efeito dos atos
do passado que produziram a condição divina tenha se exaurido,
eles renascem nos reinos inferiores devido às suas visões
errôneas. Eles também carecem da oportunidade de praticarem
o Dharma.
O termo "visões errôneas" inclui, de forma geral, as crenças
eternalistas e niilistas, as quais são visões contrárias
e estranhas ao ensinamento do Buddha. Tais visões estragam
nossas mentes e nos impedem de aspirarmos pelo autêntico Dharma,
na medida em que não mais temos a oportunidade praticá-lo.
Aqui no Tibet, devido ao segundo Buddha, Padmasambhava de Uddiyana, confiou
a proteção da terra às doze Tenma (doze divindades
femininas locais que tomaram o voto, na presença de Padmasambhava,
de protegerem o Dharma), os tirthikas não puderam ainda se estabelecer.
Contudo, qualquer um, cujo entendimento seja como o dos tirthikas, e contrários
àquele dos autênticos Dharma e Mestres, serão, desse
modo, privados da oportunidade de praticarem de acordo com os ensinamentos
verdadeiros do Buddha. O monge Sunakshatra passou vinte e cinco anos
como assistente pessoal do Buddha, e mesmo assim, por ele não ter
nem um pouco de fé e manter em si visões errôneas,
terminou renascendo como um preta em um jardim.
Nascimento em um kalpa escuro significa renascer em um período
durante o qual não haja um Buddha. Em um universo onde nenhum
Buddha tenha aparecido, onde ninguém nunca sequer ouviu sobre as
Três Jóias. Como não há Dharma, não
há qualquer oportunidade de praticá-lo.
A mente de uma pessoa nascida surda e muda não pode funcionar
apropriadamente (Patrul Rinpoche viveu entre 1808-1887, e estava retransmitindo,
conforme os conhecimentos locais e da época, uma tradição
muito antiga) e o processo de audição, de ser exposto a eles,
de refletir neles e pô-los em prática está impedido.
A descrição surdo-mudo normalmente refere-se a uma disfunção
da palavra. Isso torna-se em uma condição sem a oportunidade
do Dharma, quando a habilidade de uso ou compreensão da linguagem
está ausente. Esta categoria, por essa razão, inclui
aqueles cuja deficiência mental os fazem incapazes de compreender
aos ensinamentos, e dessa forma os impede da oportunidade de praticá-los.
2. Refletindo nas vantagens particulares relacionadas ao Dharma.
Sob esse título estão incluídos cinco vantagens
individuais e cinco vantagens circunstanciais.
2.1. AS CINCO VANTAGENS INDIVIDUAIS.
Nagarjuna as lista da seguinte forma:
Nascer humano, em um local central, com todas as faculdades,
Sem um estilo de vida conflitante e com fé no Dharma.
Sem uma vida humana não seria possível nem mesmo
encontrarmos o Dharma. Assim, este corpo humano é a vantagem
do suporte.
Tivéssemos nascido em um local remoto, onde o Dharma nunca tivesse
sido ouvido, nós nunca o teríamos encontrado. Mas a
região onde você nasceu é central, no que diz
respeito ao Dharma, e você tem a vantagem do local.
Não ter todos os seus sentidos e faculdades intactas seria um
obstáculo para prática do Dharma. Se você está
livre de tais deficiências, você tem a vantagem de possuir
os sentidos e faculdades.
Se você tivesse um estilo de vida conflitual, você estaria
continuamente imerso em ações negativas e distante do Dharma.
Uma vez que você presentemente tem o desejo de ter atos positivos,
isto é a vantagem da intenção.
Se você não tivesse fé nos ensinamentos do Buddha,
você não teria qualquer inclinação pelo Dharma.
Ter a habilidade de voltar sua mente para o Dharma, da forma com você
está fazendo agora, constitui a vantagem da fé.
Devido a estas cinco vantagens necessitarem estar completas com relação
a índole do indivíduo, elas são chamadas de cinco
vantagens individuais.
Para realizarmos a verdadeira natureza do Dharma autêntico, é
absolutamente necessário ser um ser-humano. Agora, suponha
que você não tenha o suporte de uma forma humana, mas tenha
a forma mais elevada de vida dos três reinos inferiores de existência,
isso é, a forma de um animal - digamos o mais belo e mais
premiado animal conhecido pelo homem. Se te dissessem: "diga Om Mani
Peme Hung uma vez, e você se tornará um Buddha", você
seria totalmente incapaz de compreender tais palavras ou perceber o seu
significado, nem mesmo seria capaz de pronunciar uma palavra. De
fato, mesmo se você estivesse morrendo devido ao frio, você
não seria capaz de pensar em algo, a não ser deitar sobre
um monte de folhas - ao passo que um ser-humano, não
importa o quanto fraco esteja, saberia como abrigar-se em uma caverna ou
debaixo de uma árvore, juntaria madeira e faria uma fogueira para
aquecer seu rosto e mãos. Se os animais são incapazes
até mesmo de coisas tão simples, como poderiam eles conceber
a prática do Dharma?
Os deuses e outros seres do gênero, embora superiores em sua
forma física, não reúnem as exigências colocadas
para tomar-se os votos de praimoksha, e por isso não conseguem assimilar
o Dharma em sua totalidade.
Quanto ao que se quer dizer por "região central", devemos distingüir
entre uma região geograficamente central e um lugar que é
central em termos do Dharma.
Geograficamente falando, a região central é geralmente
chamadas de o Assento Vajra em Bodh Gaya (referindo-se ao local sobre o
qual o Buddha sentava quando atingiu a iluminação.
É considerado como o centro do mundo) na Índia, ao centro
de Jambudvipa, o Continente do Sul. Os mil Buddhas do Bom Kalpa,
todos alcançarão a iluminação lá.
