E nesta assimetria do teu calçamento,
Mui loucamente as rodas correm como o vento
Sobre as pedras escuras, velhas, estragadas!
Tristonhos e sombrios na verticalidade,
Os sobraditos sonham cheios de saudade
Da poeira subindo em breves espirais...
Recordam no silêncio bom duma ante-sala
Os lírios nos jarros cor azul-opala,
A palhinha das tranças tão artesanais!
Os vestidinhos simples, bordados de rendas,
Doce dona-de-casa senhora dessas prendas
E a administradora do matriarcado...
A família alegre que, nas refeições,
O "Pai Nosso" e "O Credo" e várias orações
Rezava então ao Cristo que estava no quadro.
E que candura morna quando no sarau
Das noites veraniças, via-se um casal
A trocar em olhares todo o romantismo!
O pianito aberto tocando modinhas,
A brejeirice meiga, as belas sinhazinhas
A falar em francês as frases do modismo...
Ó cidade tão bela, ó porto mercantil!
Estrada franciscana, bem mais que um navio
Mil riquezas trouxera e transportara aos mares!
E, na dureza incrível deste teu penedo,
Derramara ruas e templos que, mui cedo,
Puro Catolicismo espalhara aos ares!
Foste o sonho, a cultura de um povo heróico,
Tradicionalista, impávido e... estóico
Que te fez tão morena, barroca e bonita.
Em ti, no cristão símbolo da pétrea cruz,
também oculto está o nome que nos aduz
à mente o bravo Valentim da Rocha Pita!
Porém o tempo muda... e vêm com o moderno
A pressa, o gás, a força, a fome e todo inferno
Do automatismo humano que o sistema expande...
Com os pobretões rostos sujos de carvão,
No caminhão lotado, presos num jaulão,
Seguem os teus pilares para o campo grande!
Quente a terra seca, quente o sol que dana!
Mas, no queimado-negro do caule da cana,
O povaréu s'agita com chapéus de palha...
Assim, Penedo, cresces... Em contrapartida
Perdes as tuas feições coloniais na lida,
Nos pútridos odores que o "progresso" espalha!