A
VIDA ETERNA CONSISTE EM
QUE TE CONHEÇAM A TI,
O
ÚNICO DEUS VERDADEIRO
«Eu
sou a cepa, dizia Jesus, e vós sois os sarmentos: aquele que vive em mim dá
muitos frutos... Mas se alguém não vive em mim, deitam-no fora como ao
sarmento e seca; depois apanham-no, deitam-no ao fogo e ele arde».
Sim,
porque tudo o que está morto é lançado ao fogo para ser de novo vivificado. A
cepa com os sarmentos é o símbolo das lamas humanas ligadas a Deus, porque a
alma capta forças do próprio Deus, da Fonte. Como a folha que, separada da árvore,
morre e apodrece, a alma desligada de Deus enfraquece e desaparece. Mas a alma
que permanece ligada à árvore cresce e floresce.
Com estas imagens da
cepa e da árvore pode-se explicar as noções de tempo e de eternidade. A
eternidade é a cepa, o próprio Deus, a imensidão. O tempo são as sementinhas
que caem da eternidade, as folhinhas que se desprendem, caem no solo e
desaparecem; o tempo são todos os momentos, todos os segundos que se desprendem
da árvore que é a eternidade. Portanto, o tempo é sempre reduzido, sempre
limitado; mesmo milhares de anos são ainda um tempo muito limitado, e tudo o
que é limitado morre.
Eis porque o
homem, enquanto espírito, não deve apegar-se ao tempo senão estará
sempre limitado, será fraco e morrerá. Ele deve esquecer o tempo para abraçar
a eternidade, porque nessa altura correrá sempre nele a
vida abundante, eterna, de que Jesus falava quando dizia: «A vida eterna
consiste em que Te conheçam, a Ti, o único Deus verdadeiro...» A vida eterna
é, pois, ligar-se a Deus para que a sua vida, a verdadeira vida, comece a
circular em nós. O tempo é tudo o que se desprende; é por isso que se diz que
é impossível recuperar o tempo passado, porque ele está perdido.
A vida eterna é um
estado de consciência em que é possível entrar instantaneamente. Quando o
homem começa a viver e a pensar de maneira divina, quando se liga à fonte, não
mais está separado do Todo e a vida eterna circula nele. A vida eterna é,
pois, uma qualidade de vida, um grau de vida especial. Ao passo que a vida no
tempo, passageira, instável, fugidia e desligada, é uma partícula que contém
apenas algumas energias... como a cauda cortada dum lagarto que mexe ainda por
um momento, mas que acaba por se deter, visto que está separada do corpo.
Quando vos ligais ao Senhor, ao Ser que não tem começo nem fim, a vossa consciência alarga-se, torna-se luminosa, vibra de outra maneira e a vida nova circula, a vida da eternidade. Perguntareis: «Mas a eternidade não é um tempo que há-de durar indefinidamente?...» Não, não necessariamente; o momento presente pode ser uma eternidade. Ainda que não vivais eternamente, viveis a vida eterna. Não podeis esgotar a eternidade nem o passado nem o futuro, mas viveis no presente e cada momento deste presente pode tornar-se a eternidade... É muito difícil de explicar porque é uma realidade que pertence à quarta, à quinta dimensão, e na terceira dimensão, aquela a que pertencem as palavras, não temos nada que possa exprimir a eternidade. Então, sirvo-me de imagens para vos levar a compreender, mas na realidade é impossível explicar a eternidade, porque não se pode medir o ilimitado com a medida limitada... Apesar disso, eu digo-vos que, pelo simples facto de o ligardes à eternidade, um momento limitado no tempo pode tornar-se eternidade.
Para ser alimentado,
para se desenvolver, cada sarmento deve ser ligado à fonte, à cepa, e dará
flores e frutos. Portanto, ligai-vos ao princípio divino, ao Cristo, para
viverdes a vida do Cristo, para transformardes a vossa consciência pessoal,
limitada e puramente humana, numa consciência ilimitada, numa consciência
universal, numa consciência tornada consciência da eternidade. Por isso eu vos
digo: não penseis mais no tempo, nem nas preocupações, nem nas tristezas;
esquecei até as vossas imperfeições e as vossas lacunas... ocupai-vos do
centro, ocupai-vos do princípio divino que está em vós e mergulhai na vida
eterna, vivei a vida da eternidade. Vós podeis, a partir de agora, viver a vida
eterna, visto que não é uma questão de duração, visto que não é necessário
viver milhares de anos para estar na eternidade. Aliás, mesmo que se
vivesse milhares de anos isso não seria ainda a eternidade, porque a
eternidade não é um período de tempo, é um estado de consciência.
Partículas anárquicas
que quiseram separar-se da árvore da eternidade para estabelecer o seu próprio
reino – eis o que é o tempo! As partículas separam-se, vivem durante um
certo tempo e é justamente a isso que se chama «tempo», pois elas morrem. E
mesmo imaginando que todas essas partículas que se desligaram umas após outras
poderiam encadear-se em biliões de anos, jamais elas formariam a eternidade.
