TECNOLOGIA
E MICROELETRÔNICAUMA REVOLUÇÃO QUE DESAFIA OS SINDICATOS
Bernardo Joffily
(Revista "De fato" - revista da CUT - dezembro de 1993 - pág. 14 a 25 -- São Paulo)
Não adianta fingir que isso é coisa de Primeiro Mundo. De fato a crise começou por lá, no fim dos anos 60. Mas estamos nos anos 90. Ela chegou aqui. E há uma lógica nesta loucura modernizadora, mas só para quem penetra seus segredos e conhece suas leis.
Hoje, até o seu nome é incerto. Neste artigo, preferimos um termo muito usado: 3ª Revolução Industrial. Como todo rótulo, ele tem defeitos: é comprido demais; e cita apenas a indústria. Mas tem a virtude de colocar o problema no seu contexto histórico. Estimula a comparação com as outras revoluções industriais. Lança luz sobre suas causas, características e tendências. Vivemos desde meados dos anos 70 uma típica Revolução Industrial. O termo é velho. Surgiu há 170 anos, introduzido por Louis Auguste Blanqui, um fantástico agitador que conheceu todos os cárceres da França. A que se referia? À passagem da raça humana, do patamar do artesanato para o da grande (para a época) produção burguesa e fabril. Ela ocorre na Inglaterra, mais ou menos entre 1780 e l840. É que a Inglaterra domina os mares e o comércio; portanto, tem dinheiro. Possui também uma massa enorme de proletários. Já em 1642 varreu as velharias feudais com a Gloriosa Revolução. Tem os vastos mercados de suas colônias. Por , graças a tudo isto, cria a base tecnológica da revolução: máquina de fiar, máquina a vapor, tear mecânico, ferrovia.
O dinheiro do comércio escoa para a indústria, sobretudo têxtil, algodoeira. As taxas de lucros são espantosas. A fábrica produz tanto e tão barato que não depende da demanda existente. Cria seu mercado. Manchester, vértice da industrialização, forma um triângulo espertamente lucrativo: tráfico de escravos da África para a América; importação de algodão da América para a Inglaterra; e exportação de tecidos da Inglaterra para a América e a África.
"[)este esgoto jorra ouro"
Em 1848 um trecho de Marx revela a essência da Revolução Industrial, e não só da 1ª. Marschall Berman (Tudo que é sólido Desmancha no Ar, 1982) considera-o " a visão definitiva do ambiente moderno":
"Subversão ininterrupta da produção, contínua perturbação de todas as relações sociais, interminável incerteza e agitação distinguem a era burguesa de todas as anteriores. Todas as relações sociais fixas, enrijecidas, com seu travo de antigüidade, veneráveis preconceitos e opiniões, forram banidas; todas as novas relações envelhecem antes mesmo de se ossificar Tudo o que é sólido desmancha no ar; tudo que é sagrado é profanado; e os homens finalmente são levados a enfrentar com um olhar sem ilusões as verdadeiras condições de suas vidas."
Junto com a prosperidade, cresce a miséria assalariada. Jornadas de 14, 16 horas; férias de duas semanas, não remuneradas. As cidades incham, poluídas e insalubres. O liberal francês Clérel de Tocqueville, ao visitar Manchester em 1835, comenta: "Deste esgoto imundo jorra ouro puro. Aqui a Humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem". Tal como hoje, a insegurança e a confusão dominam esses "quase selvagens". Já existe a classe mas não a consciência operária. Os antigos artesãos agarram-se ao sonho de uma volta ao passado, ou desesperam. Em 1810 e 1811, o trabalhador Ned (ou King) Ludd chefia uma luta contra as máquinas. Os ludditas atacam fábricas, quebram teares e se refugiam nos bosques. Surgem também cooperativas, sociedades de temperança, seitas religiosas... mas sindicatos, só a partir de 1820.
A Inglaterra avança à custa do retrocesso dos países periféricos. A índia, reduzida à colônia, produz e exporta tecidos de algodão (a palavra chita vem do sânscrito chitra). Em poucos anos a produção algodoeira indiana é aniquilada pela invasão de panos baratos ingleses.
"Você não é pago para pensar"
Após a "revolução do ferro e do carvão" vem a "do aço e da eletricidade", com sede nos EUA. A escolha não deriva só do vasto e rico território norte-americano. O país nasce numa revolução democrática, a Guerra de independência (l775/1783). Cresce (exceto no Sul escravagista) com o trabalho livre dos 33,6 milhões de migrantes que vêm "fazer a América". Na virada do século, ultrapassa a Inglaterra.
A base material para outro salto já existe: eletricidade e aço (antes um produto semiprecioso). A produção siderúrgica dos EUA cresce 850 vezes entre 1860 e 1900. A base econômica forma-se com os trusts, grandes grupos industriais entrelaçados com bancos. No início do século, só o Rockeffeller e o Morgan têm 341 empresas, com capital de 22 bilhões de dólares, 20% do patrimônio do país!
É quando dois americanos propõem lua mudança nas fábricas tão decisiva que fica conhecida pelos seus nomes: o taylorismo ou fordismo. F.W. Taylor defendem em 1896 uma "organização científica" do trabalho fabril. seu mais bem-sucedido seguidor é John Ford. Em 1913 sua empresa produz à moda da época: peritos da mecânica montam os carros quase artesanalmente. Mas Ford quer lançar o modelo "T", acessível ao bolso de todos e experimenta uma versão radical e incrementada do taylorismo.
