O desejo sincero e puro do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disto.
Divergência de opiniões não deve jamais ser motivo para hostilidade; se assim fosse, eu e minha mulher seríamos inimigos jurados um do outro.
Os meus sonhos não se resumem a sentimentos balofos; faço o possível para converter em realidade os meus sonhos.
A Verdade me é infinitamente mais cara do que o meu título de "Mahatma"(1) que não passa de um simples fardo para mim; o que até agora me salvou da opressão desse título de "Mahatma" é o conhecimento da minha indignidade e do meu nada.
(1) Mahatma, contração de maha (grande) e atma (alma),um apelido que o povo indiano deu a seu grande líder e libertador, título que, pela primeira vez. foi dado a Gandhi por Rabindranath Tagore, mas que ele nunca usava.
Eu consideraria uma blasfêmia identificar-me com Krishna(2); faço apenas questão de ser um humilde operário e nada mais, a serviço duma grande causa, a qual pode antes ser prejudicada do que auxiliada pela glorificação de seus chefes.
Bem pouco sabe o mundo de quanto a minha chamada grandeza depende das incessantes labutas e dos sofrimentos de silenciosos operários, homens e mulheres, devotados, eficientes e puros.
A maior honra que meus amigos me podem prestar e' procurarem realizar em sua vida o ideal pelo que vivo ou então oporem-me a maior resistência possível, se não tiverem fé no meu ideal.
Estou convencido das minhas próprias limitações ~ esta convicção é minha força.
Não suspiro pelo martírio; mas, se ele me acontecer, nesse caminho que eu considero meu dever em defesa da Verdade que professo, então eu o terei merecido.
(2) Krishna, o protagonista do poema místico-ético da Bhagavad-Gita, é considerado na Índia como uma encarnação humana da suprema Divindade. Branman.
Há muitas coisas de que não podemos escapar, sem mais nem menos, mesmo evitando-as. Este invólucro terrestre em que estou aprisionado é o tormento da minha vida; mas tenho de entender-me com ele, e mesmo aceitá-lo de boa vontade.
Sinto e reconheço plenamente a minha fraqueza; mas a minha fé em Deus e em sua força e seu amor, é inabalável. Eu sou como um pouco de argila nas mãos do oleiro.
A minha roupagem carnal é tão corruptível como a de todos os meus companheiros humanos; e por isso estou tão sujeito a erros como qualquer um deles.
No meio das humilhações e da chamada derrota duma vida tempestuosa, sou capaz de manter a minha paz, graças à subjacente fé que tenho em Deus, traduzida como Verdade.
A minha vida é um Todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade.
Conheço o meu caminho; ele é reto e estreito; é como o gume duma espada. Tenho prazer em andar esse caminho. Choro quando tropeço. Deus diz: "Quem trabalha com esforço não perecerá" - e eu tenho uma fé implícita nesta promessa.
Por isso, embora minha fraqueza me faça cair mil vezes, não perderei a fé, e espero ver a luz, quando a minha carne estiver perfeitamente dominada, como um dia acontecerá.
O meu espírito me impele numa direção, e minha carne me impele em direção contrária. Há uma libertação desse jogo de duas forças; mas essa libertação só pode ser obtida pouco a pouco, através de estágios dolorosos.
Não posso atingir a libertação por uma recusa mecânica de agir, mas tão-somente por uma atividade inteligente despida de qualquer interesse. Esta luta equivale a uma incessante crucificação da carne, até que o espírito seja plenamente liberto.
Passo pelo mundo tateando o meu caminho rumo à luz, "no meio das trevas que me cercam". Muitas vezes aberro do caminho e falho nos meus cálculos. Confio somente em Deus, e tenho fé nos homens somente porque tenho fé em Deus. Se não tivesse Deus em Quem confiar, seria, como Tímon, inimigo da raça humana.
Não me interessa prever o futuro; só me ocupo com o presente; Deus não me deu o controle sobre o momento vindouro.
(3) Estas palavras são do maravilhoso cântico Lead Kindly Ligbt: "Guia-me, luz benigna, no meio das trevas que me cercam", em que o cardeal Newman conta a sua própria conversão, cheia de altos e baixos. Este cântico, gravado com sugestiva música, no disco Hymn of the Mariners, era o cântico favorito de Gandhi, que ele costumava tocar em quase todas as suas reuniões de prece. No prelúdio do livro Imperativos da Vida (traduzido para o Esperanto com o titulo Imperativoj de la Vivo), de Huberto Rohden, se encontra paráfrase de urna parte do cântico Guia-me, Luz benigna.