Mesmo na destruição universal no final do kalpa, os quatro
elementos não poderão causar danos ao local, e permanecerá
lá como se suspenso no espaço. No seu centro ergue-se
a Árvore da Iluminação. Este lugar, com todas
as cidades da Índia ao redor, é por essa razão considerada
a região central em termos geográficos.
Em termos dhármicos, um local central é onde quer que
o Dharma - os ensinamentos do Senhor Buddha - existe. Todas as outras
regiões são chamadas periféricas.
Em um passado distante, no tempo em que o Senhor Buddha veio a este
mundo, e durante o tempo em que suas doutrinas ainda existiam na Índia,
aquela terra era central tanto em termos geográficos como Dhármicos.
Contudo, agora que o local caiu nas mãos dos tirthikas e a doutrina
do Conquistador desapareceu daquela região, no que diz respeito
ao Dharma, até mesmo Bodh Gaya é um local periférico.
Nos dias do Buddha, o Tibet, o País das Neves, era chamado de
"o país fronteiriço do Tibet", pois era uma terra pouco povoada,
na qual a doutrina não tinha ainda se espalhado. Mais tarde,
a população aumentou pouco a pouco, e lá reinaram
diversos reis que eram manifestações dos Buddhas. O
Dharma primeiro surgiu no Tibet durante o reino de Lha-Thothori Nyentsen,
quando o Sutra dos Ritos de Renúncia e Realização
e uma forma de tsa-tsa caíram sobre o telhado do palácio.
Cinco gerações mais tarde, de acordo com profecias que
ele entenderia o significado do sutra, surgiu o Rei do Dharma Songtsen
Gampo, uma emanação do Sublime Compassivo (Avalokiteshvara,
Tcherenzig - o Buddha da Compaixão). Durante o reinado de
Songtsen Gampo, o tradutor Thönmi Sambhota foi enviado à Índia
para estudar suas línguas e escritas. Quando retornou, ele
introduziu um alfabeto ao Tibet pela primeira vez. Ele traduziu para
o tibetano os vinte um sutras e tantras de Avalokiteshvara, O Segredo Poderoso
e vários outros textos. O próprio rei se manifestava
de múltiplas formas, e juntamente com seu ministro Gartongtsen,
ele usava meios milagrosos para defender o país. Ele tomou,
como rainhas, duas princesas, uma chinesa e uma do Nepal, as quais trouxeram
consigo numerosas representações do corpo, da palavra e mente
do Buddha, incluindo as estátuas chamadas de Jowo Mikyö Dorje
e o Jowo Shakyamuni (*) representantes em si do Buddha. O rei construiu
os grupos de tempos conhecidos como Thadul e Yangdul, dos quais o central
era o Rasa Trulnang. Desta forma ele estabeleceu o Buddhismo no Tibet.
(*) A princesa Wen-Ch'eng Kung-Chu, Kongjo para os tibetanos, era a
filha do imperador T'ai-tsung. A estátua que ela trouxe, chamada
Jowo Mikyö Dorje, era de Shakyamuni Buddha quando tinha doze anos,
e tinha sido presenteada ao imperador chinês por um rei budista de
Bengala; o templo Ramoche foi construído em 641 para abrigar
a estátua. A rainha Tritsun era filha do rei nepalês
Amsuvarman, e a estátua que ela trouxe, chamada Jowo Shakyamuni,
era do Buddha Shakyamuni quando tinha oito anos, e é o famoso Jowo
Rinpoche no Rasa Trulnang (Jokhang).
Seu quinto sucessor, Rei Trisong Detsen, convidou cento e oito pânditas
para o Tibet, incluindo Padmasambhava, o Preceptor de Uddiyana, o maior
dos detentores de mantra, inigualável por todos os três mundos.
Para representar a forma do Buddha, Trisong Detsen mandou construir templos,
incluindo o Samye "imutável, espontaneamente surgido". Para
representar a palavra do Buddha, o autêntico Dharma, cento e oito
tradutores, incluindo o grande Vajrotsana, aprenderam a arte de traduzir
e traduziram todos os principais sutras, tantras e shastras (comentários
sobre os ensinamentos do Buddha), na ocasião correntes na nobre
terra da Índia. Os "Sete Homens para Testar" e outros foram
ordenados monges, formando a Sangha, para representar a mente do Buddha.
Daquele época em diante, até o presente momento, os ensinamentos
do Buddha têm brilhado como o sol no Tibet, e, apesar dos altos e
baixos, a doutrina do Conquistador nunca se perdeu em quaisquer dos seus
aspectos, transmissão ou realização. Dessa forma,
o Tibet, no que diz respeito ao Dharma é um país central.
Uma pessoa, carecendo de quaisquer um dos cinco sentidos ou de suas
faculdade não satisfaz as exigências impostas para tomar os
votos monásticos. Além disso, alguém que não
tenha a boa sorte de ser capaz de as representações do Conquistador
para inspirar sua devoção, ou ler e ouvir os ensinamentos
preciosos e excelentes como material para estudo e reflexão, não
será totalmente capaz de receber o Dharma.
"Estilo de vida conflitual" refere-se , estritamente falando, aos estilos
de vida ou à pessoas nascidas em comunidades de caçadores,
prostitutas e assim por diante, que estão envolvidas nestas atividades
negativas desde a mais tenra idade. Mas de fato, inclui qualquer
cujos pensamentos, palavras e atos são contrários ao Dharma
- pois mesmo aqueles que não nascerram em tais estilos de vida podem
facilmente cair neles mais tarde na vida. Por isso é fundamental
que evitemos fazer qualquer coisa que conflitue com o Dharma autêntico.
Se sua fé não está nos ensinamentos do Buddha,
mas nos deuses poderosos, nos nagas e assim por diante, ou em outras doutrinas
como às dos tirthikas, então, não importa quanta fé
você possa colocar neles, nenhum deles pode te proteger contra os
sofrimentos do samsara ou do renascimento nos reinos inferiores.
