Vês muitas estrelas à noite no firmamento, mas não as encontras quando nasce o Sol; podes dizer que não há estrelas no céu durante o dia? Assim, ó homem, porque não contemplas Deus nos dias de tua ignorância, não digas que não há Deus.
Assim como um único e mesmo material, a água, é chamado por nomes diferentes por povos diferentes, uns a chamam água, outro eau, um terceiro aqua, e outro pani, assim também o Sat-chit-amanda, o imortal onisciente, é invocado por alguns como Deus, por alguns como Alá, por alguns como Jeová, por alguns como Hari e por outros como Brama.
Assim como alguém pode subir ao alto de uma casa por meio de uma escada de pau, de bambu ou de corda, ou de uma corda, assim também diversos são os caminhos para se aproximar de Deus, e cada religião do mundo mostra um desses caminhos.
As diferentes crenças não são mais que caminhos diferentes para se chegar ao Altíssimo. Vários e diferentes são os caminhos que levam ao templo da Mãe Kali em Kalighat (Calcutá). Do mesmo modo, vários são os caminhos que levam à casa do Senhor. Cada religião nada mais é que um de tais caminhos que levam a Deus.
Assim como uma jovem esposa mostra em sua família respeito pelo sogro, pela sogra e por todos os membros da família e, ao mesmo tempo, ama seu marido mais do que aqueles, do mesmo modo, mostrando-te firme na devoção da divindade de tua própria escolha (Ishta-Devata), não desprezas as outras divindades, mas as honras todas.
Curva-te e venera quando os outros se ajoelham, pois onde tantos estão prestando o tributo da adoração, o Senhor misericordioso deve se manifestar, eis que ele é todo misericórdia.
O Sat-chit-ananda tem muitas formas. O devoto que viu o seu Deus somente sob um aspecto o conhece apenas sob aquele aspecto. Mas somente o que viu sob múltiplos aspectos está em condições de dizer: "Todas essas formas são de um deus e Deus é multiforme". Ele é informe e com forma, e muitas são as suas formas que ninguém conhece.
Os Vedas, Tantras e Puranas e todas as sagradas escrituras do mundo tornaram-se maculadas (como todo alimento lançado fora da boca se torna poluído) porque foram constantemente repetidas e saíram de bocas humanas. Mas o Brama e o Absoluto jamais se macularam, pois ninguém jamais foi capaz de expressá-lo pela fala humana.
A agulha magnética sempre aponta para o norte, e graças a isso os navios que navegam não perdem o rumo. Enquanto o coração do homem está voltado para Deus, ele não pode perder-se no oceano do mundo.
Em verdade, em verdade te digo que aquele que O procura O encontrará. Verifica isso em tua própria vida; experimenta, por três dias consecutivos, com fervor sincero, e podes estar certo de que serás bem sucedido.
Deus não pode ser visto enquanto houver o mais leve sinal de desejo; portanto, satisfaze teus pequenos desejos e renuncia os grandes desejos pelo certo raciocínio e discriminação.
Conhecer e amar Deus são, em última análise, a mesma coisa. Não há diferença entre o puro conhecimento e o puro amor.
Disse o mestre: "Tudo que existe é Deus". O discípulo compreendeu isso literalmente, mas não em seu justo espirito. Ao passar por uma rua, encontrou um elefante. O condutor gritou bem alto do seu lugar: "Afasta-te! Afasta-te!" O discípulo argumentou em sua mente: "Por que preciso afastar-me? Sou Deus, como o elefante é Deus; como Deus pode ter medo de si mesmo?" Assim pensando, não se moveu. Afinal, o elefante o agarrou com a tromba e o jogou para um lado. Ele se machucou seriamente e, voltando para junto do mestre, relatou toda a aventura. Disse o mestre: "Muito bem. És Deus, o elefante é Deus, mas Deus, sob a forma do condutor do elefante, estava te advertindo do alto. Por que não deste ouvidos à Sua advertência?"
O Avatar ou Salvador é o mensageiro de Deus. É como o vice-rei de monarca poderoso. Assim como, quando há algum distúrbio em uma província longínqua, o rei envia o seu vice-rei para pacificá-la, assim também quando há um declínio de religião em qualquer parte do mundo, Deus envia para lá seu Avatar. É um só e mesmo Avatar, que, tendo mergulhado no oceano da vida, ergueu-se em um determinado lugar e é conhecido como Krishna, e, mergulhando de novo, ergue-se em outro lugar e é conhecido por Cristo.
