ARIEL CASTRO'S CORNER
Por uma Nova Filologia e um Novo Humanismo!
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Esperemos que aqui você possa encontrar motivos para redescobrir a Filologia, disciplina de que hoje se faz pouco caso, principalmente nas Américas. O Autor desta página, dentro dessa perspectiva, terá muito prazer em incluir após cada trabalho algumas contribuições a eles correspondentes, desde que objetivas e curtas e enviadas por e-mail. Sempre que possível, poderão ser dadas respostas a consultas pertinentes aos assuntos tratados. Textos completos e/ou resumidos de trabalhos acadêmicos e didáticos
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Última atualização: 26/08/02Nesta página os acréscimos e atualizações são feitos com frequência. Por isso, volte sempre e divulgue-a! A Filologia é uma disciplina histórica, baseada na visão sincronica da realidade linguística do texto escrito e voltada para os mais diferentes aspectos da cultura que permeia esse texto.
Cultura é o conjunto de rotinas espontâneas, de carácter mental ou habitudinário, que cada indivíduo, relativamente a seu grupo social, e cada grupo, em relação a outros, evidenciam, em maior ou menor grau, mas de forma inconsciente, seja no contexto de liberdade, seja no de coação.
Ariel Castro
Filólogo, Historiador
O autor desta HomePage, José Ariel Castro, é brasileiro e nasceu em Laranjais, município de Itaocara, Estado do Rio de Janeiro. Graduou-se em Letras Anglo-Germânicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1959, e completou estudos formais de pós-graduação - especialização, mestrado e doutorado - na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, de 1968 a 1974. Fez pós-doutorado em linguística, entre 1976 e 1979, na Universidade de Heidelberg, onde também foi estudante, a nível de doutorado, e leitor, de 1971 a 1972. Após conquistar a livre docência na UFRJ, em 1977, tornou-se professor titular (Full Professor) dessa Universidade brasileira, ex-Universidade do Brasil, cadeira de Filologia Românica, em 1981. Participou Ariel Castro, como assessor, dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte em 1987. Nesta função, entre outras iniciativas, concebeu, redigiu, propôs a nível de comissão e viu finalmente aprovado, sem modificações, dispositivo constitucional de prevenção contra a tortura de presos políticos (Constituição, art. 136, parágrafo terceiro, inciso II). Posteriormente, foi requisitado pela Câmara dos Deputados à Universidade Federal do Rio de Janeiro para as funções de assessor legislativo. Entrementes, exerceu atividades executivas em diferentes ministérios, como a de chefe e sub-chefe de gabinete de ministros de Estado e secretário executivo de órgãos da Administração Pública. Finalidade desta Home Page.
Esta página foi criada pelo próprio Autor e vem sendo desenvolvida com a finalidade, dentro do melhor espírito de congraçamento acadêmico e intelectual, de apresentar o que o autor tem escrito e pesquisado nos campos da linguística, da filologia, da literatura e da história e em relação ao Brasil, Portugal e Europa ocidental. Os textos são autênticos e, quando publicados anteriormente, apresentados on-line de acordo, sempre que possível, com a paginação original, resguardado o copyright do autor. Para os trabalhos inéditos aqui publicados, reservam-se os direitos de citação e reprodução, a menos que se indique claramente esta homepage, de acordo com as normas de citação já presentes na Internet, e o respectivo lugar em que o texto citado ou reproduzido se encontra. Poderão também ser apresentados, com o tempo, textos de referência. Elenco dos trabalhos ora disponíveis
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SINOPSE DO NOVO LIVRO DE ARIEL CASTRO AMÉRICO, AMÉRICA! Decifrando enigmas da vida e da obra de Américo Vespúcio. Venezia, Centro Internazionale della Grafica di Venezia. Rio de Janeiro, Navona Editora. 2008, 328 p. Contextualização histórica dos principais aspectos da vida e da obra de Amerigo Vespucci, doravante referido como Américo Vespúcio, com base em reavaliação de fontes primárias, conhecidas ou não. Assim, neste livro: 1 – Chegada de rico material cosmográfico de Vespúcio à Lorena em fins de 1506, vindo de Burgos. 2 – Estabelecimento da correspondência do mapa de Martin Waldseemüller de 1507 com o estado do Projeto das Especiarias de Fernando o Católico em setembro de 1506, sob a responsabilidade de Vespúcio. 3 – Caracterização da representação da América, no mapa e no globo em gomos de Waldseemüller, com base no material de Vespúcio recebido de Burgos, na Espanha, pelo duque René II, da Lorena. 4 – Esclarecimento da convocação de Vespúcio, finalizada em 15 de setembro de 1506, para encontrar-se com o rei Felipe I a fim de tratar do Projeto das Especiarias e de assuntos relativos às Índias Ocidentais. 5 – Recuperação histórica, com base no conteúdo de documentos primários, do encontro de Vespúcio com Jean de Luxembourg, Seigneur de Ville, na manhã de 24 de setembro de 1506, na Casa del Cordón, em Burgos, para tratar de assuntos das Índias no momento em que piorava o estado de saúde de Felipe, rei de Castela. Tornou-se terminal na noite desse dia. Diego de Guevara, tradutor do rei e maître d'hôtel da rainha, nele esteve por morar no palácio e ser amigo de Philibert de Veyre, maître d'hôtel do rei e de Jean de Luxembourg. 6 – Fixação das consequências do retorno de Vespúcio à Espanha, possibilitado pelo rei Fernando o Católico após a morte da rainha Isabel em novembro de 1504 e sua conversa, um mês depois, com Bartolomeu Colombo para se inteirar dos resultados da quarta viagem de seu irmão Cristóvão. 7 – Prova do caráter fictício da viagem Vespúcio/Hojeda/Cosa em 1499. 8 – Demonstração do descobrimento do Brasil, na costa do Amapá, em 27 de junho de 1499 e navegação posterior à vista de terra até o nordeste brasileiro. 9 – Estabelecimento das reais circunstâncias da transferência de Vespúcio para Portugal em 1501 e de seu retorno à Espanha em fins de 1504. 10 –Exposição do processo de formação do original espanhol do relato das Quattuor Navigationes e de sua versão para o italiano, pelo próprio Vespúcio, para o francês, por Diego de Guevara, e para o latim, por Jean Basin de Sandacourt. SUMÁRIO DO LIVRO:
SINOPSE SUMÁRIO PRÓLOGO CAPÍTULO I - Um "fait de Lorraine" une as vidas de Américo Vespúcio e Felipe I da Espanha em junho-setembro de 1506 1.1 - Introdução 1.2 – Primeiro documento (inédito, na bibliografia vespuciana): Correspondência entre o governador dos Países Baixos, Guillaume de Croy, e seu soberano, o arquiduque Philippe le Beau, prestes a tornar-se definitivamente o rei Felipe I da Espanha. 1.2.1 - Conteúdo 1.2.2 – Personagens explícitos e implícitos a) Philippe le Beau: último duque de Borgonha e primeiro rei Felipe de Castela. b) O Senhor de Chièvres: uma carreira brilhante. c) René II, duque de Lorena: da frustração do usufruto de legítimos direitos familiares feudais a uma vida de dedicação ao povo da Lorena e Bar, à religião e ao saber. d) Jean de Luxembourg, Seigneur de Ville, grande chambelano de Philippe le Beau. e) Diego de Guevara, conselheiro, intérprete e tradutor de Philippe e maître d’hôtel da rainha Juana 1.3 – Segundo documento (inédito): Na visão de seu médico e historiador, Symphorien Champier, René destacava-se por vários conhecimentos específicos, inclusive a cosmografia. 1.4 – Terceiro documento: A convocação de Américo Vespúcio a Burgos para prestar informações sobre o Projeto das Especiarias, de Fernando o Católico. CAPÍTULO II - A missão de Vespúcio a Burgos com base nos documentos apresentados e em outras circunstâncias 2.1 – Os documentos e seus condicionamentos 2.2 – Antecedentes do documento entre a Lorena, Chièvres e Felipe I 2.3 - Felipe I torna-se rei-administrador, sucedendo a Fernando o Católico, e volta sua atenção para as Índias e para o Projeto das Especiarias. 2.3.1 – A carta de Felipe I, de 23 de agosto de 1506, aos oficiais da Casa de La Contratación: outras circunstâncias. 2.3.2 – Uma real cédula desconhecida de Felipe I e Juana, da primeira quinzena de setembro de 1506, aos oficiais da Casa de La Contratación. 2.3.3 – As providências de Matienzo e Francisco Pinelo. CAPÍTULO III Pressupostos da missão de Vespúcio a Burgos 3.1 – De navegador das sombras dos descobrimentos, Vespúcio passa a ser, em pouco tempo, o nome principal da nova política espanhola para as Índias até tornar-se a pessoa capaz de resolver para Felipe I o assunto da Lorena 3.1.1 – O inconvincente estreito imaginado por Colombo para chegar às Índias pelo ocidente. 3.1.2 – Frustração de Américo Vespúcio com o rei de Portugal e recurso ao rei D. Fernando. 3.1.3 – Américo Vespúcio envia um relato sobre suas quatro navegações para o rei D. Fernando. 3.1.4 – A Lettera al Soderini como meio de introdução de Américo Vespúcio no círculo restrito dos comandantes e capitães de navios espanhóis 3.1.4.1 – Uma crítica textual da Lettera já indicou que uma versão em castelhano existiu antes dela 3.1.4.2 – O conteúdo do relato da segunda navegação também aponta para o fato de que o texto foi feito para ser lido por Fernando o Católico. 3.1.4.3 – A primeira menção histórica do texto manuscrito da Lettera aponta para um encontro entre Vespúcio e D. Fernando ainda no mês de janeiro de 1505. 3.1.4.4 – A cópia Coralmi representa uma fase inicial, jurídica, do processo de publicação da Lettera al Soderini. 3.1.4.5 – A data da cópia Coralmi indica que Vespúcio, ainda em janeiro de 1506, tomou a decisão de mandar o texto original que dirigira ao rei D. Fernando para Piero Soderini 3.2 – A Reunião de Toro como início da vida oficial de Vespúcio na Espanha 3.3 – Chegada de Vespúcio a Burgos. 3.3.1 – Por que Vespúcio foi a Burgos e não a Tudela de Duero. 3.3.2 – Enquanto Vespúcio viajava para Burgos, o rei Felipe I adoecia e chegava a seus utimos dias. 3.4 – Recuperação histórica da entrevista de Américo Vespúcio com o Seigneur de Ville em 24 de setembro de 1506. 3.4.1 -As circunstâncias da entrevista. 3.4.2 – A questão da tradução da Carta a Soderini para o francês. Seu provável autor. 3.4.3 – Questões da Lettera diante do tradutor Diego de Guevara 3.5 – Consequências do encontro de Américo Vespúcio com o Seigneur de Ville CAPÍTULO IV - O material de Vespúcio, entregue ao Seigneur de Ville, chega a Saint-Dié. 4.1 - Saint-Dié e seu Ginásio Vosagense 4.2 - Novas revelações do mapa de Martin Waldseemüller de 1507. 4.2.1 – Aspectos do mapa, em visão recente. 4.2.2 – Novos aspectos do mapa, não abordados ou abordados insuficientemente. 4.2.3 – Traço em comum entre uma testemunha que viu o mapa e o globo em gomos de Waldseemüller, elaborados ainda em 1507 e outra que viu o globo de Vespúcio presenteado ao rei D. Fernando. 4.2.3.1 – Trithemius: valor e alcance de seu depoimento 4.2.3.2 – Alonso de Zuazo: o mapa e o globo de Waldseemüller na Espanha de Fernando o Católico e seu significado para as honrarias recebidas por Vespúcio. 4.2.3.3 – Trithemius e Alonso de Zuazo 4.3 – A Cosmographiae Introductio: desvio circunstancial do projeto de edição da Geographia, de Ptolomeu. 4.4 – Outros aspectos do traçado da América e de sua continuação setentrional no mapa de Waldseemüller de 1507 sugerem também um material e uma situação dinâmica que lhe serviram de referência 4.5 – A representação das Américas, no mapa de Waldseemüller de 1507, como uma tradução de um mapa de navegação feito por Vespúcio em consonância com os ensinamentos que lhe propiciaram suas quatro navegações CAPÍTULO V - A questão vespuciana e seu único dogma 5.1 - Um problema de crítica textual está na base de toda a questão vespuciana 5.2 - Na história da questão vespuciana só uma afirmação foi elevada ao nível de dogma e a ela se subordinam várias outras. 5.3 - É necessário retornar às fontes para reavaliar a veracidade histórica das viagens de Vespúcio 5.4 - Inconsistência do dogma: a viagem conjunta Hojeda/La Cosa/Vespúcio nunca aconteceu 5.4.1 - Bartolomeu de las Casas e o depoimento de Alonso de Hojeda ao Fiscal. 5.4.2 - Objetivos de Las Casas na apresentação do texto que transcreve extensivamente. 5.4.3 - O anti-vespuciano Las Casas diante dos Pleitos Colombinos. 5.5 - Depoimento consolidado de Alonso de Hojeda conforme o texto da Historia de las Indias. 5.6 - Leitura paleográfica e crítica do documento que Las Casas viu 5.6.1 - História e natureza do documento lido por Las Casas e local em que se encontra. 5.6.2 - Necessidade de estudo minucioso desse documento. 5.6.3 - Caracterização paleográfica do mesmo. 5.6.4 Características gerais da caligrafia do escrevente que produziu o documento. 5.6.5 - Apresentação da declaração de Hojeda sobre sua viagem e sobre Juan de La Cosa e Américo Vespúcio em resposta à quarta pergunta do folio 6v. 5.6.6 - Cópia limpa da declaração sobre Vespúcio 5.7 - Realidade paleográfica da declaração de Alonso de Hojeda diante das leituras de Las Casas e de seus sucessores até o século XX 5.8 - Apresentação de cada linha da declaração de Hojeda, com as particularidades gráficas de seu conteúdo, diante das leituras havidas desde Las Casas 5.9 - A anotação marginal ao texto da linha 4 sob a forma da palavra Vespuci e seu significado 5.10 - Leitura final da declaração de Alonso de Hojeda a) Leitura, linha a linha: b) Leitura, com pontuação moderna c) Leitura interpretativa moderna 5.11 - Caracterização lingüística do erro de leitura de Las Casas e de seus sucessores apurado na análise paleográfica do documento da declaração de Alonso de Hojeda ao Fiscal 5.11.1 - Preliminar semântica: a inserção abusiva, na linha 18, por parte de Navarrete, de uma preposição en na frase este viaje 5.11.2 - As leituras inconsistentes casi e ansí para [a] longo, na linha 4, e suas conseqüências para o entendimento da declaração de Hojeda 5.11.3 - Natureza gramatical do erro de Las Casas e seus sucessores. 