No fim do século 19, certos
ocultistas criaram uma ordem de caráter maçônico, inserindo um simbolismo
riquíssimo do Egito e do esoterismo tradicional. Essa ordem era a Golden
Dawn. Seus membros elaboraram rituais bem complexos, e graus iniciáticos,
onde ensinavam rituais e discutiam a teoria conforme havia evolução. Entretanto
existia esse caráter maçônico, então a ordem não era muito criteriosa.
Qualquer um que tivesse certo interesse e conhecimentos básicos era
admitido. Esse foi o caso de uma criatura estranha chamada Aleister Crowley.
Ele já havia se interessado por ocultismo, e ingressou nessa
ordem. Os membros da mesma o detestavam, e quando perguntaram o porquê,
responderam " porque ali não era um reformatório".
Crowley era mimado, não aceitava autoridade, e era obcecado por sexo. Mas
mesmo assim Mathers ( um dos criadores da ordem) aceitou iniciá-lo nos
graus um pouco mais elevados. Acontece que nessa época Mathers queria
readquirir o controle total da ordem, que já estava contando com muitos
membros e algumas lojas trabalhando independentemente. Então ele se
proclamou "Imperador" insinuando que mantinha contato com os
chefes secretos da ordem que lhe garantiam essa autoridade. Obviamente seus
membros não acreditaram na história, e nessa época a ordem já estava
ruindo. Como ninguém apoiou Mathers, Crowley aproveitou e lhe aliou
à Mathers, incentivando-o a exigir sua autoridade. Dessa forma Crowley
conseguiu obter conhecimentos dos rituais mais avançados da ordem e começou
a provocar intrigas entre Mathers e os outros mestres de lojas ( escrevia a
estes dizendo que Mathers estava louco, mas desmentia isso para
Mathers, fingindo ser o único que reconhecia sua autoridade).
Crowley, que nunca trabalhara,
porque herdara muito dinheiro, nessa época estava quase sem dinheiro. Como
a GD estava famosa, e ele precisava de dinheiro, fundou uma revista chamada
"Equinox", e publicou os rituais da GD nela. Aquilo foi um escândalo,
e Mathers chegou a processar Crowley, mas este ganhou e continuou a publicar
tudo o que sabia nessa revista. Mais tarde, obviamente, a revista
faliu, mas foi suficiente para a arruinar a GD. Alguns ramos dela tentaram
manter seus conhecimentos fundando sociedades menores e mais restritas.
Outras, aproveitaram, já que estava tudo publicado, e inventaram suas próprias
ordens com fins lucrativos, como o fez H. Spencer Lewis. Esse homem, começou
a planejar uma ordem logo que a GD fechou. Usou o mesmo simbolismo egípcio,
só que inventou uma série de mentiras descabidas, como uma origem que
remontava o Egito antigo. O nome dessa instituição é AMORC, ou
"Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz". Lewis investiu todo seu
dinheiro para fazer manifestos e atrair o máximo de adeptos no EUA, dizendo
que era o único verdadeiro mestre rosacruz, e que recebeu sua iniciação
num castelo por mestres franceses e outras bobagens. Com isso ele arrecadou
milhões cobrando mensalidades muito altas, e expandiu a instituição.
Mas voltando ao Crowley. Com o
bolso cheio agora, ele decide viajar. Numa dessas viagens, começa a usar as
drogas para obter visões, e descobre com seu ajudante (isso mesmo seu
companheiro de viagem), a "sex magick".
Então, no Cairo, ele se droga
com um verdadeiro coquetel de alucinógenos e escreve um livro asqueroso
intitulado " Livro da Lei". O livro é confuso, bizarro e nojento.
Segundo Crowley, lhe foi ditado por um demônio chamado "Aiwass",
que era seu "anjo" da guarda. Nesse livro estariam contidos
os ensinamentos para o homem do "novo eon" ( eon é um termo cristão
que significa ciclos). Então segundo a tal lei, estaríamos no eon onde
Crowley era o grande avatar, e onde tudo o que é antigo deveria ser
descartado, mas mesmo assim utilizou os deuses egípcios no seu
simbolismo ( E o novo eon que despreza coisas antigas?). Nesse livro da
lei, as pessoas deveriam usar drogas para atingir estados alterados de
consciência, não deveriam calar as vontades baixas do instinto, mas antes,
fazer tudo que ele deseja; deveriam ter o orgasmo quando bem entendessem, e
isso seria o caminho da evolução.
Como Crowley não tinha como
divulgar essas aberrações, ele encontrou simpatia numa seita chamada
"O.T.O" ( Ordo Templi Orientis), que usava o sexo grupal nos seus
rituais. Isso foi um prato cheio e Crowley, então, disse que aquela tinha
sido a única ordem que tinha "captado" a verdadeira corrente mágica
do novo eon.