Mas se você tiver uma fé apropriadamente estabelecida nas
doutrinas do Conquistador, a qual une transmissão e realização,
você é, sem dúvidas, um vaso apropriado para o Dharma
verdadeiro. E está é a maior das cinco vantagens individuais.
2.2. AS CINCO VANTAGENS CIRCUNSTANCIAIS.
PRIMEIRO PARÁGRAFO DA PÁGINA 25
2.2. AS CINCO VANTAGENS CIRCUNSTANCIAIS.
Um Buddha surgiu e pregou o Dharma,
Seus ensinamentos ainda existem e são praticados,
Há aqueles que são bondosos com os outros.
Aqueles não nascidos em um kalpa brilhante, no qual um Buddha
não tenha surgido, nunca ouvirão sobre o Dharma. Contudo,
nós estamos em um kalpa no qual um Buddha surgiu, e dessa forma,
nós possuímos a vantagem da presença de um professor
em particular.
Embora um Buddha tenha surgido, se ele não tivesse ensinado,
ninguém se beneficiaria. Mas, desde que o Buddha girou a Roda
do Dharma nos seus três níveis, nós temos a vantagem
do Ensinamento do Dharma.
Embora ele tenha ensinado, se sua doutrina tivesse desaparecido, ela
não estaria mais disponível para nos ajudar. Contudo,
o período durante o qual a doutrina permanecerá existindo
ainda não acabou, dessa forma nós temos a vantagem do tempo.
Embora os ensinamentos ainda existam, a menos que nós os sigamos,
eles não serão de nenhum benefício para nós.
Mas, uma vez que nos envolvemos com o Dharma, nós possuímos
a vantagem da nossa própria boa sorte.
Embora nós tenhamos nos envolvido com o Dharma, sem a circunstância
favorável de termos sido aceitos por um amigo espiritual, nós
nunca conseguiríamos saber o que o Dharma realmente é.
Mas, uma vez que um amigo espiritual tenha nos aceitado, nós possuímos
a vantagem da sua extraordinária compaixão.
Por estes cinco fatos serem dependentes de outras pessoas, e não
de nós mesmos, eles são chamados de As Cinco Vantagens Circunstanciais.
O tempo necessário para o universo se formar, para estabelecer
existência, ser destruído e permanecer em um estado de vazio
é chamado de kalpa. Um kalpa no qual um Buddha perfeito surge
no mundo é chamado de "Kalpa Brilhante"; ao passo que quando um
Buddha não surge, é chamado de "Kalpa Escuro". Muito
tempo atrás, durante o grande Kalpa da Alegria Manifesta, trinta
e três mil Buddhas surgiram. Cem kalpas escuros se seguiram.
Então, durante o Kalpa Perfeito, oitocentos milhões de Buddhas
surgiram, e novamente houve uma sucessão de cem kalpas escuros sem
o Dharma. Em seguida, oitocentos e quarenta milhões de Buddhas
surgiram durante o Kalpa Excelente, após o qual houve quinhentos
kalpas escuros. Durante o Kalpa Prazeroso de se Ver, oitocentos milhões
de Buddhas surgiram, e então houve setecentos kalpas de escuridão.
Sessenta mil Buddhas surgiram no Kalpa de Alegria. Em seguida veio
o nosso próprio kalpa.
Antes que nosso kalpa surgisse, este cosmos de um bilhão de
universos era um imenso oceano sobre o qual surgiram mil lótus de
mil pétalas. Os deuses do mundo de Brahma, se perguntaram
o que poderia ser isso, e através da clarividência foi compreendido
que durante este kalpa mil Buddhas surgiriam. "Este será um
bom kalpa", eles disseram, e "Bom" tornou-se o seu nome.
Desde o tempo quando a vida dos seres era de oitenta mil anos e o Buddha
Destruidor do Samsara surgiu, e até o tempo quando os seres viverem
uma vida incalculavelmente longa e o Buddha da Aspiração
Infinita surgir, mil Buddhas terão passado por este mundo no Assento
Vajra, no centro do Continente de Jambudvipa. Cada um deles obterá
a Budeidade perfeita lá, e girará a Roda do Dharma.
Por isso nosso presente kalpa é um kalpa brilhante.
Nosso kalpa será seguido de sessenta kalpas escuros, e após
isso, no Kalpa dos Vastos Números, dez mil Buddhas surgirão.
Então, irão seguir-se dez mil kalpas escuros. Dentro
desta alternação de kalpas brilhantes e escuros, caso nasçamos
durante um kalpa escuro, nós nunca ouviremos falar de coisas com
as Três Jóias.
Além disso, como o Grande de Uddiyana nos aponta, o Secreto
Mantra Vajrayana, em particular, é somente ensinado com raridade:
Muito tempo atrás, durante o primeiro kalpa, o Kalpa do Arranjo
Completo, os ensinamentos do Mantrayana Secreto foram promulgados pelo
Buddha conhecido como o Rei que Vem uma Vez e adquiriam grande renome.
Os ensinamentos que nós temos agora, aqueles do contemporâneo
Buddha Shakyamuni, também incluem o Mantrayana Secreto. Dentro
do período de tempo de dez milhões de kalpas, durante o Kalpa
do Arranjo de Flores, o Buddha Manjushri virá, como eu vim agora,
para revelar os ensinamentos do Mantra Secreto em uma vasta escala.
Será assim dessa forma, por os seres destes três kalpas serem
recipientes apropriados para os Mantras Secretos, e o motivo pelo qual
os ensinamentos do Mantrayana não terem surgido em outra época,
é por os seres destas outras épocas não serem capazes
de utilizá-lo.
Neste Kalpa Bom, neste momento em que o período de vida dos humanos
é de cerca de cem anos, o perfeito Buddha Shakyamuni veio a este
mundo, e por isso este é um kalpa brilhante.
Suponha que um Buddha tivesse vindo, mas ainda estivesse em meditação,
e não tivesse ainda ensinado o Dharma. Como a luz do seu Dharma
ainda surgiu, a sua vinda a este mundo não faria a menor diferença
para nós. Seria como se ele não tivesse nunca vindo.
