O PROPÓSITO DA EDUCAÇÃO RELIGIOSA CRISTÃ.

INTRODUÇÃO.

A educação religiosa em si não tem um propósito. Os educadores cristãos é que têm propósitos, perspectivas bem definidas quanto a educação cristã. Estes propósitos devem ser conscientemente escolhidos e constantemente reavalidados a fim de consolidar a praxis cristã ( a militância cristã ).

A própria tradição cristã sugere uma finalidade para que se eduque, e a esse propósito devemos aspirar. O propósito da educação religiosa cristã é capacitar as pessoas a viverem como cristãos, na verdadeira acepção da palavra, segundo nosso entendimento. O cristão deve ter uma vida de práxis cristã.

Por outro lado há uma pergunta a ser respondida : "Qual o propósito de ser cristão?", e a resposta a esta questão deve ser o metapropósito ( objetivo último ) da educação religiosa cristã.

EDUCAÇÃO PARA O REINO DE DEUS.

O Cristianismo oferece às pessoas a graça e a esperança de salvação eterna em Jesus Cristo, sendo estas, propósitos para sermos cristãos. Entretanto, se estas metas são estabelecidas individualmente e com o sentido do "outro mundo porvir", elas representam uma compreensão distorcida da realidade da salvação tornada possível por Jesus Cristo.

A nossa intenção, o nosso metapropósito deve ser guiar as pessoas para o Reino de Deus, como educadores cristãos, para o que se apresentam três argumentações.

Primeiro, que nas escrituras hebraícas a visão do Reino de Deus é colocada como a própria visão e intenção de Deus para todas as pessoas e para a criação. Segundo, que na proclamação das Boas Novas, Jesus viveu e pregou o Reino de Deus. Terceiro, na teologia contemporânea, a pregação do Reino de Deus tem se tornado central.

O Reino de Deus Nas Escrituras Hebraícas.

O símbolo Reino de Deus, arragaido na consciência judaíca, significa o real governo e soberania de Deus no mundo, como seu Criador e mantedor, além desse governo na consecução da História da humanidade. Não é um pedaço de terra, nem um conceito abstrato, mas é um símbolo que se refere à atividade concreta de Deus na História, estabelecendo a Sua soberania. Para o israelita, o Reino de Deus já é uma realidade, visto que Javé governa todas as coisas e pessoas.

Em todo o A.T. a conotação central e constante são os temas de justiça e paz, enquanto que o Reino é prometido como provimento das necessidades e anseios humanos. A justiça de Deus se revela e se estabelece finalmente porque Deus é um Deus equânime e deseja a equidade para todos.

Por outro lado, desde que o Reino de Deus é a vontade expressa de Deus para o homem e sua criação, se o fiel israelita pretende viver uma relação com Javé, deve viver de acordo com as intenções de Deus para o homem. Em consequência o que Javé espera do homem é o que Javé deseja para o homem.

Jesus E O Reino de Deus.

Historicamente, há um concenso geral entre os teólogos de que o tema central da pregação e da vida de Jesus era o Reino de Deus. Era o conteúdo central do evangelho por Cristo pregado.

Há compatibilidade entre o que Jesus diz e faz, em função de ser ele também um judeu. Primeiro, para Jesus, o Reino de Deus é uma realidade dinâmica e concreta, sugerindo a salvação de Deus em meio à História. Segundo, a Sua pregação do Reino é universal. Terceiro, Ele fala do Reino tanto como presente quanto como futuro, tanto a soberania de Deus atual sobre a criação, quanto a realização final do Reino, no fim dos tempos.

Jesus na pregação do Reino, vai além da tradição porque considera que o Reino já chegou efetivamente, apontando para Sua pessoa, obra e ministério, como uma prova concreta deste evento. Uma segunda radicalização de Jesus é que seu ensino sobre o amor trancende a Lei. E insistindo em que não se pode amar a Deus a quem não se vê, se não se ama ao próximo, a quem se vê, remove a noção de quem seja o próximo. Ou até mesmo, torna este conceito mais transcendente!

Para Jesus Cristo, ser chamado ao Reino, já e agora, implica uma transformação, levando a amar ao próximo e uma maneira consentânea de vida. Os membros do Reino, não são objetos inanimados, mas pessoas chamadas a responder ao Reino vivendo em mútua participação uns com os outros.

O Reino de Deus na Teologia Contemporânea.

Também, historicamente, a Igreja com o transcurso do tempo, deixou de lado a centralidade da pregação como sendo o Reino de Deus, para colocar como tema básico o próprio evangelho de Jesus, Messias e Senhor.

Entretanto, atualmente a Igreja tem colocado ( ao menos como tentativa ! ) outra vez como tema central da pregação o Reino de Deus, porque há um laço essencial entre a pregação de Jesus como Senhor e Salvador e a do Reino de Deus, de forma que pregar Jesus como Cristo requer que preguemos o que Jesus pregava - o Reino de Deus.

Implicações Pastorais do Reino.

