A Relação do Homem
com o Universo
BRUNO BERTOLUCCI ORTIZ -
bubis@unimes.com.br
Em primeiro lugar , vamos analisar o paradoxo cristão
do Deus Todo-Poderoso reduzido ao humilhado e fraco Jesus. Esse paradoxo
quebra todo o sistema filosófico segundo o qual o que é poderoso é
verdadeiro.
Em primeiro lugar, a queda foi simplesmente o direito
que Deus nos deu ao livre arbítrio. É a liberdade para escolhermos entre o
bem e o mal. É a entrada voluntária no mundo de causa e efeito, onde você dá
um soco na parede e a parede te machuca na mesma intensidade. Mas isso foi
nossa escolha, e Deus não obriga ninguém a acreditar nele ou a aceitar suas
leis. Você vive no inferno se prefere o mal, e vive no céu se prefere o bem.
Mas você pode escolher também acreditar em Deus. Em
aceitar sua autoridade e realmente acreditar que ele quer o seu bem.Você
pode acreditar no Deus do amor, ao invés de temer o Deus do poder. Você
pode amá-lo quanto quiser, mas não há promessa alguma de plenitude
imediata. Acreditar em Deus requer "se levantar" e agir,
porque suas intenções são verificadas por suas ações. Você pode
também querer buscá-lo. Para isso você pode escolher entre as dezenas de
sistemas de busca espiritual que existem por aí, desde que elas realmente
visem a Deus. Para chegar até ele, será necessário sair de onde você está
para ele ir até onde ele está (apesar de que ele está onde
você o deixa entrar). E será esta caminhada que precisará de renúncias,
fé, entusiasmo e vitórias sobre diversos obstáculos. O difícil não
é chegar até Deus, suas portas estão abertas a todos, o difícil é
sair de onde você está.
É desse modo que eu acredito que Deus age. Ele se
deixa ser crucificado pela humanidade, e não usa seu poder para
"imperar" sobre os homens. Se você acha que você está em um
universo onde você , e apenas você sabe o que melhor para si mesmo, então
você só dependerá de si mesmo. Porém a partir do momento em que você realiza
a prece, você crê em uma força superior, capaz de resolver determinado
problema cuja dificuldade está te vencendo. É nesse momento que a ajuda pode
vir de um jeito não exatamente como você imaginou. A partir do momento em
que você visa uma força maior, ela vai te atrair, e necessariamente vai
te puxar de onde você estiver.
Mas novamente você pode escolher ficar só. O Deus
crucificado espera, não impõe. Ele ouve " Se és filho de Deus, desce
da cruz" ; mas perdoa, não responde , apenas espera. Você tem o
livre arbítrio de permanecer no mundo do bem e do mal, se reencarnando
sucessivamente, apenas aproveitando ou sofrendo nas proporções que você
escolher. Mas aos poucos você pode começar a perceber que se existissem
coisas melhores que a dualidade " bem e mal", talvez a vida
fosse muito melhor. É nesse momento de dúvida, de incapacidade que o
filho prodígio volta-se para o pai e diz " Pai, pequei contra o céu
e contra ti "; porque ele reconheceu que existe uma força superior,
reconheceu que fez coisa errada e que sofreu por causa do abuso da liberdade;
e que não deverá pedir apenas que essa força resolva todos os problemas,
mas que tratará de se esforçar para ser digno; porque dirá " Já
não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um de teus empregados
." O resto da história todos conhecemos...
Esse ponto é fundamental. A humildade surge
espontaneamente no reconhecimento de um poder maior, capaz de te salvar, de te
ajudar; isto é a fé. Nasce daí a confiança ( a esperança ) , onde não
há certeza, mas uma aposta com o invisível. Aquele que tem coragem de
ousar acreditar nessa ajuda, começa a vencer mais obstáculos que aquele que
conta apenas consigo mesmo. Quem crê em algo maior que o atrai e o
ajuda, ousa mais, permanece mais tempo na batalha, e adquire um "temor
filial" para não pecar; em outros termos, aceita um compromisso e arca
com as responsabilidades.
Na minha opinião, as duas coisas que fazem com que as
pessoas não acreditem na força maior são: a insegurança , quer dizer
o medo de perder o que já possuem, medo de ousar por algo bem melhor só que
mais caro e arriscado; e a fuga da responsabilidade, porque buscar a
Deus, e ao bem, implica grande responsabilidade.
W. E. Butler, no livro " A Magia e o
Mago" diz: "Então por uma lei eterna quando o aprendiz está
pronto o mestre aparece."