Nunca nenhum homem finito conhecerá plenamente a Verdade e o Amor, que em si mesmos são infinitos.
Estou satisfeito em realizar as coisas que tenho na minha frente; não me preocupo com o porquê e o para quê das coisas. O bom-senso nos ajuda a perceber que não devemos emaranhar-nos em coisas que não podemos compreender.
Adoro Deus somente como a Verdade. Não O achei ainda, mas não cesso de procurá-LO. Estou disposto a sacrificar as coisas que me são mais caras, a fim de prosseguir nessa busca. E ainda que fosse necessário sacrificar a própria vida, espero estar pronto para esse sacrifício.
Não é dado ao homem conhecer a Verdade total; o seu dever está em viver de acordo com a Verdade na medida que ele a percebeu; e, em procedendo assim, deve recorrer aos meios mais puros, isto é, à não-violência.
A Verdade habita no coração de todo homem, e é ali que devemos procurá-la e viver de acordo com ela, na medida da nossa compreensão. Mas ninguém tem o direito de obrigar outros a viverem segundo a verdade assim como ele mesmo a enxerga.
Nunca em minha vida me tornei culpado de dizer coisas de modo diferente do que as via - a minha natureza me leva em linha reta ao cerne das coisas. E, se muitas vezes falho neste caminho, tenho a certeza de que a própria Verdade, em última análise, se fará ouvida e sentida por si mesma, como tantas vezes aconteceu na minha vida.
Procuro a Verdade humildemente, mas com toda a seriedade; e, no caminho dessa busca, confio totalmente nos meus companheiros de jornada, de maneira que eu possa conhecer os meus erros e corrigi-los.
Eu sou um simples aprendiz: não tenho erudição profunda; aceito a Verdade, onde quer que a encontre, procuro viver de acordo com ela.
Deveras, o que a um pode parecer erro manifesto, a outro pode parecer como pura sabedoria - e nada pode fazer, mesmo que seja vítima de alucinação.
Dizia Tulsides com verdade: Embora não haja prata na madrepérola, nem água no raio solar nenhum poder da terra pode libertar o iludido da sua obsessão, enquanto perdurar nele a ilusão da prata na concha nacarada ou a da água no raio de luz.
Há um Poder misterioso e indefinível que tudo permeia; eu o sinto, ainda que não o veja. Sentimos a presença desse Poder invisível, e, no entanto, ele desafia toda a nossa demonstração, porque é tão diferente de tudo que percebemos com os sentidos. Ultrapassa os sentidos, mas é possível, até certo ponto, raciocinar sobre a existência de Deus.
A fé transcende a razão; o único conselho que posso dar é o de não tentar o impossível. Não posso explicar a existência do mal com nenhum argumento racional. Tentar isto seria igualar-se a Deus.
A música divina flui incessantemente dentro de nós; mas o ruído dos sentidos abafa essa música, que em nada se parece com o que os nossos sentidos possam perceber e ouvir; ela é infinitamente superior a tudo isto.
Sou de parecer que todos nós podemos ser arautos de Deus, quando deixamos de ter medo dos homens e buscamos a Verdade em Deus, depois de perdermos todo o medo dos homens.
Anseio por ver Deus face a face. O Deus que eu conheço Se chama Verdade. Para mim, o único caminho certo para conhecer a Deus é a não-violência (ahimsa), o amor.
Deus perscruta os corações. Transcende palavras e pensamentos. Ele conhece o nosso íntimo melhor do que nós mesmos. Não toma a sério as nossas palavras, porque sabe que muitas vezes não sabemos o que dizemos, uns consciente, outros inconscientemente.
Deus é puríssima "essência". Para os têm fé n'Ele, Deus simplesmente é.
Nós não somos, somente Deus é. E, se nós queremos ser, devemos eternamente cantar Seu louvor e fazer Sua vontade. Dancemos ao som do Seu maravilhoso alaúde - e tudo vai bem.
Eu não vi Deus, nem O conheço. Fiz da fé que o mundo tem em Deus a minha fé; e, sendo a minha fé inextinguível, faço da minha fé a minha experiência pessoal.
