Quando a dor morar sozinha sob a ponte,
e nascer o sol em
brilho d'ouro pelos campos,
poderei dizer “O mundo é
meu.
Entre o azul e o verde serei águas e histórias.”
E
dirá a vida: “Quem pensa você estar no
horizonte?
Uma asa quebrada, um fruto crestado de sol,
um
suspiro de ausência, uma estrada para o além?”
Serei
apenas uma gota de orvalho trêmula em timidez.
Poderei
dizer de passos e poeira,
luzes perdidas em pensamentos,
sacola
a doer nos ombros,
costas molhadas de suor.
Nunca poderei
dizer de horizonte,
preciso fugir do inalcançável,
desde
que a vida é pedra e peso,
e o tempo tão pequeno
para guardar sonhos!
Preciso dormir no meio de tudo que é
disperso:
onda de mar, braço do que não serve,
luta
de partir para não morrer na inércia.
Estar por
dizer e por construir
entre pontes e vozes,
estradas
nuas,
corações estranhos,
luares e auroras.