«O Espiritismo é, ao mesmo
tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.
Como ciência prática, ele consiste nas relações
que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia,
compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas
relações.
Podemos defini-lo assim: o Espiritismo
é uma ciência que trata da origem e destino dos espíritos,
bem como de suas relações com o mundo corporal».
Este, afinal, o objecto desta doutrina.
Os seus pontos estruturais essencialmente
são:
- Existência de Deus
- Imortalidade da alma
- Comunicabilidade dos espíritos
(pessoas que deixaram o corpo pelo fenómeno da morte)
- Vidas sucessivas
- Lei de acção e reacção
(responsabilizamo-nos pelo que fazemos
devendo reparar as atitudes incorrectas
na presente ou em futuras vidas, físicas ou não)
- Pluralidade dos mundos habitados.
Pesquisa sem fim
Muito ainda desconhece o esforço de pesquisa humana. Questões como a continuidade da vida após a morte do corpo, ou até a reencarnação, continuam a ser estudadas, hodiernamente, nos laboratórios de parapsicologia. Dois exemplos mais conhecidos: Dr. Raymond Moody Jr. (licenciado em Filosofia e em Medicina, EUA) que tem um dos seus livros editado em Portugal pela Livraria Bertrand («Vida Após a Vida»); Drª. Edith Fiore, licenciada em Psicologia, com o seu livro editado pelas Publicações Europa-América. O Dr. Ian Stevenson (Universidade de Virgínia, EUA) seleccionou de um dos seus arquivos de pesquisa só vinte casos e publicou um livro, ainda não editado em Portugal, intitulado «20 Casos Sugestivos de Reencarnação». E muitos, muitos mais...
Mediunidade não é Espiritismo
Há confusões absurdas que
estão a ser desfeitas, graças ao maior estudo deste assunto.
É bem o caso de Espiritismo não
ser mediunidade.
Ele é doutrina. Ela é fenómeno
- que está bem longe de só existir ligado aos espíritas.
Tanto a diferença é notória
que, em referência concreta da doutrina e do fenómeno às
pessoas, foram criados por Kardec os neologismos ESPÍRITA e MÉDIUM,
naturalmente com significados bem distintos.
O primeiro é o adepto da ideia.
O segundo é a pessoa que tem faculdades mediúnicas (a mediunidade
é o que se chama percepção paranormal; o médium
é o intermediário entre duas dimensões: a espiritual
e a material).
O Espiritismo não só em
nada se assemelha a bruxarias, superstição ou crendice, como
não é (já o dissemos!), também, mediunidade.
A mediunidade, enquanto fenómeno
paranormal não utilizado, é neutra, serve para o bem ou não.
O Espiritismo aponta sempre a edificação do bem.
Mas, na prática, há sempre
uma utilização do fenómeno mediúnico! Aqui
devemos falar de MEDIUNISMO (é o já dito fenómeno
praticado de acordo com as ideias próprias de quem o pratica, quaisquer
que sejam).
Existem, por exemplo, os chamados sincretismos
afro-religiosos (como a Umbanda e outros) e existem, por igual, pessoas
habituadas às religiões tradicionais que, talvez por se sentirem
insatisfeitas, verificando a existência concreta do fenómeno
mediúnico, passam a praticá-lo, juntando-lhe as suas ideias
pessoais.
Mas isso pouquíssimo tem a ver
com Espiritismo. E porquê «pouquíssimo»? Simplesmente
porque o elo comum, único e singular é a mediunidade. Mediunidade
que é neutra, não tem valores próprios (depende dos
valores de quem a utiliza e para quê).
Assuntos claros, tantas confusões
Razões históricas explicam
tudo isso.
O passado elucida-nos plenamente. Numerosos
personagens, muito distintos, no princípio do nosso século,
foram espíritas confessos: médicos (Dr. Martins Velho, Dr.
Sousa Martins, Dr. Joaquim Freire, Drª. Amélia Cardia), militares
(General Passaláqua, Coronel Faure da Rosa), etc..
O regime ditatorial, derrubado em 1974,
poucas décadas depois do seu advento, por repressão, dissolveu
as associações espíritas existentes, apropriando-se
injustamente de considerável património, fruto de doações
por falecimento de espíritas (que haviam sido comerciantes, etc.)
endinheirados.
Importa esclarecer aqui que todo o serviço
espírita NÃO ADMITE, em qualquer circunstância, remuneração.
É imperioso dar de graça o que de graça se recebeu
(e a ideia espírita e até a faculdade mediúnica são
paradigmas dessa situação).
Retirado o direito de reunião,
de associação e a própria liberdade de consciência,
um só caminho restou - reuniões restritas aos lares, que
se prolongaram durante os anos possíveis. Já não havia
mais estudo participado por um maior número de pessoas, e, a breve
prazo, o que continuou a existir, transformou-se num mediunismo caseiro
(pessoas que se reuniam à volta de uma mesa, etc.,etc.).
Enfim, algo que prosseguiu e se fez sentir,
de algum modo, mesmo após o 25 de Abril de 1974 E QUE TÃO
POUCO TEM A VER COM ESPIRITISMO!...
O papel da doutrina espírita (ou espiritismo)
A natureza do Espiritismo é eminentemente
cultural.
Liga-se muito à arte (particularmente
à arte mediúnica), nas suas expressões poéticas,
pictóricas e musicais, primordialmente.
Vários filósofos (o caso
do professor universitário J. Herculano Pires) o têm desenvolvido
apoiando-se nele como plataforma de reflexão.
Por natureza, o espiritismo é evolucionista,
o que se entende bem ao estudar-se a sua codificação, ou
seja, as obras de Allan Kardec.