Muitas são as implicações do Reino, nos nossos dias. Mas para tanto precisamos reinterpretar o símbolo e seu sentido nas nossas vidas, à luz da experiência e conciência contemporâneas. O processo de reinterpretação tem levado os teólogos a uma posição de concenso : o Reino já veio definitivamente em Jesus Cristo; virá por completo e renovado, no final dos tempos; mas a sua formulação é uma realidade intra-histórica ( ou seja, fortemente entranhado na História da humanidade ), e nossa época atual tem algo vital com que contribuir para sua perfeição final.

O Reino é uma dádiva que vem pela graça de Deus, nos nosso dias, hoje, capacitando-nos a viver vidas que façam presente o Reino mesmo agora, preparando o terreno para sua realização final. Como promessa, é nossa segurança que o bem triunfa sobre o mal, a vida triunfa sobre a morte.

Mas o Reino vem a nós como uma responsabilidade radical e uma crítica à nossa resposta presente como indivíduos, como Igreja e como comunidade humana. A ação de Deus na História em prol do Reino, exige nossa resposta e critica nossos esforços.

Implicações Pessoais.

Todos nós, todo cristão, é convidado a aceitar as exigências de ser membro do Reino de Deus, como pregado por Jesus. Isto exige um chamamento constante e arrependimento e conversão, de maneira continuada. O Reino começa no coração do membro e sem conversão ele não pode corporificar as realidade sociais. A conversão é um contínuo voltar-se para Deus, voltando-se para o próximo.

Implicações para a Igreja.

Semelhantemente, a Igreja deve existir para o bem do Reino, pois é a comunidade dos que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, manifestando o Reino pela proclamação da palavra e pela celebração do sacramento, vivendo o Reino já vindo e o Reino prometido, de forma concomitante, continuadamente.

Neste aspecto, a Igreja deve viver três dimensões em sua missão : a kerigmática, a koinonia e a diaconia. O kerigma é a missão de pregar em palavra e celebrar em sacramento a mensagem e memória do Cristo ressurreto, em quem repousa a salvação. A koinonia é a tarefa de transformação em comunidade de autêntica camaradagem, uma comunidade de fé, esperança e amor. Somente se a verdade for incorporada a Igreja, ela será crível para o mundo. E finalmente, a diaconia chama a Igreja à missão de serviço, dedicado a toda a família humana, mesmo que o seu quadro seja degradante e "impuro".

Implicações para a sociedade.

Somente quando se compreende o Reino de Deus como algo presente, com a cooperação humana na História, e não apenas como um símbolo espiritual e místico, que se refira "ao mundo do além", o Reino atua como um julgamento sobre nossas estruturas sociais, políticas e econômicas e sobre nossas organizações culturais. Há evidências de que o Reino está entre nós, mas existem realidades contemporâneas que ativamente impedem que os valores do Reino sejam promovidos na nossa sociedade.

VISÃO DO REINO COMO FINALIDADE DA EDUCAÇÃO CRISTÃ.

Do exposto, metapropósito da educação cristã é o Reino de Deus em Jesus Cristo, com conotações únicas para cada indivíduo. Propõem os estudiosos da área, do assunto, doze princípios que evocam o símbolo do Reino de Deus, empregando-os como metapropósitos que orientam a práxis da educação cristã.

1 - O Reino de Deus é um símbolo que representa a presença ativa de Deus em poder, sobre, em e no fim da História.

2 - Todo tempo, é um aspecto do "mesmo tempo", portanto podemos falar do Reino de Deus como passado, presente e futuro.

3 - O Reino de Deus é uma dádiva divina.

4 - Na fé cristã, a encarnação de Cristo é a manifestação da dádiva divina.

5 - Em Cristo, somos chamados a um relacionamento com Deus e uns com os outros como membros do Reino de Deus.

6 - É vontade de Deus para todas as pessoas que elas sejam amadas. Assim no Reino de Deus, o princípio é que amemos a Deus e a nosso próximo como resposta ao amor de Deus por nós.

7 - O Reino de Deus convida a pessoa a uma resposta de contínua transformação, esta conversão voltando-se para Deus, em nosso próximo.

8 - Nossa conversão exige uma vida de santidade e justiça, semelhantemente, exige nossa oposição e luta contra todas as formas sociais e culturais de pecado em nosso mundo.

9 - Devemos, como cidadãos do Reino, lutar para criar e desenvolver, estruturas socio-político-econômicas e formas culturais, que sejam capazes promover os valores do Reino.

10- A Igreja deve existir para o bem do Reino, como comunidade, capacitando as pessoas a responder, através da graça de Deus, à Sua vontade no presente, na atualidade.

11- A consciência de que somos moderadores da História, acrescenta urgência à exigência de que, pela graça de Deus, tomemos e moldemos nosso presente no sentido do Reino de Deus.

12- Para os cristãos, para a Igreja, o Reino de Deus e o Senhorio de Cristo, devem permanecer juntos no centro da pregação e educação.

Franco, W. O.

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