5.12 - Preliminares de uma nova crítica histórica: pensamento anti-vespuciano multissecular como pequenas variações das idéias lascasianas divulgadas por Herrera 5.12.1 - Ilações sobre as ações de Vespúcio feitas por Las Casas com base em seu entendimento equivocado, de que, ainda assim, chegou a manifestar dúvidas. 5.12.2 - Destino da premissa do depoimento de Hojeda. 5.12.3 - Repetição do erro de Las Casas ao longo dos séculos. CAPÍTULO VI -Dados históricos também comprovam a inexistência da viagem conjunta Hojeda/Vespúcio 6.1 - Hojeda e Vespúcio, duas trajetórias de vida diferentes 6.1.1 - Motivações e objetivos das viagens de Hojeda e Vespúcio em 1499 6.1.2 - Situações concretas das duas viagens 6.1.3 - A ilha Espanhola foi o primeiro destino transatlântico da viagem de Hojeda. 6.1.4 - A partida de Hojeda da cidade de Cádis foi um fato não relacionado, no dia em que ocorreu, com a partida de Vespúcio da mesma cidade. 6.1.5 - Referências de Colombo à viagem de Hojeda em 1499 confirmam as palavras de Ledesma 6.1.5.1 - A "brevedad" da viagem de Hojeda, segundo Colombo 6.1.5.2 - Pelo texto da pergunta 3 das Probanzas del Fiscal, Colombo comentara que Hojeda, primeiro, e Niño e Guerra, depois, passaram pela ilha Espanhola antes de irem a Pária. 6.1.6 - Hojeda voltou à Espanha em fins de novembro ou princípios de dezembro de 1499; Vespúcio, só em junho de 1500 6.1.7 - A viagem de Hojeda fracassou em seus objetivos 6.2 - Silêncio da Pesquisa contra Alonso de Hojeda a respeito de Vespúcio CAPÍTULO VII - Américo Vespúcio descobre o Brasil em 1499 7.1 - Introdução 7.1.1 – A viagem de Vespúcio em 1499 já se apresentava confusa antes de Las Casas cometer seus erros de leitura do original hojediano 7.1.2 - Vespúcio transformado em mentiroso e realizador de viagens duvidosas 7.1.3 – Vespúcio e o descobrimento do Brasil 7.2 - Chegada de Vespúcio ao Brasil 7.2.1 - Dados gerais da viagem de Vespúcio. 7.2.2 – A geografia da chegada de Vespúcio ao litoral da América do Sul 7.3 – A navegação, com maiores detalhes: em 1499, Vespúcio descobriu o Brasil, em viagem não oficial, percorreu larga extensão de seu litoral e, depois, chegou sem querer a Pária, na Venezuela, por onde tinha passado, alguns meses antes, o piloto Alonso de Hojeda 7.3.1 - Dados gerais da viagem de Vespúcio. 7.3.2 – Canal Perigoso e Canal Sul. 7.3.2.1 - Primeira exploração da terra. 7.3.2.2 - Ponto inicial de desembarque. 7.3.2.3 – Continuação, rumo sudeste, da exploração da costa brasileira. Navegação de longo. 7.3.2.4 - Outros pontos importantes da narrativa vespuciana de 18 de julho de 1500, em sua viagem independente de 1499. CAPÍTULO VIII - Saída de Vespúcio para Portugal como consequência da viagem de 1499 8.1 –A saída de Vespúcio para Portugal situou-se entre a sensação de frustração e a alegria do começo da notoriedade 8.2 - Triunfos da Índia. APÊNDICE DE FONTES PRIMÁRIAS I - Commission de lieutenant général des Pays-Bas et de Bourgogne donnée par Philippe le Beau à Guillaume de Croy, seigneur de Chièvres: Bruges, 26 décembre 1505. II - Carta de Philippe le Beau ao Senhor de Chièvres e ao seu chanceler do Brabante (depois, também da Borgonha), pela qual lhes faz saber de suas intenções sobre diferentes assuntos dos negócios dos Países-Baixos e lhes dá informação sobre o tratado que acaba de concluir com o rei de Aragão em Benavente em 30 de junho de 1506. (Lettre de Philippe le Beau au seigneur de Chièvres et au chancelier de Bourgogne par laquelle il leur fait connaître ses intentions sur différents points concernant les affaires des Pays-Bas, et les informe du traité qu’ il vient de conclure avec le roi d'Aragon: Benavente, 30 juin 1506.) III - Capítulos da carta do licenciado Alonso do Cuaco al Emperador, su fecha en Santo Domingo de la Isla Española a 22 de Enero de 1518. IV - Carta del Doctor Parra, médico e professor de la Universidad de Salamanca, escrita desde Valladolid al Rey Católico, dándole noticia de la enfermedad y muerte de Felipe I, acaecida en Burgos el 25 de setiembre de 1506. V - Carta de 18 de julho de 1500, conforme o texto de Francisco Adolpho Varnhagen VI - Leitura de Varnhagen do texto de Vespúcio relativo à segunda viagem, presente na Carta ao Soderini VII - Tradução do mesmo texto para o português moderno VIII -A segunda navegação em Waldseemüller, Quattuor Navigationes (1507) IX – Pesquisa contra Alonso de Ojeda sobre su primer viaje á las Índias (Trechos que interessam ao conhecimento do itinerário de Hojeda e à suposta presença de Américo Vespúcio na tripulação.) X - Leitura crítica, por Francisco Adolpho de Varnhagen, do texto da Lettera, de lançamento do conceito de Novo Mundo XI - Leitura crítica, por Varnhagen, do texto correspondente nas Quattuor Navigationes XII - Real carta de naturalização dos reinos de Castela e Leão em favor de Américo Vespúcio XIII - Carta al Secretario Gaspar de Gricio. (Minuta original ou contemporânea no Archivo de la Contratacion de Sevilla, de onde a copiou Juan Bautista Muñoz. (15 de setembro de 1506).ORIGEM DO NOME AMÉRICA: Sobre o título de capa do trabalho acima referido, "Américo, América!", podemos dizer o seguinte: Martin Waldseemüller traduziu o nome de Vespúcio, na mais conhecida passagem de seu livro, como Americus Vesputius. É o que se comprova na transcrição do texto da Cosmographiae Introductio feita por Franz Ritter von Wieser em sua obra Die Cosmographiae Introductio des Martin Waldseemüller (Ilacomilus). Alí se vê como Waldseemüller, certamente com alguma emoção, fez de Americus, America. A língua portuguesa, em sua variedade brasileira é, de todas as línguas românicas, a mais próxima do latim. Serve para demonstrar esse processo semântico, pois o "o" final de Américo, palavra brasileira, é pronunciado como "u" átono, da mesma maneira que o "u" breve final da palavra latina (em inglês, "oo" átono). Teria sido como se Waldseemüller, falando no francês da Lorena, onde vivia, e antes de escrever seu famoso texto, pensasse em dar ao novo continente um nome, Amerige e, depois, exclamasse "Amerige, America!". Neste processo, usou o prenome francês Amerige, que era a transposição natural, nesta língua, do italiano Amerigo, por analogia com a de termos latinos como vertigo-vertige, dirigo-dirige, corrigo-corrige, etc. Esta palavra francesa está, de fato, presente no texto latino das Quattuor Navigationes. A designação que inventava tinha como base os nomes femininos de continentes ou regiões como Europe - Europa, Asie - Asia, Libie - Libya. Transpondo, a seguir, sua exclamação para o latim, onde o nome Americus já é registrado em 8 de dezembro de 842 (cf. Auguste BERNARD, Cartulaire de l’abbaye de Savigny, 1853, p. 33), construiu, então, o nome imortal do continente compreendido como tal, pela primeira vez no mundo, pelo Florentino: "Americu(s), America!" NOTA INTRODUTÓRIA A UMA AVALIAÇÃO SOBRE A SUPOSTA VIAGEM VESPÚCIO/HOJEDA DE 1499.
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Trabalhos AcadêmicosTeoria e prática do trabalho filológico ou linguístico
Filologia e Linguística
Concepções de Filologia
Não há muita lógica no fato de uma disciplina, que ocupou as melhores mentes humanas por mais de dois milênios, ser hoje descartada e rotulada por muitos como atividade de diletantes, sem consciência ou real formação científica. Entre essas mentes esteve o filólogo e etimologista norte-amerucano William Dwight Whitney, famoso em sua época (séc. XIX-XX), que dirigiu um esplêndido dicionário, The Century Dictionary, até hoje considerado um dos melhores em termos de conceituação e etimologia. Definiu ele a palavra philologia e seus derivados, aqui consultáveis. Das definições de Whitney e respectivo rastreamento conceitual se verifica que a noção da disciplina surgiu entre os gregos depois que algumas gerações a praticaram intuitivamente, ou seja, que, primeiro, houve "filólogos" e, depois, "filologia". O embrião de algum tipo de filólogo surgiu provavelmente ainda antes dos tempos de Pisístrato (Peisistratus, Pisistrate), no séc. VI a. C., porque as primeiras tentativas deliberadas de fixação da forma de partes dos poemas homéricos datam provavelmente do terceiro governo desse tirano em conseqência da abertura, por ele, da primeira biblioteca pública de Atenas. Assim, a atividade começou a desenvolver-se, com os rapsodos, cantores ambulantes da Grécia pré-literária, em função da necessidade de transmitir, primeiro oralmente e, depois, por escrito, os episódios da Ilíada e da Odisséia. Na época de Isocrates, o grande mestre da eloquência grega, o conceito de amante das palavras, da literatura e da língua - de filólogo, portanto - já estava estabelecido. A caracterização da atividade dos filólogos passou a ficar bem clara entre os chefes da Biblioteca de Alexandria e seus auxiliares, embora ainda sem a utilização definida de um nome para ela, generalizado posteriormente entre os romanos. Assim, Platão (Plato), Aristoteles (Aristotle), Eratosthenes de Cyrene e outros filósofos e retóricos não o adotaram. Mas, existia na língua grega. Havia filólogos. Não havia "filologia". Varrão (Varro), Cicero, Seneca, Plutarco (Plutarch, Plutarque), todavia, consagraram o termo e, ainda mais intensamente, o fizeram os romanos da época imperial. Após um enfraquecimento durante o período medieval, em que apenas os participantes da chamada Renascença Carolíngea tiveram atividade que se pode classificar dentro da Filologia, esta prenunciou um reaparecimento no séc. XII e primeira metade do XIII e voltou com intensidade no séc. XV para ser a mola propulsora do humanismo. Esta retomada plena se fez mais com base na língua e civilização latina do que na grega, disso resultando uma verdadeira idealização da antiguidade clássica. Chegou até mesmo a haver um "religião da Filologia", com os humanistas italianos Lorenzo Valla (1405-1457) e Flavio Biondo (1388-1463), a qual produziu inclusive uma "santa", a beata Osanna Andreasi, de Mantova. famosa por ter adquirido, em "êxtase" de uma hora, todos os segredos da língua latina, morfológicos, sintáticos e estililísticos. Apesar desses exageros, a sistematização da Filologia foi sendo feita progressivamente. Com isso, tornou-se uma disciplina nuclear na mente ocidental, assim permanecendo em todos os séculos, inclusive na primeira metade do atual. Sua milenar posição de destaque ou, mesmo, de preeminência entre as disciplinas englobadas sob o nome genérico de "humanidades" (humanities) levou-a decididamente a uma excessiva e insustentável abrangência, bem como à imprecisão crescente de seu objeto. Tal situação, porém, não deve levar o investigador atual a perder de vista que sua própria origem na filosofia e na retórica gregas foi a causa natural dessa contínua distorção conceitual e prática. Definições contemporâneas de Filologia
Enquanto nos meios acadêmicos dos Estados Unidos e Brasil vem sendo, desde meados do presente século, desprestigiada a Filologia - na Europa, nem tanto - não faltam definições aceitáveis em obras de referência contemporâneas, como as seguintes: Philology: study of written records, establishment of their authenticity and correctness, and determination of their meaning. In the 20th century philology has been used in literature, historical linguistics, and other areas of study in order to reconstruct the texts of imperfect or mutilated manuscripts and inscriptions. The modern philologist often determines the text of a lost original by comparing variant readings in surviving copies. Philologists also interpret the texts, obtaining information about history and culture. No entanto, refletindo uma linha que vem da 11a edição, a Encyclopaedia Britannica (Copyright 1994-1998), assim define a disciplina: Philology - a term now rarely used but once applied to the study of language and literature. Nowadays a distinction is usually made between literary and linguistic scholarship, and the term philology, where used, means the study of language. It survives in the titles of a few learned journals that date to the 19th century. Comparative philology was a former name for what is now called comparative linguistics. Esta conceituação da disciplina reflete o ambiente norte-americano que, de Edward Sapir até Noam Chomsky, vem sobrevalorizando a variável sincrônica no estudo dos fatos linguísticos, esquecendo-se de que o homem é essencialmente, história, não importa o ângulo sob o qual seja observado ou examinado. História pressupõe processo e este se compreende menos pelo momento presente do que pela infinita sucessão de momentos anteriores. Homem é contexto e seu instrumento principal de humanização, isto é, de des-animalização é a linguagem. Estes pressupostos são necessários para explicar a razão do surgimento da figura do filólogo entre os gregos e da lenta sedimentação semântica de sua atividade.
