A CEC funcionou, desde 5 de Novembro de
1976, na Rua da Ferraria, 603, em Rio Tinto, Gondomar. A sua fundação
surgiu quando Terroso Martins, seu actual dirigente, conheceu Pereira.
Antes disso ainda, Terroso frequentava o grupo fundador do Núcleo
Espírita Cristão, no Porto, antes de 25 de Abril de 1974.
Nessa altura, realizavam-se as reuniões às escondidas por
causa da polícia. Lembre-se que os estudos espíritas também eram
considerados prática subsersiva.
Laurentino Simões, um dos fundadores
do NEC, pedira a Terroso Martins para ir buscar Pereira a sua casa quando
este chegou de Moçambique, com o objectivo de o levar a uma palestra.
Houve logo uma afinidade própria de quem se conhecia antes. Começaram
a partilhar a reunião de Evangelho no lar que Terroso instituíra
em sua casa. Resumidamente, fizeram estudo doutrinário, iniciaram
experiências, descobrindoa mediunidade de algumas pessoas.
Terroso Martins relembra: «Ainda
usámos, nessa altura, a mesinha de pé-de-galo, chegando a
receber algumas comunicações e, a partir daí, pensámos
em formar a Comunhão Espírita Cristã, com a vantagem
de ter parte de minha casa livre (se calhar já estava reservada
para a CEC, pois já por duas vezes tinha estado para ser alugada
e não o foi)».
Estes foram os primeiros passos para a
CEC que conhecemos hoje. Acrescenta Terroso: «Um ano depois tínhamos
uma autorização da Câmara Municipal, elaborámos
os estatutos e tomámos personalidade jurídica, federando-nos,
e por aí fora».
A luz de Jô
Joaquim Alves (Jô), espírita
sincero e esclarecido, talvez mais conhecido por alguns como autor de capas
de livros espíritas, é convidado em 1980 para passar alguns
meses na CEC, reformulando-lhe os trabalhos. Ali esteve de Julho a Setembro,
espiritizando as actividades.
Por exemplo, o chamado «passe magnético»,
por sua influência, deixou a gestualidade desnecessária para
se resumir à simplicidade da imposição das mãos,
deixando aos espíritos que assistem o trabalho a canalização
das energias espirituais retemperadoras. Jô admirava muito Herculano
Pires, e essas experiências foram feitas com bons resultados. Porque
não é a gesticulação que funciona, ensinava
ele, é a mente que actua.
Pereira desencarna poucos anos depois
da visita de Jô. A sua ausência física foi sentida.
Mas a vida continua e amparo da Espiritualidade nunca faltou.
Nessa altura, também João
Xavier de Almeida, dirigente de muitos mandatos na Federação
Espírita Portuguesa, ali prestava colaboração, vindo
da Póvoa de Varzim, onde residia então, apenas se ausentando
quando se transferiu para Lisboa.
Mudança temporária
Ao fim de 17 anos de actividades ininterruptas,
Terroso teve de indisponibilizar justamente o espaço da sua casa:
«A uma das minhas filhas, que estava com a sua vida organizada, surgiu-lhe
um percalço. E eu pensei que, acelerando um pouquinho o processo
da nova sede, um projecto sonhado em busca de melhores condições,
seria viável eu poder utilizar as instalações para
a minha filha».
Compreendida a questão, Azevedo
disponibilizou ali perto - na Rua João de Castro, 105 - cave, Vale
de Ferreiros - um espaço idêntico, até poderem instalar-se
na nova sede. Começaram a angariação de fundos. Mas,
«nós, como espíritas responsáveis que somos,
não andamos de bandeja na mão a fazer peditórios,
nem coisa no género. É claro que poderemos, n caso de oferecerem
uma coisa qualquer, entre os colaboradores e as pessoas mais chegadas,
nós vamos vender isso, vamos sortear, vamos conseguindo algum dinheirito»,
diz Terroso Martins.
