A  ORIGEM DO SOFRIMENTO
                                       GIOVANNI  DIENSTMANN -  dienstmann@terra.com.br 

  

Todo sofrimento vem da ignorância, isto é, do desconhecimento da nossa divina natureza e origem. Vem da inconsciência da Luz Divina que é o nosso próprio Ser. A ignorância é a mãe de todos os males. Ela é a mãe de todas a ilusões, ilusões que nos fazem tapar os ouvidos à melodia de nosso coração e buscar fora o que está dentro. Assim, começamos a nos mover para fora, a desejar coisas, sensações e tudo mais que é transitório. Nos apegamos às coisas transitórias e fechamos os olhos ao Eterno. Com isso vem o desejo e a ânsia de conseguir o que cremos que nos trará felicidade, e a aversão à tudo aquilo que pode nos trazer sofrimento. Essas são as duas amarras básicas que dão origem ao ego e a toda visão dualista que temos.

O que é o ego? É a nossa parte mortal, é o que comumente acreditamos ser, é o que a mente cria a partir de nossas experiências nesse mundo de matéria. Ao nos identificar com isso, com esse eu inferior, abrimos uma porta para uma infinidade de miséria, e passamos a ver a vida de uma maneira autolimitada. Tudo o que percebemos e pensamos acaba passando por esse “filtro”, e por isso não somos capazes de ver e perceber as coisas como são, vemos apenas parcialmente. Estamos presos a isto. É estranho mas é verdade, estamos presos a nós mesmos, e só seremos livres quando formos leais a nossa essência e quando pararmos de cultivar o que é perecível. Nietzsche diz: “Ser livre é ter a capacidade de nos tornar o que realmente somos”. E não somos ego, somos Espírito.

  É justamente a identificação com a essa personalidade que nos torna passível de sofrer. Explico. Temos nossos desejos e aversões (que, segundo o Budismo, são venenos mentais). Desejamos algo, qualquer coisa que seja. Ficamos ansiosos para alcançar o nosso objeto ou situação de desejo, e com isso perdemos a nossa paz de espírito. A própria presença da ambição e do desejo afastam a paz e, com ela, a verdadeira felicidade, que só existe quando o coração está em paz.

 Estamos vivendo no mundo da mente, numa ficção, imaginando e esperando que aconteça ou consigamos o que desejamos, e, fazendo isso, nos reconhecemos incompletos, sentimos que falta algo. Isso nos deixa descontente, e nos impede de reconhecer os tesouros que já temos; nos impede de simplesmente viver o presente (e toda a felicidade se encontra aí, não no passado e nem num futuro hipotético). O desejo funciona assim!

Se não alcançamos o que desejamos, sentimo-nos frustrados, ou talvez com raiva. Se alcançamos, percebemos que o que desejamos não traz tanta felicidade e satisfação quanto imaginávamos e também ficamos frustrados. Então, vem a depressão que sempre segue a toda satisfação – e que é proporcional a esta – e depois resolvemos desejar outra coisa. Às vezes é a mesma, pois ainda temos esperança que nos traga felicidade autêntica, às vezes acabamos buscando algo diferente, com a mesma esperança. Talvez iremos exagerar em algo, mas daí provirá mais dor que prazer. Dessa maneira a  verdadeira satisfação nunca vem. Nos movemos em círculos, e nunca saímos disto.

        O que acontece com a atração, acontece com a repulsão. Se temos aversão a algo, temos que nos preocupar em não entrar em contato com aquilo. Fugimos daquilo, e se a aversão é muito forte, temos medo, ou até ódio. Sofremos na mente, só de pensar naquilo que poderia nos causar mal, e assim sofremos desnecessariamente, mesmo antes que qualquer coisa acontecer. E, ao acontecer, se apenas procurássemos aprender com as sensações que sentimos, perceberíamos que o sofrimento não é tão profundo e insuportável quanto parece, e que se não resistirmos ele fica menos intenso. Além de tudo, ele é passageiro, não pode durar para sempre.

O ego faz nós nos centrarmos em nós mesmo, sermos vaidosos e nos acharmos importantes. Centrados em nossa entidade mortal, não podemos conhecer a Divindade. Toda a existência se torna vã se vivemos só em nós e só para nós. O ego é um subproduto da Matéria, e enquanto o alimentamos estamos nas garras de Maya

  “Sentir-se importante faz a pessoa ficar pesada, desajeitada e vaidosa. Para se um guerreiro é preciso ser leve e fluido.” - Castañeda

É por isso que em textos sagrados como os Upanixades é dada tanta ênfase à eliminação dos desejos e das aversões. É por isso que os mestres falam tanto do desapego e na dissolução do ego. Tudo o que é feito para satisfazer o próprio egoísmo traz limitação e escravidão. O Hinduismo, o Budismo, o Jainismo, a Teosofia, todos insistem nesse ponto. Todos os defeitos têm origem aí. Em uma página do Mago Daniel que fala sobre ele, diz que ele não se dá ao cultivo da personalidade.....Todos os grandes sábios concordam nesse ponto.

  Diz Lao-Tsé: “O sábio não se exibe e é sempre notado. Renuncia a si mesmo e nunca é esquecido”

Como poderemos nos unir com Deus, se estamos tão cheios de nós mesmos? Não há lugar para ambos! É preciso tirar a água do nosso copo, para então enchê-lo de vinho. O desapego, a transcendência do desejo e da aversão, do ego e de toda a nossa visão parcial e limitada, para assim poder unir-se com o Eterno e libertar-se dos vínculos da matéria, eis aí a Grande Obra.


 

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