Ford, na linha de Taylor, parcela a produção. Cada operário executa uma parte mínima do trabalho , repetidas vezes. A meta é reduzir a "porosidade" - os lapsos em que o trabalhador não produz. Os operários devem apenas obedecer. "O senhor não é pago para pensar", diz Taylor certa vez a um deles. A qualificação despenca. Mas a produtividade dispara.
Na linha de montagem, os carros deslizam numa esteira rolante. Diante dela, o operário realiza a operação que lhe cabe. Para o fluxo ser rápido, as peças têm que ser padronizadas. Ford passa a comprar fábricas de autopeças: é a verticalização.
A base tecnológica da produção também muda, com a automação eletromecânica. É uma automação "rígida": cada máquina é feita para produzir, em quantidade, uma única peça. Mudá-la implica fazer outra máquina.
Em 1921, a Ford fabrica 53% dos automóveis do planeta. Em 1970 sobram no mundo, fora o nicho dos carros de luxo, quatro montadoras norte-americanas, dez japonesas e seis européias. Das montadoras o sistema se expande para outros ramos.
Os trabalhadores caem outra vez na confusão e insegurança. No início, rejeitam aquele trabalho embrutecedor que Charles Chaplin denuncia no filme Tempos Modernos . A empresa não acha quem trabalhe para ela. Mas Ford é esperto e anuncia um salário de 5 dólares por dia, o dobro do usual. Na manhã seguinte, 10 mil pessoas se acotovelam diante da sua fábrica em Detroit. Entre 1908 e 1914, o número de empregados da Ford cresce 700%; a produção... 3.000%. Os outros capitalistas também têm que conceder aumentos, expandindo o mercado de consumo. Produção e consumo de massa se alimentam, mutuamente. A produção industrial dos EUA dobra entre 1921e 1929, a fase do Big Business (Grande Negócio).
Os sindicalistas passam um aperto. "Na administração científica do trabalho", dispara Taylor, "não há lugar para o sindicato". Entidades de peso como a dos mineiros e a dos têxteis quase desaparecem. Em 1932 o presidente da American Economic Association, profetiza: "A influência do sindicato na América está sendo lenta mas inexoravelmente circunscrita por mudanças que destroem os próprios alicerces em que o sindicato se apóia. Não há razão para supor que este processo se inverterá na próxima década". Porém a grande fábrica fordista até reforça os "alicerces" sindicais e entre 1934 e 1950 o sindicalismo dos EUA inicia sua fase mais rica neste século.
3ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
CASAMENTO INFORMÁTICA - TOYOTISMO
Enquanto isso, no distante Japão, germina a semente de outra virada. Dessa vez a escolha do país-sede da revolução é desconcertante. O Japão tem uma área igual a 4,5% dos Brasil, 80% montanhosa e pobre. Atrasou-se na industrialização. E vem de perder a guerra, que lhe custou 1,2 milhão de vidas, o parque industrial e cinco anos de ocupação pelos ianques do general MacArthur.
A história tem suas ironias. Apesar desses pontos fracos, e até graças a eles, é no Japão que nasce um novo paradigma. A indústria foi arrasada? Pode se reestruturar. O mercado é pequeno? A produção será flexível, muitos modelos em pequeno número. Os japonesas são pobres? Cortem-se os custos. A concorrência dos EUA sufoca? Mobilizem o Estado e patriotismo do povo. Assim a montadora Toyota, entre 1950 e 1970, desenvolve, adapta e modifica o fordismo até criar um novo sistema, o toyotismo.
A 3ª Revolução Industrial também tem sua base tecnológica própria. É comum ouvirmos que o principal na reestruturação industrial não é a tecnologia, são as novas formas de gestão do trabalho. Isto é apenas parcialmente verdadeiro. A parte verdadeira é que o papel das novas máquinas CNC e dos robôs é relativo. A idéia do robô como símbolo da 3ª Revolução Industrial é uma fantasia. Mas existe uma alavanca tecnológica absolutamente indispensável à modernização em curso: o computador.
No fundo o computador é uma nova linguagem. O homem aprendeu a falar lá uns 2 milhões de anos, em algum lugar da África; a escrever há 6.000 anos, onde hoje fica o Iraque; e a imprimir há 443 anos, na Alemanha. A informática é a quarta linguagem, uma forma nova de comunicar e armazenar o pensamento humano. E mais: através de impulsos elétricos, o computador permite também conversar com as máquinas. Aí reside a base de toda a automação contemporânea.
No sistema Toyota a produção é flexível. fabricam-se muitos modelos, em pequena quantidade. A demanda puxa a oferta. Como num supermercado, os artigos são repostos nas prateleiras à medida que são vendidos. Quando alguém compra um carro, a montadora produz outro igual. As indústrias de autopeças, por suas vez, repõem os componentes. Dentro da fábrica, idem: o setor subseqüente "encomenda" o que necessita ao precedente. Para isso, as máquinas também têm de ser flexíveis.
Não há desperdício. Só a produção acrescenta valor ao produto. Transporte, estocagem e controle de qualidade são reduzidos ao mínimo. Pelo sistema just in time, as fornecedoras descarregam as encomendas num fluxo contínuo. Hoje a Toyota trabalha com estoques de apenas duas horas. Para coordenar tudo, o kanbam volta ao setor que a produziu: é a dica para fabricar uma peça igual.