Se todos os que ali passaram ajudassem
com um pouquinho, a solução era fácil: o montante
necessário para as novas instalações teria sido bem
mais rápido. «Nós somos um núcleo muito pequeno.
Somos um centro de passagem, as pessoas que cá vêm não
ficam cá. Até porque não podem. Se assim fosse, encheríamos
um estádio de futebol». Nessa medida, logo de início,
fizeram uma circular dirigida às demais associações
espíritas portuguesas, tendo recebido algum auxílio. Pouco
a pouco, grão a grão tudo se foi viabilizando.
Actividades semanais
Escusado seria dizer, mas é melhor
repetir. Qualquer centro espírita não cobra entradas ou o
que quer que seja. Os seus colaboradores não são igualmente
remunerados ou sequer subsidiados. Há o preceito de dar de graça
o que de graça se recebe. Rigorosamente. Cada um tem a sua profissão
e só nos tempos livres colabora no centro. Jô recomendava:
atender em regime de prioridade a família, depois a profissão
e só depois o movimento espírita. Regra sábia e justa,
para que ninguém se engane.
A CEC, à segunda-feira, tem uma
reunião de transcomunicação mediúnica, em que
se procede ao atendimento aos espíritos desencarnados pela mediunidade.
Ali se ajuda aqueles que necessitam de se reajustar à vida espiritual
que se lhes abre e com a qual se encontram frequentemente desajustados.
À quarta-feira há duas reuniões
idênticas: uma de tarde e outra à noite, fazendo-se nelas
comentários evangélicos e o passe (uma espéice de
transfusão de energias espirituais retemperadoras).
À sexta-feira há estudo
e prática da mediunidade.
Aos sábados procede-se a estudos
baseados em roteiros da União das Sociedades Espíritas de
São Paulo, cujos programas chegaram primeiro através de Irineu
Gasparetto e depois de Jô. Versam sobre cultura evangélica,
doutrinária e mediúnica. Terroso Martins explicita: «Quando
acaba a cultura mediúnica, voltamos à cultura evangélica,
num circuito rotativo. As pessoas, se estiverem muito tempo sem vir ao
estudo, a qualquer momento podem reintegrar-se sem problema neste estudo.
Já o mantemos há mais de 10 anos e continuamos porque dá
bons resultados».
Nova sede
Na altura de fecho desta edição,
prepara-se a mudança de instalações. Azevedo, colaborador
prestimoso, disse-nos: «Com a casa nesta posição, convinha
agradecer a todos aqueles que de algume forma participaram com donativos
para esta obra. Há vários centros pelo país fora que
realmente forma muito simpáticos e contribuíram com uns cheques
que foram um incentivo para nós termos a coragem de avançar.
Isto não pode ficar esquecido!». Mas, continua, «obviamente,
isto ainda não está pago, ainda falta muito para pagar, mas
como isto é a casa do Senhor, a casa de todos nós, estamos
a fazer tudo para que aqueles que hão-de vir possam encontrar melhores
espaços físicos para o trabalho da seara».
Cave, rés-do-chão e primeiro
piso lá estão.
Terroso Martins, ali ao lado, lança
um convite: «A ideia geral é de que a CEC, já que faz
parte do movimento espírita português, para as instituições
espíritas que circundam aqui Rio Tinto, e não só,
e outras que se desloquem ao norte, quando tiverem necessidade de um espaço
físico, a CEC é um deles. Qualquer associação
espírita, com menor espaço físico, que queira fazer
uma palestra ou outro tipo de reunião, fora do horário das
nossas actividades, tem o centro à disposição».
Azebedo prossegue: «E não
esquecer ainda que qualquer irmão que venha do Brasil ou de qualquer
outro lugar, tem condições para uma estadia aqui, com tudo
o que é prórpio para ser hospedado». Complementa Terroso:
«Equipas da própria Federação, quando vierem
aqui ao norte, podem instalar-se aqui, e ficar o tempo necessário
no desempenho das suas actividades».
A sede da CEC foi inaugurada
em 17 de Dezembro de 1994.