S.S. XIV DALAI LAMA
 
PRONUNCIAMENTO NA PUC/ SP 
Ao Receber o Titulo de Doutor no Dia 10 de junho de 1992 
  
Estou extremamente honrado de receber este titulo da PUC de São Paulo e por isso expresso meus sinceros agradecimentos. 
Como monge budista estou sob o poder de minha prática de estar sempre ao serviço da humanidade e é esta a maneira de como eu conduzi minha vida até agora e também no futuro espero estar no contínuo serviço da humanidade ate o final de meus dias. No mundo de hoje existe um reconhecimento mais elevado pelo serviço  aos outros, há pessoas que estão dando mais suporte, há pessoas que estão reconhecendo o valor desse serviço. Isto é muito inspirador.
Estou extremamente feliz pelo interesse e solidariedade demonstrados em relação ao povo tibetano, especialmente pelos, alunos desta casa. (palmas) Sobretudo, estou profundamente comovido pelo interesse demonstrado pelas crianças de rua... elas não têm ninguém que possa cuidar delas... então esse interesse é muito importante... eu fico muito contente por saber disto. Eu fui informado das dificuldades por que esta Universidade já atravessou e fico muito feliz de ver como os alunos conseguiram recuperar o seu ânimo, conseguiram preservar, continuar, manter viva a sua luta pela verdade, justiça e auto-determinação dos povos. Gostaria de dar o meu apoio e solidariedade a este trabalho. (prolongadas palmas).
No futuro, tenho certeza, vocês saberão conservar o entusiasmo e a esperança e continuar firme nos seus princípios. Mas como não há muito tempo eu tentarei falar no meu inglês vagabundo. (risos e palmas). 
Nós, como humanos, já conseguimos realizar muitos progressos materiais mas, apesar disso, os problemas ainda são enormes, e principalmente os novos problemas criados pelo desenvolvimento.  Parece-me que não é muito produtivo ficarmos nós lastimando esses problemas, criticando, ou mesmo rezando na esperança de que eles se evaporem. Precisamos ter uma ação efetiva de lidarmos com estes problemas. (palmas) Estou convencido de que, como na sua essência esses  problemas foram criados pelo homem, a humanidade também tem a capacidade de encontrar a solução para esses problemas. Para isso, nós necessitamos de sincera [pura] motivação, determinação e sabedoria - esses três fatores são essenciais. 
Vejo aqui muitos estudantes cheios de ânimo, de entusiasmo, e sei que há muitas coisas que vocês são capazes de realizar. Mas gostaria de dizer que, enquanto vocês estão aqui, cuidando da sua educação e desenvolvimento intelectual e de sua formação é muito importante também que vocês prestem atenção à sua formação humanitária e espiritual também. Com isso a ação humana poderá oferecer uma contribuição construtiva. (palmas) De outra maneira, se vocês negligenciarem o seu lado humanitário e espiritual vai haver incerteza sobre a qualidade da contribuição da sua  inteligência, se ela será construtiva ou destrutiva. Olhem este ponto. 
Se observamos a história veremos que, dentre a infinidade de seres vivos que existe, o homem se destaca pela sua capacidade de criar e realmente são notáveis as coisas que ele já fez. Por outro lado ele sempre foi um dos principais criadores de problemas. Os problemas que os homens criaram no passado talvez não eram tão sérios porque foram produzidos por uma ciência limitada. Mas com o desenvolvimento das modernas tecnologias os problemas podem tomar uma dimensão catastrófica devido à superpopulação que existe e ao risco de extinção. A combinação de desenvolvimento humanitário, espiritual, com a inteligência, devem andar juntos. 
O desenvolvimento espiritual não quer dizer necessáriamente religioso, mas o desenvolvimento da qualidade essencial que é compaixão, que é paixão, estou falando de qualidades humanas essenciais, que são a compaixão e o afeto entre os homem (palmas). Se uma pessoa vai ter uma prática religiosa ou não, cabe a ela decidir, isto é um Direito que ela tem. Porém, enquanto ser humano, permanecendo como membro desta comunidade humana que existe no planeta ela tem a obrigação de ter um coração caloroso, isso não pode ser negado (palmas prolongadas). 
"Longa vida para o Dalai Lama!" [ouve-se alguém gritar. Em seguida, o Diretor do Centro Acadêmico anuncia que o Coral da PUC vai homenagear o Dalai Lama, cantando "Fantasia" de Chico Buarque de Holanda]. 
 
 
 
 
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