Núcleo pretende estudar o fenômeno da criminalidade na Classe Média

Reportagem de Mário Magalhães

(Jornal "Folha de São Paulo", 21 de fevereiro de 2000)

Na opinião do antropólogo e cientista político Luís Eduardo Soares, coordenador de Segurança do Estado do Rio, há um "movimento significativo" de membros da classe média na criminalidade. É impossível, porém, quantificar o fenômeno ou afirmar que existe crescimento.

A criação do Núcleo de Gestão de Dados e Informações, em instalação na Coordenadoria de Segurança, permitirá avaliar melhor o tema, segundo Soares.

"Estamos mesmo vivendo um momento de crise de valores", afirma, concordando com o antropólogo Gilberto Velho.

Luís Eduardo Soares sustenta que inexiste relação direta da pobreza com o crime. "É comum, erradamente, associar criminalidade ao pobre e ao negro. A pergunta quando se prende alguém da classe média é: "Não é surpreendente isso?" A rigor, não."

A pauperização de setores da classe média, para Soares, também não é causa da adesão de jovens a quadrilhas.

"Certa modalidade de crime tem a ver não só com pobreza, mas com o alijamento de qualquer sonho compartilhado do imaginário comum, de qualquer utopia. Você começa a cultivar a cultura do gueto, da exclusão."

Com base em pesquisas sobre violência e na experiência no executivo, Soares diz que nem sempre o jovem de classe média se transforma num criminoso apenas com o objetivo de comprar a droga para consumo próprio.

"Quando passa a fazer parte de redes criminosas, pode roubar tanto para financiar o vício como para viabilizar a captação de capital, na medida em que começa a atuar como revendedor."

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