O trabalho é polivalente. Desde 1955 um trabalhador da Toyota opera em média cinco máquinas. Mais tarde, formam-se equipes de oito que operam uma "ilha" de máquinas e ainda controlam a qualidade, fazem serviços simples de manutenção, limpam o maquinário. A "porosidade" cai a quase zero. É o trabalho "by stress" (sob tensão). Resultado: já houve no Japão mais do que 1.500 casos de karoshi (de karo, traballho estafante, e shi, morte), a morte súbita por estafa.
A terceirização vira norma. Em vez da verticalização, subcontratam-se se empresas - as "terceiras". Cada empresa se "focaliza" numa especialidade. A Toyota só produz 25% das peças de seus carros e controla tudo via participação acionária, créditos, fornecimento de tecnologia. A terceirização melhora a escala de produção, alivia crises e reduz custos. Mas os salários são de 30% a 50% dos da Toyota.
O peso de cada revolução
Um exame comparado das três Revoluções Industriais mostra várias semelhanças entre elas. Todas nascem do casamento entre um novo hardware" (a base tecnológica) um novo "software(organização) do trabalho. Partem de um "país sede". Elevam bruscamente a produtividade. Mas há diferenças. A 3ª Revolução Industrial, ao inverso das outras, não leva a uma fase de expansão da produção, dos investimentos, do consumo e do emprego Ao contrário, seu início coincide com a recessão mundial de 1974 e até hoje, não houve recuperação. Os investimentos também declinam em todos os Sete Grandes. A General Motors, por exemplo, em 1979, lança um megaplano de investimentos de 40 bilhões de dólares que em 1986 se reduz a 3,5 bilhões... A Volkswagen anuncia que aplicará 6 bilhões de dólares por ano entre 1991 e 1996, mas em 1993 fica nos 3,6 bilhões.
Sete grandes: crescimento industrial
acumulado em dez anos
|
1964-73 |
1974-83 |
1984-93 |
Estados Unidos |
65,2% |
15,8% |
34% |
Japão |
108,7% |
40,8% |
15,2% |
Alemanha* |
64,3% |
1,1% |
19,0% |
França |
72,5% |
11,4% |
10,3% |
Itália |
75,0% |
14,3% |
16,7% |
Inglaterra |
39,4% |
3,3% |
14,8% |
Canadá |
87,8% |
9,1 % |
25,8% |
Fonte: Relatório do FMI.
*Após 1990, inclui a ex-RDA.
O avanço japonês exacerba a concorrência e reclama investimentos bilionários dos EUA e da Europa. Mas, contraditoriamente os investimentos são de tal porte e implicam tantos riscos que são travados por seu próprio tamanho. Todos perseguem a toque de caixa o paradigma toyotista, mas ficam no vermelho. A GM teve em 1991 um prejuízo recorde de 4,5 bilhões de dólares. E a indústria automobilística mundial ainda tem capacidade excedente para 8,4 milhões de veículos por ano ! Assim não é de se admirar a tendência protecionista dos EUA e da Europa.
E aí entramos numa segunda diferença desta reestruturação. Nas outras vezes, o país era nitidamente o mais rico e o mais forte. Nesta, o Japão tem 60% do PNB norte-americano e é nanico em força militar e política. EUA e Europa concorrem encarnicidamente com ele. As três Revoluções industriais apressaram a internacionalização da economia. Mas como são três metrópoles no páreo, a globalização segue a lógica dos blocos.
No Brasil, entre o desmonte e o pulo do sapo"
Em geral subestimam-se os avanços da 3ª Revolução no Brasil. Repete-se que o país tem um parque industrial defasado, tecnologia arcaica e investe uma mixaria em pesquisa e desenvolvimento. É fato. Aqui, a alta rotatividade de mão-de-obra gerou um tipo de fordismo radical. Mercado fechado, transportes precários e longas distâncias fomentaram a verticalização. Não há dinheiro para investir em automação.
Mas isso é verdade em comparação com o Primeiro Mundo e os tigres asiáticos. Na América Latina, o Brasil é recordista em produção e instalação de novas tecnologias. A automação bancária está a avançadíssima para aguentar nossa inflação. As montadoras de automóveis não ficam muito atrás. A produtividade-hora na indústria subiu 12,2% entre 1989 e 1992, e 15% no primeiro semestre de 1993. O perigo para nosso país é outro. É entrar de gaiato na reestruturação, obedecendo à lógica dos países centrais. O Brasil perdeu a 1ª Revolução Industrial. "Pongou" na 2ª com atraso, depois de 1930. Mas a partir daí, cresceu depressa.
O ranking da industrialização tardia
Renda líquida da produção industrial
(milhões de dólares)
|
1929/30 |
l 990 |
Crescimento |
Peru |
40 |
13.523 |
338 vezes |
Uruguai |
45 |
2.794 62 |
62 vezes |
México |
70 |
71.325 1.019 |
1.019 vezes |
N. Zelândia |
105 |
11.545 |
110 vezes |
Chile |
105 |
8.337 |
79 vezes |
Coréia |
110 |
106.380 |
967 vezes |
Brasil |
115 |
161.483 |
1.404 vezes |
China |
175 |
153.258 |
875 vezes |
Filipinas |
200 |
15.351 |
77 vezes |
África do Sul |
200 |
39.91 7 |
199 vezes |
Argentina |
325 |
38.236 |
117 vezes |
Austrália |
418 |
91.853 |
220 vezes |
Índia |
500 |
73.816 |
148 vezes |
Fonte: 1920/930 - Atlas of World History
Portanto, não saíamos mal no fordismo. Mas logo entramos na "década perdida" de 80: a produção industrial caiu 6,4%, e a de bens de capital, 26%. Veio então o governo Collor e deu a partida na integração passiva do país na nova divisão mundial de trabalho.
