Os "Analectos" de Confúcio
Os "Analectos" ou "Conversas de Confúcio", foram provavelmente compiladas após a morte do Mestre em 479 A.C., por seguidores de dois de seus mais notáveis discípulos: Meng Tsé e Yu. Trata-se de conversas de Confúcio com seus discípulos ou com algum visitante, encerrando sempre um excelente ensinamento filosófico.
Todavia, o imperador Ch'in Shih Huang, fundando uma nova dinastia no ano 213 A.C., ordenou que todos os livros fossem queimados em praça pública, e que também todos os sábios da terra de Han fossem queimados vivos, pois assim a história da China começaria com ele.
Mas o seu reinado foi curto: e algumas poucas preciosas relíquias escaparam da fúria destruidora. Uma velha cópia dos "Analectos" de Confúcio foi descoberta no ano 150 A.C., dentro de um esconderijo numa das paredes da casa onde morou Confúcio. Outra cópia desta mesma obra foi também encontrada na casa de um velho professor , numa cidade vizinha a Chu Fu. Mas nesta época a escrita chinesa tinha sido muito simplificada e já não apresentava as antigas formas dos caracteres usados nos tempos de Confúcio. Por esta razão, os antigos livros clássicos tornaram-se indecifráveis para a maioria das pessoas, com exceção dos sábios. Nesta classe de eruditos estava um descendente de Confúcio, e o novo rei ordenou que ele decifrasse o trabalho do seu ilustre antepassado. E ele assim o fez. Há algumas discrepâncias entre a versão antiga e a feita por ele, mas são pequenas coisas sem importância, que só interessam aos especialistas no assunto.
Daí com o tempo surgiram muitas escolas de comentadores dos "Analectos": o mais famoso de todos foi Chu Hsi ou Chu Tzu, cujos volumosos comentários datam do Século XII. Cumpre dizer que esta preciosa obra de Confúcio foi primeiramente traduzida para o latim em 1687, por um missionário católico que Roma enviou à China. Mais tarde os "Analectos" foram novamente traduzidos por padres católicos italianos e franceses. Em 1861, o Dr. James Legge, missionário protestante na China, foi o primeiro ocidental a ocupar a cadeira de Professor da língua e da literatura chinesa, na Universidade de Oxford, publicando então sua magnífica tradução de todos os livros clássicos chineses, incluindo os "Analectos". Em 1910, o Professor Soothill, achando que era necessário uma interpretação mais moderna dos "Analectos" de Confúcio, publicou uma tradução, ornada de comentários elucidativos, comparando as traduções anteriores. Também ele foi missionário protestante na China e mais tarde substituiu o Dr. Legge na sua cadeira de Professor na Universidade de Oxford. Esta tradução do Dr. Soothill é realmente excelente, mas ainda é muito erudita.
Há alguns anos atrás, o general inglês G. G. Alexander, grande estudioso do confucionismo, baseado nos trabalhos do Dr. Legge e do Dr. Soothill, resolveu fazer uma interpretação simplificada dos aforismos de Confúcio, de modo a fazê-los compreensíveis para o grande público. É da sua coleção que selecionei alguns que ora transcrevo neste livro:
Sobre o estudo:
"É preciso estudar como se nunca pudesses alcançar o ponto que desejas, e depois guardar o teu conhecimento contra todos, como se tivesses medo de perdê-lo."
"Estudar sem refletir, é perder tempo; refletir sem estudar é perigoso."
Sobre a verdade:
.
"O homem mentiroso é como uma carroça sem jugo"
Sobre a fama:
"Não se confine na obscuridade, mas procure merecer a fama."
Sobre falar e agir:
"Seja lento em falar, mas rápido em agir."
Sobre os princípios fixos:
"Aquele cujos princípios estão completamente estabelecidos, não será facilmente afastado do caminho correto."
Sobre a cautela:
"Os cautelosos são geralmente encontrados no caminho correto."
Sobre o autocontrole:
"Um exército pode depor o seu general, mas o vilão não pode esconder suas inclinações."
Sobre a sabedoria e a virtude:
"O conhecimento é como o correr de um regato,
Mas a virtude é estável como uma rocha;
O homem sábio anda sempre para a frente,
O homem virtuoso vive em paz e repouso,
O coração do homem sábio é cheio de alegria,
E o seu nome jamais é esquecido."
