Nasceu dentro dos muros do Quartel-General
na altura existente em Lagos. No final do século passado, um coronel
médico cirurgião-dentista, que estava a trabalhar no Hospital
Militar, organizou o primeiro grupo de estudo e pesquisa mediúnica.
Outros militares se lhe seguiram – capitão Lázaro, capitão
Paula Santos, sargento Belas, entre outros –, tendo o sargento Narciso
Vieira sido o primeiro presidente da que é hoje a A.E.L.. A acta
mais antiga das suas reuniões data de 30 de Setembro de 1913. Funcionou,
a partir de então, com autorização do governador civil
de Faro.
Do seu historial fazem parte inúmeros
visitantes, como Divaldo Franco (1967) na sua primeira visita a Portugal,
Jorge Rizzini, Newton Boechat, Ariston Santana Teles, dr. Francisco Thiesen,
dr. Raul Teixeira, entre muitos outros.
O mais notável é que foi
um dos raríssimos centros espíritas que a ditadura de Salazar
não encerrou. Facto estranho. Porquê? Um invulgar médium
vidente, que colaborava na A.E.L. antes de 1974 (desencarnou entretanto),
mediante esta indagação concentrou-se um pouco e depois descreveu
o que lhe fora mostrado: o processo da A.E.L. estava debaixo de uma imensa
pilha de processos que, primeiro que fossem ultimados, havia muito a esperar.
Nessa época, antes do 25 de Abril
de 1974, era uma associação pobre de recursos materiais,
embora com valiosos recursos humanos. De realçar que para se manterem
em actividade tinham de ter alvará passado pelo presidente da Câmara;
para darem sopa aos pobres, um acto humanitário, tinham de
ter autorização por escrito do provedor da Santa Casa de
Misericórdia a quem pertencia o albergue. Depois de 1974, com a
liberdade de expressão, fizeram escritura notarial em 7 de Julho
de 1977.
O presente
Julieta Marques, presidente da A.E.L. informa
serem cerca de 15 colaboradores, e que os pedidos de auxílio são
muitos, considerando que têm uma frequência muito boa. A grande
maioria das pessoas aparece só para solucionar este ou aquele problema
e apenas uma ínfima parte se dedica ao estudo do espiritismo.
Na A.E.L. há um grupo de trabalhadores
que fazem lindos trabalhos com pessoas cheias de problemas, num processo
de terapia de ocupação. Acontece também que um inglês
ministra às segundas-feiras e domingos à tarde uma reunião
de apoio dentro do programa dos Alcoólicos Anónimos. Tudo
começou quando esse senhor, que vive na marina de Lagos no seu barco,
começou a amparar alguns seus conterrâneos. Como o grupo cresceu,
teve que procurar um espaço maior. Foi a diversas igrejas (católica
e evangélica) e recebeu nãos. Um dia alguém lhe falou
da A.E.L. e ele viu-se diante da possibilidade de estender a sua ajuda.
Têm sede própria, fruto de
generosa doação de Fortunata de Deus Forçado,
que não tendo casa própria, vivendo do seu trabalho, ao receber
a casa por herança, logo a doou à A.E.L.. Perante uma pergunta
– de que é que a associação vive, pois não
levam dinheiro às pessoas que ali aportam –, Julieta Marques responde:
“A Associação vive da quotização dos seus sócios,
que pagam uma quota simbólica, e das dádivas de alguns corações
generosos. Como é óbvio, não levamos dinheiro às
pessoas que vêm em busca de auxílio, mas, pelo contrário,
ajudamos em casos de aflição, bem como distribuímos
pelo Natal e Páscoa a cesta de mercearia a 41 famílias necessitadas
e mensalmente a cinco ou seis famílias.”
Associação moderna
Uma biblioteca com cerca de mil livros
(alguns deles raros) incentiva as pessoas a lerem e a terem a sua própria
biblioteca em casa. Têm meios audiovisuais necessários para
múltiplas actividades.
Vários projectos estão em
curso, como um trabalho de teatro, canto e poesia, e um espaço para
experiências de transcomunicação instrumental. Depois
do atendimento evangélico, há espaço para se tomar
uma chávena de chá e comer uma fatia de bolo.
Esse mesmo espaço, em outros dias,
transforma-se em local de trabalho com três máquinas de costura.
Anualmente fazem também exposições de pintura.
Há dois anos, organizaram as II
Jornadas Nacionais de Cultura Espírita sem qualquer apoio das entidades
oficiais. Têm tido um bom relacionamento com a grande maioria das
associações espíritas nacionais, onde oportunamente
já palestraram. Igualmente colaboram sempre que necessário
com a Cruz Vermelha, Voluntariado do Hospital, associações
de recuperação de jovens toxicodependen-tes. A população
de Lagos já os conhece bem e respeita.
Objectivos
Julieta Marques, que colabora na A.E.L.
desde 1962, afirma: “O nosso objectivo é a divulgação
sistematizada da doutrina espírita”. Têm-na posto em prática,
indo por todo o Algarve dando conferências, entrevistas em programas
de rádio (em Novembro Julieta continua com "Em Defesa da Vida",
na Rádio Foia, 97.1 MHz FM), onde abordam questões pertinentes
como o suicídio, aborto, eutanásia, toxicodependência,
tudo à luz do espiritismo. A receptividade tem ultrapassado as expectativas.
Isto para além do calen-dário
semanal de actividades, de que destacamos as abertas ao público:
segunda-feira (21h00, estudo), terça-feira (20h00 e 21h00, outro
estudo), quinta-feira (20h00 e 21h30, estudos doutrinários).
Perspectivando o futuro afirma a dado
passo: “Não deixamos de procurar actualizar-nos no conhecimento,
nas novas formas de divulgação, de estar atentos a todos
os acontecimentos de ordem cultural, não só dentro do movimento
espírita no mundo, como a toda a manifestação cultural
que de uma forma ou de outra possa ter a ver com a doutrina espírita
ou nos possa oferecer contributos para um maior enriquecimento. Nosso maior
sonho é criar obras assistenciais...”.
Por fim, deixa-nos um repto: “Respeitemo-nos,
cada um em sua esfera de acção e trabalho. Solidarizemo-nos
uns com os outros, olhando-nos como irmãos, gerindo bem os bens
com que fomos agraciados – saúde, inteligência, conhecimento
– para que, tudo colocado ao serviço da grande causa do Cristo,
assim possamos contribuir para a nova Era que aí está.”
Uma associação espírita
que ultrapassa as barreiras do preconceito cultural e se afirma pela positiva
numa sociedade que não consegue ser imune à sua tenacidade,
perseverança, espírito de sacrifício, tudo em prol
do próximo.
Como qualquer associação
realmente espírita, esta, com as portas abertas, espera a
sua visita, se lhe aprouver visitá-la.
A sua sede situa-se na Rua Infante de
Sagres, n.º 50 - 8600 Lagos.
«Revista de Espiritismo»
nr. 28, 3º. trimestre de 1995