Hoje dou-vos uma
chave que se encontra nas duas frases do Cristo: «Eu sou a cepa e vós sois os
sarmentos...» e «A vida eterna consiste em que Te conheçam a Ti, o único
Deus verdadeiro». Sob duas formas diferentes, é a mesma verdade que está
expressa: que o homem deve retomar o caminho que o liga à nascente divina, que
ele jamais deve separar-se dela, porque a separação traz a morte espiritual e
física. Tudo na Natureza pode ajudar-nos a ligarmo-nos à fonte, mas o meio
mais poderoso, mais eficaz, é o sol. O sol é o símbolo desse rio vivo que
desce, que jorra e inunda o universo inteiro, é o símbolo de Deus, e é ele
que melhor pode ajudar-nos a reencontrar o caminho para o Criador, a viver, a
vibrar com Ele, a ser sarmento ligado à cepa. O sol é a cepa; se nos tornarmos
sarmentos, teremos a vida eterna.
Vemos nos livros
sagrados que os Iniciados representaram a serpente de três maneiras: ondulando
como uma sinusóide, levantada como uma
espiral e ainda em forma de círculo (a serpente engolindo a sua própria
cauda). Trata-se de símbolos muito profundos. A serpente é apresentada na Bíblia
como o mais sábio, o mais inteligente dos animais, mas é também a personificação
do mal e da astúcia. Hoje vamos deter-nos nestas três representações da
serpente de que acabo de falar-vos, porque elas simbolizam o trabalho do discípulo
que deve conseguir sublimar a serpente, isto é, transformar a linha recta em círculo.
É todo um processo psíquico, intelectual, uma prática iniciática.
A serpente é
primeiro uma linha recta (simbolicamente; na realidade, ela é uma sinusóide),
rasteja no solo. Depois, ergue-se verticalmente, tem a forma de uma espiral; é
a coluna vertebral. Finalmente, ela deve juntar as suas duas extremidades, a
cabeça e a cauda, para formar um círculo, isto é, para entrar nos movimentos
harmoniosos, simétricos e criadores da eternidade. Todas as emanações, todas
as energias, são então distribuídas, organizadas, e já não há lutas nem
desarmonias entre elas; todos os pontos da periferia, que estão a igual distância
do centro, produzem interferências sublimes. O Iniciado que consegue formar em
si este círculo torna-se poderoso, inesgotável, perfeito como o sol, e vive na
eternidade.
A linha recta deve
pois tornar-se um círculo... Aliás, para os físicos, a linha recta é uma porção
de círculo. Dado que tudo se move, só há linhas curvas no espaço; a linha
recta não existe. Espiritualmente, o homem deve tornar-se um círculo. Observai
a criança: antes de nascer ela está dobrada sobre si mesma, como uma bola.
Direis que é uma solução económica para ocupara menos espaço no ventre da mãe.
É possível... E depois do nascimento, ela endireita-se. Mas espiritualmente é
o inverso; ela deve tomar a forma do círculo, isto é, sair da sua própria
consciência pessoal, limitada, para viver a vida cósmica, a vida universal, a
vida da eternidade...
Na realidade, nada
nem ninguém pode desligar-se da vida universal: nem o mais pequenino grão de
poeira, nem o mais pequenino átomo podem escapar à vida cósmica. A ruptura dá-se
unicamente na consciência dos seres, e daí decorrem, evidentemente, toda a espécie
de desordens nos outros planos. No meio dessas desordens, a pessoa está sempre
ligada ao Cosmos, mas às suas regiões inferiores. Portanto, a única coisa que
resta fazer é mudar de região, de apartamento ou andar. Como numa casa, por
exemplo: pode-se escolher viver nos andares superiores; pode-se também descer
aos andares inferiores e até às caves. Mas crer que é possível desligar-se
é uma ilusão. Ninguém conseguiu desligar-se da influência das energias cósmicas.
Pode-se mudar de
condições ou de regiões, ir para as mais favoráveis ou para as menos favoráveis,
mas estas mudanças produzem-se na consciência, e daí repercutem-se em todo o
resto do ser. Por isso eu insisto: voltai para cima, voltai para a fonte! Todos
os dias, sem cessar, quaisquer que sejam as vossas ocupações, quando comeis,
passeais ou trabalhais, pensai em restabelecer a ligação com a fonte, com o
princípio divino que está em vós, porque isso é que é viver a vida eterna.
Nenhum livro pode ensinar-nos verdades mais essenciais que os Evangelhos. Responder-me-eis: «Mas nós já os lemos e não encontrámos lá nada. Por isso, procuramos agora noutras religiões: chinesa, hindu, japonesa, muçulmana...» Bem, mas é unicamente por não terdes compreendido nada da sabedoria incomensurável que se encontra nos Evangelhos, escritos para vós, que ides procurar a luz em ensinamentos que não compreendeis, que não são feitos para a vossa estrutura, para a vossa mentalidade. O que é para vós é o ensinamento do Cristo. Não o lestes seriamente nem meditastes sobre ele. Procurais outra coisa, é verdade, mas com que objectivo? Há muita gente que segue um ensinamento oriental para se vangloriar diante dos outros, para lhes deitar poeira nos olhos, ou simplesmente para se tornar singular aos seus próprios olhos. Mas isso não serve para nada; apenas prova que se gosta das extravagâncias e não da verdade simples. Abandona-se o Cristo, mas para seguir quem?...