Sobre as qualidades perfeitas:
"O homem sábio não tem dúvidas,
O homem virtuoso não tem tristezas,
O homem corajoso não sente temor."
Sobre o auto-sacrifício:
"Aquele que é verdadeiramente bom e grande no seu saber, não busca preservar sua vida a expensas da virtude."
Sobre a exortação:
"Guardando silêncio quando deve falar, o homem pode perder-se. Falando quando deve ficar silencioso, perde as suas palavras. O homem sábio é cuidadoso em observar uma coisa e outra."
Sobre a reprovação:
"Se você escapar de coisas vexatórias, reprove a si mesmo e poupe os outros."
Sobre a necessidade de cultivar a si mesmo:
"Aquele que cultiva a terra pode obter boas coisas, mas aquele que cultiva a sua própria mente possuirá um tesouro ilimitado."
A Regra Dourada
Sobre a amizade:
"Procure fazer amizade com as pessoas que são superiores, inteligentes e sábias; evite aqueles que são licenciosos, faladores e fúteis."
Sobre a popularidade:
"É mais importante que você conheça os outros, do que eles conheçam você."
Sobre a discussão:
"As disputas sempre produzem o ódio."
Sobre a instrução:
"É inútil tentarmos ajudar aqueles que não querem ajudar a si mesmos."
Sobre a felicidade:
"Um homem pode ser completamente feliz, mesmo que só tenha seus braços por travesseiro, um pouco de arroz para comer e água pura para beber; pois a riqueza e as honrarias ganhas injustamente não trazem felicidade ao seu possuidor, e são como nuvens flutuantes."
Sobre a necessidade do exemplo:
"O homem superior age tal qual como ele fala."
"Não faças aos outros o que não queres que te façam." (8)
Sobre o governo:
"Os decretos do céu não são imutáveis, pois mesmo que um trono tenha sido ganho pela virtude, pode ser perdido pelo vício.
"Um bom soberano é como a Estrela Polar, que forma um centro em volta da qual giram todas as outras estrelas."
Este último aforismo aparece num discurso de Confúcio sobre "o bom governo de um Estado", um dos melhores discursos do Mestre. E um trabalho longo que seria cansativo citar, contudo destacamos alguns dos trechos que nos pareceram mais interessantes:
"Não deixe um homem fazer algo contra aqueles que estão abaixo dele; porque isto desgosta aqueles que estão acima dele. Também não deve o homem agir contra aqueles que estão na sua frente, porque isto desgosta aqueles que estão atrás dele."
Em seguida vem um outro trecho que nos faz lembrar muito o estilo de Oliver Goldsmith's e que diz o seguinte:
(8) É interessante observar em Confúcio, um homem não-religioso este mandamento idêntico ao que recomendou Jesus séculos mais tarde. Também nas doutrinas de Buda e [ao Tsé, encontramos este mesmo ensinamento. (N. da T.)
"Onde se permite ficar indolente e acumular riquezas, a população diminuirá. Mas onde a riqueza circule livremente e todos trabalhem, a população aumentará."
Confúcio gostava também de exaltar sempre a atitude do homem sincero que não espera recompensas pelas suas boas ações. E dizia:
"Para ter a mente pura é preciso que o homem se liberte da autodecepção. Deve ainda detestar o vicio como se fosse um odor muito desagradável, e amar a virtude como se fosse uma coisa imensamente bela."
Condenava sempre a ignorância e o vício tal como podemos observar também nestes outros ensinamentos:
"O homem inferior gasta os seus momentos em atos viciosos, e não há limite para a sua fraqueza. Na presença das pessoas puras ele age com hipocrisia e mostra apenas as suas aparentes boas qualidades. Mas, como isto lhe pesa depois, quando o seu verdadeiro caráter se revela ante um olhar inquisidor."
O leitor atencioso poderá, quiçá, reconhecer nestes conselhos aqui citados, um tom familiar. E se lembrará então das palavras Shakespearianas, exortando o homem a ser verdadeiro consigo mesmo. O confucionismo insiste sempre neste tema:
"Um homem superior deverá agir corretamente em todos os momentos."
Ademais o bom confucionista não deve também esquecer estes outros ensinamentos:
"Devido o homem ter tendência para ser parcial para com aqueles a quem ama, injusto para com aqueles a quem odeia, servil para com seus superiores, arrogante para com seus inferiores, cruel ou indulgente para com os que estão na miséria ou na desgraça; é que se torna tão difícil encontrar alguém capaz de exercer um julgamento perfeito sobre as qualidades dos outros."
