Experiências do curso Bíblico – 2004

O Sorriso de José


Pucallpa – Peru, 03 de Setembro de 2004.

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            Estava ensinando o livro de Atos dos Apóstolos, para os alunos de primeiro ano.

            Na minha classe tinha 17 alunos, todos eles são lideres e alguns pastores de igrejas indígenas da selva do Peru.

Cada um deles pertencem a uma tribo indígena e vive em uma das aldeias desta tribo. Cada um é individual, cada um é uma criatura formada por Deus, escolhida por Deus. Cada um deles tem um idioma próprio, o idioma da sua tribo do seu grupo. Junto com o idioma esta a cultura de cada um deles.

            Poderia contar muitas experiências boas e marcantes com eles, também poderia contar algumas tristes e decepcionantes.

Mas quero contar de um aluno em especial.

Ele é José (nome fictício), ele pertence a tribo Kandoshi, vive em uma aldeia bem distante de qualquer cidade, longe de outras aldeias, muito isolado.

Em quase todas as aldeias da sua tribo eles tomam muito masato (bebida de mandioca fermentada).

Outro problema bem grave são as mortes por Hepatite B.

A sua aldeia é pequena, as crianças são bem sujas, as famílias tem bastante filhos. Nesta aldeia são poucos os que entregaram a sua vida a Jesus e agora são filhos de Deus. Mesmo com tantas dificuldades, José ouviu a voz de Deus e veio ao Instituto Bíblico para poder preparar-se para ensinar a Bíblia ao seu povo.

José e um jovem tímido, fala pouco, quase não participa, tem dificuldades em responder as perguntas feitas a ele, observa tudo. A sua dificuldade maior é entender o idioma da classe, o espanhol, por não ser a sua língua de berço (materna).

Na classe ele senta-se ao lado de um outro índio da sua tribo, que também é tímido e bem quieto.

Com o passar dos dias, Deus me ajudou a descobrir a principal característica, o principal sinal de quando José entende a matéria e de quando não consegue entender. Quando não entende é basicamente por não compreender o significado das palavras em espanhol, pela limitação do idioma e pelo vocabulário pobre e reduzido que possui. Tenho o costume de olhar nos olhos dos meus alunos, isso me ajuda a perceber se estão entendendo ou não. Quando vejo nos olhos pontos de interrogação é sinal de que não estão compreendendo, o que me ajuda a saber que tenho que explicar com outras palavras, com sinônimos, com antônimos, ou mesmo com historias bíblicas, com experiências de personagens bíblicos ou pessoais.

Assim olhei uma e outra vez nos olhos de José, e vi duas coisas: a primeira a que relatei acima, pontos de interrogação, duvidas, incompreensão. O segundo que vi veio depois das explicações e foi o sorriso no rosto. Esta foi a marca muito pessoal, muito especial na vida de José como aluno, e na minha vida como professor. Olhar a José e ver interrogações, explicar de varias formas e depois ver o sorriso nos olhos e na face, este sorriso mostrava que José agora estava feliz,  é como dizer agora sim eu entendo e de pensar como não entendi antes, é como se tivesse saído dos seus olhos o que impedia ver, era como se fosse cego e  agora pode enxergar bem. 

O sorriso de José foi a marca em nossas vidas, mas também foi a satisfação dele como aluno de poder compreender a Bíblia, e minha como professor de poder ter cumprido com o meu objetivo de ensinar com claridade para que os alunos possam ensinar a outros e fazer discípulos.

Louvo a Deus pelas lindas experiências do sorriso de José, que no final do curso foi aprovado, mesmo com tantas limitações e problemas.

Te convido a orar por José e pela sua família, pelo seu grupo, nossos irmãos Kandoshi, da selva Peruana. Eles estão em diferentes aldeias. Estima-se que são aproximadamente 4.000 pessoas.

Isaias e Queia Yud

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