OUTROS SINAIS — 41
A vontade ondulante dos navios
a fúria acorrentada da raiz
a exaltação noctívaga dos rios
esta corda este fogo este país
e esta última flor do aloendro
nos sonâmbulos dedos de setembro
Assim te quero, poesia:
canto e testamento
a exumar a vida,
como o vento
que lança à luz do dia
os destroços da noite
que não cabem
na fundura do seu esquecimento.
MINIATURAIS
53
Folhas mortas sobre a lama
onde passei,
é tudo o que resta
da festa
que sonhei.
51
Perdi a memória numa esquina de vento
entre espadas de sombra e algemas de
medo
e agora só retenho os contornos da noite
como quem despe o mar da folhagem das
ondas.
49
Cada homem precisa do seu chão.
O meu é este areal onde um pinheiro
é um náufrago na sua solidão
sem mar que lhe embale o sonho
derradeiro.
45
Sem dono
o vento embriagado
é um fauno sobre brasas.
No outono
até as folhas mortas
têm asas.