Velocidade Mínima
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Antônio era o motorista da prefeitura de uma cidadezinha no interior de Minas Gerais.
Como em toda pequena cidade, Antônio também dirigia o rabecão buscando defuntos nas
fazendas e distritos para serem preparados para o enterro na funerária.
Um dia, Antônio foi buscar o corpo de um senhor que havia falecido em uma fazenda um
pouco distante da cidade. O rabecão estava na oficina e Antônio teve que ir na
caminhonete da prefeitura.
Antônio acabou se atrasando e chegou na fazenda somente à noite. Os familiares da
vítima alertaram sobre o perigo de Antônio pegar a estrada aquela hora. Por eles, o
corpo poderia ser levado pela manhã, mas ele queria voltar logo para casa e colocou o
defunto na carroceria.
Já na estrada, Antônio resolveu pisar fundo para adiantar a viagem. Mas aí começou seu
dilema...
Toda vez que ele acelerava ouvia um barulho na capota. Quando olhava pelo retrovisor via
pelo vidro traseiro, sujo de lama, da caminhonete apenas um vulto branco. Quando ele
diminuia a velocidade, o barulho parava. Se acelerava, voltavam as batidas.
Desesperado, Antônio acelerou tudo que podia e mesmo com as insistentes batidas chegou
até a porta da funerária e desceu do carro suando frio e tremendo de cima a baixo. Olhou
no relógio, eram quase 23:00 hs. Estava decidido: Iria pedir demissão. Ainda naquela
noite bateria à porta da casa do prefeito e entregaria as chaves da caminhonete. Antes
porém, resolveu dar uma olhada na carroceria...
e acabou descobrindo que o barulho que ele ouvia na capota poderia ter sido causado pelo
próprio pano que cobria o corpo, que estava mal amarrado e com uma ponta sobre a
capota...
Por via das dúvidas, Antônio pediu para ser transferido. Rabecão, nunca mais.
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Contado pelo próprio Antônio, que pediu para se manter no anonimato.