Com dinheiro para suas publicações,
e para atrair adeptos ele publicou seu manifesto, o Liber LXXVI, ou Liber Oz
( que eu prefiro chamar de liber LIXXO, ou Ozpício); que resumidamente
dizia:
" A lei do mais forte é a
nossa lei, é a lei que unirá o mundo"
" Faze o que tu queres, é
tudo da lei"
" Não há Deus senão o
homem"
" Os escravos devem
servir"
" O amor é a lei, o amor
sob vontade"
Ele pregava o ideal de opressão,
de libertinagem, de egocentrismo e de irresponsabilidade. Isso é muito
tentador para quem está em busca da "liberdade", porque os incautos
vêem nisso um verdadeiro meio de liberdade, quando na verdade não passa de
irresponsabilidade. Então adolescentes desajustados, pervertidos sexuais e
lunáticos começaram a aderir a esse culto.
É claro que tudo isso é uma
falsa liberdade , uma vez que não se pode fazer o quer toda hora, existe o
limite do próximo, a responsabilidade, além do que o homem é muito
involuído para se chamar de Deus, tem muito o que aprender ainda, e o
mais sábio deve ajudar o menos sábio, não enganá-lo e abusá-lo. Quanto
a esse amor...que amor é esse que escraviza o próximo? Na verdade esse
amor era um outro nome para perversão sexual.
Os símbolos chaves do sistema thelemita
são Nuit ( a consciência), Hadit ( sua manifestação), e Ra-Hoor-Kuit (
todos nomes antigos demais para esse tal novo eon), o universo objetivo, ou
o homem. Na "f"ilosofia thelemita, o
homem não faz suas vontades porque possui o "preconceito" do
pecado, isto é a "dor da consciência". Essa "dor de consciência",
que Crowley chamava de Ego deveria ser destruída, ou em seus próprios
termos, era o cordeiro cristão que deveria ser devorado. Quando livre desse
ego, a pessoa poderia desejar e satisfazer seus desejos segundo seus
instintos, que não mais seriam censurados pelo ego. Então, nos rituais de
Thelema eles invocam a "sombra", isto é o lado humano maléfico que
vence a "dor da consciência", que era simbolizado por Babalon (
Nuit prostituta, com seus desejos) e Terion ( Hadit, como a "
Besta" 666, aquela que age segundo os instintos), e o "magista"
deveria então encontrar seu anjo da guarda, que era o lado sombra, que
sentia o ódio, a maldade e o desejo, sem repressão, e tornava
Ra-Hoor-Kuit em Hoor-Paar-Kaar, ou Set, ou Satã, cujo ministro era "Aiwass".
Por isso nos rituais da Thelema, o pentagrama invertido era usado para
significar que os desejos, uma vez que acreditava que libertar o
lado mal reprimido é que era a verdadeira iluminação porque destruía o
ego repressor. Não tendo as barreiras do ego, o thelemita fazia sexo
grupal, usava todo tipo de droga e não procurava o auto-controle, mas ao
contrário, visava destruir tudo que pudesse "reprimí-lo".
Vemos desse modo qual era o
verdadeiro objetivo dessa seita. Tudo isso é anti-evolução. A "dor
da consciência", ou melhor , o remorso, é o que nos faz mudarmos. Nos
arrependemos e nos corrigimos. Erramos, e procuramos melhorar. isso é que
é evolução, e é isso que os conceitos tradicionais de ocultismo pregam.
Observe o esquema abaixo:
O Amarelo grande é a
Divindade, o princípio maior. A forma ovóide é o homem. Nele há as
cores amarelo e cinza. O amarelo significa sua semelhança com a
divindade, enquanto que o cinza representa sua materialidade. Dessa forma,
as linhas amarelas que emanam do homem, são seus esforços, pensamentos e
atitudes dirigidas à evolução. Conseqüentemente, sua vibração se
assemelhará mais com o divino, e estará acompanhando as linhas maiores
de evolução ( as amarelas que não emanam do homem). É por causa dessas
linhas que a maior parte do homem é amarelo, isto é, está em
conformidade com o divino na via da evolução.
Já as linhas cinzas são seus
desejos, mesquinharias, apegos, paixões, e vícios materiais. A parte
cinzenta do homem representa sua parte involuída, ainda materializada,
que vibra em diferente sintonia da evolução. Podemos comparar,
alquimicamente, a linha cinza com o chumbo, e a linha amarela com o ouro.
E no Tarô podemos comparar o Arcano do Sol ( solidariedade que é
chave da evolução) com o amarelo, e o Arcano da Lua ( lobos uivando =
desejos; lagostin estagnado = anti-evolução) com o cinza.