Ao atingir a Budeidade total e perfeita sobre o Assento Vajra, nosso
Professor exclamou:
Eu encontrei um Dharma como ambrosia,
Profundo, pacífico, simples, não-composto, radiante.
Se eu explicá-lo, ninguém compreenderá,
Por essa razão eu permanecerei aqui em silêncio
na floresta.
Dessa forma, por sete semanas ele não ensinou, até que
Bhrama e Indra imploraram que ele girasse a Roda do Dharma.
Além disso, se aqueles que detêm o ensinamento autêntico
não o explicar, será difícil que o Dharma seja de
qualquer benefício real para os seres. Um exemplo é
o do grande Smritijñana da India, o qual veio ao Tibet por sua mãe
ter renascido lá em um dos infernos efêmeros. Seu tradutor
morreu na viagem, e Smritijñana que ficou vagueando pela província
de Kham incapaz de falar uma palavra da língua, tornou-se pastor
de animais e morreu sem ter sido de muito benefício para ninguém.
Quando Jowo Atisha mais tarde chegou ao Tibet e soube desse acontecido,
gritou: "Que coisa triste! Tibetanos, o mérito de vocês
é muito fraco! Em lugar algum da India, Oriente ou Acidente,
pude encontrar um pândita melhor do que Smiritijñana", e,
com as mãos juntas, ele chorou.
Para nós, o Buddha Shakyamuni girou a Roda do Dharma em três
níveis e, manifestando um número inconcebível de formas,
de acordo com as necessidades e capacidades daqueles a serem ajudados,
conduz discípulos através dos nove veículos de seus
ensinamentos em direção à maturidade e a liberação.
Mesmo durante um kalpa no qual um Buddha tenha aparecido e dado ensinamentos,
uma vez que o tempo de duração desses ensinamentos tenha
acabado, e o Dharma tenha desaparecido, isso é exatamente o mesmo
que um kalpa escuro. O período entre o desaparecimento dos
ensinamentos de um Buddha e o ensinamento do Dharma do próximo Buddha
é descrito como "destituído do Dharma". Em locais afortunados,
onde os seres têm mérito adequado, pratyekabuddhas surgem,
mas a doutrina não é ensinada ou praticada.
Nestes dias nós ainda temos os ensinamentos do Buddha Shakyamuni.
Os níveis de sobrevivência desses ensinamentos se dividem
em um seqüência de dez itens. Primeiro, há três
períodos, cada um consistindo de quinhentas partes. Durante
este tempo, surge o "ensinamento do coração de Samantabhadra",
o qual é o fruto. Então vem três períodos
de quinhentas partes para realização. Estes são
seguidos de três períodos de quinhentas partes para transmissão.
Finalmente, um período de quinhentas partes surge quando somente
os símbolos são mantidos. De forma geral, isto perfaz
dez períodos, cada um de quinhentas partes. No presente nós
alcançamos o sétimo ou oitavo período. Vivemos
em uma era de aumento das cinco degenerações - período
de vida, crenças, emoções, tempo e seres. Contudo,
a doutrina de transmissão e realização ainda existe.
Como ela ainda não morreu totalmente, nós ainda possuímos
a vantagem de ter o Dharma em sua totalidade.
No entanto, o fato de que a doutrina ainda esteja presente é
irrelevante, a menos que você faça uso dela. Assim como o
sol nascente, que, embora ilumine o mundo inteiro, não faz a menor
diferença para um cego; e assim como as águas de um grande
lago não podem saciar a sede de um viajante que chegue às
suas margens a menos que ele realmente as tome para beber, o Dharma da
transmissão e da realização não pode infiltrar-se
por si próprio em sua mente.
Entrar no Dharma só para proteger-se a si mesmo da doença
e das influências negativas nesta vida, ou porque você teme
os sofrimentos dos três reinos inferiores nas vidas futuras, é
chamado de “Dharma para proteger dos medos”, e não é a maneira
certa de partir para o caminho.
Entrar no Dharma simplesmente para ter o que comer, vestir, e assim
por diante, nesta vida, ou para obter a recompensa agradável de
um renascimento divino ou humano na próxima, é chamado de
“Dharma para obter uma coisa boa”.
Entrar no Dharma compreendendo que a totalidade do samsara não
tem sentido, lutar para encontrar um meio de livrar-se dele, é chamado
de “seguir o ensinamento com a chegada ao ponto de partida do caminho”.
Mesmo se você começar praticando o Dharma, se não
tiver sido aceito por um amigo espiritual, de nada irá adiantar.
A Sabedoria Transcendente Condensada diz:
Os ensinamentos do Buddha dependem de um amigo espiritual. Assim disse
o Conquistador, suprema encarnação de todas as boas qualidades.
O ensinamento do Buddha é imenso, suas transmissões são
numerosas, e cobrem uma gama inesgotável de tópicos. Sem
nos apoiarmos sobre as instruções essenciais de um mestre,
jamais saberemos como condensar os pontos essenciais de todos esses ensinamentos,
ou como pô-los em prática.
Uma vez, quando Jowo Atisha estava no Tibet, Khu, Ngok e Drom* lhe
perguntaram: “Para que uma pessoa atinja a libertação e a
completa onisciência, o que é mais importante: as escrituras
canônicas e seus comentários ou as instruções
orais do mestre?”
“As instruções do mestre”, respondeu Atisha.
“Por que?”
“Porque quando se trata de fazer a prática – mesmo se você
souber explicar todo o Tripitaka de memória e for muito versado
em metafísica – sem a orientação prática de
um mestre, você e o Dharma irão se separar.”
“Então”, continuaram eles, “a questão principal nas instruções
do mestre é manter os três votos e esforçar-se por
agir bem com o corpo, a fala e a mente?”
“Isto não adianta para coisa alguma.”
“Como é possível?” exclamaram eles.