Essa nova divisão, sob patrocínio dos Sete Grandes, prevê a desindustrialização do Brasil: em vez aviões da Embraer, agroindústrias, cana e laranja; no lugar das plataformas da Petrobrás, papel e celulose; nada de química fina, biotecnologia e informática de ponta, só química básica, forjaria, fundição, indústrias "sujas" e de baixo perfil tecnológico.
Não é fácil desmontar uma economia do tamanho da brasileira. E pode-se aventar a hipótese inversa, de darmos o "pulo do sapo, como dizem os economistas, direcionando a Revolução Industrial para o bem-estar do povo, a independência, a pesquisa e as tecnologias de ponta. Mas isso depende de variáveis Políticas. E a desindustrialização é um risco Lembremos da Índia no século passado. Veja na tabela anterior os números do Uruguai, Chile, Argentina e Filipinas. A isso se, chama mudança de posição na divisão internacional do trabalho..
O toyotismo e os trabalhadores no Primeiro Mundo
A 3ª revolução industrial traz diversas conseqüências, principalmente o desemprego. Nos EUA, um milhão de postos de trabalho industriais sumiu entre 1989 e 1990. A General Motors, desde fins de .l991, cortou 325 mil empregos em todo o o mundo. A Volkswagen alemã acaba de anunciar uma redução da jornada e dos salários, avisando ao sindicato: ou isso ou 31 mil demissões. No total, calcula-se em 36 milhões o total dos sem trabalho no Primeiro Mundo.
A dança dos índices de desemprego nos Sete Grandes
1980 |
1985 |
1990 |
1993* |
|
E. Unidos |
7,0% |
7,1% |
5,4% |
7% |
Japão |
2,0% |
2,6% |
2,1% |
2,5% |
Alemanha** |
2,9% |
7,2% |
5,1% |
8,2% |
França |
6,3% |
10,2% |
9,0% |
11,5% |
Itália |
7,5% |
9,6% |
9,9% |
10,6% |
Inglaterra |
6,4% |
11,2% |
6,9% |
10,4% |
Canadá |
7,4% |
10,4% |
8,1% |
11,3% |
*Taxas de maio/junho.
** Após 1990, inclui a ex-RDA.
Fonte: lnstitut Syndical Européen, 1992
A marca de todo o novo sistema é a exclusão. A força de trabalho é "fatiada" como um salame. No topo ficamos empregados das grandes empresas; depois a "fatia" do trabalho precário e parcial, o setor informal; e na ponta do salame ficam os desempregados, dos quais muitos nunca arrumarão trabalho pois caíram no "desemprego estrutural".
É isto que o professor de Massachusetts (MIT) Noam Chomsky chama "difusão do modelo social terceiro-mundista". A central sindical alemã DGB calcula que, em dez anos, 25 % do trabalhadores alemães serão periféricos nas empresas de subcontratação; 50% estarão desempregados ou realizando trabalhos ocasionais; sobrarão 25% de trabalhadores qualificados em grandes empresas.
Os trabalhadores estáveis também passam por mudanças. A mais notável é a "terceirização", que multiplica os assalariados dos serviços e diminui o proletariado fabril tradicional. Uma parte dos observadores deduz daí o enfraquecimento do classe operária. Outros , como o sociólogo francês Jean Lojkine, concluem o contrário: "O que está prestes a desaparecer - diz Lojkine - não é a classe operária, mas a secular divisão entre a classe dos trabalhadores manuais (os 'colarinhos azuis') e os 'colarinhos brancos'".
O próprio trabalho muda, a começar pelo ritmo. Na linha de produção da Toyota, ele é de vinte movimentos em 18 segundos. Os trabalhadores também se qualificam. Mas profissionais como os ferramenteiros se desqualificam, e profissões como a de inspetor de qualidade somem.
Qual o sentido das mudanças?
Existe ou não maior participação dos trabalhadores? O trabalho polivalente, em equipe, é ou não uma negação do parcelamento taylorista? Claro que sim, garantem os cursos empresariais de CCQ. Já para o professor Mario Salerno, da Politécnica da USP, o conteúdo do trabalho "só foi alterado no sentido de rotinizá-lo e padronizá-lo".
Talvez a verdade não seja tão oito ou oitenta. Não dá para acreditar na cascata patronal sobre "interfuncionalidade" e "delegação decisional". Não há parceria quando só um dos parceiros é o dono. Porém o toyotismo é a confissão muda de que quem trabalha para os outros rende menos. Se o trabalhador vende a força de trabalho, ela deixa de ser do trabalhador; ele a aliena e a sua produtividade só pode cair. Daí o empenho do toyotismo na "gestão participativa" - seja via incentivos salariais, seja via envolvimento ideológico. Mas não há zelo que sempre dure. O dos japoneses, antes tão fervorosos, hoje declina. O sindicalista japonês Ben Watanabe conta, com bem-humorada ironia: "Pelo jeito, a coragem, o heroísmo e a dedicação do trabalhador japonês estão cedendo lugar ao mundano direito de ficar mais tempo sem fazer nada. A vaga mais alta arrebentou no 1º de maio (de 1993), que, embora não sejas data comemorativa no Japão, levou cerca de 4 milhões de operários a se ausentarem de seus locais de trabalho."
