Já viste, filho, a floresta
Varrida pelas tormentas?
Partem-se troncos anosos,
Caem copas opulentas.
Mil árvores grandiosas
Esfacelam-se nos ares,
Tombam gigantes da selva,
Venerandos, seculares.
Mas as florinhas silvestres
São apenas baloiçadas,
Continuando graciosas
A tapetar as estradas.
Zune o vento? geme a selva?
ao sabe a pequena flor,
Que perfumando o caminho
Compõe um hino de amor.
Flores silvestres!... Imagem
Dos bons e dos pequeninos,
Que sobre o mundo derramam
As graças dos dons divinos.
Na selva da vida humana
Caem grandes, poderosos:
Arcas repletas de ouro,
E frontes ébrias de gozos.
Mas, os humildes da Terra,
Dentro da fé que os conduz,
Não caem... São reflectores
Da bondade de Jesus.
Flores silvestres da vida,
Não sabem se há tempestade
De ambições e se há
no mundo
Leis de ódio e de iniquidade.
Nos dias mais tormentosos,
Sê, filho, como esta flor:
Chore o homem, grite o mundo,
Palmilha a estrada do amor.
(In «Parnaso de Além-Túmulo»,
Casimiro Cunha)