Deus é o mais rigoroso soberano que conheci aqui na terra; Ele nos exige contas inexoravelmente.
Deus vem em teu socorro, deste ou daquele modo, e te faz ver que não deves perder a fé, porque Ele está sempre atento ao teu aceno e a teu clamor, mas a Seu modo, e não a teu modo. Quanto a mim, não posso recordar-me de um único caso em que me tenha abandonado, nem mesmo na hora extrema.
Mesmo no mais negro desespero, quando parece já não haver auxílio e conforto neste vasto mundo, o Seu nome nos enche de força e afugenta todas as dúvidas e todo o nosso desespero.
Peçamos que Deus purifique os nossos corações de mesquinhez, vileza e fraude e Ele certamente atenderá ao nosso pedido. Muitos há que sempre retornam a essa inesgotável fonte de força.
Ainda que Deus esteja em cada átomo, ao redor e dentro de nós, contudo reservou ao Seu poder o direito de Se manifestar a quem Ele escolher.
Num sentido estritamente científico, é Deus a base tanto do bem como do mal; dirige o punhal do assassino bem como o bisturi do cirurgião(4).
(4) Aqui Gandhi parece falar como fatalista, mas, por outros textos, se evidencia o que ele pensava do livre-arbítrio do homem. Deus é, certamente, o autor da faculdade do livre-arbítrio humano, mas o uso ou abuso dessa faculdade corre por conta do homem, e não de Deus. Deus é causa material, dizem os filósofos, mas não causa formal. Nem do bem nem do mal dos homens.
Tenho visto e creio que Deus nunca nos aparece em pessoa, mas sim através de uma ação que é responsável pela nossa libertação, em nossas horas mais angustiosas.
Nunca achei que Deus deixasse de me responder. Mais perto de mim O tenho encontrado quando mais escuro parecia o horizonte, nos tormentos dos meus cárceres, quando a jornada da minha vida não era nada bonançosa. Não me recordo de um só momento da minha vida em que me sentisse abandonado por Deus.
Se eu tenho de me identificar com o sofrimento do mais insignificante homem da Índia; se eu tenho o poder, mesmo o menor do mundo, possa eu identificar-me com os pecados dos pequeninos confiados aos meus cuidados. E assim fazendo, com toda a humildade, espero um dia ver Deus - a Verdade - face a face.
O homem é um ser falível; nunca pode ter certeza dos seus passos. Nem eu me arvoro em guia infalível nem me arrogo inspiração. Para ser guia infalível devia o homem ter coração perfeitamente inocente, incapaz de fazer o mal. Eu, por mim, não estou neste caso.
Através de todas as tributações, tenho experimentado Deus como salvador. Sei que a frase "Deus me salvou" tem hoje um sentido mais profundo para mim. E, contudo, sinto não ter ainda compreendido a significação integral; somente uma experiência mais profunda poderá ajudar-me a alcançar uma compreensão mais completa.
Adoração ou. oração não consistem em palavreado verbal. Surgem das profundezas do coração; "quando estamos vazios de tudo, menos do amor"; quando mantemos em perfeita harmonia todas as cordas "a sua música passa a ser vibração para além do alcance". A oração não necessita de palavras.
Creio que uma prece silenciosa é, muitas vezes, mais poderosa do que um ato consciente; e por isto quando me sinto sem ajuda, oro sem cessar, na certeza de que uma prece nascida de um coração puro não deixara' nunca de ser atendida.
Deus não nos exige nada menos que uma total entrega da nossa personalidade, a fim de alcançarmos a única liberdade real digna de ser alcançada. E, quando o homem se perde a si mesmo deste modo, logo se acha a si mesmo, a serviço de todos os seres vivos.
Abster-se de alimento é muitas vezes necessário para manter o corpo com saúde mas não há tal coisa como abstenção da oração.
A experiência me ensinou que, para um adepto da Verdade, o silêncio faz parte da disciplina espiritual.
O homem que fala pouco, raras vezes proferirá palavras imprudentes; ele mede as suas palavras. O silêncio é um grande auxílio para quem, como eu, está em busca da Verdade.
Não haveria perigo de espécie alguma, se muitos homens fossem fiéis aos ditames da Voz interna; mas, infelizmente, não há remédio contra a hipocrisia.
Antes que o homem possa ouvir a Voz interna, tem de passar por um longo e árduo tirocínio de aprendizagem; e, quando a Voz fala, desaparece qualquer dúvida.