Os círculos vermelhos são os
choques das forças involutivas com as forças evolutivas; e como a evolução
é a prioridade do universo, a força involutiva não pode atrapalhar essa
evolução, de forma que a força evolutiva redirecionará essa força
para sua origem, para que ela seja transformada em força evolutiva. Em
outros termos, o círculo vermelho representa o Conflito Cármico; ou
seja, essa força involutiva, nefasta, que vai ser destruída e vai voltar
ao seu criador, para que este a transmute.
Alquimicamente podemos
representar o choque vermelho com o fogo alquímico que deve separar o
sutil do denso. E no Tarô com Arcano "A Torre".
Os traços azuis, são as forças
da "consciência"; isto é o remorso de ter feito a coisa
errada, o arrependimento que puxa a força cinza para transformá-la em
forças amarelas, isto significa se arrepender, se purificar, e
trabalhar pelo bem. Até certo limite, as "forças azuis", ou o
remorso do erro é o que limita as pessoas. Ela permite que as pessoas se
auto-controlem, que sejam honestas, que não machuquem o próximo e etc...
A pessoa é mais ou menos
evoluída conforme desenvolve sua vontade nessas linhas, isto é, o quanto põe
rédeas sobre suas paixões e reforça sua onipotência sobre si mesmo.
O grande esforço espiritual está em desenvolver essa força interna de
se auto-controlar, de se auto-disciplinar, e de dirigir as forças para
o divino. Quando essas forças "amarelas" são intensas, o
homem é evoluído e é capaz de operar prodígios. Quanto mas forças
cinzentas ele produz, quanto menos ele dá atenção aos alertas do
remorso, mais ele se afunda nas apixões e na involução, e terá que
pagar todo o choque cármico que causar, porque a evolução derruba como
um raio todo obstáculo.
Essas linhas azuis,
alquimicamente seria a pedra filosofal, e no Tarô, O Arcano A Força:
O tal "cordeiro que deve
ser devorado" na thelema, nada mais é do que o thelemita destruir as
forças azuis, isto é, calar os alertas da consciência, e com isso
liberar sua "verdadeira vontade", que é o lado sombrio, cuja
iluminação seria tornar o homem completamente "cinza",
realizador de seus desejos, sem nenhum remorso. É por isso que invertem o
pentagrama, para invocar as forças que destroem o remorso, a consciência
do errado.
Não é preciso dizer que é
por causa dessas forças involutivas que o homem foi capaz de realizar as
mais abomináveis atrocidades que a humanidade testemunhou. Foi desligando
totalmente qualquer sensação de remorso que os homens mataram,
estupraram, destruíram, traíram, e odiaram.
Filosofias bizarras como
thelema, kaos, satanismo, maat e cia, acham que o homem deve
desenvolver essas forças "cinzas" para manter o equilíbrio. No
caso da thelema, usam o "faze o que tu queres", o sexo sem escrúpulos,
a magia negra, e o uso das drogas, para quebrar essas forças azuis, ou
para " devoraram o cordeiro". Pois, bem, vemos por aí aonde
levam essas práticas, e o observador atento vai perceber que o futuro
reserva apenas "choques cármicos" proporcionais aos obstáculos
que criam contra a evolução.
Ocultistas sérios sempre
recomendam o estudo detalhado das obras completas de Éliphas Lévi. É
interessante, mas thelemitas e cia, não gostam de Lévi, e seus
argumentos são que se trata de uma leitura muito antiga, pouco prática, feita
por um "cristão fanático", e outras besteiras. Vejamos que não
há nada de novo nesses cultos pervertidos. O texto abaixo foi escrito m
1855, muito antes da criação de Thelema e outras aberrações, mas
descreve com detalhes suas perversões. Dessa forma podemos concluir que não
há nada de novo nesse "novo eon", uma vez que todas as épocas
tiveram tiveram os seus pervertidos e loucos: ( meus comentários estão
em vermelho)
"A iniciação e a
consagração são uma verdadeira hereditariedade.
Assim o santuário é
inviolável para os profanos e não pode ser invadido pelos sectários...
Esta harmonia perturba
certas almas impacientes do dever, e vêm homens que não podendo forçar
a revelação concordar-se com seus vícios, se
consideram reformadores da moral... (
Sociedade Alternativa, Thelema, Kaos etc...)