Este ano a redução da jornada de trabalho esteve no centro da "Shunto", a campanha salarial de maio no Japão. No ano passado(1992), os japoneses trabalharam em média 2.080 horas (contra 1.443 na Volks alemã). Para suprir a escassez, as empresas nipônicas agora importam filipinos, paquistaneses, bengalis, chineses, coreanos do sul, tailandeses e brasileiros. Diz-se até que os imigrantes ajudaram os japoneses a entrarem na luta pela redução da jornada.
Os sindicatos na reestruturação
Tudo isso detonou a crise dos sindicatos. Charles Sabel, da Cisl (central sindical italiana), é taxativo: "Quer os sindicatos se digam revolucionários, reformistas ou 'econômicos' à americana, organizem-se centralizadamente ou não, identifiquem-se com partidos no governo ou na oposição, não conta - os problemas são surpreendentemente parecidos". E comenta que até os poderosos sindicalistas austríacos se perguntam, em privado, se haverá sindicatos no ano 2000.
Desde o pó-guerra, o sindicalismo do Primeiro Mundo estava acostumado - e acomodado - a um tipo de pacto social. Não contestava a ordem capitalista, mas em compensação negociava numerosas cláusulas quanto a salário, emprego, jornada, qualificação, previdência. Isso acabou. O pacto foi rompido. Os sindicatos correm atrás do prejuízo, e sem alcançá-lo.
Taxa de trabalhadores filiados aos sindicatos
|
1970 |
1975 |
1980 |
1985 |
1988 |
Estados Unidos |
29,6% |
28,9% |
23,2% |
18,3% |
16,1% |
Japão |
35,1% |
34,4% |
31,1% |
28,9% |
26,8% |
Alemanha |
37,9% |
41,7% |
42,9% |
44,0% |
40,1% |
França |
22,3% |
22,8% |
19,0% |
16,3% |
12,0% |
Itália |
40,8% |
54,2% |
60,5% |
59,5% |
62,7% |
Inglaterra |
49,7% |
53,6% |
56,3% |
50,5% |
46,1% |
Canadá |
31,1% |
34,4% |
35,1% |
35,9% |
34,6% |
Fonte: Institut Syndical Européen, 1992
Pipocam acordos por empresa que, em nome da defesa do emprego, violam os acordos nacionais. Direitos trabalhistas consagrados vão para o brejo. O modelo toyotista é aplicado com o sindicato, sem ele ou contra ele. Outro analista ligado à Cisl, Paolo Garonna, abre o jogo: "0 que preocupa nos EUA não é uma mudança correlação de forcas sindicato e empresa, mas a erosão de to sistema de contratação coletiva, parte integrante daquele 'compromisso americano' de moderação sindical, alternativo à luta de classe e à politização militante do sindicalismo europeu"
·A grande indústria, cidadela do sindicalismo, recua. Os setores em alta são serviços, bancos, informática e, claro, desempregados. O resultado mais visível é a queda da sindicalização.
O toyotismo é um modelo antisindical. Em 1950 o sindicalismo japonês era forte (50% de sindicalização) e muito combativo. Estourou então uma greve de meses na Toyota, contra 2 mil demissões, e a empresa venceu. Esta paralisação, junto com a da Nissan, em 1953, marca fundo.
Nascem daí: o sistema do "emprego vitalício"; os sindicatos por empresa; e uma intervenção do Exército, com 200 mil cassações, demissões e prisões, que quebrou a espinha do sindicalismo combativo.
O toyotismo não é hostil a qualquer sindicato. Em sua terra natal, se dá muito bem com os sindicatos por empresa. Nos demais países, procura aliciar sindicalistas. Nos EUA, a GM implanta o Projeto Saturno com apoio do UAW (United Automobile Workers, o sindicato nacional do setor). Este assume a competição com os japoneses. Participa dos órgãos de gestão e opina sobre tudo, desde questões de horário até quais empresas serão subcontratadas. A conversa é outra quando o sindicato não colabora. Foi o caso da greve de 150 mil mineiros ingleses do carvão em 1984 e 1985, contra uma reestruturação baseada em 20 mil demissões. A então primeira-ministra Margaret Thatcher, musa do neoliberalismo, nem abriu negociações com o NUM (Sindicato Nacional Mineiro). Após 358 dias de greve, 718 demissões, 4 mil condenações, 10 mil prisões e quatro mortes, os mineiros, rangendo os dentes, voltaram ao trabalho.
Porém amolecer também não resolve. Em setembro de 1992, o governo italiano baixou um pacote cortando gastos com saúde, esticando o tempo para aposentadorias e acabando com a scala mobile. Mas as centrais reagiram com uma greve simbólica de quatro horas. Isso provocou uma onda de protestos de trabalhadores.
A crise do sindicalismo tem ainda outra causa fundamental: o colapso do socialismo na URSS e adjacências. Não cabe aqui comentá-lo, mas seu peso ombreia com o da reestruturação.
Tiro para tudo que é lado
Desde o fim dos anos 70, começa uma febril procura de saídas para a crise sindical. Há propostas para todo gosto, mas podem ser classificadas em três tendências gerais: resistência, parceria e negociar para controlar.