“Você pode ser capaz de manter perfeitamente os três votos,
mas se não estiver determinado a libertar-se dos três mundos
do samsara, isto só cria mais causas do samsara. Você pode
ser capaz de esforçar-se dia e noite para agir bem com o corpo,
a fala e a mente, mas se não souber como dedicar o mérito
à perfeita iluminação, dois ou três pensamentos
errôneos são o suficiente para destruir isto inteiramente.
Vocês podem ser mestres e meditantes, cheios de piedade e de aprendizados,
mas se as suas mentes não estiverem afastadas das oito preocupações
ordinárias, o que quer que vocês façam será
apenas para esta vida presente, e nas vidas futuras vocês não
encontrarão o caminho.”
Isto ilustra a importância de ser acolhido sob os cuidados de
um mestre, um amigo espiritual.
Examinando sua própria vida e suas próprias circunstâncias
com relação a cada uma das oito liberdades e das dez vantagens,
se você achar que todas estas condições favoráveis
estão presentes, você tem aquilo que é conhecido como
“a vida humana dotada com as dezoito liberdades e vantagens.” Entretanto,
o Onisciente Rei do Dharma Longchenpa, em seu Tesouro que Realiza os Desejos,
especifica dezesseis condições adicionais que impossibilitam
qualquer oportunidade de praticar o Dharma – oito circunstâncias
intervenientes31 e oito propensões incompatíveis32 – sob
cujo domínio é importante não cair. Citando suas palavras:
Tumulto das cinco emoções, estupidez, ser dominado por
más influências,
Preguiça, ser inundado pelo efeito das más ações
praticadas,
Escravização a outros, buscar proteção
dos perigos, e a prática hipócrita:
Estas são as oito circunstâncias intervenientes que não
deixam liberdade.
Ser atado pelos próprios laços, depravação
flagrante,
Falta de insatisfação com o samsara, ausência completa
de fé,
Ter prazer com as más ações, falta de interesse
no Dharma,
Negligência dos votos e das samayas:
Estas são as oito propensões incompatíveis que
não deixam liberdade.
2.3 As oito circunstâncias intervenientes que não deixam
liberdade para praticar o Dharma
As pessoas nas quais os cinco venenos – isto é, as emoções
negativas como o ódio pelos inimigos, a paixão pelos amigos
e parentes, e assim por diante – são extremamente fortes, podem,
de tempos em tempos, desejar que pudessem praticar algum tipo de Dharma
verdadeiro. Mas os cinco venenos são fortes demais, dominando suas
mentes a maior parte do tempo e impedindo-as sempre de realizar o Dharma
de forma adequada.
Seres muito estúpidos, carentes da mais fraca centelha
de inteligência, poderiam entrar no Dharma, porém, incapazes
que são de compreender uma só palavra dos ensinamentos ou
mesmo seu significado, jamais serão capazes de estudá-lo,
ou de refletir e meditar sobre ele.
Se as pessoas tiverem sido tomadas como discípulos por
um falso amigo espiritual, que lhes ensina a visão e a ação
de uma forma pervertida, suas mentes serão levadas por caminhos
errôneos, e elas virarão as costas para o verdadeiro Dharma.
As pessoas que querem aprender o Dharma, mas são preguiçosas
demais, carentes do menor vestígio de diligência, jamais
o realizarão, pelo fato de serem tão presas na armadilha
de sua própria indolência e procrastinação.
Os obscurecimentos e ações negativas de algumas
pessoas são de tal ordem que, apesar do esforço que dedicam
ao Dharma, não chegam a desenvolver qualquer das qualidades corretas
em suas mentes. Seu acúmulo de más ações no
passado as dominou, e elas perderão a confiança nos ensinamentos
sem perceber que tudo isto se deve às suas próprias ações
no passado.
Algumas pessoas seguem o Dharma por medo desta vida presente
– medo de que lhes faltem alimentos ou roupas, ou de que passem pela experiência
de outras aflições. Porém, como elas não têm
uma convicção profunda no Dharma, entregam-se aos seus velhos
hábitos. O que elas praticam, não é, de modo algum,
o Dharma.
Outros são os impostores que, sob um pretenso Dharma,
tentam obter posses, serviços e prestígio. Diante dos demais,
assumem a aparência de praticantes, mas em suas mentes estão
apenas interessados nesta vida e, assim, eles estão muito afastados
do caminho da liberação.
Estas são as oito circunstâncias que tornam impossível
a continuação da prática do Dharma.
2.4 As oito propensões incompatíveis que não deixam
liberdade para praticar o Dharma
As pessoas que têm laços muito fortes com seus compromissos
mundanos, riqueza, prazeres, filhos, parentes, e assim por diante, são
tão preocupadas com os árduos esforços que estas coisas
acarretam que não têm tempo para praticar o Dharma.
Algumas pessoas não têm sequer um resquício
de humanidade, e suas naturezas são de tal forma depravadas que
elas são incapazes de melhorar seu comportamento. Até mesmo
um mestre espiritual genuíno teria grande dificuldade em colocá-las
no nobre caminho. Como disseram os seres sublimes do passado: “As capacidades
de um discípulo podem ser moldadas, mas não seu caráter
básico”.
Uma pessoa que não sente a mais leve consternação
quando ouve falar nos renascimentos inferiores e nos males do samsara,
ou então diante dos sofrimentos desta vida presente, não
tem qualquer determinação para liberar-se do samsara, e,
portanto, não sente que haja qualquer motivo para se engajar na
prática do Dharma.
O fato de não se ter nenhuma fé, seja no Dharma
verdadeiro ou no mestre, cerra qualquer acesso aos ensinamentos e barra
a entrada ao caminho da liberação.
As pessoas que têm prazer com as ações nocivas
ou negativas, e que não conseguem controlar seus pensamentos, palavras
e ações, são destituídas de qualquer nobre
qualidade, e já se afastaram do Dharma.
