CROWLEY e a  Magia Negra
                                  BRUNO  BERTOLUCCI  ORTIZ - bubis@unimes.com.br

 
 
No fim do século 19, certos ocultistas criaram uma ordem de caráter maçônico, inserindo um simbolismo riquíssimo do Egito e do esoterismo tradicional. Essa ordem era a Golden Dawn. Seus membros elaboraram rituais bem complexos, e graus iniciáticos, onde ensinavam rituais e discutiam a teoria conforme havia evolução. Entretanto existia esse caráter maçônico, então a ordem não era muito criteriosa. Qualquer um que tivesse certo interesse e conhecimentos básicos era admitido. Esse foi o caso de uma criatura estranha chamada Aleister Crowley. Ele já havia se interessado por ocultismo, e ingressou nessa ordem. Os membros da mesma o detestavam, e quando perguntaram o porquê, responderam " porque ali não era um reformatório". Crowley era mimado, não aceitava autoridade, e era obcecado por sexo. Mas mesmo assim Mathers ( um dos criadores da ordem) aceitou iniciá-lo nos graus um pouco mais elevados. Acontece que nessa época Mathers queria readquirir o controle total da ordem, que já estava contando com muitos membros e algumas lojas trabalhando independentemente. Então ele se proclamou "Imperador" insinuando que mantinha contato com os chefes secretos da ordem que lhe garantiam essa autoridade. Obviamente seus membros não acreditaram na história, e nessa época a ordem já estava ruindo. Como ninguém apoiou Mathers, Crowley  aproveitou e lhe aliou à Mathers, incentivando-o a exigir sua autoridade. Dessa forma Crowley conseguiu obter conhecimentos dos rituais mais avançados da ordem e começou a provocar intrigas entre Mathers e os outros mestres de lojas ( escrevia a estes dizendo que Mathers estava louco, mas desmentia isso para  Mathers, fingindo ser o único que reconhecia sua autoridade). 
Crowley, que nunca trabalhara, porque herdara muito dinheiro, nessa época estava quase sem dinheiro. Como a GD estava famosa, e ele precisava de dinheiro, fundou uma revista chamada "Equinox", e publicou os rituais da GD nela. Aquilo foi um escândalo, e Mathers chegou a processar Crowley, mas este ganhou e continuou a publicar tudo o que sabia nessa revista. Mais tarde, obviamente, a revista faliu, mas foi suficiente para a arruinar a GD. Alguns ramos dela tentaram manter seus conhecimentos fundando sociedades menores e mais restritas. Outras, aproveitaram, já que estava tudo publicado, e inventaram suas próprias ordens com fins lucrativos, como o fez H. Spencer Lewis. Esse homem, começou a planejar uma ordem logo que a GD fechou. Usou o mesmo simbolismo egípcio, só que inventou uma série de mentiras descabidas, como uma origem que remontava o Egito antigo. O nome dessa instituição é AMORC, ou "Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz". Lewis investiu todo seu dinheiro para fazer manifestos e atrair o máximo de adeptos no EUA, dizendo que era o único verdadeiro mestre rosacruz, e que recebeu sua iniciação num castelo por mestres franceses e outras bobagens. Com isso ele arrecadou milhões cobrando mensalidades muito altas, e expandiu a instituição.
 
Mas voltando ao Crowley. Com o bolso cheio agora, ele decide viajar. Numa dessas viagens, começa a usar as drogas para obter visões, e descobre com seu ajudante (isso mesmo seu companheiro de viagem), a "sex magick".
Então, no Cairo, ele se droga com um verdadeiro coquetel de alucinógenos e escreve um livro asqueroso intitulado " Livro da Lei". O livro é confuso, bizarro e nojento. Segundo Crowley, lhe foi ditado por um demônio chamado "Aiwass", que era seu "anjo" da guarda. Nesse livro estariam contidos os ensinamentos para o homem do "novo eon" ( eon é um termo cristão que significa ciclos). Então segundo a tal lei, estaríamos no eon onde Crowley era o grande avatar, e onde tudo o que é antigo deveria ser descartado, mas mesmo assim utilizou os deuses egípcios no seu simbolismo ( E o novo eon que despreza coisas antigas?). Nesse livro da lei, as pessoas deveriam usar drogas para atingir estados alterados de consciência, não deveriam calar as vontades baixas do instinto, mas antes, fazer tudo que ele deseja; deveriam ter o orgasmo quando bem entendessem, e isso seria o caminho da evolução.
Como Crowley não tinha como divulgar essas aberrações, ele encontrou simpatia numa seita chamada "O.T.O" ( Ordo Templi Orientis), que usava o sexo grupal nos seus rituais. Isso foi um prato cheio e Crowley, então, disse que aquela tinha sido a única ordem que tinha "captado" a verdadeira corrente mágica do novo eon.
Com dinheiro para suas publicações, e para atrair adeptos ele publicou seu manifesto, o Liber LXXVI, ou Liber Oz ( que eu prefiro chamar de liber LIXXO, ou Ozpício); que resumidamente dizia:
" A lei do mais forte é a nossa lei, é a lei que unirá o mundo"
" Faze o que tu queres, é tudo da lei"
" Não há Deus senão o homem"
" Os escravos devem servir"
" O amor é a lei, o amor sob vontade"
 