A resistência é importante. Mas concentra-se na tentativa de segurar as conquistas do esquema anterior. Com isso condena-se à defensiva. A reestruturação é um processo subjetivo. Tentar barrá-la é imitar os ludditas, heróicos mas míopes, que quebravam teares em 1810. Já vimos o exemplo dos mineiros ingleses, e poderíamos citar a CGT francesa. Só a resistência não basta. É preciso ir além.
A parceria mergulha de cabeça na colaboração com o patronato para fazer a reestruturação. Seu exemplo típico é o sindicalismo japonês. Porém já vimos o caso do acordo GM-UAW.
Para os trabalhadores, optar pela parceria é imitar Caim, trocar primogenitura por um prato de lentilhas e entrar numa luta de morte com seu próprio irmão. A parceria significa o trabalhador vestir a camisa da "sua" empresa contra as outras e contra os trabalhadores que estão nelas. Qualquer "vitória" se dá às custas da derrota dos outros. É o caminho para todos perderem enquanto classe.
No plano internacional isto leva ao nacionalismo reacionário e ao racismo. Os sindicatos norte-americanos lançaram uma campanha anti-Japão, como slogans tipo "Compre produtos americanos" e "Lembre-se de Pearl Harbor" (o ataque que levou Japão e EUA à guerra). Um sindicalista da Chrysler espancou até a morte o colegial sino-americano Vincent Chin com um taco de beisebol, porque ele "parecia japonês".
A negociação para controlar tem seus principais seguidores na Itália, Alemanha e Suécia. Centra fogo em negociações tripartites, do tipo das nossas Câmaras Setoriais. Partindo da irreversibilidade da reestruturação, tenta colocá-la sob controle dos trabalhadores.
As câmaras não são uma invenção recente, nem brasileira. Watanabe conta como, em 1955, surgiu o JPC (Centro de Produtividade japonês), "uma entidade tripartite, da qual participavam empresários, governo e sindicatos". Fóruns semelhantes existem em vários países. No México chamam-se Pactos de Produtividade.
"Alguns pensamentos perigosos"
Justamente quando o sindicalismo da Europa e dos EUA começou a emburacar, o brasileiro decolou. A fase de 1978 a 1990 foi amais fecunda a e sua história: greves (-]o ABC, resistência à ditadura, queda de pelegos, fundação da CUT, avanço dos rurais, greves de bóias-frias, sindicalização dos funcionários públicos, greves gerais, aumento do número de entidades e de filiados, 31 milhões. (de votos para um ex-sindicalista que se candidata a presidente. Em vários anos o Brasil foi campeão mundial de greves.
Mas a partir de 1990 as greves e os sindicatos entram em descenso. Este se deve a muitas causas: recessão, inflação, política de Collor, Força Sindical, problemas internos do movimento. A incipiente reestruturação toyotista brasileira, por si , não seria capaz de provocá-lo. Mas daqui para frente ela vai pesar cada vez mais.
Evolução das greves no Brasil dos anos 80*
1985 |
1986 |
1987 |
1988 |
1989 |
1990 |
1991 |
1992 |
|||||||||
Greve |
664 |
1.052 |
1.101 |
888 |
2.193 |
1.952 |
1.128 |
623 |
||||||||
Grevistas (milhões) |
6.194 |
5.757 |
9.015 |
7.426 |
16.597 |
9.805 |
7.528 |
2.819 |
||||||||
Horas paradas (mil) |
384 |
347 |
821 |
568 |
1.296 |
771 |
679 |
141 |
* Não inclui as greves gerais de 12/12/86, 20/08/87, 14-15/3/89, 12/6/90 e 22-23/5/91
Uma linha para enfrentá-la deve incluir elementos de três tipos: de resistência, de contra-ofensiva e de superação. Já que falamos tanto do Japão, convém invocar uma palavrinha japonesa: kikenshiso. Quer dizer "pensamentos perigosos". Os conservadores de lá rotulam com ela aquilo que contesta seu esquema. Vamos precisar de muito kikenshiso. para sair desta crise.
É bom ressaltar que tanto resistência quanto contra-ofensiva e superação passam, necessariamente, pelo fortalecimento das organizações nos locais de trabalho.
Os elementos de resistência já estão mapeados. É preciso lutar pelo direito a informação prévia das inovações. Informação também se conquista, com o mapeamento das empresas que pode revelar caminhos muito concretos para a luta. Diversos estudos mostram que o just in time é um sistema vulnerável, pois um elo que se quebra rompe toda a cadeia, e isso já resultou em novas formas de luta, como a "greve estratégica" do ABC. a manutenção e o aumento dos postos de trabalho é uma reivindicação obrigatória. Assim como a reciclagem profissional e o reaproveitamento dos afetados pela reestruturação. Outra bandeira é contrária a terceirização e por igualdade de direitos para os trabalhadores das "terceiras".
O contrato coletivo de trabalho tende a ser um instrumento importante, pois permite generalizar um patamar mínimo de conquista. E a resistência não pode deixar de incluir a luta de idéias para desmascarar as balelas patronais com argumentos sólidos e concretos.