Na árvore da absoluta "existência-conhecimentalidade" (Sat-chit-amanda) pendem inúmeros Ramas, Krishnas, Budas, Cristos, etc. dos quais um ou dois vêm a este mundo de vez em quando e acarretam poderosas mudanças e revoluções.
Os ornamentos não podem ser feitos de ouro puro. Tem de ser misturada com ele alguma liga. Um homem totalmente destituído de Maya não poderá sobreviver por mais de vinte e um dias. Enquanto o homem tem um corpo, deve ter algum Maya, por menor que seja, a fim de executar as funções do corpo.
Tens, ó pregador, a insígnia da autoridade? Assim como o mais humilde servidor do rei autorizado por ele é ouvido com respeito e reverência, e pode sufocar um motim mostrando a sua insígnia, assim também deves tu, ó pregador, obter primeiro a ordem e a inspiração de Deus. Enquanto não trouxeres a insígnia da divina inspiração, podes pregar a vida inteira, mas será em vão.
Como é a verdadeira pregação? Em vez de pregar para os outros, se alguém adora Deus o tempo todo, isso é pregar suficientemente. Aquele que se esforça para tornar-se livre, esse é o verdadeiro pregador. Centenas vêm de todos os lados, ninguém sabe de onde, até o que está livre, e recebem os seus ensinamentos. Quando um botão de rosa se abre, as abelhas vêm de todos os lados, sem terem sido convidadas ou chamadas.
Lança um bolo de farinha de trigo não assado na manteiga quente, e ele fará uma espécie de chiado ao fritar-se. Mas quanto mais está frito, menor é o chiado; e quando está inteiramente frito, o ruído cessa de todo. Enquanto um homem tem pouco conhecimento dedica-se a discursar e pregar, mas quando é alcançada a perfeição do conhecimento, o homem deixa de exibir vãs ostentações.
As sementes de Vajrabantul não caem ao pé da árvore. São levadas pelo vento para muito longe e ali criam raízes. Assim também o espirito do profeta manifesta-se à distancia e ali é apreciado.
A luz solar é uma só e a mesma onde quer que caia, mas só superfícies brilhantes como a água, espelhos e metais polidos as podem refletir plenamente. Assim também é a luz divina. Cai igual e imparcialmente sobre todos os corações, mas apenas os corações puros e limpos dos bons e dos santos a podem refletir plenamente.
Cada homem deve seguir a sua própria religião. Um cristão deve seguir o cristianismo, um maometano deve seguir o maometismo e assim por diante. Para os hindus, o antigo caminho, o caminho do ariano Rishis, é o melhor.
As pessoas separam as suas terras por meio de linhas divisórias, mas não podem dividir o firmamento que tudo abarca no alto. O firmamento invisível cerca tudo e inclui tudo. Assim o homem comum, em sua ignorância, diz: "A minha religião é a única, a minha religião é a melhor". Mas quando o seu coração é iluminado pelo verdadeiro conhecimento, sabe que acima de todas essas guerras de seitas e sectários preside a beatitude celeste, invisível, eterna, onisciente.
Assim como a mãe que, alimentando os filhos enfermos, dá a um arroz e caril, a outro sagu, e pão com manteiga a um terceiro, assim o Senhor dispôs caminhos diferentes para homens diferentes, segundo as suas naturezas.
Não disputeis. Assim como vos mantendes firmes em vossa fé, e em vossa opinião, permiti que também os outros tenham liberdade de sustentar as suas próprias crenças e opiniões. Com a simples disputa, jamais conseguireis convencer um outro de seu erro. Quando a graça do Senhor descer sobre ele, cada um compreenderá os seus próprios enganos.
Enquanto fica fora das pétalas do lírio e não provou a doçura de seu mel, a abelha esvoaça em torno da flor, emitindo o seu zumbido; mas quando está dentro da flor, e sem ruído que bebe o seu néctar. Assim também, enquanto um homem briga e discute acerca de doutrinas e dogmas, não provou o néctar da verdadeira fé; quando o prova, torna-se tranqüilo e cheio de paz.
