A QUESTÃO DAS RAÇAS
Do livro: Raça – conceito e preconceito (Eliane Azevedo - Editora Ática, 1990)
1 - Adaptação biológica
A ciência moderna demonstra que as diferenças raciais ao nível biológico, ou seja, ao nível da estrutura genética, não têm maiores significados em nada afetam a unidade da espécie humana. A integridade genética da espécie humana como unidade é comprovada na reprodução entre pessoas de raças diferentes, gerando descendentes normais e férteis. Se as diferenças entre as raças tivessem importância genética, a reprodução entre elas não ocorreriam. O verdadeiro significado científico das raças é que elas resultam de adaptações climáticas diferentes. As raças não têm origens genéticas diferentes, nem se originaram em fases diversas na evolução do homem. Não existe hierarquia racial. Todas as raças surgiram quando o homem já havia atingido o estágio de homem moderno (homo sapiens) e migrou para as mais diversas regiões do globo....
Fixando-se em regiões climáticas diversas, o próprio processo de seleção natural foi acentuando aspectos físicos do homem moderno que melhor permitiam sua adaptação ao ambiente. Assim, apouca luz solar das regiões nórdicas favoreceu aí: a sobrevivência dos que tinham pele mais clara, a qual facilitava a síntese de vitamina D por estimulação da luz solar. Nas regiões equatoriais, por sua vez, o excesso de luz do sol fez com que os mais bem adaptados fossem aqueles que apresentavam maior teor de melanina na pele e, consequentemente, estavam mais protegidos da excessiva exposição ao sol
Por outro lado, se para os que se fixam em climas frios a presença e pelos no corpo contribuía para reter o calor, para os fixados em regiões quentes a necessidade era exatamente inversa, isto é, Ter o corpo sem pelos para facilitar a perda de calor.
Não apenas a pele e os pelos do corpo, mas também a forma do nariz muito tem a contribuir com a temperatura do ar que é respirado. Nas regiões frias, o nariz afilado e peludo em seu interior é favorável, porque aquece o ar frio antes de chegar aos pulmões. Os habitantes de regiões quentes não necessitam desse aquecimento e adaptam-se melhor com narinas largas e sem pelos.
As diferenças que identificam as raças nada mais são que diferenças adaptativas às suas respectivas regiões. Como essas diferenças têm um substrato genético, elas não desaparecem com a simples mudança da região, mas perduram com os grupos humanos até que novas formas de seleção se façam presentes e modifiquem as características prevalentes até então.
2 - Misturas raciais – não existem raças puras
A falsa ideologia de raça pura nasceu da necessidade política de autoglorificação de certos povos. Não é difícil entender a aceitação da idéia por aqueles cuja necessidade de valorização supera o pensamento lógico. Um pouco de conhecimento da história biossocial da espécie humana é suficiente para demonstrar que a raça pura é um mito.
Mesmo que os grupos humanos ficassem absolutamente isolados uns dos outros, eles jamais seriam puros em relação uns aos outros, porque todos provêm de origem genética comum. Basta recordar que 70% dos genes são iguais em todas as raças e que os 30% que variam, o fazem sem perda das características básicas.
Genética histórica
Após o surgimento do homem como espécie, não havia produção organizada de alimentos, e os bandos nômades, de homens e mulheres primitivos, perambulavam para alimentar-se. Os grupos eram pequenos e isolados, porém se misturavam quando um deles decrescia, tendendo, pois, ao desaparecimento.
Sob essa vida de bandos nômades, a humanidade, passou nada menos que 9/10 de sua existência. Somente há 10000 anos, quando as mulheres descobriram que podiam cultivar a terra para produzir alimentos (revolução agrícola), é que os bandos tornaram-se sedentários e agricultores.
Para alguns geneticistas, a primeira onde de mistura e povos acompanhou os agricultores que difundiram o emprego do arado. Partindo do Oriente Próximo, o uso de arado propagou-se para a Europa, Arábia, Irã, Índia, China e regiões nordeste e leste da África.
Mais tarde, os bárbaros (pastores) que habitavam as estepes da Ásia domesticaram o cavalo, inventaram o carro de guerra e, com essas inovações, espalharam-se com assustadora rapidez pela Europa, Ásia Ocidental, Índia e China, proporcionando mais uma onde e mistura entre povos.
Posteriormente, os bárbaros das estepes descobriram o ferro e a fabricação de armas. Com esse novo poder bélico, marcaram a História com invasões, conquistas e misturas tribais, durante o período de 1200 a 1000 ª C. Datam desse período o domínio de medos e persas no Irã; filisteus, hebreus e arameus na Síria e na Palestina; frígios e dórios na Grécia.
Durante os séculos seguintes, os bárbaros das estepes aperfeiçoaram o controle do cavalo, inventando os estribos e, consequentemente, criando a cavalaria de guerra por volta do ano 850 ª C.
Com o poder das cavalarias, irromperam hordas de bárbaros invasores e rapidamente devastaram a Europa e a Ásia, promovendo nova onda de mistura entre povos.
O testemunho genético dessas misturas é encontrado hoje através do estudo da distribuição geográfica dos grupos sangüíneos nas populações da Europa. O sentido da diminuição da freqüência do tipo e sangue B é o mesmo das migrações de conquistas dos bárbaros, tendo nas estepes da Ásia as freqüências mais elevadas.
E as misturas continuam
Não se esgota com os bárbaros a história das misturas dos povos na Europa.
A história dos grande impérios e suas conquistas é também a história das misturas entre povos e raças.
Os egípcios, cuja expansão territorial máxima ocorreu em 1479 a. C., dominaram fenícios, cananeus, hititas e assírios, entre outros. Por sua vez, os egípcios da época eram descritos como de estatura baixa, morenos, cabelos e olhos pretos, nariz levemente aquilino, apresentando evidências de miscigenação com negróides, semitas e asiáticos.
As sucessivas dominações da região da Mesopotâmia, por diversos impérios, deixaram o saldo de várias misturas nos povos da região.
No ano 3000 a.C. a Mesopotâmia foi ocupada pelos sumérios e subseqüentemente conquistada pelos amonitas, cassitas, assírios, caldeus, persas e finalmente gregos, em 330 a. C.
Os gregos, além da conquista, estimulavam o casamento de seus soldados com as mulheres dos povos conquistados. o próprio Alexandre magno desposou duas princesas aquemênidas e celebrou o casamento de mais de 10000 de seus soldados segundo o rito persa.
Finalmente, a expansão do império romano acrescentou mais mistura à população européia, já historicamente misturada.
Nem os judeus
Por motivo culturais e religiosos, os judeus proclamam seu isolamento reprodutivo, mesmo depois da grande diáspora que os distribuiu em grupos por vários países.
Todavia, estudos antropológicos demonstram semelhanças entre judeus e não-judeus vivendo na mesma região, e os geneticistas, através de cálculos de freqüências gênicas, concluíram que existe mistura racial entre os judeus a uma taxa média de 1% de genes por geração.