Guerreiras da Cobra

1º Capítulo - A Era da Serpente

Em 2032, garotas de 17 anos como Kate Rosen, sonham em ter um walkmen solar... Ela o tem! Não, ela não é rica, mas esperta. Arranjou um de segunda mão com sua melhor amiga Clarice e com uns "tapinhas" e energia acumulada de seu espelho de estimação (se é que depois desses anos esse bagulho ainda pode ser chamado de espelho!), até que dá para fazê-lo funcionar.

Na sua barulhenta cidade, ou melhor, nessa selva chamada Torrance, dos Estados Unidos da América, Kate estava tentando ouvir música com seu walkmen:

- Acho melhor jogar essa tralha logo no lixo...

Mas, de repente, seu super-mini-virtual faz um barulho de alarme. Kate estranha, deixa o walkmen de lado - "Será que quebrou?" - e coloca-o. Verifica seus dados e vê que não há nada de estranho...

- Kate, Kate!!! - chama, calmamente, uma voz.

- Mas o que é isto?? - estranha ela.

Sem retirar o super-mini-virtual, ela vira-se. Aperta os olhos, tentando entender tudo aquilo, e tem a leve impressão de estar vendo uma imagem nublada de um homem, no espelho. Nada mais vê, pois as luzes de seu quarto se apagam; em segundos, Kate olha em sua volta e não reconhece nada: o ambiente estava todo modificado, cadê o quarto, cadê o quarto?! Com tamanho susto, Kate deixa seu SMV cair no chão. Agora, sim, tá quebrado!

Neste instante, surge em sua frente o homem que a chamava no espelho. Vestia uma túnica branca, cujo rosto escondia-se na capa acinzentada, tornando-o mais misterioso que o ambiente meio obscuro...

- Where I stay? * "Onde eu estou?"

Olhando para ela com atenção, porém tentando disfarçar que estava examinando-a da cabeça aos pés, ele responde:

- Sinto muito, mas não falo inglês. Falo esperanto.

- Oh, sim! Também falo... Mas onde estou?

Com uma voz calma e suave (ao contrário de Kate, que estava mais assustada que cobra quando vê facão), ele foi se apresentando como Argmat - "Que nomezinho esquisito!", pensa Kate -, e continua:

- Sou um espírito... Nós estamos numa dimensão paralela. Eu sei que isso é estranho para você, humana, mas antes de se assustar, aceita passar por um teste?

Fazendo força para não se assustar antes da hora, ela só consegue, com os olhos arregalados, mexer os ombros rapidamente...

- Então, por favor, feche os olhos e imagine uma ilha.

Assim fez ela. Então ele continua, afirmando que a água em volta seria límpida como a alma de uma guerreira, areia quente como seu coração e árvores dando frutos tão bonitos quanto a amizade...

- Que bonito, gostaria que fosse verdade!

- E é!! - responde Argmat, surpreendendo-a.

- ????

- Bom, mais isso não interessa agora... Então imagine uma bela cobra.

Kate, de olhos fechados, mostrava um sorriso nos lábios e uma certa desconfiança na mente, mas queria parecer séria. O homem, quer dizer, o espírito, após uma pequena pausa, indaga:

- O que você vê na água?

- Vejo quatro cobras. Elas estão tomando forma humana! - com um ar preocupado, como se estivesse duvidando de si mesma, diz:

- E... Uma delas... Sou eu!! Como pode ser? Acho que estou sonhando acordada...

Argmat, incontrolavelmente feliz, aliás, pulando de tanta alegria, responde falando que ela passou no teste, era uma Guerreira da Cobra e a Serpente Marinha que tanto procurava! Estava tão entusiasmado que nem reparou o enorme ponto de interrogação na cabeça de Kate. E ainda completa:

- Parabéns, Kate Rosen! Você é uma garota especial!!

- Obrigada, mas não estou entendendo nada. Ei, ei, por favor! Pare de pular feito macaco e me explique!

E Argmat começou a explicar tudo...

Os Dez Casais

- Há alguns anos, mais ou menos em 1996, cientistas fizeram uma experiência assim: implantaram células de uma orelha humana nas costas de um camundongo, e tempos depois, formou-se uma orelha humana em suas costas, provando que transplante de células é mesmo possível (fato real)! Mas neste século XXI, outro grupo de cientistas, marcado por Dr. Martin, o mais novo do grupo anônimo, implantou nos organismos de 10 casais, equivalentes a 20 pessoas, células de diferentes espécies de cobra. Porém, dois anos se passaram e suas aparências humanas continuaram intactas.

- Quer dizer que eles não ficaram com aparência de cobra? - pergunta Kate, se interessando na história.

- Aparentemente não. Os cientistas anônimos estudaram minuciosamente o caso e descobriram que as características estavam armazenadas em seus códigos genéticos, ou seja, apesar de não as terem, essas características seriam passadas para seus filhos.

- Mas como as mutações não ocorreram no físico?

- Você chegou no ponto certo... Isso é um mistério para todos. Só nós espíritos, sabemos o que aconteceu: os Homens de Plumas, que habitam o planeta BX2011ANI, captando energia dos radares Terrestres, construíram naves potentes e o caminho para a Terra, eles descobriram através do mesmo.

- Epa! Eu soube da descoberta desse planeta através da TV. Foi há 21 anos atrás, não foi?

