Ouço ainda o tropel do corcel negro,
Vejo luzir ainda o pêlo encrespado,
Rápido, feérico, pleno de luar, que passa.
Gritos ecoam, lúgubres, nas esquinas,
Quando passa o corcel negro disparado:
Talvez do casal que foge do tarado,
Quem sabe, o ginete assustando as meninas!
Tudo acontece aos meus olhos de pálpebras semimortas,
Vigilantes do espaço, boêmios e lunáticos,
Saturados de néon e de cartazes plásticos.
Meus olhos que varrem as sombras ligeiras da noite...
Vadias, libidinosas, obtusas e hematófagas.
No céu, as asas que batem não são asas
Que sonham, nas distâncias, o horizonte.
São asas, somente, que batem perdidas
No duro silêncio da hora decisiva,
Na vastidão saárica da meia-noite,
Do que busquei, meu Deus, do que busquei!
No espaço distante, a imponência dourada
Não é asa que bate perdida no duro silêncio:
É essência que vibra, que pulsa, que pensa,
Nos úteros indescritíveis de todas as astronaves...
E sobre o corcel, as asas e o cavaleiro:
Onde agora estará o Antero de Quental?