Católicas por el Derecho a Decidir
Página principal de CDDEnvíenos un e-mail con sus opiniones, dudas o consultasPágina de Java Chat, para poder conversar con las personas de CDD on-lineVisite sitios de interés común a CDDRevise su correo on line [interno]

Filhas e filhos desejados e felizes
Ou: Maternidade voluntária, aborto e religião

"Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
Ea mãe do seu irmão
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe
Lhe damos as boas vindas
Boas vindas boas vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa."


Catenano Veloso

Maria José F. Rosado Nunes

Trazer à vida um novo ser é algo muito sério e bonito. Deve ser um ato plenamente humano, isto é, pensado, refletido. Uma criança deve ser desejada e recebida para a vida. Por isso, quando falamos em "maternidade e paternidade voluntárias", estamos nos referindo à possibilidade que têm mulheres e homens de escolher quando e quantos filhos desejam ter, ou se não querem tê-los. Diferentemente dos animais, os seres humanos podem controlar sua capacidade reprodutiva e só ter filhas e filhos desejados e amados. A palavra "anticoncepção" tem uma conotação negativa. Parece indicar a negação do desejo de conceber novas vidas humanas. Na verdade, não se trata disso. Ao contrário, trata-se de perceber o valor da vida humana, e de respeitá-la, de tal forma que a gravidez não signifique um ato puramente biológico, mas a gestação consciente e amorosa de uma nova pessoa. Lembram-se do Caetano Veloso, cantando de forma comovente a mulher grávida cuja barriga ele contempla?

Só que para que cada gestação possa ser vivida dessa forma, seria necessária uma ação especial do Estado, para que mulheres e homens tivessem acesso aos métodos que permitem o planejamento da concepção ou da não concepção. E também uma educação sexual nas escolas, que ajudasse crianças, adolescentes e jovens a se informarem de maneira correta sobre o exercício prazeiroso e responsável de sua sexualidade. Assim, idealmente, a necessidade do aborto seria eliminada.

O problema porém, é que, na realidade, esse acesso amplo à informação e aos métodos de prevenção da gravidez não existe ainda em nosso país. Acontecem inúmeros casos de gravidez não desejada, pelo homem ou pela mulher. E aí se incluem os casos de adolescentes também. Particularmente nas camadas mais pobres da população, entre as quais os recursos médicos e educacionais, quando existem, são extremamente precários, o exercício da maternidade e da paternidade se torna muitas vezes, mais um peso do que uma alegria.

É nesse contexto, de carência de atendimento à saúde reprodutiva e de educação, que aparece o aborto como um útlimo e necessário recurso. Não como um método de regulação da fecundidade, mas como uma forma de solucionar o problema de uma gravidez que, por razões várias, é impossível de ser levada a termo. Para as mulheres, dadas as condições em que é feita, a interrupção de uma gravidez significa, muitas vezes, a morte. Para os homens, é diferente. Eles também "abortam", só que de outra forma, em muitos casos, abandonando a companheira, ou a namorada grávida. Raros são os que assumem o processo de decisão de interromper a gravidez, junto com a mulher.

Quando se discute o aborto no Brasil, sempre se invocam princípios religiosos, para mostrá-lo como um ato pecaminoso, contra a vida, como se se tratasse um assassinato. Em geral, essa posição é apresentada como se fosse a única maneira possível de tratar essa questão, num contexto religioso. Na verdade, não é bem assim. No caso do Cristianismo, por exemplo, a interrupção da gravidez foi muito discutida. Durante os primeiros séculos, só era considerado "pecado", o aborto cometido após, mais ou menos, 2 meses e meio da gravidez (80 dias). Depois, houve um longo debate a respeito do assunto, entre o Papa, bispos e teólogos. As mulheres, principais interessadas, nunca foram ouvidas nessa discussão.

Somente na segunda metade do século passado foi que, pela primeira vez, o Papa afirmou que a interrupção da gravidez, em qualquer momento, constituía pecado grave. Mesmo assim, as discussões continuaram, pois nem todos dentro da Igreja concordavam com os argumentos levantados por ele. Como esse problema nunca foi tratado pelo Papa como um "dogma de fé", isto é, como algo que todos os fiéis são obrigados a aceitar, os debates seguiram e continuam até hoje, na Igreja Católica. O mesmo acontece em relação aos métodos anticoncepcionais. Até mesmo bispos se manifestam favoráveis à sua utilização, em determinadas circunstâncias. No caso do aborto, há não só teólogas, mas também padres e teólogos que se identificam com as preocupações e reflexões das mulheres. Um deles, por exemplo, teólogo católico, especialista em moral,.depois de afirmar que o aborto é "um dano irreparável", argumenta em favor de sua despenalização civil e religiosa. Segundo ele, é "demagógico, injusto e imoral" falar indiscriminadamente do aborto como crime e de quem o realiza como criminosa. É ainda mais imoral, diz ele, que se castigue toda pessoa que interrompa uma gravidez. O princípio ético fundamental é o que propõe que a decisão, nesse caso, deve ser tomada pela pessoa, autonomamente.

Finalizando, é preciso esclarecer que não se pretende aqui, banalizar a argumentação da defesa da vida, feita pela Igreja e por outros setores da sociedade. Também defendemos, e de forma intransigente, o respeito à vida das pessoas e a necessidade de se organizar a sociedade de forma a que todas as pessoas, especialmente as mais pobres, possam viver com dignidade. O que nós discutimos é a incoerência de uma afirmação de "defesa da vida", que não se comove diante dos altíssimos índices de mortes de mulheres, causadas por processos inadequados de interrupção da gravidez. Ou diante da morte de mulheres, homens, jovens e até mesmo crianças, ocasionada pela AIDS. Como é o caso daqueles setores da Igreja Católica que condenam o uso da camisinha e de outros anticoncepcionais. A vida humana é um dom precioso a ser defendido, mas não se pode restringir essa defesa à vida do embrião ou do feto e seguir culpando as mulheres que recorrem ao aborto.

Católicas por el Derecho a Decidir
Página principal de CDDEnvíenos un e-mail con sus opiniones, dudas o consultasPágina de Java Chat, para poder conversar con las personas de CDD on-lineVisite sitios de interés común a CDDRevise su correo on line [interno]

1