Assim se formaram as
escolas místicas profanadoras da ciência... (
respectivas ordens)
Por-se diretamente em relação
com os demônios e os deuses é suprimir o sacerdócio, é revolver a base
do trono; o instinto anárquico dos pretensos iluminados bem o sabia. Por
isso é pelo engodo da licença que eles esperavam recrutar discípulos e
eles davam de antemão a absolvição a todos os escândalos dos
costumes, contentando-se da rigidez na revolta e da energia no protesto
contra a legitimidade sacerdotal... (
"Faze o que tu queres", se encaixa perfeitamente)
As orgias de Baco eram
excitações místicas e sempre os sectários da loucura procederam por
movimentos desregrados....o caráter da exaltação supersticiosa e fanática
é sempre o mesmo. É sempre sob o pretexto de purificar o dogma,
é em nome de um espiritualismo demasiado que os místicos de todos os
tempos materializavam os sinais do culto. (
aqui entra a "sex magick" e cia)
O mesmo sucede com os
profanadores da ciência dos magos, porque a Alta Magia, não o
esquecemos, é a arte sacerdotal primitiva. Ela reprova tudo o que se faz
fora da hierarquia legítima e aplaude não o suplício mas a condenação
dos sectários e dos feiticeiros.
É de propósito que
aproximamos estas duas qualificações, todos os sectários foram
evocadores de espíritos e de fantasmas que davam ao mundo por deuses; eles
se jactavam todos de operar milagres em apoio de suas mentiras. Sob estes
títulos pois eram todos goécios, isto é, verdadeiros operadores de
Magia Negra. ( os pentagramas invertidos,
invocações a Baphomet, Aiwas, Seth, Satã e cia)
Sendo a anarquia o ponto de
partida ( insistem que já são deuses e iniciados,
mas que não há hierarquia ) ...
é o ódio da autoridade hierárquica e legítima. Nisto pois consiste
realmente sua religião, pois é o único laço que os liga uns aos outros...
( É só ver a discórdia que os " une"
nas suas listas e lojas) Os místicos anarquistas
confundem todos entre a luz intelectual com a luz astral; eles adoram a
serpente em vez de venerar a sabedoria obediente e pura que lhe põe
o pé na cabeça Por iso eles embriagam-se de vertigens e não tardam a
cair no abismo da loucura. Os falsos milagres ocasionados pelas congestões
astrais têm sempre uma tendência anárquica e imoral, porque a desordem
chama a desordem... ( por isso são
pretensiosos, rancorosos, e querem provar que não existe diferença entre
bem e mal)
Para poder tudo é preciso
tudo ousar, tal era era o princípio dos encantamentos e de seus horreres.
( usam drogas de todo tipo e alimentam perversões
sexuais das mais bizarras)
Os falsos mágicos se
ligavam pelo crime, e eles julgavam-se capazes de fazer medo aos outros
quando chegavam a aterrorizar a eles mesmos... (
mania de ameaças mágicas e físicas)
É sempre o mesmo amor das
trevas, são sempre as mesmas profanações, as mesmas prescrições
sangrentas. (essa história de novo "eon", é tão velha,
que até na época de Lévi elas eram repetitivas)
A Magia anárquica é o
culto da morte. O feiticeiro abandonando-se à fatalidade, ele abjura sua
razão...
As palavras bárbaras e os
sinais desconhecidos ou mesmo absolutamente insignificantes são os
melhores em Magia negra. A melhor alucinação se dá
com as práticas ridículas e invocações imbecis do que por meio de
ritos ou fórmulas capazes de despertar a inteligência
(magia enoquiana, sigilos, as fórmulas banais de Bardon) ...
As mesmas causas devem sempre produzir os mesmos efeitos e não há
nada de novo sob a lua dos feiticeiros como sob o sol dos sábios.
O estado de alucinação
permanente é uma morte ou uma abdicação da consciência...
A ambição excessiva, as
pretensões orgulhosas à saúde, uma consciência cheia de escrúpulos e
de desejos, paixões, vergonhosas satisfeitas apesar dos avisos
reiterados do remorso: tudo isto conduz ao enfraquecimento da razão, ao
êxtase mórbido, à histeria, às visões, à loucura. Um homem não
é louco, observa o sábio doutor, porque tem visões, mas porque crê
mais em suas visões do que no senso comum. É pois a obediência e a
autoridade só que podem salvar os místicos; se eles têm em si mesmos
uma confiança obstinada, não há mais remédio, eles são já os
excomungados da razão e da fé, são os alienado da caridade universal.
Eles julgam-se mais sábios que a sociedade; crêem formar uma religião e
estão sós; eles pensam ter roubado para seu uso pessoal as chaves
secretas da vida e sua inteligência caiu já na morte.
( Éliphas Lévi Dogma e
Ritual da Alta Magia)
Eis o que tinha a dizer o sábio
Mago sobre as aberrações da magia negra disfarçada de revolução.
Compartilhamos da mesma opinião, seguindo os passos silenciosos da
verdadeira tradição mágica.