Ele pregava o ideal de opressão, de libertinagem, de egocentrismo e de irresponsabilidade. Isso é muito tentador para quem está em busca da "liberdade", porque os incautos vêem nisso um verdadeiro meio de liberdade, quando na verdade não passa de irresponsabilidade. Então adolescentes desajustados, pervertidos sexuais e lunáticos começaram a aderir a esse culto.
É claro que tudo isso é uma falsa liberdade , uma vez que não se pode fazer o quer toda hora, existe o limite do próximo, a responsabilidade, além do que o homem é muito involuído para se chamar de Deus, tem muito o que aprender ainda, e o mais sábio deve ajudar o menos sábio, não enganá-lo e abusá-lo. Quanto a esse amor...que amor é esse que escraviza o próximo? Na verdade esse amor era um outro nome para perversão sexual.
Os símbolos chaves do sistema thelemita são Nuit ( a consciência), Hadit ( sua manifestação), e Ra-Hoor-Kuit ( todos nomes antigos demais para esse tal novo eon), o universo objetivo, ou o homem. Na "f"ilosofia thelemita, o homem não faz suas vontades porque possui o "preconceito" do pecado, isto é a "dor da consciência". Essa "dor de consciência", que Crowley chamava de Ego deveria ser destruída, ou em seus próprios termos, era o cordeiro cristão que deveria ser devorado. Quando livre desse ego, a pessoa poderia desejar e satisfazer seus desejos segundo seus instintos, que não mais seriam censurados pelo ego. Então, nos rituais de Thelema eles invocam a "sombra", isto é o lado humano maléfico que vence a "dor da consciência", que era simbolizado por Babalon ( Nuit prostituta, com seus desejos) e Terion ( Hadit, como a " Besta" 666, aquela que age segundo os instintos), e o "magista" deveria então encontrar seu anjo da guarda, que era o lado sombra, que sentia o ódio, a maldade e o desejo, sem repressão, e tornava Ra-Hoor-Kuit em Hoor-Paar-Kaar, ou Set, ou Satã, cujo ministro era "Aiwass". Por isso nos rituais da Thelema, o pentagrama invertido era usado para significar que os desejos, uma vez que acreditava que libertar o lado mal reprimido é que era a verdadeira iluminação porque destruía o ego repressor. Não tendo as barreiras do ego, o thelemita fazia sexo grupal, usava todo tipo de droga e não procurava o auto-controle, mas ao contrário, visava destruir tudo que pudesse "reprimí-lo".
Vemos desse modo qual era o verdadeiro objetivo dessa seita. Tudo isso é anti-evolução. A "dor da consciência", ou melhor , o remorso, é o que nos faz mudarmos. Nos arrependemos e nos corrigimos. Erramos, e procuramos melhorar. isso é que é evolução, e é isso que os conceitos tradicionais de ocultismo pregam.
Observe o esquema abaixo:
 
 
 
O Amarelo grande é a Divindade, o princípio maior. A forma ovóide é o homem. Nele há as cores amarelo e cinza. O amarelo significa sua semelhança com a divindade, enquanto que o cinza representa sua materialidade. Dessa forma, as linhas amarelas que emanam do homem, são seus esforços, pensamentos e atitudes dirigidas à evolução. Conseqüentemente, sua vibração se assemelhará mais com o divino, e estará acompanhando as linhas maiores de evolução ( as amarelas que não emanam do homem). É por causa dessas linhas que a maior parte do homem é amarelo, isto é, está em conformidade com o divino na via da evolução.
Já as linhas cinzas são seus desejos, mesquinharias, apegos, paixões, e vícios materiais. A parte cinzenta do homem representa sua parte involuída, ainda materializada, que vibra em diferente sintonia da evolução. Podemos comparar, alquimicamente, a linha cinza com o chumbo, e a linha amarela com o ouro. E no Tarô podemos comparar o Arcano do Sol ( solidariedade que é chave da evolução) com o amarelo, e o Arcano da Lua ( lobos uivando = desejos; lagostin estagnado = anti-evolução) com o cinza.
 
