As Igrejas do Novo Testamento -
A Pedra Angular do
Cristianismo sem Denominação

A igreja que Jesus estabeleceu era universal, abrangendo todos os que eram salvos (Atos 2:47). Todos os salvos numa certa comunidade eram a igreja  naquela comunidade.

Ao nível local, elas eram organizadas para adoração e trabalho sob presbíteros (Atos 14:23). Esta era a única organização que Cristo deu à sua igreja. Ele era e é a única cabeça da igreja universal e a única cabeça de cada igreja local.

Este arranjo de congregações autônomas, independentes, sem quartéis generais terrestres, não seria surpreendente para os estudantes da Bíblia. No Velho Testamento, Deus estava desgostoso com as tendências centralizadoras daqueles que construíram a Torre de Babel, e os espalhou. Seu plano para Israel foi que as tribos deveriam operar sem um governo central ou rei terrestre, somente Deus reinando sobre elas. A insistência delas na centralização e num rei humano lhe desagradou.

Estas mesmas tendências humanas para centralizar apareceram muito cedo na igreja. O notável historiador da igreja, John L. Mosheim, descreve as mudanças feitas no segundo século:

"Durante grande parte deste século todas as igrejas continuavam a ser, como a princípio, independentes umas das outras, nem eram ligadas por nenhum consórcio ou confederação ... Mas, com o passar do tempo, tornou-se costume para todas as igrejas cristãs dentro da mesma província unirem-se e formarem uma espécie de sociedade ou comunidade mais ampla; e, à maneira das repúblicas confederadas, manterem suas convenções em tempos determinados, e ali deliberarem pela vantagem comum de toda a confederação.... Estes concílios -- dos quais não aparece nenhum vestígio antes da metade deste século -- mudaram quase toda a forma da Igreja."  (História Eclesiástica, Vol. I, pág. 116).

Na verdade, "quase toda a forma da igreja"  foi mudada, mudando para uma denominação. Agora havia uma nova associação, não de membros, mas de congregações. Agora havia uma nova organização entre as igrejas e Cristo. Agora havia uma nova autoridade capaz de multiplicar organizações e ofícios até a infinidade. Agora havia uma divisão separando as igrejas que cooperavam daquelas que não. E tudo começou quando as congregações renunciaram uma parte de sua autonomia.

A autonomia da igreja local é a primeira e a última linha de defesa contra a ameaça sempre presente de criar denominações. A princípio, a renúncia de autonomia é sempre feita aos bocados, pelo bem da causa e voluntária. Mas, como o Incrível Hulk, a organização à qual ela é dada tende a crescer num senhor irresistível e sedento de sangue. Isso aconteceu no segundo século. Aconteceu de novo no século dezenove, quando centenas de congregações concordaram em permitir que uma sociedade missionária central supervisionasse sua obra missionária, somente para ver essa sociedade crescer em um único século para ser um corpo governador denominacional maduro. E essas mesmas forças estão operando no século vinte.

As igrejas estão sendo solicitadas, nos dias de hoje, por várias instituições oferecendo-se para aceitar a responsabilidade pela obra de evangelismo da igreja, edificação e benevolência em troca de auxílio financeiro. Presbíteros das igrejas patrocinadoras "assumem a supervisão" do trabalho para o qual todas as congregações têm igual responsabilidade e pedem apoio dessas igrejas. Não é o limite da autonomia local rompido quando uma igreja local permite que a diretoria de uma instituição ou os presbíteros de outra igreja assuma a supervisão de qualquer parte de sua obra? Mas ainda não é o fim. Um livro recentemente despachado pelo correio para milhares de pessoas tenta provar que todas as igrejas de uma área urbana deveriam estar sob um presbitério. O livro leva numerosas aprovações.

Aqueles que rejeitam estes conceitos não ficam imunes às influências pró-denominação. As igrejas, algumas vezes, são intimidadas a tomar decisão por um respeito inflado a um colegiado ou por temor de serem acusadas num jornal. Curvar-se a tais pressões ou permitir ser influenciados pelo que "a irmandade pensa" é tornar-se sectário e denominacional.

Há, naturalmente, o perigo de reação em nossos esforços para evitar a criação de denominações. Ser cristão sem denominação não significa que tenhamos que evitar organizar-nos em igrejas locais, até mesmo em grandes igrejas como a de Jerusalém. Nem significa que uma tal igreja tenha que se isolar, adotar uma única denominação e agir como se não existisse outra igreja na terra. A igreja não-denominacional de Jerusalém reconhecia a existência de outras igrejas, enviou Barnabé para encorajar uma delas (Atos 11:22-24), recebeu esmolas de outras e foi incluída num grupo de igrejas das quais Paulo falou como "as igrejas de Deus na Judéia" (1 Tessalonicenses 2:14). Elas, porém, retinham o total comando de seus próprios trabalhos.

A intromissão na autonomia local precisa ser resistida, não num "espírito de feroz independência de fronteira" mas pela fé em Cristo. Ele é rei e, num reino toda a autoridade precisa ser concedida pelo rei. Hoje, somente homens com credenciais do rei são presbíteros, os quais o Espírito Santo fez bispos (Atos 20:28). Sua autoridade precisa ser exercida em harmonia com a vontade de Cristo e somente na igreja da qual eles fazem parte (1 Pedro 5:2). Lealdade a Cristo exige estrita adesão a este arranjo.

- por Sewell Hall

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