Surgimento da Filologia como alternativa à Filosofia; ou, A Filologia como recordação
Ao longo de mais de dois milênios, muitos foram os pensadores que procuraram uma explicação para o interesse universal pela Filologia durante toda a história da Civilização Ocidental. Não há, em consequência, necessidade de recorrer aos mais conhecidos. Um deles, de nome já quase totalmente sepultado no esquecimento dos homens, foi um historiador e botânico da primeira metade do século XIX, Jean-Pierre-Ettiene Vaucher, de Genève. Escrevendo o verbete "Philologie" da Encyclopédie des gens du monde (Paris, Treuttel et Würtz, 1831-1844), Tome 19, Deuxième Partie, apresentou palavras introdutórias que merecem ser aprofundadas por envolverem um aspecto das origens do pensamento grego que tem sido, talvez, menos considerado pelos historiadores da cultura:
"Ce terme, composé des deux mots - filos, ami, e logos, parole, discours - désignait, chez les Grecs, l'amour du savoir, le goût de l'instruction, l'étude du langage, de l'histoire, des antiquités, etc. Il était quelquefois opposé à celui de philosophie, pour indiquer un genre d'étude, où la mémoire jouait un plus grand rôle que la méditation et le raisonnement. " De fato, este sentido inicial da atividade filológica, por seu caráter amplo, globalizador, acabou sendo, como já tivemos a oportunidade de enfatizar, desde os próprios gregos, um fator de enfraquecimento gradual do conceito da disciplina. Assim, Platão a considerava "o amor pela dialética e pelo argumento"; Plutarco, "o estudo da língua e da história"; Isócrates, Aristóteles e, mais tarde, Cícero, "o amor do saber e da literatura"; Sêneca, "a explicação e interpretação dos escritos". A circunstância, porém, de poder ter surgido o interesse filológico da necessidade de se construir uma alternativa organizada à ação dos filósofos revela que a Filologia tem sido um recurso existencial dos homens de intelecto atuante tão importante quanto a Filosofia. Podemos esmiuçar as razões disso. Aceitando-se, como é notório, que a Filologia designava, entre os gregos, o amor do saber, o gosto da instrução, o estudo da linguagem, da história, das antiguidades, e se opunha à filosofia , quando se apresentava como um gênero de estudo capaz de conferir ao exercício da memória um papel mais importante que o da meditação ou o da racionalização das coisas, conclui-se que, inicialmente, já era ela uma verdadeira disciplina, só dependente, na verdade, da ciência histórica. As seguintes razões embasam adicionalmente esta conclusão:1 - Para os pensadores gregos, uma coisa era meditar; outra, recordar. 2 - Meditar e recordar eram ações existenciais destinadas a buscar soluções para o problema de como enfrentar o caráter absurdo do fim inevitável da vida. 3 - Ao meditar, queria o grego compreender a vida e os fins do homem para orientar-se em sua existência pessoal. 4 - Ao recordar, queria o grego conhecer a trajetória existencial dos homens para orientar a si e ao grupo na fixação de sua identidade comum. 5 - A recordação se processava como uma afirmação do passado e relativização do presente, ou seja, como afirmação do momento presente apenas como o último do processo iniciado no passado. 6 - Com o desenvolvimento desse raciocínio, o único tempo verdadeiro para uma parte da sociedade grega passou a ser o passado. O presente não seria outra coisa senão ilusão sensorial porque se reduzia a um simples instante, não passível de apreensão objetiva. 7 - A conscientização do passado como processo que terminava em quem "conhecia", "identificava " mas não necessariamente "compreendia" à maneira dos filósofos, levou à priorização da investigação histórica e literária como resposta para o problema filosófico da ação de recordar. 8 - Assim procedendo, o grego passou, na prática ou deliberadamente, a contrastar ou a opor a atitude de recordar à de meditar. 9 - O resultado desse procedimento foi consagrar o grego a ação de recordar ou sua expressão objetiva, a Filologia, como alternativa para o problema insolúvel do caráter absurdo do fim inevitável da vida. Ou seja, ao invés de explicar-se (atitude do filósofo), identificar-se (atitude do filólogo). 10 - Sendo o meditar ação de poucos, a maioria que preferia o recordar passou a valorizar mais calaramente os que usavam a palavra formal para convencer, não o argumento existencial. Os retóricos se tornaram mais populares que os filósofos e estes passaram a desdenhar destes e dos filósofos mais aproximados dos retóricos, ou seja, os sofistas. Quando a atividade dos filólogos se generalizou na preferência popular, sua atividade, identificada como próxima da dos literatos e historiadores, iniciou a trajetória consolidou-a pelos séculos afora, dentro dessa sociedade e da que a sucedeu e copiou, a romana, como uma disciplina própria, cada vez mais organizada e capaz de evidenciar para o conjunto da população os valores comuns, vale dizer, os processos comuns, vindos do passado. Destino histórico da Filologia
O Cristianismo, em seu esforço por sepultar os valores da hoje assim chamada Antiguidade Clássica, proscreveu todo estudo que pudesse servir para recordá-la. Os povos germânicos cristianizados intensificaram essa prática e só com o advento de Carlos Magno, os monges irlandeses, que haviam ficado ao largo do perigo das invasões germânicas continentais e haviam preservado numerosos escritos da Antiguidade, puderam iniciar o lento processo de retomada dos valores antigos que não punham mais em perigo o poder cristão. Com o Renascimento dos séculos XII-XIII e XV-XVI, a Filologia, concebida como nos tempos antigos, reapareceu vigorosa, porém muito atrelada aos estudos literários, de modo que a disciplina foi-se firmando como sinônimo de Belas Letras. Esquecidas, no século XVIII, tanto a língua latina quanto a grega, voltou a disciplina a ligar-se ao estudo da linguagem, já que era necessário estudar com profundidade os idomas clássicos. Com esse novo formato, permaneceu por todo o século XIX e mais da metade do XX, só perdendo prestígio real nos últimos 40 anos com as direções novas impostas à ciência da linguagem por linguistas norte-americanos e alguns europeus. Hoje, nos Estados Unidos, indica apenas o estudo das línguas grega e latina e, às vezes, as respectivas produções literárias. Na Europa, vai igualmente seguindo em desuso, como estudo específico, inclusive na Alemanha, que, até recentemente, era tida como a pátria da Filologia. A Antigüidade, após a queda do Império Romano do Ocidente, continuou a ser vivida, em grau variado e em diferentes partes de seu território, até o século XII. A "Renascença" carolíngea, por exemplo, pôde ser feita com pessoas que ainda viviam, sem solução de continuidade, a cultura da antigüidade. Isto era o que acontecia em muitos mosteiros, desde que São Bento, em 529, fundou sua ordem no convento do monte Casino. A instituição da vida monástica propiciou o surgimento de lugares de meditação e tranqüilidade, onde a literatura religiosa e a língua latina continuaram a ser praticados sem a interferência das variáveis lingüísticas e culturais que advieram das grandes invasões dos chamados povos "bárbaros". Estas pessoas trazidas por Carlos Magno eram, principalmente, da Irlanda ou do norte da Itália. Gibbon, já no prefácio à primeira edição do famoso Decline and Fall (GIBBON, Edward. Histoire du déclin et de la chute de l'Empire Romain. Paris, Robert Laffont, 1983-1987, p. XLIII) estende a linha contínua do Império Romano original até o advento do reinado de Justiniano (527-565). Seu editor francês contemporâneo, Robert Laffont, adverte, na p. II da edição citada, que "l'histoire de Rome se poursuit bien jusqu'en 582 et celle de Byzance devient importante à partir de 455; c'est por cette raison que nous avons cru bon d'indiquer ces dates sur les couvertures." A "retomada", em sentido amplo, da cultura romana, empreendida por Carlos Magno, foi uma conseqüência natural da ruptura espiritual e política entre o Oriente bizantino e o Ocidente cristão, concretizada pelo concílio iconoclasta de Hieria. Convocado pelo imperador do Oriente Constantino V e realizado em 754, este concílio, por sua decisão de proclamar como contrário à doutrina cristã o culto de imagens, fez com que os papas se colocassem sob a proteção da dinastia franca de Pepino o Breve e de seus sucessores. A sociedade ocidental, com o fracasso final, representado pelo concílo de Hieria, do esforço de união dos dois impérios, iniciado pelo papa Gregório o Grande em 590, começou a buscar nova forma dentro da estrutura cristã. Da parte de Carlos Magno, a política, neste sentido, assumiu caráter definitivo e, desde 774, com a chegada à França de Pedro de Pisa e Paulo Diácono, não parou de se aprofundar na base de uma educação profissional de clérigos e de uma "língua internacional padrão", o agora chamado "latim medieval". Ver, a este respeito, Roger WRIGHT, Late Latin and Early Romance in Spain and Carolingian France, Liverpool, Francis Cairns, 1982, p. 104-144; Louis BRÉHIER & René AIGRAIN, Grégoire le Grand, les États barbares et la conquête arabe (590-757), Paris, Bloud & Gay, 1938, p. 7 e 468-470. Entretanto, do XIII em diante, não era mais o mundo clássico vivido em nenhum lugar. Passou a ser "retomado", agora no sentido estrito do termo, em um processo que, certamente, não se esgotou, apesar do impressionante progresso tecnológico do século XX e dos tempos atuais. Vivência e retomada, inclusive em seus aspectos cronológicos, são, pois, conceitos operacionais que devem ser aplicados particularmente à história sócio-cultural do Ocidente quando, em última análise, se quer ter como referência a antigüidade clássica. A Filologia continua a ser um valioso instrumento para se esclarecer o problema das implicações desses conceitos. E o século XII permanece como um dos mais estimulantes na investigação filológica. A operacionalização dos conceitos de vivência e retomada deve pressupor sua proximidade semântica com os de continuidade e recorrência, mais conhecidos. A realidade acadêmica já tem indicado, nos últimos cinqüenta anos, preferência acentuada pelos chamados estudos lingüísticos ou estudos do uso lingüístico. Esta preferência influenciou a política de ensino secundário em todo o mundo, tornando-se universal um tipo de educação em que a criança e o jovem mostram-se cada vez menos aptos a viver e a compreender, com maior profundidade, as humanidades. A origem do "equívoco" prende-se à operacionalização dos conceitos referidos de vivência/continuidade e retomada/recorrência. A ênfase em cada um pressupõe uma postura existencial idealista ou realista, na medida em que se considera a linguagem humana convencional ou não, isto é, com ou sem relação direta entre signo e referente, entre re presentação e realidade. Os que crêem na relação acreditam na predominância da convenção, valorizando o que é regular, o que se repete na linguagem. São analogistas. Os que não aceitam essa predominância valorizam o uso. São os anomalistas. Filólogos são tidos como analogistas, gramaticalizantes no sentido histórico, idealistas. Voltam-se para a recorrência de usos lingüísticos passados para nortear os usos atuais. Lingüistas são considerados anomalistas, não favoráveis a uma postura gramatical rígida e, principalmente, histórica. São realistas. Inclinam-se para a valorização do uso lingüístico atual, sem a predominância de normas do passado. É nesse ponto que a Lingüística se distingue mais nitidamente da Filologia. Por se basear em textos lingüisticamente não intencionais, como são os textos do passado, a Filologia fica na contingência de servir-se de um material em que os alógrafos e o uso diversificado de diacríticos (acentos) acabam sendo responsáveis por um rendimento menor em termos de investigação. Isso, porém não é uma situação capaz de colocar a Filologia em desvantagem em todos os campos. Na sintaxe e na semântica, o trabalho filológico pode ter tanto rendimento quanto o trabalho lingüístico propriamente dito. Na morfologia, a desvantagem não é grande. Na fonética e na fonologia é que a Lingüística obtém vantagens realmente nítidas sobre a Filologia. A lição da História evidencia que o homem tende mais a preservar do que a inovar, porque é um animal que vive em sociedade. Cada inovação sua pode ser retomada permanentemente, no futuro, caso contribua para a identidade do grupo social. Significa isso que, nele, o impulso predominante é o da retomada dos valores que constituem o patrimônio desse grupo. O distanciamento do passado, com a perda da consciência do "histórico", tem contribuído para a subestimação das humanidades, em que se incluem a História, a Gramática e a História Literária, e para levar o homem à angústia existencial, característica maior deste final de milênio e evidência eloqüente de que, filosoficamente ou nos limites precisos das ciências físicas e naturais, é possível a ele a postura realista, mas não nos limites de sua ação dentro da sociedade. Foi com base nessas considerações, que pudemos apresentar nossa redefinição de Filologia, transcrita no início desta Homepage e que propomos, agora, como novo conceito de Filologia, ou, NOVA FILOLOGIA: A Nova Filologia é uma disciplina humanística e predominantemente histórica, baseada na visão sincrônica da realidade linguística do texto escrito e voltada para os mais diferentes aspectos da cultura que permeia esse texto. A NOVA FILOLOGIA como caminho para um NOVO HUMANISMO
Desde as primeiras manifestações literárias gregas, decorreram dois milênios e meio de prática da recordação como resposta ao problema filosófico do existir. Nesta prática, o homem ocidental descobriu que o distrair-se com as coisas do espírito, isto é, da memória, da lembrança, era melhor resposta existencial que o meditar filosófico, transformando assim o seu presente em enriquecimento das melhores experiências do passado. Ao fazer esta transformação, esteve, na realidade, procurando desvendar sua verdadeira identidade, fosse ela pessoal, étnica ou cultural. Com isso, organizou disciplinas de estudo, que hoje se classificam como "Humanidades" (Humanities), ou, ciências dos valores humanos e de seu espírito. São praticamente as mesmas que, do século XV ao XX foram englobadas no conceito de "Humanismo", na Idade Média, quase todas, no de Trivium e Quadrivium e, na Antiguidade Clássica, com base na visão platoniana seguida de perto pelos romanos, no de Academia. No mundo contemporâneo, qualquer observador mais atento constatará que a ciência dos séculos XVIII, XIX e XX gerou a tecnologia, que é habilidade para a solução de problemas do dia-a-dia do homem. A partir desta, porém, foi surgindo o prazer da habilidade pela habilidade, sem o objetivo nítido da verdadeira felicidade, do que resultou a necessidade crescente de possuir, de ter a maior quantidade possível dos "bens" resultantes. Quantificou-se o prazer circunstancial e isso se traduziu no que hoje se chama consumo, a fonte mais poderosa das angústias, perplexidades, insatisfações e infelicidade do homem contemporâneo. Paralelamente, foi-se perdendo a noção do tempo como forma a priori, na visão kantiana, da sensibilidade, e se buscando freneticamente um presente absoluto, que foge das mãos de cada um, por ser instantâneo e por não ser passível de apreensão puramente sincrônica. O atingimento do tempo presente só é possível quando se o considera como simples aspecto último de uma sucessão ilimitada de momentos do passado, identificadores, estes sim, do eu e decodificados pela mente como processo. Vive-se, portanto, uma nova angústia de passagem de milênio porque as respostas existenciais de hoje são, apenas, respostas de consumo, que, por seu caráter intrínseco, não passam de ilusões de satisfação sensorial. A retomada do espírito filológico, isto é, da capacidade de abrir uma janela para o passado em busca da identidade perdida, é a resposta para uma época que chega ao extremo de pretender que o passado está morto. A Nova Filologia, gerada pela recuperação desse espírito filológico, deve ser diferente da dos dois milênios e meio vividos pelo Ocidente, na medida em que seus valores não são mais apenas os da Antiguidade Clássica mas tudo aquilo que, do passado de cada um, pessoa, grupo, etnia, povo, nação, Estado, seja capaz de transmitir a sensação de que se está descobrindo ou redescobrindo a própria identidade. Com isso, se construirá um Novo Humanismo, um novo interesse existencial capaz de afastar as angústias do desenfreado consumo de hoje e de seus sucedâneos, a saber: a competição baseada na força, a generalizada falta de caridade para com os trabalhadores, os pobres e os desvalidos, a violência nas relações humanas, a "globalização" em benefício dos mais fortes e mais ricos, a predominância do econômico sobre o social, a imposição ao mais fracos das "soluções" dos mais fortes, a manipulação das mentes pela minoria detentora dos meios de comunicação de massa, a geração de dinheiro a partir do próprio dinheiro e não do trabalho e da produção, a coisificação dos valores e a sobrevalorização da forma como ideal a ser perseguido.
Introdução à Teoria e prática do trabalho linguístico ou filológico na área românica, arquivo que vem a seguir. Trata-se de um texto inédito e de um extrato das páginas 26-28 do livro que será apresentado mais adiante, O Descordo Pluriíngue de Raimbaut de Vaqueiras.
Teoria e prática do trabalho linguístico ou filológico na área românica. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras da UFRJ, 1977. 250 p. (Circulação interna). Obs.: O trabalho é aqui apresentado apenas parcialmente.