Creio na absoluta unidade de Deus, e por isto creio também numa humanidade una. Sempre considerei Deus sem forma. O 4ue ausculto é uma Voz como que vinda de longe - e contudo ela está bem perto.
Eu não estava sonhando quando escutava a Voz interna; mas essa Voz foi precedida de uma luta tremenda dentro de mim mesmo. Eu escutava, identifiquei a Voz - e eis que a luta cessou e eu estava cheio de tranqüilidade.
Há quem pense que Deus seja um produto da nossa imaginação; se isto fosse verdade, nada seria real.
As coisas reais são apenas relativamente reais. Para mim, a Voz é mais real que a minha própria existência; ela nunca me enganou, e por isto nunca enganou os outros. Todo o homem que quiser pode ouvir essa Voz.
Não tenho a pretensão de que esta manifestação da Voz de Deus seja algo novo. Infelizmente, não há nenhum caminho por onde se possa provar essa Voz, a não ser por meio de seus resultados. Deus não seria Deus se permitisse ser demonstrado por Suas creaturas.
Deus nunca me abandonou, nem sequer na hora mais tenebrosa. Muitas vezes me salvou de mim mesmo, e não me deixou um resquício de minha independência. Quanto maior a minha entrega a Deus tanto maior é a minha alegria.
O homem não tem de obedecer a ninguém a não ser ao seu próprio Eu. Deve escutar a Voz dentro de si mesmo. Quem não gostar do termo "Voz interna", diga "os ditames da razão", aos quais tem de obedecer. Se não obedecer a Deus, não duvido de que terá' de obedecer a algo que, em última análise, se revelará como sendo Deus. Felizmente, nada existe senão só Deus. Deus é o Universo.
Como toda outra faculdade, também o hábito de escutar a suave e silenciosa Voz tem de ser treinado, e exige talvez maior esforço do que a aquisição de outra faculdade qualquer. E ainda que entre milhares de aspirantes apenas uns poucos consigam ouvir a Voz, vale bem a pena arriscá-lo e tolerar pretensões ambíguas.
O humilde pesquisador, como eu pretendo ser, tem de andar bem cauteloso para manter o equilíbrio da mente; tem de reduzir-se a zero, para que Deus o possa guiar.
Será isto produto da minha ardente imaginação? Se assim for, bendigo a imaginação que, por mais de cinqüenta e cinco anos, me garantiu uma vida equilibrada, porque me habituei a confiar conscientemente em Deus, antes de ter quinze anos de idade.
As coisas têm dois aspectos: um externo, outro interno. O aspecto externo não tem valor a não ser enquanto auxilia o interno. Por isso, toda a Arte verdadeira é uma manifestação da alma. As formas externas só têm valor na razão que expressam o espírito interno do homem.
Bem sei que muitos se dizem artistas, e como tais são conhecidos - e contudo não há em suas obras um vestígio de surto da alma, nem de inquietude.
Toda a arte verdadeira deve ajudar o homem a realizar o seu Eu interno. Quanto a mim pessoalmente, creio que posso realizar a minha alma inteiramente sem formas externas.
As creações da arte humana têm valor 50mente enquanto ajudam a alma a progredir rumo à auto-realização.
O homem comum, geralmente, não vê Beleza na Verdade; passa de largo, cego para a beleza. Toda vez que o homem começa a ver Beleza na Verdade nasce a Arte verdadeira.
Não há Beleza sem Verdade. Por outro lado, pode ser que a Verdade se manifeste de forma tal que, externamente, não revele Beleza alguma. Dizem que Sócrates era o maior amigo da Verdade em seu tempo - e, no entanto, consta que as suas feições eram as mais feias da Grécia. Na minha opinião, ele era belo, porque toda a sua vida estava empenhada na busca da Verdade.
Creações realmente belas aparecem quando surge a verdadeira compreensão. Se raros são estes momentos na vida, raros são também na arte.
Quando admiro as maravilhas de um pôr-de-sol ou a beleza do luar, a minha alma se expande em adoração ao Creador. Procuro enxergá-LO em Sua perfeição em todas as Suas creaturas. Mas mesmo o pôr ou nascer-do-sol me seriam obstáculos se não me ajudassem a pensar em Deus. Tudo que impede a alma de erguer vôo é ilusão e armadilha - bem como o nosso corpo, que, muitas vezes nos serve de estorvo em nosso caminho rumo às alturas.