Estas, são sem dúvida, as melhores máximas que encontramos nos "Analectos" de Confúcio. (9)
(9) Embora os "Analectos" sejam realmente uma obra muito boa, não devemos esquecer que segundo as maiores autoridades em Sinologia, o trabalho mais importante de Confúcio foi precisamente a compilação dos cinco "Kings", tirada da antiga tradição chinesa e de diversos manuscritos da mais remota antigüidade.
A coletânea deste importante trabalho do Mestre, divide-se em canônica ou "Kings" e clássica ou "Shus". Os "Kings" são cinco.
"Y King" ou "Livro das Mutações".
"Chou King" ou "Anais da Primavera e Outono"
"Li Ki" ou "Livro das cerimônias e Ritos".
"Shu King" ou "Livro da História".
"Chi King" ou "Livro da Poesia".
O "Livro das Mutações" é considerado um dos maiores clássicos chineses. É principalmente um livro de vaticinação, consistindo de 64 figuras lineares conhecidas como "hexagramas". Este livro não chega a expor uma cosmogonia, porque Confúcio nunca admitiu uma vida futura. Contudo, o "Grande Extremo", como o princípio das mutações é a mais curta e quiçá a mais sugestiva das cosmogonias orientais. A princípio, formam-se duas figuras. Estas duas produzem as "Quatro Imagens" e, estas, por sua vez os "Oito Símbolos". Sobre o seu simbolismo surgiram várias controvérsias, mas a maioria dos sábios acha que tais figuras e símbolos representam, embora toscamente, uma evolução progressiva e harmoniosa do Cosmos e de seus seres, tanto celestiais como terrestres. Este original trabalho é também chamado "O Bater de Asas", e seus sinais são a modalidade chinesa da Tríade, Tetractis e Década de Pitágoras.
Os "Anais da Primavera e Outono", fixa com brevidade os principais acontecimentos na terra natal de Confúcio, do ano 481 ao 722 A.( Foi este o único livro inteiramente escrito pelo próprio Mestre, sendo mais tarde, interpretado por seu discípulo Tsao Chiu Ming. Esta obra pode ser considerada como uma aplicação da doutrina da retificação de nomes e das condições decadentes da política feudal. Através deste livro Confúcio tentou estabelecer um padrão de valores morais que eram fato de principal importância para a restauração do bom regime feudal; analisando este sistema do mesmo modo que Platão e Aristóteles analisaram classificaram os princípios da vida política em decadência na antiga. Grécia.
O "Livro das Cerimônias e Ritos" é uma interessante coleção de tratados sobre as normas de conduta para o povo, metodologia de educação, governo e exercícios rituais.
O "Livro da História" pode ser considerado como a verdadeira Bi. blia da velha China. É neste livro que encontramos os mais importante'. discursos e declarações dos mais eminentes soberanos, os conselhos de seus sábios Ministros e o plano para o estabelecimento de um bom governo.
O "Livro da Poesia" é uma coleção de 305 antigos poemas e canções poéticas, que segundo Confúcio serviam de estímulo e alegria para o povo ensinando a arte de bem viver.
A estes cinco "Kings" acrescentam-se os quatro "Shus", que constituem os "Nove Clássicos", textos de ouro da filosofia chinesa. Os "Shus" são os seguintes:
"Lun Yu" ou "Analectos de Confúcio".
"Ta Shu" ou "A Grande Doutrina".
"Hiao Shu" ou "Livro da Piedade Filial", "Siao Hio" ou "Livro Educativo Para as Crianças".
Os "Analectos" é uma coleção de ditos e feitos do Mestre e seus discípulos.
"A Grande Doutrina" trata do conhecimento da filosofia para reformar o seu próprio eu, a família e o Estado.
O "Livro da Piedade Filial" trata do problema da natureza humana e das normas de uma conduta correta para com nossos semelhantes.
O "Livro Educativo Para as Crianças" é uma delicada coleção de lendas e de fábulas educativas, que nos faz lembrar muito as fábulas de Esopo e também as de La Fontaine.
Estes quatro "Shus" foram compilados pelos discípulos de Confúcio. Os dois últimos livros só foram publicados várias décadas após a morte do Mestre. (N. da T.)
(Trechos do Livro "A Essência da Sabedoria de Confúcio", escrito por Charles J. Finger e traduzido por Chiang Sing.)
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