Voeja no céu, a noite com suas asas negras.
Comportada e imponente, obedecendo às regras,
Uma lua acetinada, no firmamento erra...
Adormece, então, a Vila, no silêncio da noite...
E as árvores quietas, sem que o vento açoite,
Assemelham-se a pedras próximas às casas.
Defronte o São Francisco, mirando as estrelas,
Enfeita-se de luzes, apaixona-se ao vê-las
E corre velozmente e deseja mil asas!
Silente o casario. Nos frontões, nos portais,
O convento, as igrejas - jóias coloniais -
Atestam o poder, outrora alma de um povo!
Eis, que, neste cenário, surge um poeta...
E nas ladeiras altas, sem pressa e sem meta,
Pasmo, observa o contraste feio de um tempo novo.
Sente, mui triste, a ausência de alguns sobrados;
Os que restam de pé, esguios e amedrontados,
Parecem condenados num campo nazista!
E as velhas praças, Deus, que é dos monumentos?
Embotam-lhe as idéias e vários sentimentos
Abrem peito ao poeta que alonga a sua vista.
Perdidamente sonha co'os tempos distantes...
O bonde, as lindas festas, os barcos passantes
Vêm coloridos, vivos, situar-lhe a memória.
Emocionado e só, debruçado no Cais,
Escondendo do peito o que não volta mais,
Pede a Deus que conserve o que sobrou da História!