A Verdade é a primeira coisa que deve ser procurada - e a Beleza e Bondade nos serão acrescentadas. Foi isto que o Cristo ensinou realmente, no Sermão da Montanha. t esta a Verdade e a beleza pelas quais eu vivo, e pelas quais desejaria morrer.
Gosto da música e de todas as demais artes; mas não lhes atribuo valor como geralmente acontece. Assim, por exemplo, não posso encontrar valor numa atividade que exija conhecimentos técnicos para ser compreendi da. Quando contemplo o céu semeado de estrelas em sua infinita beleza, isto é para meus olhos e isto significa para mim mais do que toda a arte humana me possa dar
A vida é maior que todas as artes. Quisera até ir além e dizer que o homem que mais se aproxima da perfeição é o maior artista; pois, que é a arte se lhe faltar o alicerce e arcabouço de uma vida nobre?
A verdadeira Beleza consiste, acima de tudo, na pureza de coração. A arte, para ser arte, deve dar tranqüilidade. Quero arte e literatura que possam falar a milhões de homens.
Durante toda a minha vida, a insistência que faço na Verdade me leva a considerar a arte como responsabilidade.
A vida humana é uma série de responsabilidades; e nem sempre é fácil fazer na prática o que na teoria se enxergou como sendo verdade.
Há princípios eternos que não admitem compromisso, e o homem deve estar disposto a sacrificar a sua vida em defesa desses princípios.
Não tenho a pretensão de ser perfeito; mas faço questão de me empenhar numa apaixonada busca da Verdade, que é apenas outra palavra para Deus.
A não-violência é a lei da espécie humana, assim como a violência é a lei do bruto. O espírito jaz dormente no irracional, que não conhece outra lei senão a força. A dignidade do homem exige obediência a uma lei superior - a~ poder do espírito.
A não-violência é o artigo número um da minha fé e é também o último artigo do meu credo.
O auto-sacrifício de um único homem é milhões de vezes mais poderoso do que o sacrifício de um milhão de homens que morrem matando outros.
Quando eu for incapaz de praticar o mal; quando nenhuma palavra áspera ou arrogante abalar, por um momento sequer, o meu mundo mental - só então, e não antes, a minha não-violência conquistará o coração do mundo inteiro.
O que eu faço pode ser feito por todos, porque eu não passo de um ser mortal comum, sujeito às mesmas tentações e acessível às mesmas fraquezas dos melhores entre nós. 91 Tenho sido um "jogador" durante a minha vida toda: na minha paixão por manter a minha fé na não-violência, arrisquei os maiores compromissos.
Não fui tão dedicado à ahimsa como fui à Verdade; tenho posto a segunda em primeiro lugar, e a primeira em segundo.
Um homem que professa não-violência nada pode fazer a não ser pela graça de Deus; sem ela, não teria a coragem de morrer sem ira, sem temor, sem vindita.
O sol no céu enche o Universo todo com o seu calor vivificante; mas, se alguém tentasse aproximar-se dele seria reduzido a cinzas. E o que acontece com relação à Divindade: tornamo-nos semelhantes a Deus na medida que praticamos não-violência, mas não podemos jamais tornar-nos totalmente iguais a Deus.
Não-violência é a lei suprema. Durante meio século de experiências, nunca enfrentei uma situação que me deixasse sem auxílio ou não tivesse remédio em termos de não-violência.
O meu conceito de não-violência não me leva a fugir do perigo e deixar sem proteção os que me são caros. Na alternativa entre violência e fuga covarde, só pos50 preferir a violência à covardia. Tampouco posso recomendar não-violência a um covarde como posso convidar um cego a gozar magníficos panoramas.
Na qualidade de covarde, que fui durante anos, eu abrigava violência; só comecei a apreciar a não-violência quando comecei a despojar-me da covardia.
Não passo de um humilde pioneiro na ciência da não-violência; as suas ocultas profundezas me arrepiam às vezes, como arrepiam os meus companheiros de trabalho.
O mundo não é totalmente governado pela lógica; a própria vida envolve certa espécie de violência, e a nós nos compete escolher o caminho da violência menor.
A força de matar não é essencial para a autodefesa; devemos ter a força de morrer. Quando alguém está plenamente disposto a morrer, nem sequer lhe vem o desejo de praticar violência.