Sinopse: O problema da verificação da existência ou não de algum tipo de superioridade de resultados entre os trabalhos linguístico e filológico é importante para a distinção entre filólogos e linguistas. Existe, de fato, uma preeminência de um tipo de trabalho sobre o outro mas ele não decorre do fato de ser o investigador, linguista ou filólogo, mais cientista do que o outro que seja a ele comparado. Não decorre, igualmente, do fato de uma pessoa lidar com um texto escrito de acordo com um código que ela estabeleceu e outra, com um texto baseado num código que não foi de sua responsabilidade. A preeminência vai resultar do grau de adequação, da mensagem, como algo concretizado, com a realidade. Nisso está, realmente, a diferença entre linguistas e filólogos. Por outro lado, é preciso considerar também qual o setor do trabalho científico, no campo linguístico, que está sendo investigado. Se se tratar, por exemplo, do campo fonético-fonológico, o linguista estará sempre numa posição de preeminência. O filólogo pode diminuir a distância procurando, em seu texto, levar em consideração as noções de grafema, som e fonema. Poderá, em consequência, fazer afirmações que correspondam muito à realidade não alcançável diretamente. O grau de aproximação com a realidade, porém, só pode ser avaliado na medida em que pode cotejar seus resultados com os obtidos pelo linguista ao empreender investigações diacrônicas no campo fonológico, seja através de um "corpus" sincrônico, seja através da reconstrução interna de itens isolados dentro do plano paradigmático. Como a fonologia diacrônica, para o linguista, é um campo em que as dúvidas se afirmam com mais intensidade, verifica-se que a convergência de trabalhos, linguístico e filológico, vem em proveito de ambos os profissionais. Em termos diacrônicos, o filólogo dispõe de dados suficientes para afirmar seu trabalho em níveis de signos como o morfema e o vocábulo. O linguista, em geral, leva vantagem. Por mais que o filólogo trabalhe no sentido de fazer restituir seu texto à realidade original, transformando-o em "corpus", sempre o resultado estará sujeito a um certo número de dúvidas, porque não pode afirmar certas dúvidas mas lhe é possível dirimi-las, no todo ou em parte, procurando o contato direto com a realidade representada. A preeminência, como deixamos subentendido acima, não é constante, por parte do linguista. Se considerar o campo fonético-fonológico, existirá vantagem. À medida que passamos para os outros campos, ou seja, à medida que saímos dos constituintes das unidades mínimas do discurso e passamos para elas mesmas e para os níveis subsequentes, vemos que o rendimento ótimo pode ser perseguido, com maiores possibilidades de êxito, pelo filólogo. Pode até mesmo acontecer que, em determinados setores da atividade científica, no campo linguístico, como, por exemplo, no da sintaxe, nada impedirá a formulação de afirmações bem fundamentadas, tendo como base um "corpus" de mensagens linguisticamente não-intencionais. O linguista pode fazer trabalho diacrônico com texto portador de intensionalidade linguística original. Um exemplo disso é a geografia linguística. Num determinado território, podemos ter sincronias sucessivas e, até mesmo, não-sucessivas. O linguista tem condições de estabelecer comparações e avaliar graus, quando considera o território. Pode, em consequência, afirmar historicamente. Há linguistas que pretendem, mesmo com material de textos comuns, isto é, linguísticamente não-intencionais, obter resultados apreciáveis no campo da diacronia. Tem sido tentada a fonologia diacrônica, em que, com base em textos e nos resultados da reconstrução interna de seus componentes, se tem procurado estabelecer o quadro de oposições em épocas diferentes. O fato é que, muitas vezes, o linguista vai precisar de ter, de alguma maneira, a seu lado, os dados fornecidos e as afirmações feitas pelo filólogo, porque precisará de pontos de referência estabelecidos cientificamente. O problema do dado sincrônico utilizado com finalidades diacrônica é justamente a falta de um ponto de referência porque, sem ele, não se pode julgar, atribuir um grau. Nesses casos, os indicadores serão os fornecidos pelos filólogos ao longo desses decênios de pacientes investigações. É preciso deixar claro que o problema da preeminência é o da valorização quantitativa e qualitativa do trabalho de filólogos e linguistas. No geral, o linguista tem maiores possibilidades de se aproximar da realidade, porém, o filólogo tem também boas chances, tudo dependendo do setor investigado, já que os objetivos e o método de trabalho são os mesmos tanto para um quanto para o outro.
Filologia - Idade Média.
O Descordo Pluriíngue de Raimbaut de Vaqueiras. Um ensaio de Filologia Românica para compreensão de sua obra, sua vida e seu tempo. Rio de Janeiro, Edição do Autor, 1995. 319 p.
Explicação da ilustração. Era costume, no século XII, serem trazidas, em dado momento de grandes banquetes, enormes travessas cobertas, dentro das quais haviam sido colocados previamente pássaros vivos. Estes voavam em todas as direções tão logo se retirava essa cobertuta. Imediatamente os servos soltavam falcões para caçar esses pássaros, que continuavam voando pelo recinto. Tudo isso em meio ao repasto dos convivas. Hugues des Baux, visconde de Marselha e irmão de Guillaume des Baux, protetor provençal de Raimbaut de Vaqueiras, era um homem do século XII, de modo que a cena pode muito bem representar a festa dada em seu palácio Babon, na cidade de Marselha, em um dos primeiros dias da segunda quinzena do mês de maio de 1203, como demonstramos no livro aqui apresentado. Foi oferecido em homenagem a Afonso de Portugal, filho do primeiro rei português, Afonso Henriques, e recém-designado Grão-mestre da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém. De acordo com seu depoimento na Epístola Épica, Raimbaut, que esteve presente à homenagem, decidiu nessa ocasião fazer votos de cavaleiro nessa Ordem Militar Religiosa. Antes, porém e durante a festa, apresentou seu Descordo Plirilíngue aos convidados de Hugues des Baux, que eram Afonso de Portugal e cavaleiros das cinco diferentes "línguas", ou seja, regiões em que a Ordem dos Hospitalários passava a se dividir administrativamente por iniciativa do novo Grão-mestre. Sinopse: Utilização da técnica de investigação filológica para esclarecimento do valor linguístico e histórico do Descordo Plurilíngue bem como de sua posição dentro da tradição cultural da Idade Média. Comentário de ordem geral:
Trata-se, talvez, do maior esforço de avaliação da obra e da vida de Raimbaut de Vaqueiras desde o The Poems of the Troubadour Raimbaut de Vaqueiras, de Joseph Linskill. Conclusões do livro: Ao fim de nossa longa investigação sobre o Descordo Plurilíngüe e seu contexto, foi-nos possível afirmar as seguintes convicções: 1 - O Descordo Plurilingüe foi, desde o século XVI, com Jean de Nostredame, até o século XVIII, com J.-P. Papon, o ponto de referência para a concepção de terem as línguas românicas como base o provençal. Esta concepção foi também a de Raynouard, o primeiro romanista do século XIX. 2 - Entre episódios da vida provençal de Raimbaut de Vaqueiras e o paradeiro do ms. a
1, há provavelmente pontos de contato, os quais, por considerações adicionais de ordem geográfica, tornam básico o ms. a1 para a estrofe galego-portuguesa e o ms. f para as demais.3 - Por ser língua viva, o latim medieval não podia ser o mesmo de Cícero e César mas parte do fio da tradição lingüística do latim clássico e esta parte percorria a sociedade que era capaz de usá-lo e senti-lo, isto é, a sociedade religiosa e eclesiástica.
4 - As línguas nacionais acabaram por se impor porque, na luta entre auctores e artes, isto é, entre literatura de criação e literatura didática, ficaram os cultores do latim principalmente com a segunda, restando, para a primeira, aqueles que, embora conhecendo bem a estrutura da língua, se ressentiam da pressão popular, a ponto de, com o tempo, começarem lentamente a usar essas línguas nacionais em fase de afirmação.
5 - A continuidade lingüística latina projetou-se mais no tempo em que os cultivadores da língua latina se apoiavam na língua das artes, que era viva e, portanto, dinâmica. A continuidade literária latina projetou-se menos no tempo porque aqueles que cultivavam a literatura se apoiavam mais na língua dos auctores, que era estática.
6 - A técnica literária dos trovadores esteve, em seu desabrochar, estreitamente dependente da retórica clássica.
7 - O tema literário do "mundo às avessas", ou adynaton, de origem grega e de prática romana, continua na Idade Média, a partir do século IX, como instrumento de crítica à sociedade e foi introduzido por Arnaut Daniel na poesia trovadoresca.
8 - A palavra descort surgiu, depois de 1180, entre os trovadores em oposição a acort, absorvendo a forma irregular das estrofes das seqüências latinas, religiosas ou populares.
9 - Da prática formal da irregularidade, passou-se, no descordo, à prática conteudística da irregularidade, que se inspirava nos adynata em moda na década de 1180.
10 - O Descordo Plurilíngüe explica a noção de irregularidade de conteúdo como equivalente a perturbação de espírito, resultando dessa inovação um recurso estílístico que é patenteado no uso de linguagens incompreensíveis e músicas diferentes.
11 - A perturbação de espírito, demonstrada por Raimbaut de Vaqueiras no Descordo Plurilíngüe, é reflexo de sua história pessoal: origem plebéia, em Forcalquier; adoção de Monferrato desde a mocidade; agregação à corte do marquês Bonifácio; retornos esporádicos à terra natal e à Provença devido à atração que a França meridional exercia; assimilação do sentimento da coragem indômita, presente na figura de personagens exponenciais do Midi, principalmente Ricardo I; atribuição das qualidades deste sentimento à pessoa do Marquês Bonifácio por meio do senhal Engles; conscientização deste sentimento em relação à sua própria pessoa na crença de que seria ele o instrumento para sua ascensão à nobreza através de casamento com uma mulher nobre, a Bels Cavaliers; desilusão, no projeto de ascensão, quando se avizinhava a Quarta Cruzada; direcionamento do sentimento de coragem para a esfera religiosa; tomada de votos como cavaleiro da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém.
12 -O Descordo Plurilingüe de Raimbaut de Vaqueiras, segundo todas as probabilidades, foi tornado público em maio de 1203 perante uma platéia de cruzados e de cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém.no castelo Babon, em Marselha.
13 - Do ponto de vista artístico, o Descordo Plurilingüe é, antes de tudo, uma demonstração de técnica estilística a serviço de propósitos sociais imediatos e, menos, uma exibição deliberada de conhecimentos lingüísticos. Propósito social imediato foi a homenagem, em 1203, no castelo Babon, em Marselha, a Afonso de Portugal, que, muito provavelmente, já como recém-designado Grão-mestre da Ordem de São João de Jerusalém, costumava chamar de "línguas" às províncias da Ordem, o que incorporaria depois a seus Estatutos. Daí as cinco línguas do Descordo Plurilíngüe. Adicionalmente é a composição a utilização original do adynaton como forma de, artisticamente, demonstrar a grande perturbação emocional e mental de quem ama e não é correspondido.
No castelo Babon, Raimbaut de Vaqueiras tornou público o Descordo Plurilingüe perante uma platéia de cruzados e de cavaleiros da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém. A cena que reproduzimos é a de um trovador que realiza sua performance em um castelo qualquer no século XIII. Está no Album Historique, publicado, em 1909, sob a direção do grande historiador francês da passagem do século, Ernest Lavisse. Era comum na época ser um trovador ou troveiro de renome recebido pelo senhor do lugar e na sala principal de seu castelo toda vez que viesse este a comemorar algum acontecimento ou a receber algum convidado ilustre. O trovador recitava seus poemas ou os cantava, como parece ter sido o caso do Descordo. Normalmente sabia ele tocar um instrumento e se fazia acompanhar por jograis que o ajudavam a divertir o auditório no intervalo da apresentação de seus poemas ou cantigas. Não deve, portanto, esta cena ser muito diferente da festa dos primeiros dias da segunda quinzena de maio de 1203, em que Raimbaut apresentou seu Descordo Plurilíngue. O propósito social imediato do acontecimento era uma homenagem a Afonso de Portugal, filho do primeiro rei português, Afonso Henriques, já designado Grão-mestre da Ordem do Hospital, em que o poeta estava prestes a entrar.
A Notitia de torto.Rio de Janeiro, Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1971. Lisboa. Revista de Portugal, número especial. Lisboa, 1972.
Sinopse: A NOTITIA DE TORTO é um rascunho dos inícios do séc. XIII (talvez 1211), com vários termos em latim bárbaro. É um pergaminho que está guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Antes, estava no mosteiro de Vairão, no maço I dos Antigos, n. 45. O rascunho foi, provavelmente, revisto por seu autor. Comentários conclusivos: A análise e nova edição do manuscrito foi feita a partir de leitura de fotografia melhorada do mesmo e comparação entre as duas únicas leituras existentes até a época da feitura de nosso trabalho: a de João Pedro Ribeiro e a de Pedro de Azevedo. A primeira é, em nossa opinião, mais fiel ao original. A contribuição mais importante de Pedro de Azevedo foi o assinalamento dos termos latinos. Em nosso trabalho, pela primeira vez, foi feita uma leitura semântica do documento, cujo sentido permanecia obscuro, e tal leitura permitiu a apresentação de uma versão moderna do mesmo.
Contexto político e cultural da Notitia de torto e da Mentio de malefactoria. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LUSITANISTAS, 4º. Atas... Hamburg, 1995, p. 979 - 1002.
Sumário da comunicação:
I - Introdução.
II - Análise da Notitia de Torto.
III - Análise da Mentio de Malefactoria.
IV - Cronologia relativa dos tempos da Notitia e da Mentio.
V - Significado da Lei V.
VI - Caracter¡sticas jurídicas do procedimento dos ofensores.
VII - O personagem Vasco Mendes.
VIII - Fundo político das agressões a Lourenço Fernandes.
IX - Conclusão.
Comentários conclusivos: Em face das evidências apresentadas ao longo do trabalho, concluímos que a Mentio de malefactoria e a Notitia de torto são documentos cronologicamente muito próximos. As disputas familiares que refletem iniciaram-se depois de 1205, degeneraram em violências, primeiro a nível interno (1207 a 1210) e, depois, a nível político-nacional (1211). A Mentio e a Notitia foram produzidas no segundo semestre do ano de 1211, após as Cortes reunidas por Afonso II em Coimbra, sendo este último documento pouco anterior ao primeiro. Revelam, provavelmente, agressões decorrentes de engajamento do ofendido em favor da hierarquia religiosa e contra os interesses do rei. As evidências colhidas do documento apontam para sua redação em Pigeiros, concelho da Feira, ao sul da cidade do Porto. A colocação do pronome pessoal átono no português arcaico (século XIII). Rio de Janeiro, Faculdade de Letras da UFRJ, 1974. 280 p. (Circulação interna).
Sinopse: A colocação do pronome pessoal átono no século XIII apresenta-se de acordo com os seguintes aspectos destacados: 1 - Naquele século havia preferência pela anteposição e esse fato era relativamente independente do tipo de oração.
2 - A colocação do pronome subordinava-se ao ritmo do enunciado, que era mais ascendente que o do português de Portugal de hoje e menos que o do português do Brasil.
3 - Configurava a colocação do pronome, no século XIII, uma etapa já relativamente avançada do enfraquecimento do acento intensivo.
4 - A colocação do pronome no século XIII se fazia segundo uma tendência que atingiu as últimas conseqüências no português trazido para o Brasil e aqui mantido entre as populações conservadoras do interior.
5 - A tendência que o português do século XIII exemplifica foi invertida, depois do século XVI, em Portugal.
Trabalhos na área linguística
Lingüística
História da língua portuguesa, inclusive em sua vertente brasileira
Fundamentos da história externa do português do Brasil. Zeitschrift für Romanische Philologie, 97 (3/4): 383-402, 1981.
