Preconceito é maior na Bélgica e na França, afirmam pesquisas

Folha de São Paulo, segunda, 6 de julho de 1998

 

O entrevistador pergunta ao francês típico, que leva a baguete em uma das mãos e puxa o cachorro com a outra: "Então, a presença de negros e árabes não incomoda muito o senhor...". O francês interrompe: "... Enquanto eles marcarem os gols".

É assim a charge publicada na capa do "Le Monde" na última sexta, ilustrando a manchete do jornal francês: uma reportagem sobre pesquisas de opinião a respeito do racismo na Europa.

As pesquisas apontam que, em cada cinco franceses, um deles é racista e dois outros afirmam serem "tentados" pelo racismo.

"Le Monde" não tratou especificamente do futebol, mas o chargista não resistiu à idéia, explicitando a hipocrisia oculta nas relações cordiais de raça no esporte.

As pesquisas divulgadas pelo "Le Monde" indicam que a França é o país em que há o maior número de racistas declarados (38%) depois da Bélgica (45%). A Alemanha fica em terceiro lugar (23%), seguida do Reino Unido (22%), da Itália (21%) e da Espanha (13%).

A metade dos alemães acha que tudo seria melhor no país sem os imigrantes, contra 47% dos italianos e 44% dos franceses. Ingleses (32%) e espanhóis (23%) são os que menos concordam com isso.

Segundo as pesquisas feitas pela Comissão Nacional Consultiva dos Direitos do Homem, o Serviço de Informações do Governo e a Eurobaromètre, 40% dos franceses acham que há árabes e negros demais na França e afirmam que já não reconhecem o seu país.

Os motivos do racismo estariam ligados a causas sociais e econômicas. Os sentimentos contra o racismo são mais fortes, por exemplo, nos jovens, nos que têm maior escolaridade e entre os mais ricos.

No entanto, a maioria dos franceses rejeita idéias xenófobas do Front Nacional, partido de extrema-direita. É um dos poucos pontos otimistas das pesquisas. Em 1996, o líder do Front Nacional, Jean-Marie Le Pen, manifestou-se contra a presença de "estrangeiros" na seleção francesa. (ALN)

 

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