Pucallpa - Junho de 2000.
"Deus é nosso refugio e fortaleza, socorro
bem presente na angústia."
(Salmos 46:1)
Ai vao as ultimas do jornal Nacional dos YUDS
Bom como sempre estamos com muito trabalho, ainda não tivemos
tempo
para ir no medico, estamos planejando para esta semana, o motivo
também é porque ele só atende de noite e para
nós é dificil para
sair de noite até a cidade, temos que pedir um carro emprestado
porque os carros da missão estão muito caros, e como
vocês sabem
quando usamos os carros da missão nós temos que pagar
por
quilometragem e em dolar, o que para dois fica muito caro, nós
só
saimos com os carros da missão quando saimos em grupo então
dividimos as despesas, e por outro lado os que tem carros
particulares são um pouquinho dificil de emprestar, mas se Deus
quizer vamos conseguir ir esta semana para ver como esta Karina.
Imaginem Isaias teria que correr com o carro e ao mesmo tempo não
podia correr muito por causa da estrada cheia de buracos, e a mulher
chorando e as dores cada vez mais fortes, Isaias pensou: "é
agora
que eu tenho que parar o carro e ajudar fazer um parto no meio da
estrada", mas gracas a Deus conseguiram chegar no hospital, e o bebê
só foi nascer as 8:00 da manhã.
Isaias deixou a enfermeira no hospital e voltou pra missão para
buscar outra paciente e levar outra vez ao hospital, então eu
fui
junto, ele nos deixou ai e foi fazer algumas coisas no centro, eu
queria ver o nenêm que havia nascido, eu fiquei na porta da sala
de
parto esperando até me dixarem entrar, e ai escutava, uma gritando
e
gritava forte que todo hospital podia escutar, comecou a me dar um
friozinho na barriga, depois tinham outras mulheres acompanhantes
das que estavam tendo os seus bebês, e me perguntavam, quantos
filhos eu tinha, eu dizia: este é o primeiro, e depois perguntavam
quantos anos eu tinha, e dizia: este ano vou fazer 30 anos, e elas
"ih... você vai sofrer muito, porque com 30 anos os ossos ja
estão
velhos" e eu respondi, como vocês me animam hein! Mas sei que
Deus
vai estar no controle de tudo.
2. Também temos uma familia do grupo "shipibo" que trabalham
aqui
na missão, são bem adiantados, o Pai da aulas no seminário
e também
é pastor, a mãe da sua esposa morreu também sabado,
e de noite nós
fomos no velório.
No velório haviam só shipibos (indios) e um caixão
grande, velas, e
muita gente.
O caixão ficava fechado, e tinha aquela janelinha, o interessante
é
que primeiro vai um grupo de velhas perto do caixão abrem a
janelinha e comecam a chorar, forte e gritado, como se estivessem
fazendo um concurso de quem chora mais forte, e ficam um bom tempo
chorando, depois fecham a janelinha e saem sentam no chão porque
não
havia muitas cadeiras, e também porque estão acostumadas
a sentar no
chão e ficam ai quietas e tranquilas, sem derramar uma lagrima.
Depois outro grupo de jovens, e fazem a mesma coisa, isso faz parte
da cultura.
Depois chegaram alguns jovens da igreja de indios e comecaram a
cantar, musicas alegres com palmas e panderos, e como eles cantam
bem forte e gritado dava para escutar longe, ai ja estavam mais
alegres.
Isaias e eu estavamos observando tudo, quase morremos de tanto calor
dentro da casa porque era uma casa pequena, cheio de gente e ainda
velas queimando o tempo todo quase derretemos, eu estava sentada só
olhando, e a Karina não parava de mexer, e mexia de um lado
, do
outro, e não parava, eu dizia baixinho, "Karina agora não
é hora de
fazer festa, estamos em um velório", mas não adiantava
o que ela
queria era fazer festa.
Quando eu abracei a irmã que trabalha conosco na missão
ela grudou
em mim e comecou a chorar forte e gritado, eu nem sabia o que fazer
e nem o que dizer, depois de um tempinho ela me largou, depois foi
a
sua filha que é aquela que nós somos padrinhos de 15
anos, (que
escrevemos na outra carta). Alias, veio, voce vai achar ela a maior
gatinha.
Emprestamos uma televisão de uma peruana, e nossa casa encheu
de
gente para ver o jogo, nós com a nossa bandeira contra muitos
peruanos, e por fim pudemos fazer a festa, ainda bem que o Brasil
ganhou se não iriamos escutar eles tirando sarro de nós
por muito
tempo, depois Isaias saiu com a nossa bandeira pela missão para
fazer festa, mas ainda bem que os Peruanos não ficaram bravos
conosco, levaram na esportiva, no fundo, no fundo eles sabem que
Brasil é bom no futebol.
A Karina também estava torcendo, mexendo o tempo todo, eles diziam
que ela não pode torcer pelo Brasil porque vai nascer Peruana,
e eu
disse que enquanto ela esta na minha barriga ela pode torcer pro
Brasil, depois que nascer ela pode escolher para quem quer torcer.
E viva o Brasil, eu (Isaias) agitei a minha bandeira Brasileira o
tempo todo do jogo. Como estava na minha casa ninguem podia
reclamar.
. . . alguns dias depois . . .
O consultorio era muito engracado. Fica no segundo andar, subimos as
escadas, tinham varias salas, cadeira, tudo meio sujo (alias como
normal aqui na Selva), fomos entrando, andando e nao tinha ninguem,
no final do corredor uma salinha pequena estava um senhor sentado
com muitos papeis. Nos apresentamos e perguntamos se ele era o
medico.
Ele nao tem secretaria, nem telefone, nem computador (nao sei se ele
conhece, brincadeirinha), nada. Na mesa dele tem varias pilhas de
livros, papeis por toda parte, procurou um papel e comecou a
escrever a historia da Queia.
Este medico e o chefe da ginecologia do hospital de Pucallpa.
A Queia aumentou mais dois kilos e meio em dois meses, tudo dentro
do normal.
O medico escutou o coracao e estava legal, 147 por minuto.
Mediu a barriga, verificou a pressao, todas estas coisas.
Receitou um remedio para os ossos, um para o sangue.
Pediu exames de urina, sangue, etc, para a proxima consulta em
julho.
Proibiu a Queia de tomar cafe, para controlar a asia que ela esta
sentindo.
Eu ja avisei que quero asistir o parto e filmar, ele disse que nao
tem nenhum problema.
Gracas a Deus tudo esta bem com a Queia e com a Karina.
A temperatura deu uma baixada, agora esta em torno de 25 graus. Esta
meio chuvoso ja fazem dois dias.
Deus os abencoe a cada novo dia.
Um grande abraco com muitas saudades.
Isaias e Queia Yud
By
Edemar
A. Santos ,
atu.02-set-00.