Síntese do trabalho: O português do Brasil deve ser avaliado dentro de uma perspectiva cultural e lingüística, ao mesmo tempo. Sob a perspectiva cultural, deve ser considerado como um dos produtos do contexto social que se foi delineando nos séculos XVI e XVII, atingiu o máximo de definição no século XVIII e caminhou para uma estratificação nos séculos XIX e XX. Sob a perspectiva lingüística, deve ser considerado como o produto de fatores estreitamente ligados ao contato e à interação realizados no plano social. Em certas regiões, apresenta-se o português do Brasil como produto do contato social. Em outras, como resultado da interação. O contato social deve aqui ser especificado como o existente naquelas regiões em que a atividade econômica não se fez em termos de busca de estabilidade entre grupos populacionais. A interação, ao contrário, deve corresponder àquelas regiões em que a atividade econômica se desenvolveu dentro de um contexto de busca de equilíbrio no relacionamento entre os grupos étnicos. Durante o período de colonização, a interação configurou dois aspectos: atividade econômica com características de mobilidade geográfica e atividade econômica com características de fixidez, também geográfica. Aquela concretizou-se nas fazendas de gado; estas, nos engenhos de açúcar. Os índios e seus descendentes, os caboclos, ligaram-se à primeira; os negros, à segunda. Nas regiões do Brasil em que a interação social não se realizou verdadeiramente, no período colonial, o contato resultante não poderia, naturalmente, configurar a participação do elemento negro mas, apenas, a do índio. As três situações apontadas contribuíram para a fixação das duas variedades principais do português do Brasil, a do norte e a do sul. A variedade do norte corresponde ao contexto de interação; a do sul ao contexto do contato. Como vimos, a interação se fez em termos de mobilidade e em termos de fixidez geográfica. A participação lingüística dos índios, no norte, realizou-se intensamente na primeira situação; na segunda, realizou-se a participação lingüística dos negros. Como a primeira configurava mobilidade, não pode ser dissociada do conceito de povoamento. Em conseqüência, a atividade lingüística da população correspondente, ou seja, de brancos índios e caboclos pôde penetrar de maneira difusa em todo o território ao norte de Minas Gerais. A influência africana no português do Brasil teria, assim, caráter restrito, exercendo-se, em face do relacionamento senhor/escravo, exclusivamente no campo lexical. A influência do índio seria mais ampla, caracterizando-se por uma caminhada forte da língua geral em direção ao português estabilizado, internamente, dos colonos e uma caminhada pequena deste em relação à língua geral. Esta dupla caminhada configuraria uma convergência entre tendências, do lado dos portugueses, e de hábitos articulatórios negativos, do lado dos índios. O resultado seria a precipitação de algumas daquelas, quando intensificadas por estes. Das tendências precipitadas, as mais fortes se situaram no plano prosódico. A tendência do português estabilizado do colono era no sentido de realizar os enunciados de maneira mais descansada, isto é, com menor distinção entre sílabas tônicas e átonas. A tendência da língua geral era a de articular com nitidez os sintagmas normais de sua realidade estrutural, como língua de caráter aglutinante que era. Isso levava à formação de termos ou enunciados mais simples, em que os componentes se distinguiam mais se comparados aos componentes dos enunciados dos colonos. Dentro do contexto de mobilidade social, assinalado atrás, entende-se o de povoamento. Em conseqüência, a prosódia da população correspondente estendeu-se por toda a região. Os fatos do plano segmental, ou seja, a articulação de fonemas e alofones, não têm valor como causas da individualização do português da região, mas apenas como conseqüências da mesma. No contexto de contato social, mantido, durante o período colonial, na região ao sul de Minas Gerais, a relação branco/índio foi a que se realizou. Como não se estabilizou nos moldes da situação econômica do norte, manteve sempre a característica de primeiro contato, o que configurou, no falar caipira - que é o da região ao sul de Minas Gerais, até o Paraná - um plano prosódico não muito diferente, mas um plano segmental que se ressente da não estabilização de certos hábitos articulatórios. Em conseqüência, o falar caipira reflete muito mais o traço inicial da imitação, na caminhada da língua geral em direção ao português, sem a contrapartida de uma pequena caminhada deste em relação a ela, não havendo, assim, a convergência que se realizou no norte. No século XVIII, a região do Estado de Minas Gerais foi desbravada. Convergiam para ela as populações dos dois contextos sociais, a do norte e a do sul. O resultado foi um falar de transição, que, hoje, se apresenta estabilizado como tal. Na região do Rio de Janeiro, até o século XVIII caracterizada pela influênciano contexto social do sul, ocorreu o fato novo e inesperado do povoamento maciço por parte de portugueses que, em inícios do século XIX, falavam uma língua prosodicamente diversa da dos antigos colonos que vieram ao Brasil. Surgiu, em conseqüência, um falar fluminense, do qual o carioca é expressão típica. Nestes 150 anos, estendeu-se o falar fluminense até o Espírito Santo. Na região sul, o falar caipira entrou em processo de divisão devido ao forte movimento imigratório iniciado no século XIX. Permaneceu, de um lado, o antigo falar caipira e espalhou-se pelos núcleos urbanos e respectivas regiões de influência uma variedade dele, surgida naturalmente mas definida pela lenta incorporação de hábitos articulatórios de estrangeiros, principalmente italianos. No extremo sul, o contato fronteiriço com os países de língua espanhola alterou ainda mais o falar caipira modificado, ou, como é mais conhecido, o falar paulista, que, paralelamente, se estendera aos Estados do centro-oeste do Brasil, Goiás e Mato Grosso. Obs. A respeito do tema tratado, incluimos aqui a mensagem enviada pelo Sr. Otávio Kremer Abuchaim: E-mail-Abuchaim. Língua, sociedade e cultura no Brasil. In: MISCELÂNEA DE ESTUDOS LITERÁRIOS. Homenagem a Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro, Editora Vida Doméstica, 1984. p. 319-340.
Resumo conclusivo do trabalho: O corpus total, após análise acurada, poderá evidenciar realmente a pronúncia que já existia no Brasil no início do século XVII. Por enquanto, na base das oito palavras estudadas, pode-se adiantar, como prováveis, os seguintes fatos do português do Brasil do século XVIII: a) o acento de intensidade se distribuía, de maneira equilibrada, entre os componentes do enunciado;
b) as vogais átonas tinham articulação mais clara do que hoje;
c) o "o" e o "e" finais reduziam-se a [ u ] e [ i ], respectivamente, quase sempre;
d) o "l" final de sílaba não se vocalizava;
e) o "r" final era brando;
f) a nasalidade das vogais átonas devia realizar-se como hoje;
g) o "t", diante de "e", pronunciado como [ e ] ou [ i ], não era africado;
h) a terminação dos verbos não se reduzia a uma simples vogal como na língua popular de hoje.
A observação geral dos termos não analisados detidamente permite, ainda, afirmar que:
i) o "l" final da sílaba era alveolar;
j) o "s" pós-vocálico de sílaba inicial era também alveolar;
l) o ditongo "ei" já se reduzia a [ e ].
k) o "v" era lábio-dental e não bilabial
Em seu aspecto mais amplo, pode-se dizer que já apresentava o enunciado daquela época os principais traços do enunciado da língua brasileira de hoje e que, em contrapartida, muito difere do enunciado lusitano de nossos dias, o que vem confirmar as observações que fizemos com base nas variáveis sócio-culturais que intervinham no processo de estruturação da língua de colonização lusitana no espaço brasileiro. Formação e desenvolvimento da língua nacional brasileira. In: A LITERATURA NO BRASIL, direçâo de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1986, v. I, p. 258-385.
Este trabalho é a primeira e, até agora, única história da língua do Brasil.
Sumário:
1. Preliminares teóricas e metodológicas
2. 1500-1553: Conjugação de variáveis da futura língua do Brasil
2.1 Turgimões e línguas, base fundamental da língua nacional brasileira
2.2 Descobrimentos no Oriente e encontro dos turgimões. Línguas na América: seu papel
2.3 Humanismo português e ausência de político linguística como corolário da base fundamental da língua nacional brasileira
3. 1553-1702: Período de formação da língua nacional brasileira
3.1 Implantação efetiva do método jesuítico: novo-mundismo por meio de pontes culturais
3.2 Ponte cultural dos jesuítas com colonos e índios
3.3 Ponte cultural dos índios com colonos e jesuítas
3.4 Contradição aparente entre humanismo e novo-mundismo
3.5 Reação do índio no cenário jesuítico do humanismo novo-mundista
3.6 Ação linguística do índio no cenário jesuítico
3.7 Processos linguísticos subjacentes
3.8 Resultados concretos
3.9 Avaliação dos resultados em função dos processos
3.10 Consolidação do sistema lingístico: século XVII
3.11 Evidência da consolidação: Vieira
3.12 As fontes de Vieira, como evidência do futuro caráter de língua romântica de segunda geração da língua do Brasil
3.13 Evidência adicional da consolidação da língua brasileira como realidade autônoma: alienação linguística em Portugal.
3.14 Dependência linguística do negro ao fim do período
3.15 Resultado do período; mar de brasilidade
4. 1702-1758: O despertar de Portugal para a realidade do binômio língua-sociedade no Brasil
4.1 Insistência pelos brasileiros de uma nova política linguística
4.2 Constatação pelos portugueses de uma realidade linguística própria da América: da consciência de um língua nacional, em Portugal, ao reconhecimento da existência de um "dialeto" brasileiro.
5. 1758-1826: Solução pombalina para a questão da língua no Brasil e em Portugal
5.1 Primeiras medidas em Portugal
5.2 Medidas no Brasil e suas consequências
5.3 Arcádia, língua e purismo gramatical
5.4 Independência política e política da língua ao fim do período
5.5 O "idioma brésilien" do Visconde da Pedra Branca
6. 1826-1882: Instituição da política lusófila da língua como persistência do Arcadismo e como ação anti-romântica
6.1 Avaliação global das sete décadas de despotismo esclarecido na educação brasileira
6.2 A elite de 1827 e a política linguística
6.3 Filinto Elísio, força inspiradora do lusismo linguístico de 1827 a 1841
6.4 O debate parlamentar de 1827, reação ao de 1826
6.5 As vertentes vocabulista e literária do conceito de língua brasileira durante o Império
6.6 A corrente vocabulista
6.7 A corrente dos defensores da língua brasileira como expressão de uma literatura brasileira
6.8 A "Escola linguística brasileira"
7. 1882-1924: Recrudescimento do purismo como reação ao nacionalismo linguístico embutido nos ideais republicanos
7.1 Regime republicano e nacionalidade linguística e literária
7.2 Surgimento da questão ortográfica como instrumento de manutenção do domínio luso da língua
7.3 Caráter essencial do período e suas implicações no problema da língua do Brasil
8. 1924-1946: Criação da língua literária do país e primeiro reconhecimento público da existência da língua brasileira
8.1 Origens da reação ao gramaticalismo vigente
8.2 Manifestos modernistas e língua brasileira
8.3 Reação lusófila dentro do contexto ditatorial fascista luso-brasileiro
9. 1946-1986: Consolidação da língua literária brasileira e afrouxamento da norma gramatical da língua escrita
9.1 Nova tentativa de denominação da língua nacional
9.2 Enfraquecimento da gramática filológica e advento da descrição linguística
10. Recapitulação metodológica, síntese histórica da questão e conclusão
Língua brasileira. In: ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, direção de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa. Rio de Janeiro, Ministério da Educação / Fundação de Assistência ao Estudante / Oficina Literária Afrânio Coutinho - OLAC, 1990, v. 2, p. 794-799.
Sumário:
1. Atualidade da questão.
2. Disciplina e norma linguística.
3. Língua e linguagem no espaço brasileiro.
Consideraçções metodizantes.
Caráter histórico do problema.
4. Sistema, Seleção e combinação.
5. Evidências de uma língua brasileira.
Nível Morfológico.
Nível articulatório.
Nível fonológico.
Nível Sintático.
6. Língua nacional.
Conceito e método de fixação.
Princípio da prevalência da história linguística externa.
Princípio do embasamento teórico da língua nacional como conceito.
A denominação da língua nacional brasileira.
7. Formação da língua nacional brasileira e surgimento da questão da língua.
Antes de 1580.
De 1580 a 1759.
Surgimento da questão da língua.
Cultura brasileira
Ação dos jesuítas no processo de formação cultural do Brasil. In: HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, direção de Sílvio Castro. Lisboa, Editora Alfa, 1998.
SINOPSE: Cultura: definição. Sentido de "ação cultural". Estudos, nesta área, aplicados ao caso brasileiro. Cultura da nação tupinambá. Limites da busca de "influências", em termos de cultura material. Cultura encoberta.Características da ação catequútica dos Jesuítas. Suas origens ideológicas. São Paulo e os fundamentos da catequese.São Francisco Xavier. Interesses da catequese e ação dos jesuítas sobre o mundo dos índios. Eixo da deologia e dos mútodos de catequese dos jesuítas: Bahia e São Paulo. São Francisco Xavier e a pregação do evangelho no Brasil. Josú de Anchieta. Interação do jesuíta com o índio e deste com o português como fundamento da formação de uma cultura nova. Sentido geral da ação cultural dos jesuítas. O movimento academicista e o processo cultural do Brasil Colônia. In: HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, direção de Sílvio Castro. Lisboa, Editora Alfa, 1998. Obs. O trabalho que apresentamos nesta homepage contém, em anexo, uma lista de todos os acadêmicos do século XVIII brasileiro.
Resumo conclusivo A produção literária das academias brasileiras do século XVIII foi muito fraca, mesmo considerando-se o fato de que isso foi próprio das academias em toda parte mas o mesmo não se pode dizer de seu significado político e cultural. Não houve praticamente ninguém capaz de demonstrar algum sentimento ou particular inspiração - entre os Seletos tudo tinha de girar em torno do Gal. Gomes Freire - e as razões disso nos parecem evidentes: caráter supletivo e introdutório, junto com os números musicais (modinhas baianas), das apresentações poéticas nas sessões acadêmicas, improvisação de sacerdotes, profissionais liberais, militares e funcionários em mister poético que não pertencera à rotina de seu lazer anterior e preocupação maior dos organizadores com a parte séria das reuniões, ou seja, as dissertações e as discussões. Destas, nada restou. Das composições dos Renascidos, aliás, nada restou, literalmente. Com a prisão de seu Diretor, todos trataram de esconder o que tinham produzido especialmente para sua Academia. Em consequência, importante foi a produção ensaística, guardados os limites da ciência da época e da possibilidade de pesquisa em ambiente históricamente relegado pela metrópole a total esquecimento no ensino e na cultura. A forma desses ensaios era de um barroco que às vezes obstava à compreensão. Vencida, porém, a dificuldade do leitor, ficava ali clara a mensagem do autor, que é o que importa nos ensaios para os pósteros. Para isso contribuiu essencialmente a formação havida nos colégios dos jesuítas bem como o estudo e exercício profissional feitos por vários acadêmicos em Portugal. Em face do que se desenvolveu no corpo do trabalho e dessas considerações finais, pode-se concluir, portanto, pelo significado altamente positivo desses trinta e seis anos de literatura acadêmica para a compreensão do processo político-cultural do Brasil colônia.
Literatura e sociedade no Brasil joanino. In: HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, direção de Sílvio Castro. Lisboa, Editora Alfa, 1998.