A fórmula " Quando discípulo está pronto, o
Mestre aparece"; implica na crença de uma força maior, uma força
que vai " lhe enviar o mestre quando você for digno" .
Veja bem, essa fórmula encerra dois princípios ativos:
1) "O discípulo que deve estar pronto";
isto é, essa parte depende exclusivamente de você, o universo pode colocar
na sua frente todos os livros do mundo, se você não partir para a via
dolorosa, estudando, lendo, se preparando; não chegará mestre algum.
2) "O mestre aparece": Esse ponto não
depende do discípulo. Não é ele quem escolhe o mestre, mas o universo que o
presenteia segundo seus méritos. Se ele não acreditar nisso, não aceitar
isso, é muito pouco provável que ele realmente queira isso, assim como será
também pouco provável a vinda do mestre.
Isso é um ato de fé. Se esforçar com fé em si mesmo,
e acreditar que o universo conspira a seu favor; é seguir a fórmula: "O
que está em cima deve ser como o que está embaixo e o que está embaixo deve
ser como o que está em cima para realizar um único milagre".
Assim , todo o estudo do ocultismo encerra esforço
próprio e a confiança em um princípio maior, além do nosso alcance. Por
exemplo no meu caso: Eu nunca vi nenhum anjo. Mas já li, nas obras de Papus,
de Lévi , de São João da Cruz e etc... que é possível o contato com
tais entidades. No caso eu acredito que eles estão dizendo a verdade ,
isto é, eu ponho fé em suas autoridades, e tento seguir os caminhos
que ele se indicam. Eu confio em uma força maior, que vai se revelar quando
eu merecer.
Eu posso tentar seguir sozinho, provavelmente
demoraria algumas encarnações, mas acredito que conseguiria. Mas eu posso
aceitar autoridade de Levi, tentar o caminho proposto por ele, onde ele diz
"Os fenômenos da realização mágica que se produzem ao redor daquele
que está ligada ao uma iniciação tradicional, isto é, que tem sua
cadeia constituída no invisível, são menos ruidosos, porém muito mais sérios."
Desse modo acredito no que ele expôs; pois para mim é mais razoável que uma
tradição autêntica, experiente, com critérios rigorosos de aceitação,
tenha uma realização mágica e uma cadeia no invisível muito superior
do que as indicações que tenho a respeito de auto-iniciações em
outros livros. Desse mesmo modo eu acredito na autoridade do MD, e que é
necessário a via do estudo profundo, dos contínuos esforços para que o
mestre venha, exija uma grande disciplina, e após alguns anos inicie o discípulo.Acredito,
que se algum dia eu for escolhido por um mestre, esse caminho será muito difícil,
mas será o caminho o qual me conduzirá pelos rituais autênticos, pelo
despertar da faculdades latentes, pelos planos astrais, e ao encontro
mais próximo possível com Deus. Mas eu poderia escolher me
auto-iniciar, me auto proclamar um " Impissimus" ,
encher o ego de títulos pomposos e até mesmo fundar minha própria
ordem! Mas não acredito que esse caminho me levaria à algum conhecimento sério!
É importante a presença do mestre, não porque
você "fica mais bonitinho com um mestre", mas por que
somente com ele você aprende de verdade. A diferença entre um magista com
mestre e outro sem é que o que tem mestre sabe realizar rituais autênticos,
é capaz de dominar as correntes mágicas e etc... e o auto-iniciado não, só
tem esse título. É possível chegar à Deus por qualquer caminho espiritual,
mas deve-se respeitar os critérios que o caminho exige. Se a magia exige os
rituais, as conjurações, o despertar das faculdades, a vinda do mestre; quem
não faz isso não está no caminho da Magia.
Eu prefiro confiar nos que tiveram mestres e que têm
conhecimento. Mas o que costuma confundir as pessoas é a iniciação com
a iluminação. Iniciação é um título exclusivo do ramo da
Magia, já a iluminação , qualquer um pode receber independentemente se
estuda magia ou não. Por exemplo, São João da Cruz era um iluminado, podia
levitar e comungava em êxtases com a divindade. Nem por isso ele era um
iniciado; ele não conjurava espíritos, não fazia rituais mágicos, nem
estudava ocultismo. Mas era um iluminado, e um Santo, porque era isso que a
busca espiritual de sua tradição implicava .( não que o
objetivo da tradição católica seja o da santificação, mas a busca
espiritual pela tradição católica, se corretamente seguida, leva à
santificação).
É tão absurdo um "mago auto-didata", como um
"lama auto-didata", ou um "santo auto-didata".
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