- Isso mesmo. Mas, quando os seres humanos entraram em sua órbita, acabaram poluindo o local e as sensíveis "Dléfus" (plantas que ofereciam 95% do oxigênio do planeta - os 5% restantes são oferecidos por microrganismos aquáticos), foram se extinguindo. Pouco a pouco, os Homens de Plumas também... Os que sobraram, foram treinados como soldados pelas Demônitas para acabar com a nossa raça, sem deixar nenhum para acabar com a deles!

Kate ficou pensativa. Isso era fantástico demais para sua cabeça de pessoa comum...

- E a experiência com os 10 casais? O que tem a ver com isso?

- Tudo a ver. Nós, espíritos, sabíamos o futuro: eles viriam, descobriram o plano que tínhamos criado de aproveitar os casais para dar-lhes poderes, com intenção de proteger a Terra, e acabariam com eles. Por isso, criamos um campo de força e passamos a "tarefa" para os filhos, para dar tempo...

- Diga logo: e a experiência??? - desabafa ela.

- Bem, como ela não tivesse dado certo e fosse proibida por lei, os cientistas anônimos guardaram segredo e os casais foram cada qual para o seu país, ignorando o acontecido. Só tinham servido de "cobaias" porque pensaram que estariam ajudando o progresso da tecnologia, só que não funcionou, então foram viver suas vidas.

- É, até que isso faz sentido... - pensa.

- Tempos depois, eles tiveram filhos. Um dos casais, o brasileiro, teve um casal de gêmeos. Os demais tiveram cada qual uma filha só, com diferenças especiais, mas secretas, como já fora combinado. Daí veio... As Guerreiras da Cobra!!! Chamei-lhe porque hoje a Demônita 1 conseguiu destruir o campo de força. A reconheci porque, quando a vi cansada de dar tapa no walkmen que não funcionava, vi uma marca da cobra em sua perna, que só nós vemos: o sinal! - Demônita, Demônita... Ele só fala nisso! Não vou nem perguntar o que é, pensa Kate, já com medo de ouvir a resposta...

- Argmat, e o teste? Não entendi de onde vieram aqueles pensamentos...

- Ora, todas as guerreiras tem a resposta no subconsciente. É outra maneira de reconhecê-las, além do sinal de que, quando ficam cansadas, a marca da cobra aparece em sua perna!

- Ah, bom... - disse bem baixinho, meio cansada da explicação. Que passado estranho tiveram!

- Mas, voltando ao assunto, até que enfim te achei, Serpente Marinha!! Como tô feliz!!!

(E começa a dançar com Kate de tanta alegria, cantarolando)

Só que, olhando um rapaz alto, cabelos castanhos, olhos verdes e sorriso simpático vindo, cochichou meio nervosa:

- Quem é o gatin... Hã... O rapaz que vem vindo?

- Meu aprendiz de mestre. Enry, esta é a 1ª Guerreira da Cobra. Seu nome é Kate Rosen! Serpente Marinha, te apresento Enry Carlson.

- A Serpente Marinha?? Que prazer em conhecê-la!

- Dããããã... Quê?! Ah... Prazer... Ai, ai!

Argmat logo repara a cara de boba de Kate para Enry, e tenta não rir!!

- Hã... Mas, Argmat... Ele é um dos guerreiros? Tem cobra?

- Nem um nem outro. Ele é aprendiz de mestre!

- Sei... E como o convocou?

- Era um rapaz de rua que vivia agrupado com outros rapazes que, ao contrário dele, roubavam e vendiam drogas. Até que tomou a decisão de viver só, para fugir daquela vida. Conseguiu um emprego como faxineiro para sobreviver sem "trapaças". Eu, percebendo sua diferença, desci a Terra. Quando saía do trabalho, eu o trouxe para esta dimensão e fiz o teste de guerreiro. Mas ele não sabia!

( - Você não consegue imaginar uma ilha?

- Eu... Não sei... Não vejo nada. Mas espere! Vejo uma luz acima... Uma mulher vestindo sua túnica e dizendo que... Seu sol se pôs para que o meu nascesse.

Enry, totalmente confuso, põe a mão na cabeça, sentindo-se como se não estivesse dentro de si mesmo! O que está havendo?? )

E eu não estava menos espantado que ele... Será que era ele, o aprendiz de mestre? Com o meu bastão, desenhei no chão um triângulo, significando a Demônita 1, a 2, e o 3, e um círculo, que era os que lutam pela paz. Não precisei dizer nada: sem pensar, ele ajoelhou-se e pôs a mão sobre o círculo na areia, provando tudo.

- Uma mulher com sua túnica, um triângulo e um círculo... Que história fabulosa! - Kate estava encantada.

- Hãm, pois é, né? Mas vamos logo trabalhar, que temos que encontrar as outras guerreiras! - desconversa Argmat.

Kate desconfia um pouco, mas acaba deixando para lá.

- Você mora com o Argmat, Enry?

- Sim, ele me ensina a ser mestre como ele. Sabe, antes eu não encontrava sentindo na vida e era órfão... Logo ele me libertou do corpo e me subiu ao Paraíso, como espírito.

- Então você é um espírito, não tem corpo?

- Material, não!

Kate não conseguia falar mais uma só palavra, pois o nó que teimava em enozar na sua garganta não permitia...

"A maldade está presente em todos os lugares; mas e a bondade? Temos que criar começando por nós mesmos. As guerreiras são um exemplo deste início. Tente continuar!"

(Autoras)

1