Algumas pessoas têm tanto interesse pelos valores espirituais
e pelo Dharma quanto um cachorro se interessa por comer capim. Como não
sentem qualquer entusiasmo pelo Dharma, as qualidades a ele inerentes jamais
irão desenvolver-se em suas mentes.
Qualquer pessoa que, tendo ingressado no Veículo Básico,
quebra seus votos e seu compromisso com a bodhichitta, não tem outro
lugar para ir senão os reinos inferiores. Não escapará
dos estados em que não existe a oportunidade de praticar o Dharma.
Qualquer pessoa que, tendo ingressado no Veículo do Mantra
Secreto, quebra seus compromissos de samaya para com seu mestre e seus
irmãos e irmãs espirituais, ocasionará sua própria
ruína e a deles, destruindo quaquer perspectiva de realizações.
São estas as oito propensões que levam a pessoa
para longe do Dharma e apagam a lâmpada da liberação.
Antes de que estes dezesseis fatores que não deixam oportunidade
para a prática sejam cuidadosamente excluídos, as pessoas
nestes tempos decadentes podem parecer que têm todas as liberdades
e vantagens, e que são verdadeiros praticantes do Dharma. Entretanto,
o chefe sobre seu trono e o lama sob seu parassol33, o ermitão em
sua solidão na montanha, o homem que renunciou aos negócios
de estado, e qualquer pessoa que possa ter uma opinião elevada sobre
seu próprio valor – cada qual pode pensar que está praticando
o Dharma, mas enquanto estiver sob o domínio destas condições
limitadoras adicionais, ele não está no caminho verdadeiro.
Assim, antes de assumir cegamente as formas do Dharma, verifique
primeiro, cuidadosamente, o seu próprio estado, para ver se você
tem ou não todos os trinta e quatro aspectos das liberdades e vantagens.
Se tiver todos eles, alegre-se e reflita profundamente sobre eles, repetidas
vezes. Lembre a si mesmo de que forma – agora que você finalmente
obteve estas liberdades e vantagens que são tão difíceis
de encontrar – você não irá desperdiçá-las;
o que quer que aconteça, você irá praticar o Dharma
verdadeiramente. Afinal de contas, até a execução
da mais simples e quotidiana das tarefas exige que se reúnam muitos
materiais e condições mutuamente dependentes. Seria de se
admirar o fato de que a realização de nosso objetivo último
– o Dharma – seja impossível sem a conjunção de muitos
fatores interconectados?
Imagine um viajante que quer fazer um chá. O preparo do
chá envolve muitos elementos diferentes – o bule, a água,
a lenha, o fogo, e assim por diante. Destes, só o acender do fogo,
é impossível sem uma pederneira, aço, um pavio, as
mãos do viajante, e assim por diante. Se não houver uma só
destas coisas, o pavio, por exemplo, então o fato de que o viajante
tem tudo o mais de que precisa não lhe adianta de nada. Ele simplesmente
não tem o que é preciso para fazer um chá. Da mesma
forma, se faltar um só elemento das liberdades e vantagens, não
há qualquer chance de se praticar o verdadeiro Dharma.
Se você verificar cuidadosamente a sua própria mente,
você verá que até mesmo as oito liberdades básicas
e as dez vantagens básicas são muito difíceis de alcançar,
e que ter todas as dez vantagens é até mais raro do que ter
todas as oito liberdades.
Alguém que nasce como humano, com todas as suas faculdades
intactas e em uma região central, mas que se torna envolvido com
um tipo de vida conflitante com o Dharma, e que não tem fé
nos ensinamentos do Conquistador, tem somente três das vantagens.
Se ele obtivesse uma das duas outras, teria, ainda assim, quatro. Ora,
ter um tipo de vida que não entre em nenhum conflito com o Dharma
é extremamente difícil. Se qualquer dos pensamentos da pessoa,
qualquer de suas palavras ou atos, for negativo, e seus motivos forem para
esta vida, então, de fato, ainda que ele tenha a reputação
de um homem bom e instruído, seu tipo de vida está em conflito
com o Dharma.
O mesmo se aplica às cinco vantagens circunstanciais.
Se um Buddha tiver vindo, tiver ensinado o Dharma e os ensinamentos ainda
existam, e, entretanto, a pessoa não tiver ingressado no Dharma,
esta pessoa só tem três destas vantagens. Mais uma vez, “ingressar
no Dharma” não significa simplesmente pedir um ensinamento e recebê-lo.
O ponto de partida do caminho da liberação é a convicção
de que a totalidade do samsara é sem sentido, e a genuína
determinação de se libertar dele. Para percorrer o caminho
do Grande Veículo, o essencial é ter uma bodhichitta genuinamente
despertada. O mínimo é ter uma fé tão inabalável
nas Três Preciosas Jóias, que você jamais renunciaria
a elas, nem mesmo para salvar a sua vida. Sem isto, simplesmente recitar
preces e trajar uma túnica amarela não é prova de
que você ingressou no Dharma.
Assegure-se de que você sabe como identificar cada uma
destas liberdades e vantagens, e como verificar se você próprio
as tem. Isto é de crucial importância.
3. Reflexão sobre imagens que mostram como é difícil
encontrar as liberdades e vantagens
O Buddha disse que, para um ser, é mais difícil obter
um nascimento humano do que o seria para uma tartaruga vir das profundezas
do oceano até a tona e, ao pôr a cabeça fora d’água,
acertar na abertura de uma canga de madeira que estivesse sendo atirada
pelas imensas ondas na superfície.