Sinopse: Classificação tradicional do período. Necessidade de consideração da existência de um poderoso fio motivador das ações liter rias na sociedade joanina. Natureza deste fio: comportamento lusitano dos intelectuais brasileiros no Brasil e em Portugal. Características marcantes da sociedade joanina brasileira. Ideologias da ?poca e respostas joaninas. Quebra do fio evolutivo da literatura nacional no período. Significado do trabalho literário de Caldas Barbosa, Sousa Caldas, Domingos Borges de Barros, José Elói Ottoni, Francisco Vilela Barbosa, Jos? Bonifácio, Francisco de São Carlos e outros. Comentários conclusivos: Francisco de São Carlos, nos oito cantos de sua epopéia sagrada, cria grandes imagens, através de episódios narrados e profusas descrições, concorrendo para a elaboração do espaço ficcional, em que, como exaltador do espaço geográfico e representante do secular conquistador português, pressente, mais do que conhece, o território ainda não verdadeiramente conquistado. Essa conquista só se realizará quando os brasileiros e, em posição de vanguarda, os intelectuais se conscientizarem da verdadeira independência. Levará tempo: só o modernismo de 1922 e a revolução de 1930 permitirão essa conscientização. Mas Francisco de São Carlos teve seu papel no sucesso do esforço de apreensão do território brasileiro, porque escreveu para a geração que despontava, a dos românticos das décadas seguintes, na linha do que tinham dito os escritores ufanistas dos três primeiros séculos. E foi lido por ela. A reelaboração e redirecionamento dessa linguagem, em sua inspiração territorial, será obra dos românticos. Por isso, Caldas Barbosa, no início do período joanino e Francisco de São Carlos, em seu fim, são os pontos de contato com o sentimento brasileiro dos árcades mineiros e dos românticos, que virão. Em meio a eles, o hiato, ou seja, uma literatura de sentimento português, verdadeira essência do período joanino, a proporcionar ao estudioso um material significativo para a avaliação do encontro entre a vigorosa tradição literária lusitana e a emergente tradição brasileira.
História
História medieval
Inocêncio III e a gênese do espírito inquisitorial. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A INQUISIÇÃO. Lisboa, Sâo Paulo, Rio de Janeiro, Instituto de Hist¢ria da UFRJ, 28 de maio de 1987. (Inédito).
SINOPSE: Significação de certas ações deste Papa que ficou na história como o último do mundo antigo e o primeiro do mundo moderno. Afonso Henriques em sua época. Perguntas e respostas.
Trabalho inédito. Trata-se nele de responder a indagações possíveis a respeito do primeiro rei português e de alguns personagens a ele relacionados contemporâneamente. Correspondem as perguntas a um interesse e curiosidade que se puderam comprovar em 1996 com as numerosas comunicações apresentadas por especialistas perante mais de 600 pessoas por ocasião do 2o Congresso Histórico de Guimarães, presidido pelo Prof. Diogo Freitas do Amaral e dedicado exclusivamente a Afonso Henriques. Estiveram presentes ao conclave o Senhor Presidente da República e o Senhor Primeiro-Ministro, prova adicional da importância e da atualidade do tema. As perguntas a que passamos a responder são as seguintes: 1) Em que fontes se baseia para falar de Châmoa Gomes? Que sabemos dela? Onde procurar mais?
2) Terá mesmo havido casamento entre ela e Dom Afonso Henriques? Que prova temos disso? E anulação houve?
3) O Fernão Peres de Trava, de que Châmoa Gomes é sobrinha, é o mesmo homem que foi amante da nossa Rainha D. Teresa?
4) Quem era Pero Pais? Filho ilegítimo? De que mulher?
5) Quem eram, além de Fernando Afonso, os outros filhos ilegítimos de Dom Afonso Henriques? Todos filhos também de Châmoa? Como saber mais?
6) Porque é que Dom Afonso Henriques terá voltado para Châmoa Gomes? Em que época?
7) Que mais sabemos da vida amorosa movimentada de Dom Afonso Henriques?
8) É verdade que D. Mafalda recolheu a um convento em vida? Quando? Porquê?
9) Em que documentos nos baseamos para saber que houve, em 1173, uma co-regência de D. Teresa e D. Sancho?
10) Como se explica que na doação de Monsanto fosse D. Teresa a única herdeira apontada e, depois, em 1173, tenha aparecido também o D. Sancho como co-regente?
11) Onde procurar mais notícias sobre o conflito entre D. Fernando Afonso e D. Sancho?
12) Quais as razões para crer que Dom Afonso Henriques tenha sofrido (quando?) um acidente vascular cerebral grave? Não é isso incompatível com o facto (conhecido) de Dom Afonso Henriques ter assinado o seu testamento em 1179 (com 70 anos de idade)?
13) Se Dom Afonso Henriques já tinha optado a favor de D. Sancho em 1155 (quando lhe mudou o nome), como se explica que D. Fernando Afonso só tenha iniciado a sua luta pela sucessão 14 anos mais tarde (1169), a seguir ao desastre de Badajoz? Talvez por Dom Afonso Henriques ter então ficado muito debilitado?
Sancho e Teresa entre seus irmãos e na política de Afonso Henriques após o desastre de Badajoz. In: CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES, 2o. Atas... Guimarães, 1998.
Conclusões do trabalho:
1 - Os filhos legítimos de Afonso Henriques nasceram na seguinte ordem: Henrique (1147), Urraca (1148), Teresa (1151), Mafalda (1153), Sancho (1154), João (1156) e Sancha (1157).
2 - A estes deve-se acrescentar Fernando, nascido em 1140, e filho do rei com Châmoa Gomes.
3 - A legitimidade de Fernando resultou de casamento anulado mas feito de boa fé e é confirmada pelo tratamento que lhe deu o pai até 1172, e, implicitamente, pela ascensão do príncipe ao grão-mestrado da Ordem dos Hospitalários, equivalente a bispado e privativo de religiosos de nascimento legítimo.
4 - Fernando se empenhou em ser reconhecido como sucessor do rei após o desastre de Badajoz, a despeito de o rei vir tratando Sancho e Teresa como os príncipes herdeiros do trono desde 1155.
5 - A atitude de Fernando pode ser creditada à possibilidade, pelo direito então vigente, de ser designado sucessor ou ao fato de se julgar com mais direitos do que Sancho por ser primogênito ou ainda por Sancho também ter nascido fora do casamento oficial.
6 - Fernando era apoiado pelos próceres da Maia e da família dos Sousa bem como pelo reino de Leão, enquanto Sancho e Teresa eram defendidos por Pedro Fernandes, Vasco Sanches e próceres a eles ligados, principalmente pelos magnatas.
7 - Sancho continuou sendo prestigiado pelo rei apesar das dificuldades do período pós-Badajoz.
8 - Para sustentar Sancho, recorreu Afonso Henriques às ordens religiosas militares de Santiago e de Évora, afastando-se politicamente dos templários e hospitalários.
9 - Designou o rei Sancho e Teresa como seus sucessores ao proclamá-los seus co-herdeiros.
10 - A partir de 1173, com o agravamento definitivo do estado de saúde de Afonso I, por complicações decorrentes da fratura de femur sofrida em Badajoz, a direção do reino passou para Teresa, em co-regência com Sancho, ele na parte militar e ela na parte administrativa e política.
11 - O casamento de Sancho e o reconhecimento do reino pela Santa Sé devem ser creditados principalmente a Teresa, mas também a ele mesmo e a seus partidários, por estar desempenhando efetivamente as funções de regente desde 1173.
12 - O título de rainha dado à princesa Teresa depois de casar-se com o conde de Flandres, Felipe da Alsácia, baseava-se na condição dela de co-regente, com responsabilidades de rainha de fato, e não apenas à circunstânncia de ser filha de rei. Fora rainha durante 11 anos (1173-1184) e, com a experiência dessa condição prática, chegou a Flandres para ser conhecida como "rainha Matilde" e proclamar-se como tal.
A rainha Mathilde, condessa de Flandres e princesa de Portugal. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LUSITANISTAS, 5o. Atas... Oxford, 1998.
Conclusões do trabalho: Os elementos, que aduzimos à essa comunicação, são fortes o suficiente para nos fornecer a convicção de que a infanta Teresa se intitulou "rainha" em Flandres porque exercera funções de rainha em Portugal, que seu casamento com Felipe da Alsácia permitiu que o co-regente Sancho se tornasse rei e que, ao deixar Portugal, o fez em busca de objetivos mais ambiciosos que o de rainha de um Estado distante, objetivos esses coincidentes com os de seu marido e calcados em sua descendência direta de Hugo Capeto. O povoamento de Portugal com franceses e flamengos deve ser colocado nesse contexto de projetos grandiosos.
Afonso de Portugal, 11º grão-mestre da Ordem do Hospital de Sâo Joâo de Jerusalém, e o século XII português. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LUSITANISTAS, 3º. Atas... Coimbra, 1992, p. 819 - 858.
Resumo conclusivo: A conclusão que tiramos dos fatos e argumentos apresentados foram no sentido de que a ascensão de Afonso de Portugal ao grão-mestrado da Ordem de São João de Jerusalém deveu-se exclusivamente à ação de sua irmã, Mathilde de Flandres, tão rica e poderosa, em sua época, que era capaz de jogar, em seu favor, com forças tão poderosas quanto eram o rei Felipe Augusto, o papa Inocêncio III, o conde de Flandres, Balduíno IX, ou o chefe da Quarta Cruzada, Bonifácio, marquês de Monferrato. As decisões favoráveis, que o papa pronunciou em questões de seu interesse, certamente levavam em conta a generosa dedicação da condessa à igreja flamenga, aos cistercienses e à Quarta Cruzada, projeto do coração de Inocêncio III. Sob esse aspecto se explica, igualmente, a compra por Mathilde, ao convento da Charité-sur-Loire de ricas terras, que doou à Ordem de São João de Jerusalém, na presença de seu irmão, o novo grão- mestre, e sob o beneplácito de Felipe Augusto. Anos mais tarde, fez outras grandes despesas em benefício do rei francês, para obter sua aprovação ao casamento de seu sobrinho Fernando, filho de Sancho I, com a jovem condessa de Flandres, Joana, de apenas 12 anos. Para gastar tanto, não hesitava, desde o início do pontificado de Inocêncio III, em elevar brutalmente os impostos de seus súditos da Flandres galicana e marítima. Daí a guerra que, por longos anos ensanguentou o país flamengo, a dos blavotins e ingrekins. Estes eram os partidários de Mathilde. A eleição de Afonso de Portugal foi, certamente, parte - fracassada como as demais - do projeto de vida que se depreende de sua movimentada política, conforme os documentos que chegaram até nós: renovar a dinastia francesa pela linha borgonhesa dos Capetos, de que descendia diretamente. Tal projeto, que pode perfeitamente ter sido inspirado e iniciado por seu primeiro marido, Felipe da Alsácia, foi adotado por ela ao decidir casar-se com Eudes III de Borgonha. Não tendo tido descendência com Felipe, por esterilidade sua, buscou alternativa casando com Eudes e aproximando-se discretamente do papa na questão do divórcio de Felipe Augusto. Vendo a hostilidade de Sancho I contra a Igreja, não hesitou em promover, para agradar ao pontífice, as pretenções de Afonso de Portugal ao trono português. Fracassando seu plano, com o assassinato de Afonso, volta-se para Felipe Augusto e, à custa de muito dinheiro de seus vassalos, consegue sua aprovação para o casamento de Fernando com Joana de Flandres. Dentro desse contexto, deve ter sido a real inspiradora do rompimento de seu sobrinho com o rei francês, sob o pretexto, muito caro aos flamengos, da retomada das cidades de Aire e St. Omer, violentamente tiradas do domínio dos jovens condes de Flandres, no dia seguinte ao seu casamento, pelo filho de Felipe Augusto, o futuro rei Luís VIII. O plano de Mathilde era conseguir, com seu sobrinho, o que seu primeiro marido não conseguira: o próprio trono francês. A tudo isso não foi indiferente o papa. Assim, na vida de Afonso de Portugal, cruzaram-se os caminhos e os legados de Raimbaut de Vaqueiras, Mathilde de Flandres, Bonifácio de Monferrato, Felipe Augusto, Inocêncio III, Afonso Henriques, Châmoa Gomes e muitos outros importantes personagens do drama humano do século XII.
História do Brasil
Táticas de Anchieta, destinos do Brasil Grau de adesão do beato brasileiro à ideologia da violência no Brasil quinhentista. In: CONGRESSO SOBRE ANCHIETA E VIEIRA. Atas... Veneza, 1998.
Resumo conclusivo. Podemos afirmar as seguintes convicções específicas finais: 1 - João de Bolés, nome pelo qual é conhecido o deflagrador da Inquisição no Brasil, chamava-se Jean Cointat, Monsieur des Boulers.
2 - Nasceu Jean des Boulers em Bouleurs, pequena cidade do Departamento de Seine-et-Marne (Código Postal F-77580), o mesmo em que está Provins, cidade natal de Nicolas Durand de Villegagnon. No século XVI, grafava-se o nome da cidade como Boulers e a pronúncia do [e] era fechada; daí resulta o fato de escrever Cointat seu nome como Des Boulez. A forma latinizada de Boulers era Boulaere, de onde Beretario, autor da primeira biografia publicada de Anchieta, tirou a forma Boullerius para indicar Bolles, termo usado por Pero Rodrigues e que era a pronúncia dos portugueses para Boulez.
3 - O processo inquisitorial de Jean des Boulers trouxe ao conhecimento dos inquisidores Pedro Leitão e Luiz da Grã os franceses Quentin Fernandez e Guillaume de la Porte, que foram submetidos a um auto-da-fé em Salvador no ano de 1562, com De La Porte paramentado de sambenito e carocha.
4 - Reincidindo De La Porte em suas práticas calvinistas, foi tido como relapso e morto na fogueira da Inquisição na cidade do Salvador no ano de 1573.
5 - Tendo permanecido Anchieta em São Vicente após sua participação no processo de Jean des Boulers, entrou em processo de crescente misticismo e de beligerância mental contra os calvinistas, de que resultaram os livros sobre Mem de Sá e a Virgem Maria e sua participação política na libertação e re-fundação do Rio de Janeiro.
6 - Retomado o Rio de Janeiro aos tamoios e aos franceses, foram executados cinco destes e entregue por Mem de Sá ao bispo Pedro Leitão e ao visitador Inácio de Azevedo um outro prisioneiro, também francês, de nome Jacques Le Balleur, pertencente ao grupo de calvinistas que participaram da aventura da França Antática.
7 - Como a cidade precisava de construções civis e religiosas, foi o grupo principal de padres para São Vicente, inclusive Anchieta, retornando após cinco meses e sendo então o prisioneiro confiado a Anchieta para recuperação à fé católica antes de ser executado.
8 - Chegado o dia da execução, provavelmente em agosto de 1567, foi a mesma realizada por meio de uma espada-montante que, sendo inicialmente mal manejada pelo algoz, devido a seu peso, provocou a intervenção de Anchieta para ensinar-lhe como fazer corretamente seu ofício.
9 - Questionado posteriormente por um irmão, quando já era provincial, sobre a irregularidade de sua intervenção, Anchieta usou como resposta o argumento de que os fins justificam os meios, daí não se preocupar com o procedimento adotado ad maiorem Dei gloriam.