                                           
 
Os círculos vermelhos são os choques das forças involutivas com as forças evolutivas; e como a evolução é a prioridade do universo, a força involutiva não pode atrapalhar essa evolução, de forma que a força evolutiva redirecionará essa força para sua origem, para que ela seja transformada em força evolutiva. Em outros termos, o círculo vermelho representa o Conflito Cármico; ou seja, essa força involutiva, nefasta, que vai ser destruída e vai voltar ao seu criador, para que este a transmute.
Alquimicamente podemos representar o choque vermelho com o fogo alquímico que deve separar o sutil do denso. E no Tarô com Arcano "A Torre".
 
 
 
Os traços azuis, são as forças da "consciência"; isto é o remorso de ter feito a coisa errada, o arrependimento que puxa a força cinza para transformá-la em forças amarelas, isto significa se arrepender, se purificar, e trabalhar pelo bem. Até certo limite, as "forças azuis", ou o remorso do erro é o que limita as pessoas. Ela permite que as pessoas se auto-controlem, que sejam honestas, que não machuquem o próximo e etc...
A pessoa é mais ou menos evoluída conforme desenvolve sua vontade nessas linhas, isto é, o quanto põe rédeas sobre suas paixões e reforça sua onipotência sobre si mesmo. O grande esforço espiritual está em desenvolver essa força interna de se auto-controlar, de se auto-disciplinar, e de dirigir as forças para o divino. Quando essas forças "amarelas" são intensas, o homem é evoluído e é capaz de operar prodígios. Quanto mas forças cinzentas ele produz, quanto menos ele dá atenção aos alertas do remorso, mais ele se afunda nas apixões e na involução, e terá que pagar todo o choque cármico que causar, porque a evolução derruba como um raio todo obstáculo.
Essas linhas azuis, alquimicamente seria a pedra filosofal, e no Tarô, O Arcano A Força:
 
 
O tal "cordeiro que deve ser devorado" na thelema, nada mais é do que o thelemita destruir as forças azuis, isto é, calar os alertas da consciência, e com isso liberar sua "verdadeira vontade", que é o lado sombrio, cuja iluminação seria tornar o homem completamente "cinza", realizador de seus desejos, sem nenhum remorso. É por isso que invertem o pentagrama, para invocar as forças que destroem  o remorso, a consciência do errado.
Não é preciso dizer que é por causa dessas forças involutivas que o homem foi capaz de realizar as mais abomináveis atrocidades que a humanidade testemunhou. Foi desligando totalmente qualquer sensação de remorso que os homens mataram, estupraram, destruíram, traíram, e odiaram.
Filosofias bizarras como thelema, kaos, satanismo, maat e cia,  acham que o homem deve desenvolver essas forças "cinzas" para manter o equilíbrio. No caso da thelema, usam o "faze o que tu queres", o sexo sem escrúpulos, a magia negra, e o uso das drogas, para quebrar essas forças azuis, ou para " devoraram o cordeiro". Pois, bem, vemos por aí aonde levam essas práticas, e o observador atento vai perceber que o futuro reserva apenas "choques cármicos" proporcionais aos obstáculos que criam contra a evolução.
 
Ocultistas sérios sempre recomendam o estudo detalhado das obras completas de Éliphas Lévi. É interessante, mas thelemitas e cia, não gostam de Lévi, e seus argumentos são que se trata de uma leitura muito antiga, pouco prática, feita por um "cristão fanático", e outras besteiras. Vejamos que não há nada de novo nesses cultos pervertidos. O texto abaixo foi escrito m 1855, muito antes da criação de Thelema e outras aberrações, mas descreve com detalhes suas perversões. Dessa forma podemos concluir que não há nada de novo nesse "novo eon", uma vez que todas as épocas tiveram tiveram os seus pervertidos e loucos: ( meus comentários estão em vermelho)
 