Imaginem o cosmos inteiro, de um bilhão de universos, como um
vasto oceano. Flutuando sobre ele há uma canga, um pedaço
de madeira com um buraco, para que possa ser ajustada à volta dos
chifres dos bois de tração. Esta canga, jogada para lá
e para cá pelas ondas, às vezes para leste, às vezes
para oeste, nunca fica no mesmo lugar por um instante que seja. Bem lá
no fundo, nas profundezas do oceano, vive uma tartaruga cega, que sobe
à superfície somente uma vez a cada cem anos . É extremamente
improvável que a canga e a tartaruga se encontrem. A canga não
tem uma mente e não está procurando a tartaruga. A tartaruga,
sendo cega, não consegue ver a canga. Se a canga ficasse no mesmo
lugar, poderia haver uma chance de se encontrarem; mas ela está
constantemente em movimento. Se a tartaruga passasse todo o seu tempo a
nadar pela superfície, poderia, talvez, cruzar com a canga em seu
caminho; mas ela emerge apenas uma vez a cada cem anos. As chances de a
tartaruga e a canga se juntarem são, portanto, muito pequenas. Entretanto,
por puro acaso, a tartaruga poderia, ainda assim, enfiar seu pescoço
na canga. Mas – diz o sutra – obter-se uma existência humana com
as liberdades e vantagens é ainda mais difícil do que isto.
Nagarjuna o expressa em seu Conselho para o Rei Gautamiputra35:
Para uma tartaruga, passar a cabeça através da abertura
de uma canga flutuando na superfície de um vasto oceano
É muito menos difícil do que é, para um animal,
tornar-se um humano.
Portanto, Senhor dos Homens, colhe o fruto de tua fortuna praticando
o Dharma.
E diz Shantideva:
Disse o Buddha que é tão difícil tornar-se um humano
Quanto o é, para uma tartaruga, passar a cabeça pelo
buraco de uma canga
Jogada ao sabor das águas de um grande oceano.
A dificuldade de obter-se um nascimento humano é também
comparada à dificuldade de fazer com que ervilhas secas jogadas
sobre uma parede lisa se grudem a ela, ou à de equilibrar uma pilha
de ervilhas sobre a ponta de uma agulha – o que já é suficientemente
difícil até com uma só ervilha! É útil
conhecer estas comparações, que vêm do Nirvana Sutra,
assim como outras, que são feitas em outros textos.
3. Reflexão sobre imagens que mostram como é difícil
encontrar as liberdades e vantagens
O Buddha disse que, para um ser, é mais difícil obter
um nascimento humano do que o seria para uma tartaruga vir das profundezas
do oceano até a tona e, ao pôr a cabeça fora d’água,
acertar na abertura de uma canga de madeira que estivesse sendo atirada
pelas imensas ondas na superfície.
Imaginem o cosmos inteiro, de um bilhão de universos, como um
vasto oceano. Flutuando sobre ele há uma canga, um pedaço
de madeira com um buraco, para que possa ser ajustada à volta dos
chifres dos bois de tração. Esta canga, jogada para lá
e para cá pelas ondas, às vezes para leste, às vezes
para oeste, nunca fica no mesmo lugar por um instante que seja. Bem lá
no fundo, nas profundezas do oceano, vive uma tartaruga cega, que sobe
à superfície somente uma vez a cada cem anos . É extremamente
improvável que a canga e a tartaruga se encontrem. A canga não
tem uma mente e não está procurando a tartaruga. A tartaruga,
sendo cega, não consegue ver a canga. Se a canga ficasse no mesmo
lugar, poderia haver uma chance de se encontrarem; mas ela está
constantemente em movimento. Se a tartaruga passasse todo o seu tempo a
nadar pela superfície, poderia, talvez, cruzar com a canga em seu
caminho; mas ela emerge apenas uma vez a cada cem anos. As chances de a
tartaruga e a canga se juntarem são, portanto, muito pequenas. Entretanto,
por puro acaso, a tartaruga poderia, ainda assim, enfiar seu pescoço
na canga. Mas – diz o sutra – obter-se uma existência humana com
as liberdades e vantagens é ainda mais difícil do que isto.
Nagarjuna o expressa em seu Conselho para o Rei Gautamiputra35:
Para uma tartaruga, passar a cabeça através da abertura
de uma canga flutuando na superfície de um vasto oceano
É muito menos difícil do que é, para um animal,
tornar-se um humano.
Portanto, Senhor dos Homens, colhe o fruto de tua fortuna praticando
o Dharma.
E diz Shantideva:
Disse o Buddha que é tão difícil tornar-se um humano
Quanto o é, para uma tartaruga, passar a cabeça pelo
buraco de uma canga
Jogada ao sabor das águas de um grande oceano.
A dificuldade de obter-se um nascimento humano é também
comparada à dificuldade de fazer com que ervilhas secas jogadas
sobre uma parede lisa se grudem a ela, ou à de equilibrar uma pilha
de ervilhas sobre a ponta de uma agulha – o que já é suficientemente
difícil até com uma só ervilha! É útil
conhecer estas comparações, que vêm do Nirvana Sutra,
assim como outras, que são feitas em outros textos.
4. Reflexão sobre comparações numéricas
Quando se consideram os números relativos de diferentes tipos
de seres, pode-se apreciar o fato de que nascer humano é uma possibilidade
quase inexistente. Como ilustração, diz-se que se os habitantes
dos infernos fossem tão numerosos quanto as estrelas do céu
noturno, os pretas não seriam mais numerosos do que as estrelas
visíveis durante o dia; que, se houvesse tantos pretas quanto há
estrelas à noite, haveria apenas tantos animais quanto estrelas
há durante o dia.
Diz-se também que há tantos seres no inferno quanto há
partículas de pó no mundo inteiro, tantos pretas quanto há
partículas de areia no Ganges, tantos animais quanto grãos
em um barril de cerveja36 e tantos asuras quanto flocos de neve em uma
nevasca – mas que os deuses e os humanos são tão poucos quanto
as partículas de pó que se pode empilhar sobre uma unha.