Os elementos de contra-ofensiva já são mais kikenshiso. O primeiro deles é a luta pela redução da jornada de trabalho, naturalmente sem redução de salários. Alguém pode dizer que ela não é novidade, mas é. Esta bandeira secular tem hoje uma importância nova. A 3ª Revolução cria condições inéditas para efetivá-Ia. E só ela pode evitar a desunião, a concorrência, a degradação dos trabalhadores. Há cem anos, éramos capazes de lançar uma campanha mundial pela redução da jornada, com um dia mundial de luta, greves e passeatas, até vencer. Hoje ternos motivos para fazer dez vezes mais.
Outra tarefa é voltar o movimento sindical para o conjunto dos trabalhadores. É um erro ignorar a legião de desempregados e subempregados, ou vê-los apenas como objeto de campanhas de solidariedade. Eles são trabalhadores, tanto quanto os que estão no mercado formal. Precisam de organização. Os novos segmentos assalariados também merecem esforço especial para engajá-los na luta. Objetivamente é por aí que eles marcham, mesmo que - tal como os primeiros operários ingleses - não tenham ainda consciência disto. Tudo isso exige um discurso renovado e reivindicações específicas. O objetivo geral é unir os trabalhadores, empregados ou não e qualquer que seja a cor de seus colarinhos.
Restam os elementos de superação. Como vimos, a 3ª Revolução Industrial não é um mal em si. Pelo contrário. A cada momento percebemos o potencial libertário das novas tecnologias de parte das novas formas de organização do trabalho. Os males têm outra origem. Vêm de um sistema que oprime, aliena, escraviza e deforma o trabalho até o absurdo do karoshi. O movimento sindical não deve, não precisa e não pode ser complacente com ele. A luta para vencê-lo comporta erros, descaminhos, derrotas, descensos, mas renasce sempre. Mais dia, menos dia, vencerá.
Aí sim, retomaremos a Revolução Industrial - repensada e depurada das deformações atuais - para que ela sirva ao trabalho livre de trabalhadores livres. O saber humano, também emancipado, fará outras e outras revoluções na revolução. E se alguém relata em sonhar tão alto, pense o que diria Ludd se lhe falassem da última geração dos computadores PowerPc.
ESQUEMA DAS TRÊS REVOLUÇÕES DO CAPITALISMO
|
PRIMEIRA |
SEGUNDA |
TERCEIRA |
ÉPOCA DE INÍCIO |
1780 |
1913 |
1975 |
PAÍS LÍDER |
INGLATERRA |
ESTADOS UNIDOS |
JAPÃO |
CARRO-CHEFE |
Indústria têxtil (algodoeira) |
Indústria automobilística |
Indústria automobilística e eletroeletrônica |
PARADIGMA |
MANCHESTER |
FORD |
TOYOTA |
BASE DE "HARDWARE" (MATERIAL) |
Máquina de fiar, tear mecânico, máquina a vapor, ferrovia, descaroçador de algodão |
Eletricidade, aço, eletromecânica, motor a explosão, petróleo, petroquímica |
Informática, máquinas CNC, robôs, sistemas integrados, telecomunicações, novos materiais, biotecnologia |
BASE DE "SOFTWARE" (ORGANIZACIONAL) |
Produção fabril, trabalho assalariado |
Produção em série, linha de montagem , rigidez, especialização, separação gerência-execução |
Produção flexível, ilha de produção, "just in time", qualidade total, integração gerência-execução |
TRABALHO |
Semi-artesanal, qualificado, "poroso", pesado, insalubre |
Especializado, fragmentado, não-qualificado, intenso, rotineiro, insalubre, hierarquizado |
Polivalente, integrado, em equipe, intensíssimo, flexível, estressante, menos hierarquia |
VOLUME DE INVESTIMENTOS |
Baixo |
Alto |
Altíssimo |
RELAÇÃO INTEREMPRESAS |
Livre concorrência |
Monopólio, forte verticalização |
Monopólio, forte horizontalização(terceirização), formação de megablocos comerciais |
ESCALA |
Local, nacional, internacional |
Nacional, internacional |
Internacional, global |
DOUTRINA |
Liberalismo (Adam Smith), David Ricardo) |
Liberalismo até 30; Keynesianismo pós-30 |
Neoliberalismo(Thatcher, Reagan) |
PRODUTIVIDADE |
Grande elevação |
Grande elevação |
Grande elevação em ritmo vertiginoso |
PRODUÇÃO |
Desencadeou ciclo de crescimento |
Desencadeou ciclo de crescimento |
Não desencadeou ciclo de crescimento |
CONSUMO |
Grande expansão |
Grande expansão |
Tendência à estagnação |
EMPREGO |
Forte expansão principalmente na indústria |
Forte expansão principalmente na grande indústria |
Forte retração principalmente na indústria, trabalho parcial, precário, informal |
REAÇÃO DOS TRABALHADORES |
Perplexidade, quebra de máquinas, cooperativismo, primeiros sindicatos |
Perplexidade, reforço dos sindicatos, conquistas sociais (salários, previdência, jornada de trabalho, contrato coletivo) |
(até o momento) Perplexidade, dessindicalização, fragmentação, tendência à "parceria" assumida ou conflitiva |
GLOSSÁRIO
Automação.
Modernizaçao produtiva em que a máquina passa a desempenhar automaticamente um conjunto de funções sem interferência imediata do trabalhador.Biotecnologia. Termo genérico para os avanços recentes na Biologia. Designa em especial: a engenharia genética, que permite a manipulação dos gens, elevando a precocidade, produtividade, qualidade e resistência das plantas e animais; e a pesquisa de novos componentes orgânicos, por exemplo para a indústria farmacêutica.