"A iniciação e a consagração são uma verdadeira hereditariedade.
Assim o santuário é inviolável para os profanos e não pode ser invadido pelos sectários...
Esta harmonia perturba certas almas impacientes do dever, e vêm homens que não podendo forçar a revelação  concordar-se com seus vícios,  se  consideram  reformadores   da moral... (  Sociedade Alternativa, Thelema, Kaos etc...)
Assim se formaram as escolas místicas profanadoras da ciência... ( respectivas ordens)
Por-se diretamente em relação com os demônios e os deuses é suprimir o sacerdócio, é revolver a base do trono; o instinto anárquico dos pretensos iluminados bem o sabia. Por isso é pelo engodo da licença que eles esperavam recrutar discípulos e eles davam de antemão a absolvição a todos os escândalos dos costumes, contentando-se da rigidez na revolta e da energia no protesto contra a legitimidade sacerdotal... ( "Faze o que tu queres", se encaixa perfeitamente)
As orgias de Baco eram excitações místicas e sempre os sectários da loucura procederam por movimentos desregrados....o caráter da exaltação supersticiosa e fanática é sempre o mesmo. É sempre sob o pretexto de purificar o dogma, é em nome de um espiritualismo demasiado que os místicos de todos os tempos materializavam os sinais do culto. ( aqui entra a "sex magick" e cia)
O mesmo sucede com os profanadores da ciência dos magos, porque a Alta Magia, não o esquecemos, é a arte sacerdotal primitiva. Ela reprova tudo o que se faz fora da hierarquia legítima e aplaude não o suplício mas a condenação dos sectários e dos feiticeiros.
É de propósito que aproximamos estas duas qualificações, todos os sectários foram evocadores de espíritos e de fantasmas que davam ao mundo por deuses;  eles se jactavam todos de operar milagres em apoio de suas mentiras. Sob estes títulos pois eram todos goécios, isto é, verdadeiros operadores de Magia Negra. ( os pentagramas invertidos, invocações a Baphomet, Aiwas, Seth, Satã e cia)
Sendo a anarquia o ponto de partida ( insistem que já são deuses e iniciados, mas que não há hierarquia ) ... é o ódio da autoridade hierárquica e legítima. Nisto pois consiste realmente sua religião, pois é o único laço que os liga uns aos outros...  ( É só ver a discórdia que os " une" nas suas listas e lojas)  Os místicos anarquistas confundem todos entre a luz intelectual com a luz astral; eles adoram a serpente  em vez de venerar a sabedoria obediente e pura que lhe põe o pé na cabeça Por iso eles embriagam-se de vertigens e não tardam a cair no abismo da loucura. Os falsos milagres ocasionados pelas congestões astrais têm sempre uma tendência anárquica e imoral, porque a desordem chama a desordem... ( por isso são pretensiosos, rancorosos, e querem provar que não existe diferença entre bem e mal)
Para poder tudo é preciso tudo ousar, tal era era o princípio dos encantamentos e de seus horreres. ( usam drogas de todo tipo e alimentam perversões sexuais das mais bizarras)
Os falsos mágicos se ligavam pelo crime, e eles julgavam-se capazes de fazer medo aos outros quando chegavam a aterrorizar a eles mesmos... ( mania de ameaças mágicas e físicas)
É sempre o mesmo amor das trevas, são sempre as mesmas profanações, as mesmas prescrições sangrentas. (essa história de novo "eon", é tão velha, que até na época de Lévi elas eram repetitivas)
A Magia anárquica é o culto da morte. O feiticeiro abandonando-se à fatalidade, ele abjura sua razão...
As palavras bárbaras e os sinais desconhecidos ou mesmo absolutamente insignificantes são os melhores em Magia negra.  A melhor alucinação se dá com as práticas ridículas e invocações imbecis do que por meio de ritos ou fórmulas capazes de despertar a inteligência  (magia enoquiana, sigilos, as fórmulas banais de Bardon) ... As mesmas causas devem sempre produzir os mesmos efeitos e não há nada de novo sob a lua dos feiticeiros como sob o sol dos sábios.
O estado de alucinação permanente é uma morte ou uma abdicação da consciência...
A ambição excessiva, as pretensões orgulhosas à saúde, uma consciência cheia de escrúpulos e de desejos, paixões, vergonhosas satisfeitas apesar dos avisos reiterados do remorso: tudo isto conduz ao enfraquecimento da razão, ao êxtase mórbido, à histeria, às visões, à loucura. Um homem não é louco, observa o sábio doutor, porque tem visões, mas porque crê mais em suas visões do que no senso comum. É pois a obediência e a autoridade só que podem salvar os místicos; se eles têm em si mesmos uma confiança obstinada, não há mais remédio, eles são já os excomungados da razão e da fé, são os alienado da caridade universal. Eles julgam-se mais sábios que a sociedade; crêem formar uma religião e estão sós; eles pensam ter roubado para seu uso pessoal as chaves secretas da vida e sua inteligência caiu já na morte.
( Éliphas Lévi Dogma e Ritual da Alta Magia)
 
Eis o que tinha a dizer o sábio Mago sobre as aberrações da magia negra disfarçada de revolução. Compartilhamos da mesma opinião, seguindo os passos silenciosos da verdadeira tradição mágica. 
 

 

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