Já é suficientemente raro tomar-se forma como um ser
dos reinos superiores, porém mais raro ainda é uma vida humana
completa com todas as liberdades e vantagens. Podemos ver por nós
mesmos, a qualquer momento, como são poucos os seres humanos, em
comparação com os animais. Pensem quantos insetos vivem em
um torrão de terra durante o verão, ou quantas formigas em
um só formigueiro – é difícil existirem tantos seres
humanos no mundo inteiro. Mas mesmo dentro da humanidade, podemos ver que,
em comparação com todas as pessoas nascidas nas regiões
exteriores onde os ensinamentos nunca apareceram, aqueles nascidos nos
lugares em que o Dharma disseminou-se são extremamente raros. E
mesmo entre estes, é raro haver mais de um, a cada vez, que tenha
todas as liberdades e vantagens.
Tendo em mente todas estas perspectivas, você deve se encher
de alegria com o fato de que você realmente tem todas as liberdades
e vantagens, completas.
Uma vida humana só pode ser chamada de “preciosa vida humana”
quando está completa com todos os aspectos das liberdades e vantagens,
e daí por diante ela se torna verdadeiramente preciosa. Porém,
enquanto qualquer destes aspectos esteja incompleto, então, por
mais extensos que sejam seus conhecimentos, sua instrução
e seu talento quanto às coisas ordinárias, você não
tem uma preciosa vida humana. Você tem o que se chama de uma vida
humana ordinária, simplesmente uma vida humana, vida humana sem
sorte, vida humana sem sentido, ou uma vida humana que retorna de mãos
vazias. É como não usar uma jóia que realiza os desejos
apesar de tê-la nas mãos, ou como regressar de mãos
vazias de uma terra cheia de ouro precioso.
Encontrar esta preciosa vida humana
É mais valioso do que encontrar uma jóia preciosa.
Vejam como aqueles que não temem o samsara
Desperdiçam a vida!
Conhecer um mestre perfeito
É mais valioso do que ganhar um reino.
Vejam como aqueles que não têm devoção
Tratam o mestre como tratam a seus iguais!
Receber os votos de Bodhisattva
É mais valioso do que receber o comando de uma província.
Vejam como aqueles que não têm compaixão
Jogam longe os seus votos!
Receber uma iniciação tântrica
É mais valioso do que ser o governador do universo.
Vejam como aqueles que não guardam as samayas
Jogam aos ventos as iniciações!
Ver a natureza real da mente
É mais valioso do que encontrar o Buddha.
Vejam como aqueles que não têm determinação
Vão, à deriva, de volta para a ilusão!
Estas liberdades e vantagens não vêm por acaso ou coincidência.
São o resultado de uma acumulação de mérito
e sabedoria, construída ao longo de muitos kalpas. Diz o grande
erudito Trakpa Gyaltsen:
Esta existência humana livre e favorecida
Não é o resultado de tuas habilidades.
Ela vem do mérito que acumulaste.
Obter-se uma vida humana apenas para se envolver totalmente em atividades
más sem a menor noção do Dharma é ser mais
inferior que os reinos inferiores. Como disse Jetsun Mila ao caçador
Gönpo Dorje:
Diz-se geralmente que é precioso possuir as liberdades e fortunas
do nascimento humano,
Mas quando vejo uma pessoa como tu, isto não parece precioso
de modo algum.
Nada tem tanto poder de puxar você para baixo, para os reinos
inferiores, como a vida humana. O que você faz com ela, agora, neste
instante, só depende de você:
Bem usado, este corpo é nossa balsa para a liberdade.
Mal usado, este corpo nos ancora no samsara.
Este corpo segue as ordens tanto para o bem quanto para o mal.
É através do poder de todo o mérito que você
acumulou no passado que você obteve agora esta vida humana, completa
com suas dezoito liberdades e vantagens. Desprezar a única coisa
essencial – o Dharma supremo – e, ao invés dele, só passar
a sua vida adquirindo comida e roupa e entregando-se às oito preocupações
ordinárias, seria um desperdício inútil destas liberdades
e vantagens. Como é ineficaz esperar até que a morte esteja
sobre você para, então, bater no peito com remorso! Pois você
já terá feito a escolha errada, como diz O Caminho do Bodhisattva:
Se, tendo encontrado estas liberdades,
Eu não praticar o que é bom,
Nada pode ser mais errado;
Nada pode ser mais estúpido!
Esta vida presente, portanto, é o ponto decisivo no qual você
pode escolher entre um bem a longo prazo ou um mal a longo prazo. Se você
não fizer uso dela agora mesmo e conquistar a cidadela da natureza
absoluta dentro do âmbito desta vida, nas vidas futuras será
muito difícil obter novamente esta liberdade. Se uma vez você
nascer em qualquer das formas de vida dos reinos inferiores, nenhuma idéia
do Dharma irá jamais lhe ocorrer. Confuso demais para saber o que
fazer ou o que não fazer, você cairá incessantemente
mais e mais, em reinos cada vez mais inferiores. Então, ao dizer
para si mesmo que agora a hora de fazer um esforço, medite muitas
vezes, aplicando os três métodos supremos: comece com o pensamento
da bodhicitta, faça a prática em si, sem qualquer conceitualização,
e dedique o mérito ao final
Como medida de quanto esta prática verdadeiramente nos convenceu,
devemos ser como o Geshe Chengawa, que passou todo o seu tempo praticando
e nunca dormia. o Geshe Tönpa disse a ele: “É melhor você
descansar, meu filho. Você vai adoecer.”
“Sim, eu devo descansar”, respondeu Chengawa. “Mas quando penso em
como é difícil encontrar as liberdades e vantagens que temos,
não tenho tempo de descansar.” Ele recitou novecentos milhões
de mantras de Miyowa e passou sem dormir toda a sua vida. Devemos meditar
até que exatamente este tipo de convicção surja em
nossas mentes.
Embora eu tenha ganho estas liberdades, sou fraco no Dharma, que é
sua essência.
Embora eu tenha ingressado no Dharma, desperdiço tempo fazendo
outras coisas.
Abençoe a mim e a seres insensatos como eu,
Para que atinjamos a própria essência das liberdades
e vantagens.
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