CAD-CAM (de Computer aided Design e Computer Aided Manufacturing). Desenho e produção industrial com auxílio de computadores. O uso das duas siglas unidas indica a passagem automática e direta das especificações do projeto para a produção.
CCQ, Círculos de Controle de Qualidade. Grupos de seis a dez trabalhadores, teoricamente voluntários, surgidos no Japão dos anos 60 e introduzidos no Brasil em 1981. Visam racionalizar o processo de trabalho via sugestões e fluxo de informações. Têm também função ideológica, sendo apresentado como "democratizantes".
CEP, Controle Estatístico de Processo. Método preventivo de garantia de qualidade. O andamento do trabalho é constantemente comparado com um padrão definido, com imediata correção dos desvios. Emprega técnicas estatísticas, gráficos de controle, histogramas e diagramas causa-efeito.
Cinco Zeros. Zero estoque, zero defeito, zero papel, zero espera, zero pane (ver Qualidade Total).
CNC, Comando Numérico Computadorizado. Simbiose entre máquina e computador.
Flexibilidade ou Sistema flexível de manufatura. Aceita chegada aleatória de ordens de produção e encomendas personalizadas.
Focalização. Tendência das empresas a se concentrar na "atividade-foco" em que tem vantagem competitiva. Opõe-se à verticalização(ver terceirização).
Gestão Participativa. mobilização dos trabalhadores, com incentivos econômicos (prêmios, estabilidade, carreira) e forte carga ideológica, visando engajá-los na reestruturação produtiva.
Ilha de Produção. Mudança do layout do tipo jobshop. Agrupa máquinas de diferentes tipos, em forma de linha ou de "U", e operadas coletivamente por uma equipe. Cada ilha produz uma família de peças semelhantes por sua geometria ou processo.
Just in Time (na hora certa). Sistema de organização da produção para produzir na quantidade e no tempo exatos. Reduz drasticamente os estoques e aumenta a flexibilidade. Entregas mais freqüentes e em lotes menores por parte dos fornecedores. As fábricas dos anos 80 têm ruas internas para o fornecedor descarregar diretamente no setor que utilizará a entrega.
Kamban. O sistema de informação que alimenta o just in time. Originalmente usa cartões coloridos que acompanham as "encomendas" feitas entre setores ou entre empresas.
Modularidade. Método de organização da produção em "famílias" de produtos assemelhados entre si, que, por exemplo, empregam os mesmos componentes.
Polivalência. Operação simultânea de várias máquinas diferentes(multiskill worker) ou semelhantes (multitask). Compreende também a redução dos níveis hierárquicos e tipos de cargos na produção, até com rodízio de funções.
Porosidade. Lapsos de tempo em que o trabalhador não está produzindo, enquanto espera, por exemplo, que determinada máquina conclua sua tarefa. É drasticamente reduzida no trabalho polivalente.
Controladores Programáveis (programmable controillers), ou PC (não confundir com o Personal Computer). Estágio de automatização inferior ao CNC.
Qualidade Total. Complexo de procedimentos (CCQ, CEP, etc.) que visa elevar ao máximo a qualidade e reduzir ao máximo os defeitos da produção. Também chamada Cinco Zeros.
Robô. Máquina informatizada que substitui totalmente ou em grande parte o trabalho humano em funções complexas, como pintura e soldagem de automóveis. Movimenta e manipula ferramentas e peças à semelhança de um trabalhador. Com freqüência é antropomorfo, com a forma de um braço humano e articulações de ombro, cotovelo, pulso e garra. Possui também órgãos de sentido (visão).
O termo, criado pelo escritor Karel Capek em 1921, vem do checo robota, trabalho forçado.
Telemática. Associação entre telecomunicações e informática empregada, por exemplo, nos caixas automáticos de bancos.
Tempo de Atravessamento (lead time). Tempo em que o produto percorre ('atravessa') o conjunto do processo produtivo dentro da empresa, desde a encomenda até a entrega do produto. Deve ser reduzido ao máximo para reduzir a duração do cicio de reprodução do capital.
Terceirização (em inglês outsourcing, fornecimento de fora). Tendência das grandes empresas para subcontratarem outras firmas, empreiteiras ou 'terceiras" para assumir funções auxiliares (faxina, segurança, cozinha, transporte) ou diretamente ligadas ao processo produtivo (manutenção, ferramentaria, setores com emprego intensivo de mão-de-obra e menor emprego de maquinaria) ou fornecer componentes prontos (ver localização).
Toyotismo. Sistema de produção, relações interempresariais e relações de trabalho desenvolvido pela montadora automobilística japonesa Toyota, considerado como paradigma da 3ª Revolução Industrial.
Verticalização. Tendência de uma grande empresa para assumir ela mesma todos os estágios da cadeia produtiva de um produto. Característica do fordismo é contrariada pela terceirização.
Nicho. Setor específico da produção ou do mercado, que apresenta características marcadamente diferenciadas; "0 nicho das prensas pesadas'; "O nicho dos veículos fora-de-estrada".
SMED (singre minute exchange die, ferramenta de troca num minuto). Processo criado em l 969 no Japão para reduzir ao máximo o tempo que uma máquina fica parada, na produção flexível, para ser ajustada a uma mudança no modelo que está sendo produzido. Baseia-se no princípio de fazer o máximo de operações preparatórias com a máquina ainda em funcionamento.