A gente deste nosso tempo se preocupa com a essência de tudo. Aceita o essencial da religião e não o não-essencial (isto e, os rituais, as cerimonias, os dogmas e as crenças).
Honrai o espirito e a forma, tanto o sentimento no interior como o símbolo no exterior.
Os homens comuns falam muito sobre a religião, mas não agem de maneira alguma com a religião, enquanto o sábio fala pouco, mas toda a sua vida e um exemplo de religião.
O que desejas que os outros façam, faze tu mesmo.
O tenro bambu pode ser facilmente dobrado, mas o bambu crescido quebra-se quando se tenta dobrá-lo. E fácil curvar jovens corações para Deus, mas o coração do velho escapa quando e assim levado.
Os que vivem no mundo e procuram encontrar a salvação são como soldados que combatem protegidos pelo parapeito de uma fortaleza, enquanto os ascetas que renunciam ao mundo em busca de Deus são como soldados que combatem em campo aberto. Combater dentro da fortaleza e mais conveniente e seguro do que combater em campo aberto.
As conquistas espirituais de uma pessoa dependem dos seus sentimentos e idéias, procedem de seu coração, e não de suas ações visíveis. Aconteceu que dois amigos, caminhando juntos, passaram por um lugar onde se pregava Bhagavat (a palavra de Deus). Um deles disse: "Irmão, vamos até lá por um instante, ouvir as boas palavras que estão sendo ditas". O outro replicou:
"Não, amigo, o que adianta ouvir o Bhagavatam? Passemos o tempo naquela taverna, divertindo-nos prazerosamente". O primeiro não concordou. Foi ao lugar onde estava sendo pregado o Bhagavatam e se pôs a ouvi-lo. O outro foi para a taverna, mas ali não encontrou prazer. Lá, sentado, começou a lamentar-se, dizendo: "Ai de mim! Por que vim para ca? Quão feliz e meu amigo ouvindo todo este tempo a sagrada vida e os sagrados feitos de Hari (o Senhor)". Assim ele meditava sobre Hari, mesmo se encontrando em uma taverna. O outro homem que estava ouvindo o Bhagavatam também não encontrou prazer naquilo. Sentado lá, começou a lamentar-se, dizendo: "Ai de mim! Por que não acompanhei meu amigo até a taverna? Que grande prazer ele deve estar gozando ali neste momento!" O resultado foi que o que se encontrava onde o Bhagavatam era pregado meditava sobre o prazer da taverna e alcançou o fruto do pecado de ir a taverna, por causa de seus maus pensamentos, ao passo que o que tinha ido para a taverna alcançou o mérito de ouvir o Bhagavatam, por causa de seus bons pensamentos.
Uma mulher falou a seu marido, dizendo: "Meu caro, estou muito preocupada com meu irmão. Pois, nos últimos dias, ele tem pensado em renunciar ao mundo e tornar-se um Sannyasin e começou os preparativos para isso. Esta procurando conter, pouco a pouco, os seus desejos e reduzir as suas necessidades". Respondeu o marido: "Não precisas preocupar-te com teu irmão. Ele jamais se tornará um Sannyasin. Ninguém jamais renunciou ao mundo fazendo longos preparativos". Perguntou a esposa: "Como, então, tornar-se um Sannyasin?" Respondeu o marido: "Queres ver como alguém renuncia ao mundo? Vou mostrar-te". Assim dizendo, instantaneamente despedaçou as suas ricas vestes, amarrou uma tira em torno dos rins, disse a esposa que ela e todas as mulheres eram de então para diante sua mãe, e deixou a casa para nunca mais voltar.
Se eu colocar este pano diante de mim, deixarás de me ver, embora eu esteja perto de ti. Assim também Deus esta mais perto de ti do que qualquer outra coisa, e no entanto, por causa do biombo do egoísmo, não podes vê-lo.
Se percebes que não poderás fazer esse "eu" ir, então que ele permaneça como "eu servidor". Não ha muito mal a temer no "eu" que se conhece como "sou o servidor de Deus; sou seu devoto". Os doces provocam a dispepsia, mas o açúcar cande cristalizado não está entre os doces, pois não tem essa propriedade prejudicial.
O "eu servidor", o "eu" de um devoto ou o "eu" de uma criança e como a linha traçada na água com uma vara. Não dura muito tempo.