10 - Nos anos posteriores, continuou Anchieta estreitamente ligado a Luiz da Grã, apoiando os movimentos inquisitoriais deste e dos bispos Pedro Leitão e Antônio Barreiros, podendo, em consequência, a execução do Rio ter servido para colher de novo Jean des Boulers nas malhas da Inquisição.
Conclusões gerais 1 - Anchieta foi um jovem canarino, de muito talento para os estudos, que logo impressionou o jesuíta Luiz da Grã e os mestres do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, Diogo de Teive e Pedro Leitão.
2 - Entre a influência humanista de professores como Diogo de Teive e a religiosa-medieval de Luiz da Grã e Pedro Leitão, preferiu a segunda e, em consequência, decidiu-se por ingressar na Companhia de Jesus.
3 - Chegado ao Brasil, desenvolveu personalidade mística e vida laboriosa, ao mesmo tempo, permanecendo anônimo em Piratininga em seu trabalho de professor e catequisador mas com decidida propensão ao uso da força para propagação da fé.
4 - Com a vitória de Mem de Sá contra os franceses, foi despertado subitamente para a militância doutrinária combatente contra os hereges sob a forma de cartas, dois livros e balanços de atividades da Companhia, mas com engajamento cauteloso em ação inquisitorial concreta contra o francês Jean des Boulers.
5 - Estando no Rio em 1567, viu-se de repente em ambiente de guerra religiosa e entre combatentes religiosos de forte ascendência sobre ele, acabando por praticar, sob pressão dos mesmos, uma ação objetiva de violência, na execução do herege Jacques Le Balleur, o que não fazia parte de seu caráter aparente, mais propenso ao combate por meio de palavras.
6 - Alçado à função de provincial, aprofundou-se em misticismo mas continuou dando apoio às ações inquisitoriais do bispo, à política de aliança com as autoridades, de repressão do índio inconformado, de intimidação do mestiço pelo temor, de desconhecimento total da natureza humana do escravo africano e de maior afrouxamento da ação doutrinária sobre os colonos.
7 - Com sua maneira de viver, agir e pensar, contribuiu para que se fosse constituindo no Brasil um povo de alegria episódica, tendente à esperança não objetiva e politicamente conformado ou indiferente, que se tornou massa de manobra das elites econômicas e administrativas até os tempos atuais.
8 - A perspectiva de implantação de um projeto prioritário de estabelecimento de missões no caminho para o Paraguai e sudoeste de São Paulo e Paraná, pouco tempo após sua morte, atraiu para sua personalidade, mais conhecida, de missionário e catequista, a atenção dos dirigentes da Companhia, surgindo daí um esforço em prol de sua canonização como missionário-símbolo das novas ações de catequese dos jesuítas no Novo Mundo.
9 - O projeto Anchieta, assim constituído, gerou, por sua vez, um esforço biográfico em relação à sua pessoa, que culminou com a biografia exagerada de Simão de Vasconcelos em detrimento da figura de Manoel da Nóbrega, que se foi apagando.
10 - A revisão dessa distorção leva à conclusão de que Anchieta, no contexto objetivo da investigação histórica, foi um fundamentalista da Igreja Católica, uma personalidade negativa dentro dos destinos da Contra-Reforma e do Brasil e, em consequência, um personagem posicionado na contra-mão da História.
V Centenário do Descobrimento do Brasil - Contribuição desta Homepage.
(Com algumas alterações ao texto principal, em 04.09.99, em função de novos documentos a serem apresentados brevemente.)
Documentos históricos brasileiros anteriores ao início da colonização (até 1534)
A proximidade dos festejos de comemoração dos 500 anos do descobrimento deliberado do Brasil pelo navegante português Pedro Álvares Cabral abre à Internet, como mais importante meio de comunicação jamais inventado pelo homem, a oportunidade de trazer a debate bem mais amplo os fatos principais relacionados mais diretamente com a descoberta, os quais podem ser assinalados ao período que vai do Tratado de Tordesilhas, em 1494 ao início da colonização oficial portuguesa, em 1532. À luz desses documentos, que aqui serão apresentados progressivamente, já se poderá evidenciar para um público mais diversificado uma série de convicções presentes nos estudos de boa parte dos especialistas do século XX. Entre elas, a precedência do descobrimento por parte de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio), Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe; a fragilidade ou não da hipótese antiga, agora retomada por alguns - com novos argumentos - de uma viagem ao limite tordesilhano do território brasileiro pelo lusitano Duarte Pacheco Pereira em 1498; o esforço pelo rei D. Manoel no sentido de atrair a seu serviço Américo Vespúcio e outros italianos; a entrega a ele, como já conhecido navegador da época da missão de explorar imediatamente a costa brasileira, com atribuição de dar nomes aos mais destacadas acidentes geográficos; o vazamento das informações resultantes entre outros países aparelhados para a utilização do caminho aberto pelos portugueses com Vespúcio, Gaspar de Lemos e Gonçalo Coelho, ou pelos franceses com Binot Paulmier de Gonneville, ou, ainda, pelos espanhóis com Pinzón, Lepe e outros; a presença, nos anos seguintes, desses mesmos espanhóis e franceses, ou outros, com propósitos de ocupação da terra; a formação e difusão da imagem do Brasil como paraíso terreal e dos índios como seres humanos em estado, ao mesmo tempo, puro e primitivo. Neste último aspecto, significativos foram a retomada - a partir da visão do paraíso brasileiro e das terras descobertas pelos espanhóis - do conceito político de sociedade ideal, bem como o sonho de encontro dos lugares mais ricos de metais e pedras preciosas que o homem jamais poderia imaginar. O impacto da incorporação da terra brasileira de Vespúcio, a América, depois alargada, ao patrimônio intelectual dos europeus iria imediatamente influir sobre os rumos da religião católica, das artes e das ciências do século, de modo a condicionar em grau variado o movimento renascentista. Relação dos documentos ora disponíveis:
1494: Tratado de Tordesilhas.
1497-1498: Primeira viagem de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio). Esta viagem de Vespúcio sempre foi tida, desde o padre Las Casas, no século XVI, como falsa, mas hoje está demonstrado que, embora não tenha ocorrido, apresenta, ao lado de invenções dos editores, fatos verdadeiros da segunda viagem, que efetivamente realizou entre 1499 e 1500. O texto que apresentamos é o da tradução latina da Lettera di Amerigo Vespucci delle isole nuovamente trovate in quattro suoi viaggi, publicada três anos após esta, ou seja, em 1507, com o nome de Quattuor navigationes e incluída na Cosmographiae Introductio, de Waldseemüller. Por razões de unidade, apresentamos as três viagens seguintes, relatadas nesta versão latina da Lettera.
1499-1500: Segunda viagem de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio). Tendo saído de Cádis em 18 de maio de 1499, teria chegado ao litoral do Brasil entre 27 de junho e o decorrer dos meses seguintes. Com isso teria precedido o espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que chegou seguramente ao norte do Brasil em 26 de janeiro de 1500, a Diego de Lepe, seu compatriota, no mês seguinte, e a Pedro Álvares Cabral, que tomou posse oficial da terra em 22 de abril. Clique no mapa abaixo para ler o trabalho de Gustavo Barroso, O Brasil já se chamou América.
Com base no conteúdo desta viagem, o cartógrafo Martin Waldseemüller, imbuído da idéia de que Colombo só descobrira ilhas, ao invés de um continente, como o fizera Vespucci (Vespúcio) durante essa primeira viagem - e Waldseemüller a situava entre 1497-1498 - deu ao continente descoberto o nome de America. Para concretizar sua convicção, fez corresponder a esse continente o território brasileiro, descoberto pelo florentino, na realidade, em 1499, entre junho e setembro. Como hoje é admitido por todos os estudiosos, não houve primeira viagem de Vespucci em 1497-1498, mas em 1499-1500. A primazia do descobrimento do continente americano coube mesmo a Colombo, no ano de 1498. 1501-1502: Terceira viagem de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio). Ao iniciar esta viagem em 13 de maio, Vespúcio ainda pôde encontrar em Cabo Verde, no dia 4 de junho, parte da frota de Cabral, que retornava da Índia depois de ter descoberto oficialmente o Brasil no ano anterior. Nesta jornada, o florentino desce além dos 50 graus de latitude.
1503-1504: Quarta viagem de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio). Descobre o Cabo Frio, no atual Estado do Rio de Janeiro, e contrói no local uma fortaleza onde deixa 24 homens. O fato serve posteriormente a Thomas More para desencadear o enredo de seu livro Utopia e, em consequência, para difundir o conceito de mesmo nome, utopia, indissoluvelmente ligado à idéia de lugar paradisíaco. Desde então o Brasil preencheu, na mente do europeu, a visão do paríso e da vida feliz em integração com a natureza.
1499:Segunda viagem (1499-1500). (Atenção: A partir de 03/07/99 substituímos aqui esta tradução da Lettera di Amerigo Vespucci delle isole nuovamente trovate in quattro suoi viaggi, feita pelo Visconde de Porto Seguro - Francisco Adolpho de Varnhagen - por outra, presente na História da Colonização portuguesa do Brasil). É a segunda, quando se admite, apenas formalmente, uma primeira, que teria ocorrido entre 1497 a 1498 e que tanto dano causou à reputação de Vespucci durante quatro séculos. A Lettera foi impressa em Florença em fins de 1504 ou, em avaliação mais prudente, entre 1504 e 1506. Nesta "segunda" viagem, Vespúcio teria descoberto o Brasil em 27 de junho de 1499 ou no decorrer dos dois meses seguintes. Cabral o faria em 22 de abril de 1500. Atingiu o cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte, antes de 23 de agosto de 1499, quando empreendeu a viagem de volta em direção ao Haiti (ilha Hispaniola). Apresentamos aqui esta leitura de Varnhagen por razões de crítica histórica, já que as opiniões desse historiador foram em parte ultrapassadas pelo trabalho inovador de Magnaghi, em 1924 (MAGNAGHI, Alberto. Amerigo Vespucci. Roma, 1924.), e pela produção posterior, de correção ou renovação mútua, de investigadores notáveis, como Giuseppe Caraci, Jaime Cortesão, Max Justo Guedes, Duarte Leite, Roberto Levillier, Thomaz Oscar Marcondes de Sousa, Avelino Teixeira da Mota, Moacir Soares Pereira, Rolando Laguardia Trias, Manoel Xavier de Vasconcellos Pedrosa, Isa Adonias, Antônio Alberto Banha de Andrade, Vittorio Beonio-Brocchieri, Márcio Werneck da Cunha, Penha da Silva Leite, Haroldo Cavalcante de Lima, Stefan Zweig, Luiz Renato Martins, Mario Pozzi, Albert Ronsin, Riccardo Fontana e Luciano Formisano, os quais recuperaram a figura histórica de Amerigo Vespucci (Américo Vespúcio), primeiro grande navegador-antropólogo e, no sentido cronológico-geográfico, talvez o verdadeiro descobridor do Brasil, mesmo que se admita a presença, em 1498, nos limites geográficos do Tratado de Tordesilhas, do enigmático português Duarte Pacheco Pereira.
1500: Carta de Mestre João a D. Manuel sobre a viagem de Cabral
1500: Borrão Original da primeira folha das Instruções de Vasco da Gama para a viagem de Cabral. Provavelmente escritas em Lisboa, na última quinzena de fevereiro de 1500. Adquirido originalmente por Francisco Adolfo Varnhagen, foi por ele doado ao Arquivo do Tombo onde esteve perdido durante muito tempo. Reencontrado em 1934, esta arquivado em Leis, sem data, maço 1, doc. nº 21.
1500: Carta Régia de Nomeação de Pedro Alvares de Gouveia para capitão-mor da armada. Lisboa, 15 de fevereiro de 1500. Registrada no Arquivo do Tombo, Chancelaria de D. Manoel. Livro nº 13 fl 10.
1500: A carta do escrivão Pero Vaz de Caminha. Transcrição atualizada da Carta, por Sílvio Castro, seguida de bibliografia atualizada pela Editora Agir. Para consultar a ótima bibliografia sobre o Descobrimento, elaborada pela revista online "Cabral o Viajante do Rei", da Comissão Bilateral Executiva Brasil-Portugal, clique aqui e escolha, na página que surgir, o ícone "Centro de referência".
1500: Relação do piloto anônimo sobre a viagem de Cabral
1500-1503: Ato notarial de Valentim Fernandes, em 20 de maio de 1503. É um documento existente na Biblioteca de Stuttgart (Codex Pentingerianus), em que Valentim Fernandes, alemão estabelecido em Lisboa desde o tempo de D. João II e impressor, tradutor e tabelião, declara, entre outras coisas, que dois ex-degredados da frota de Cabral, justamente os deixados por ele no Brasil, conforme a carta de Caminha e do Piloto Anônimo, estavam em Cabo Verde em 1503 depois de terem passado vinte meses no Brasil. Um deles, como é sabido, era Afonso Ribeiro que, com seu companheiro, foram provavelmente resgatados por Américo Vespúcio por ocasião de sua terceira viagem, feita em 1501-1502. O retorno dos degredados teria ocorrido em janeiro de 1502.
1500, 18 de julho: CARTA DE AMÉRICO VESPÚC1O ESCRITA EM SEVILHA A 18 DE JULHO DE 1500. Enviada a Lorenzo di Pier Francesco dei Medici em Florença, contém uma exata descrição da sua segunda viagem feita para o rei da Espanha em 1499-1500.
1501: Carta de Américo Vespúcio a Lorenzo di Pier Francesco dei Medici, expedida de cabo Verde a 4 de junho de 1501 (Códice Riccardiano). Trata-se de manuscrito original, que trata do começo da viagem de 1501-1502 e relata o encontro com a frota descoridora de Cabral, quando retornava esta da Índia.
1502:Carta de Américo Vespúcio a Lorenzo di Pier Francesco dei Medici, expedida de Lisboa em 1502 (Códice Riccardiano). Manuscrito original que descreve a viagem de 1501-1502.
1501-1502: Lettera di Amerigo Vespucci delle isole nuovamente trovate in quattro suoi viaggi: Terceira viagem e primeira ao longo da costa brasileira. Apresentamos aqui este texto para confronto com o correspondente das Quattuor navigationes.
1503-1504: Lettera di Amerigo Vespucci delle isole nuovamente trovate in quattro suoi viaggi: Quarta viagem e segunda ao longo da costa brasileira. Apresentamos aqui também este texto para confronto com o correspondente das Quattuor navigationes.
1503: Mundus Novus Este famoso texto, aparecido em latim já em 1503 e atribuído falsamente a Vespúcio é uma compilação de carta verdadeira que o navegador escreveu a Lorenzo di Pier Francesco dei Medici sobre sua viagem de 1501-1502. Deu ela início à grande fama do florentino e gerou todo o processo da verdadeira incorporação do Novo Mundo ao patrimônio espiritual europeu.
1515: Nova Gazeta da Terra do Brasil.
1551: Fernão Lopes de Castanheda, cronista português, e sua descrição da viagem de Cabral.
