O Caminho do Instante

(Genildo Mota Nunes)


Quando a dor morar sozinha sob a ponte,
e nascer o sol em brilho d'ouro pelos campos,
poderei dizer “O mundo é meu.
Entre o azul e o verde serei águas e histórias.”
E dirá a vida: “Quem pensa você estar no horizonte?
Uma asa quebrada, um fruto crestado de sol,
um suspiro de ausência, uma estrada para o além?”

Serei apenas uma gota de orvalho trêmula em timidez.

Poderei dizer de passos e poeira,
luzes perdidas em pensamentos,
sacola a doer nos ombros,
costas molhadas de suor.

Nunca poderei dizer de horizonte,
preciso fugir do inalcançável,
desde que a vida é pedra e peso,
e o tempo tão pequeno para guardar sonhos!

Preciso dormir no meio de tudo que é disperso:
onda de mar, braço do que não serve,
luta de partir para não morrer na inércia.

Estar por dizer e por construir
entre pontes e vozes,
estradas nuas,
corações estranhos,
luares e auroras.


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