EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA
Professor Elomar Vaz de Lima*
O desenvolvimento industrial do Brasil, uma conquista da política–econômica, impõe a necessidade de técnicos.
Tal desenvolvimento, que é o objetivo econômico de todas as nações modernas e revela os esforços de um povo para superar dificuldades e chegar a esse estágio, mostra-nos também a dependência tecnológica do País.
A tecnologia é um conjunto de conhecimento empregados na produção e comercialização de bens e serviços.
O domínio da tecnologia, ou seja, do conjunto de conhecimentos específicos, permite a elaboração das instruções necessárias à produção de bens e serviços.
Ocorre que a palavra tecnologia vem sendo longamente empregada para designar apenas tais instruções, não incluindo as intenções que as geraram, ocasionando sérios prejuízos para o correto tratamento do assunto.
A produção e comercialização de bens e serviços exigem o emprego de capital, mão-de-obra, matéria-prima e tecnologia. Assim, a tecnologia é um dos ingredientes da produção e de todo o processo econômico. Por outro lado, a tecnologia é também um bem em si mesmo, com valor econômico, comportando-se como uma mercadoria, sujeita portando a todos os tipos de transações legais ou ilegais: compra, troca, sonegação, cópia, falsificação, roubo e contrabando.
Além de seu valor mercantil, a tecnologia tem um valor estratégico. Hoje, para uma nação sustentar um desenvolvimento autônomo, não basta dispor de mão-de-obra, matéria-prima e capital; é preciso possuir tecnologia própria.
A Escola Técnica Federal de São Paulo tem concorrido para a melhoria da força de trabalho, ajudando a remover importante funil de estrangulamento da economia paulista e criando condições para o aumento da produtividade do trabalho, alicerce eficiente a um programa de desenvolvimento econômico. Contudo, a ciência não pode se respeitar como tal, se não se aplicar introspecções autocríticas periódicas.
O país, que não possui tecnologia própria, deve se sujeitar aos países que exportam tecnologia. Essa situação cria uma nova forma de dependência entre as nações, chamada muito propriamente de "neocolonialismo". Aliás, esse dependência não se registra apenas no plano econômico mas também no cultural.
Temos, portanto, que propor uma nova visão que é a da educação crítica com compromisso voltado para a transformação social. É certo que o mercado de trabalho nem sempre permite a concepção, criação e desenvolvimento de uma tecnologia, mas freqüentemente leva ao consumo indiscriminado de tecnologia importada.
Além do mais, a questão tecnológica e o problema de formação do técnico envolvem aspectos que transcendem os limites da Escola, embora seja ela o embrião para o desenvolvimento de um concepção brasileira.
A questão tecnológica é também uma questão histórica, social e econômica de nosso País. Dessa forma, o que aparentemente está restrito ao campo técnico só se apresenta assim porque foi cultivado o mito da ciência e da tecnologia como algo impregnado de neutralidade e acima da sociedade, não passível de discussão em setores mais amplos, como por exemplo a educação. Ao técnico cabe colocar também não só a opção do produto, não só como produzir mas o que produzir, tendo como parâmetro as necessidades da maioria da população. Daí também a importância de uma formação humanística dos alunos que os capacite a refletir sobre a força da participação social bem como sobre as melhores opções tecnológicas para o País e para o bem-estar de nossa população. A alienação é um dos componentes da dependência e com isso também a Escola não pode compactuar.
A formação do técnico, nesta perspectiva, implica em que a Escola Técnica Federal de São Paulo deverá desenvolver continuamente um esforço de entrosamento entre os diversos componentes da estrutura curricular e, sobretudo, entre as matérias de Educação Geral e educação Especial nas suas múltiplas especialidades. Esta proposição no lugar de delinear uma distinção arbitrária de duas formações distintas do aluno, procura eliminar esta falsa concepção, sugerindo, portanto, uma formação global. O técnico, no seu desempenho profissional, deverá se manifestar qualificado tanto em relação aos aspectos técnicos como também à capacidade de análise do contexto em que vive.
A função primordial da ciência é resolver os problemas da população; portanto, nunca deve ser um simples instrumento de manipulação de certos interesses, justificando possíveis injustiças. O aprimoramento cultural se faz no sentido de que o técnico seja, realmente, um cidadão consciente e capaz de melhorar a nossa realidade.
O problema da responsabilidade social não pode ser escamoteado num país como o brasil. A nossa capacidade não deve apenas discutir meios sem nunca questionar os fins.
A ciência, ou mesmo a técnica, não tenhamos dúvida é um produto de um processo complexo, condicionado pela história que nós fazemos, pelas características culturais da sociedade na qual ela surge, e é determinada em grande parte por muitas outras restrições, às quais uma sociedade particular é submetida.
*( Professor Elomar Vaz de Lima – Professor de História da ETFSP)