REFLEXÃO FILOSÓFICA
Minha Concepção Infinitista do Universo
Há 46 anos, no entusiasmo de nossos 19 anos de idade, escrevemos o seguinte texto, que publicamos na revista Escada, órgão dos estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade do Distrito Federal, hoje do Estado do Rio de Janeiro, onde iniciávamos o curso de Letras Anglo-Germânicas:
"A humanidade, desde longa data, acostumou-se a encarar os problemas que lhe apareciam partindo de um princípio. Toda coisa existente seria decorrência de uma coisa primeira. Como o problema da ida além da coisa primeira fosse muito complexo, o homem acostumou-se a encarar esse além como inexistente e a coisa primeira como coisa primeira de fato. Além do mais, se esta coisa é primeira por que então procurar ultrapassá-la? Isto faz-nos pensar em recorrer a uma experiência interessante. Tomemos um lápis comum, como, por exemplo, o que está servindo para escrever estas linhas. Envolvamo-lo em um pedaço de flanela e coloquemo-lo dentro de um cilindro. Encaixemos nesse cilindro um motor movido a energia atômica. Devido a uma dedução feita das fórmulas de Einstein, a ação da gravidade foi já por nós anulada, não havendo assim grande impecilho ao deslocamento em sentido vertical do nosso engenho. Este, de acordo com os padrões existentes já possui as formas aerodinâmicas capazes de lhe dar maior beleza e eficiência. Feito isso, e já nós mesmo acomodados dentro da nave do espaço, liguemos o motor e comecemos a nossa viagem. A nossa ciência já progrediu tanto, que nós já criamos para nós, dentro do foguete, um mundo particular, com gravidade própria, atmosfera própria etc., de modo que nosso organismo é capaz de suportar a incrível velocidade de 1.200.000 quilômetros por segundo, isto é, 4 vezes a velocidade da luz. Devido a esta velocidade, nós, antes de partirmos, despedimo-nos dos nossos parentes e amigos, pois segundo as teorias de Einstein (o tempo está em relação com velocidade existente em determinado local), nós, ao voltarmos do nosso passeio, se voltarmos, não encontraremos mais o planeta que deixamos, mas sim um inteiramente diferente, isto é, um planeta milhares de anos posterior. Isto é verdade pois enquanto nós voávamos a 1.200.000 Km/seg e vivíamos 7 meses, a terra estaria vivendo em tempo 6894 vezes mais longo. Portanto, se nós voltarmos depois de uma viagem de 7 meses, nós encontraremos a terra com a humanidade em pleno ano 5956 não faltando assim ao encontro que por acaso tenhamos marcado com alguém para esse ano. Mas, comecemos a nossa viagem. Nós nem pudemos observar a lua pois com a nossa velocidade, nós passamos por ela 1 terço de segundo depois de partirmos. Menos de 1 hora depois de alçarmos vôo, passamos por Plutão, o planeta mais afastado do sol. Saídos assim do nosso alvo agora é a estrela Alfa da constelação do Centauro, a estrela mais próxima da terra da qual dista 4,3 anos-luz. Esquecemos de dizer que a nossa velocidade agora é bem superior pois o nosso motor é movido também por energia emanada pelas estrelas. Assim, menos de vinte e quatro horas depois da nossa partida, já estamos passando pela Alfa do Centauro. Esta estrela, conforme observações que estamos fazendo, possui 10 planetas, sendo que 2 habitados.
Dez anos depois.
Estamos já viajando há dez anos. Muitos perguntarão como nos alimentamos durante esse tempo. Nós explicamos: com os mesmos alimentos com que partimos. Mas como? Perguntarão vocês. Esclarecemos: é que o nosso alimento é ultra sintético. Uma grama dele pode nos alimentar durante dois anos. Como nós partimos com 500 gramas, não há motivo para receio. Devemos dizer que já ultrapassamos toda a Via-Lactea e 15.602 outros grupos estelares. E parece que temos ainda muita coisa a percorrer. Já avistamos dezenas de milhares de planetas e visitamos mesmo alguns cujos habitantes são dos mais interessantes. Muitos estão ainda em estado selvagem, outros em grau de cultura tão elevado que nos ensinaram coisas espantosas inclusive esta de, com um simples pensamento, deslocarmos nosso foguete à velocidade que quisermos e à distância que quisermos. Por isto, desde os últimos dias, temos raciocinado. Terá este mundo algum limite? Na terra, nós sempre encarávamos as coisas como tendo um princípio e um fim. Agora, todavia, com os maravilhosos conhecimentos adquiridos nos planetas por nós visitados, estamos habilitados a responder à pergunta formulada atrás. Como dissemos, estamos capacitados a, com um simples pensamento, deslocar o nosso foguete à velocidade que quisermos. Sendo assim, vamos dirigir o nosso pensamento para um lugar do universo situado a 592 quintilhões de quilômetros do lugar onde estamos. Ao chegar lá, nossa aeronave deverá parar afim de que possamos observar o ambiente. Pronto! Pensamos!
Devemos comunicar aos leitores que este ponto do universo se nos apresenta com uma estrela muito grande, de 2ª grandeza. Como devem imaginar, a paisagem não é muito diversa da anterior. Vamos fazer outra experiência. Desloquemo-nos agora com uma velocidade de 875 sextilhões de Km por décimo de segundo, durante 2 horas. As paisagens se sucedem com o nosso aparelho passando através de muitos grupos estelares. Findas as duas horas, devemos dizer que o universo ainda dispõe de muita coisa para nos mostrar. Bem, vamos fazer agora uma derradeira experiência. Vamos dirigir o nosso pensamento para o fim do universo. Ao chegar lá o nosso foguete deverá parar para podermos observar como são as paragens do limite do mundo. Antes de fazermos a experiência podemos já dizer que estes limites não existem. Vejamos porque. Os cientistas afirmam que não há inércia absoluta. Se a inércia absoluta não existe, o que somente existe é movimento. O movimento existindo sempre impossibilita a existência de vazios absolutos que somente existiriam se houvesse a inércia absoluta. Considerem-se dois pontos absolutos, isto é, dois pontos em inércia absoluta. Como eles são absolutos, não haveria entre eles coisa alguma, sendo esta coisa alguma o vazio absoluto, isto é, o nada. Mas a inércia absoluta não existe, portanto o vazio absoluto ou nada também não existe. Podemos portanto dizer que o nada não existe porque o movimento existe sempre. Este sempre existir do movimento será comprovado adiante. Não existindo o nada, não existe o "o mundo imaterial". Se este não existe, o mundo material existe sempre, isto é, não tem limites.
Bem, façamos agora experiência. Atenção, vamos pensar! Pensamos!
Mas, o que está acontecendo? O nosso foguete não para! Ah! Já estamos compreendendo! Ele não para porque o universo como prevíramos, não tem limites e assim não possui estação terminal.
Esta verificação faz deduzir uma série de coisas.
Vamos deslocar o nosso foguete a uma velocidade de 1.200.000 Km/s. Com essa velocidade, em 10 segundos nós percorreremos 12.000.000 de quilômetros, em 100 percorreremos 120.000.000 e assim por diante até que numa infinidade de segundos, percorreremos uma infinidade de quilômetros. E mesmo assim, não encontraremos como foi dito atrás, os limites do universo. Sendo assim, chegamos à conclusão de que o tempo é infinito também, isto é, não tem limites. Mas, vamos parar a nossa aeronave num ponto do infinito como por exemplo este situado a 200 quintilhões de quilômetros. Bem, paramos. Agora, raciocinemos. Se nós podemos nos deslocar a uma distância infinita, durante um tempo infinito, e nunca temos um fim, nós podemos, em vez de nos dirigir para o futuro (que é o que temos feito quando gastamos 1 segundo para percorrer uma distância qualquer), dar meia volta e levar o nosso pensamento para o passado. O que logo acode é que se o futuro não tem fim, o passado também não o tem pois não é mais do que um futuro considerado depois de um determinado momento ( o momento em que o futuro é presente). Assim sendo o passado existe em função do futuro e existirão tantos momentos do passado quantos forem os momentos do futuro. Mas já vimos que o futuro é infinito também e não possui limites. Lembrando que o espaço é infinito, isto é, quanto mais penetrarmos no futuro, mais universo teremos ainda que conhecer, podemos proceder em sentido inverso e ver que da mesma forma quanto mais tempo avançarmos no passado tanto mais coisas teremos que conhecer no universo. Desde que haja tempo a penetrar haverá espaço a conhecer.
Estes raciocínios nos permitem afirmar que o universo não teve princípio nem nunca terá fim. Assim sendo ele sempre existiu e portanto nunca foi criado por ninguém. Se ele sempre existiu, as coisas que ele encerra sempre existiram também. Tomemos como exemplo o homem. Como ele faz parte do universo, ele sempre existiu. Logo nunca foi criado. É bom que se frise que falamos aqui do homem segundo os elementos que o constituem pois, segundo a forma atual, esta se apresentou numa época determinada (em meio do tempo infinito) sucedendo a outra forma que por sua vez sucedida a outra e assim por diante até o infinito. Portanto, o homem em si sempre existiu. Não teve princípio. Não terá fim. É eterno.
Bem vocês nos dirão agora: - Está tudo muito lógico e claro. Porém como se explica que o homem nasça e morra, isto é, como se explica a vida? Além do mais como se explica o movimento, como ele se produz de fato?
Vamos então às respostas. Advertimos antes de continuar que devemos começar pela 2ª pergunta de cuja resposta se deriva a resposta da primeira e de qualquer pergunta que se fizer.
Segundo as concepções tidas até hoje, o estado de movimento para existir pressupõe um estado de repouso. O movimento existe a partir do momento em que não existe movimento. Este momento em que não existe movimento é um momento de repouso e portanto um ponto de partida para o movimento que virá. Todavia, como já vimos não existe princípio nem fim de coisa alguma. Sendo assim também o movimento não possui início nem jamais terá fim. Lembremos, por outro lado, que a idéia de movimento é uma idéia de deslocamento no tempo e no espaço. Como estes são ilimitados, o movimento também o é e portanto não tem princípio nem fim. Esta afirmação é confirmada pelos físicos quando dizem que o repouso absoluto não existe. Se o repouso absoluto não existe, o movimento existe sempre.
O fato de o movimento existir sempre faz com que o universo tome sempre aparências diferentes. Aparência é o modo de ser de alguma coisa num ponto determinado do infinito. Os momentos, do infinito são infinitos portanto correspondem a uma infinidade de modos de ser.
De acordo com o exposto, a cor é o modo de ser de alguma coisa num ponto determinado do infinito, isto é, é o movimento num determinado momento do infinito. Assim também é o quente, o frio e a vida.
Dessa afirmações podem-se resolver perfeitamente problemas como os da idéia de bem, de mal, o problema da razão, do conhecimento etc."
Hoje, em 2002, após as mudanças, no viver, mais radicais que o ser humano jamais experimentou em período tão curto (46 anos), que pensamos nós dessas idéias defendidas com argumentos a um só tempo simplórios (caso do foguete) e consistentes (caso do movimento)?
Então, como hoje, não vemos diante de nós senão a realidade. Não há outro plano senão o real. Outros planos não passam de quimeras tecidas pelas mentes da maioria dos homens para responder à perplexidade do momento fugaz em que se resume sua trajetória existencial. A dificuldade dos homens de encarar o real infinito em que fugazmente se vê, leva-os ao inconformismo com sua existência concreta e, portanto, à movimentação frenética para alimentar-se de ilusões. Desde o playboy mais atuante até o crente mais devotado, todos se movimentam freneticamente em torno de ilusões de vida passageira ou eterna. Estão errados? De forma alguma. Viver é distrair-se, para iludir-se. Distrairmo-nos em cada momento, em cada movimento de nossas vidas, torna-se o único remédio eficaz contra a perplexidade que domina nosso subconsciente. Como a vida em sociedade - e isso é próprio do homem, animal social - obriga à obediência a regras de comportamento, o homem real e responsável busca movimentar-se licitamente dentro do grupo sob pena de acarretar contra si justas ações de coerção por parte de terceiros. Com isso, alimenta-se das ilusões que lhe garantem ir levando a contento sua vida, sentindo o menos possível a inexorabilidade de seu caráter infinitamente efêmero. E essa é a melhor estratégia existencial. Mas, se a consciência do fim passa a povoar seus dias e as ilusões diminuem, deve buscar a opção racional de tentar terminar, mesmo com todas as dores, como todos os seres vivos: silenciosamente, imerso na consciência de integração no real infinito.
E antes que alguém nos venha com o argumento de que esse "real infinito" não é outra coisa senão "Deus", lembremo-nos de que "Deus" não passa de uma junção de quatro letras, sem nenhum significado fora delas, usada como ilusão contra a inexorabilidade do efêmero que constitui nosso fugaz viver.
O "real infinito" não é uma meta-realidade, embora possa assim ser denominado para dele se tentar uma representação. É, simplesmente, a realidade. Como tal transcende o conceito limitado de "universo", que, mesmo sendo tomado como uma possível representação para ela, não o é, na realidade, pois envolve uma direcionalidade unívoca, "para fora", mesmo se olhado na direção oposta. É o caso da teoria cosmológica do "big bang". O "real infinito" tem uma infinita direcionalidade, vale dizer, para "fora" e para "dentro", de modo que seus universos têm existência "dentro" e "fora" de cada um de nós, quando nos tomamos como pontos. Assim o universo não poderia ser perscrutado, em tese, apenas com telescópios ideais mas também com microscópios ideais. Infinitas galáxias existem fora de nós, no firmamento infinito. Também podem ser imaginadas dentro do ponto com que encerramos nossa frase ou dentro de um ponto do dedo que firma nossa caneta. O "real infinito" volve e revolve infinitamente e não pode ser visto de fora, embora, em termos práticos de representação, possa ser tido como uma esfera infinita que só pode ser sentida "de dentro" em seu movimento eterno de volver e revolver. Assim é o "real infinito".
Trabalhos Didáticos
Português
Inglês
Regras Práticas da Língua Inglesa. 2. ed. Rio de Janeiro, Editora e Gráfica Miguel Couto, 1970. 319 p.
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Textos alheios para Download
ILDETE DE OLIVEIRA CASTRO. O Ritmo Laurenziano. Tese de doutorado. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro - Faculdade de Letras, 1978, 202 p.. 2. ed. Rio de Janeiro, Editora e Gráfica Miguel Couto, 1970. 319 p.
RODRIGO DE OLIVEIRA CASTRO. A POLITICA EXTERNA BRASILEIRA COM VARGAS: NOSSOS INTERESSES E CONQUISTAS (1930-45).
RODRIGO DE OLIVEIRA CASTRO. LMRPORTO.
RODRIGO DE OLIVEIRA CASTRO. MÃE D'ÁGUA.
Observação Política
ARIEL CASTRO'S HOMEPAGE BRASIL
Novos trabalhos a serem digitados:
O auto de partilhas
A língua dos trovadores provençais e o português
O nome da rosa
Apresentação do vocabulário do Atlas Prévio dos Falares Baianos
Análise da carta 12 do Atlas Prévio dos Falares Baianos
A Glotocronologia e o problema da datação das línguas românicas
Projeto de elaboração de um Núcleo de Linguística e Filologia Aplicadas na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Projeto de um Atlas Linguístico do Estado do Rio de Janeiro
Formação do império colonial anglo-francês na África
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Versão original desde site: 22 de novembro de 1998
Última modificação: 27 de junho de 1998BOOKMARK THIS PAGE !