Se sentes orgulho, lembra-te de que és o servo de Deus, o filho de Deus. Grandes homens tem a natureza das crianças. São crianças perante Deus, e assim não têm egoísmo. Toda a sua força é de Deus, a ele pertence e dele vem, nada do próprio homem.
Ha dois egos - um maduro e o outro imaturo. "Nada é meu; tudo que vejo, sinto ou ouço", até mesmo este corpo, não é meu. Eu sempre sou eterno, livre e onisciente" - o ego que tem essa idéia é o maduro, enquanto o ego imaturo é o que pensa: "Isto é minha casa, meu filho, minha esposa, meu corpo", etc.
Quando serei livre? Quando o "eu" tenha desaparecido. "Eu e meu" é ignorância; "Tu e teu" é o verdadeiro conhecimento. O verdadeiro devoto sempre diz: "Ó Senhor, tu és o doador, tu nos dás tudo. Sou apenas uma máquina. Faço o que me fazes fazer. E tudo isso é a tua glória. Esta casa e esta família são tuas, não minhas; tenho apenas o direito de servir-te, como ordenas-te".
Quando se ganha o conhecimento do Ego, todos os grilhões caem por si mesmos. Então, não há distinção entre um brâmane e um sudra, uma casta alta e uma casta baixa. Nesse estado, caem todos os sagrados signos de casta. Mas enquanto o homem tem consciência de distinção e diferença, não deve jogá-los fora à força.
O homem de mentalidade espiritual pertence a uma casta própria a despeito de todas as convenções sociais.
Quando, em uma planície, um homem vê a erva rasteira e o altivo pinheiro, diz:: "Como é grande aquela árvore e como é pequena a erva!". Quando, porém, sobe à montanha e olha do elevado pico a planície embaixo, o altivo pinheiro e a erva rasteira se confundem em uma indistinta massa de verdura. Assim também, aos olhos mundanos, há diferenças de classe e posição - um é rei, outro é remendão, um é pai, outro é filho, e assim por diante - mas aos olhos divinos todos parecem iguais, e não há distinção entre bons e maus, altos e baixos.
Quando vejo as mulheres castas de famílias respeitáveis, vejo nelas a Mãe divina trazendo as vestes de uma casta matrona; e quando olho as mulheres públicas da cidade, sentadas em suas varandas, trajando as vestes da imoralidade e da impudicícia, também vejo nelas a Mãe divina, portando-se de uma maneira diferente.
O homem é como uma fronha. A cor de uma pode ser vermelha, de outra azul, de uma terceira preta, mas todas contêm o mesmo algodão. Assim também se dá com o homem: um é belo, outro é negro, um terceiro santo, um quarto pecador, mas a divina Unidade mora dentro de todos.
Se eu encher de água um vaso de barro, e colocá-lo em uma prateleira, a água se secará em poucos dias; mas se eu deixar o vaso imerso na água, ele continuará cheio enquanto ali permanecer. Também assim é o caso de teu amor para com o Senhor Deus. Enche e enriquece teu peito com o amor de Deus durante algum tempo, depois trata de outros negócios, esquecendo-o de todo, e depois podes ter certeza de encontrares o teu coração pobre e vazio, destituído daquele precioso amor. Se, porém, deixares sempre o coração imerso no oceano do amor divino, certamente teu coração permanecerá repleto da água do amor divino.
Um homem, depois de quatorze anos de penitência em uma floresta solitária, alcançou afinal o poder de caminhar sobre a água. Regozijando-se com isso, procurou o seu Guru e disse-lhe: "Mestre, mestre, adquiri o poder de caminhar sobre a água". O mestre replicou, censurando-o: "Que vergonha, meu filho! Isso é o resultado de teus esforços de quatorze anos? Em verdade só alcançaste o que não vale mais que um níquel; o que conseguiste depois de quatorze anos de árduos esforços, qualquer homem comum consegue pagando um níquel ao barqueiro".
Enquanto não se tornar simples como uma criança, o homem não alcançará a iluminação divina. Esquece todo o conhecimento mundano que adquiriste e torna-te tão ignorante como uma criança, e então alcançarás a sabedoria divina.
Do mesmo modo, se vives no mundo, faze-te temido e respeitado. Não maltrates os outros, mas também não sejas maltratado pelos outros.